Segui com interesse a entrevista na RTP de Alexandre Soares
dos Santos, presidente da Jerónimo Martins/Pingo Doce, promovendo as
conferencias Exit Talks, conversas sobre a exportação, em Abril próximo, na
Universidade de Aveiro, de que é patrocinador.
É evidente a capacidade de gestão do senhor.
Sou seu devedor, através dos livros da fundação Francisco
Manuel dos Santos, cujo lema é “pense pela sua cabeça”.
Não partilhando das suas ideias, aprecio que ocupe o seu
espaço na economia do país (quem é mais prevaricador, quem muda sedes sociais
para off-shores e in-shores ou quem os legaliza?).
Toca-me o senhor reconhecer que toda a sua vida gostou de ter projetos para fazer e desenvolver, e agora aos 78 anos sente que está calmamente num comboio à espera que chegue à estação, embora fale com entusiasmo nos seus projetos na Colombia.
Aprecio também as medidas sociais que toma no seu Pingo Doce
e até agradeço que publicamente assuma que o segredo não são salários baixos
(existe uma correlação entre qualidade inferior e custos de produção baixa),
mas não resisto a contar que, sempre que vou a um Pingo Doce, fico parado a
olhar para alimentos vindos de longe.
É verdade que existe a globalização, mas eu penso que a
globalização não devia ser para isto, devia ser mais para a solidariedade
internacional, além de que o preço baixo das embalagens do que vem do outro
lado do mundo não reflete o prejuízo da externalidade das emissões de CO2 do seu
transporte.
A senhora do balcão da peixaria estranhou, eu ficar ali
parado, a olhar para os vermelhinhos camarões cozidos vindos da Tailândia.
E a senhora dos frescos também, nem sei se receosa, ao
ver-me a olhar fixamente para as amoras vindas do México, os mirtilos vindos da
Argentina e as framboesas vindas da Beira Baixa, misturados na embalagem
elegante projetada nos moldes da Marinha
Grande (ou terá sido na China?).
Terá mesmo de ser assim?
Será um caso de vantagem comparativa?
Esquecemos as amoreiras das amoras carnudas e folhas tenras
para o bicho da seda, encomendadas pelo marquês de Pombal, e mandamos vir as
amoras do México?
Não haverá outras coisas que pudéssemos comprar aos
mexicanos e eles contentes por nos poder comprar outras?
Será um case study a analisar nas conferencias Exit Talks da
Universidade de Aveiro, em Abril de 2013, patrocinadas pela Jerónimo Martins,
BPI, AICEP, e com uma coorte ilustre de
oradores, a explicar aos empresários como se exporta? (a propósito, não tem
sido noticiado o trabalho que técnicos do metropolitano de Lisboa, por enquanto
empresa pública, estão a desenvolver para o metropolitano de Argel, nem
tampouco se ouve falar em eventuais apoios do ministério da Economia ou da
AICEP ou da secretaria de estado dos transportes a essa exportação…será um caso
de assimetria…)
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