segunda-feira, 26 de maio de 2014

Mobilidade urbana em Lisboa

Texto enviado à assembleia municipal da camara de Lisboa como contribuição para o debate sobre a mobilidade urbana em 27 de maio de 2014 (ver programa das sessões em
http://debaterlisboa.am-lisboa.pt/351000/1/index.htm )


Diagnóstico

1 – peso excessivo das deslocações em transporte individual na área metropolitana, em detrimento do transporte coletivo, nomeadamente ferroviário; dado que a eficiencia energética deste é superior, tal facto traduz-se em desperdício de energia primária sob a forma de combustíveis fósseis (cerca de 40% da energia importada por Portugal é consumida em transportes; estima-se que uma transferência de 10% de deslocações do TI para o TC ferroviário economizaria anualmente cerca de 15 milhões de  euros e 40.000 toneladas de CO2)
2 – desenvolvimento dos planos de expansão da rede de metro de forma desintegrada em relação às políticas de urbanismo, de combate à desertificação de Lisboa e de organização do território (é essencial articular a expansão da rede com o urbanismo (perdeu-se a oportunidade de construir de raiz uma linha de metro de superfície servindo a alta de Lisboa; não foram desenvolvido planos de expansão da rede de metro para Alcântara ou para Santos o Novo integrados nos planos de reurbanização dessas zonas) e alterações ao longo do tempo desses planos
3 – deficiente aproveitamento dos fundos comunitários (apesar da preocupação manifestada pela comissão europeia com o desperdício em TI, na recente listagem de investimentos a financiar por fundos comunitários, apenas aparece a conclusão da estação Reboleira do metro)
4 – deficiente utilização das soluções de metro ligeiro de superfície, de linhas de elétrico ou de transporte guiado automatizado de baixa capacidade e curtas distancias
5 -  não é visível uma gestão integrada dos transportes em todos os modos, incluindo o TI, e do urbanismo e da organização do território  entre as várias municipalidades da área metropolitana


Propostas de estratégias (transferencia do TI para o TC – fiscalização estacionamento e portagens – ligação indissociável transportes/urbanismo – tração elétrica/hidrogénio/ renováveis - projetos já para fundos comunitários 2021-2027 – manutenção na esfera pública com participação dos municípios)

1- intensificação da fiscalização do estacionamento indevido pela EMEL
2 - estabelecimento de portagens à entrada da coroa urbana do centro da cidade
3 – reposição de linhas de elétrico como a carreira 24 com transformação de ruas em zonas pedonais ou de transito automóvel autorizado com sentido único e limitaao de 30 km/h
4 – substituição de autocarros e veículos de serviço por autocarros (de baterias recarregáveis em andamento)  e veículos elétricos
5 – supressão da sobreposição de carreiras de autocarros e metro/comboios (exemplos: carreira 736 Cais do Sodré Senhor Roubado; carreiras rodoviárias entre o Areeiro e Almada)
6 – estabelecimento de redes de transporte guiado automatizado de baixa capacidade e curtas distancias do tipo “on demand” em viadutos desmontáveis para serviço de bairros com ligação entre estações de metro
7 – conclusão da ampliação dos cais das estações de metro da linha verde (Arroios e Areeiro) para composições de 6 carruagens, incluindo em Areeiro a ligação pedonal subterrânea de correspondência entre as estações de metro e da CP
8 – plano de equipamento das principais estações de metro, nomeadamente as de correspondência, com elevadores (quando inviável o recurso a rampas de 6%) e sanitários para pessoas com mobilidade reduzida  (notar que se trata de uma diretiva europeia, pelo que o recurso a fundos comunitários é possível)
9 – construção de um parque de estacionamento “park and ride” em Campolide, integrado na nova urbanização entre Campo de Ourique e as Amoreiras, para serviço dos automobilistas da A5, com prolongamento da linha vermelha até à linha de Cascais em Belém/Algés
10 - financiamento com recurso a:
      • multas de estacionamento
      • portagens à entrada do centro da cidade
      • mais valias de urbanizações, a exemplo de Hong Kong
      • contribuição de parte do IMI
      • contribuição de parte do imposto rodoviário sobre o combustível vendido na  área metropolitana
      • imposto do tipo “versement” francês (0,5 a 1% dos salários pago pelas empresas com mais de 9 funcionários) compensado com redução da atual carga fiscal sobre as empresas e benefícios fiscais às empresas sediadas em Lisboa, nomeadamente as que que paguem as deslocações em TC aos seus empregados ou clientes ou que emitam cartões de desconto associados ao TC
      • fundos comunitários do programa 2021-2027, exigindo que se comecem já os projetos
11 – limitação severa de velocidade em vias rápidas e em ambiente urbano, privilegiando as deslocações pedonais e em segunda prioridade em bicicleta
12 - desenvolvimento de redes de aluguer partilhado de bicicletas e pequenos automóveis elétricos em pontos de correspondencia com o TC
13 - criação de escalões de consumo de combustível
14 - politicas de reorganização urbanística e de reabilitação habitacional
15 - dinamização de estudos e colaboração em projetos internacionais de desenvolvimento de frotas de veículos de serviço e de autocarros elétricos movidos por hidrogénio produzido a partir de fontes primárias eólicas ou outras renováveis
16 – desenvolvimento integrado das urbanizações de Santos o Novo e Alcântara com extensões de metro e de metro ligeiro de superfície
17 – pedagogia junto do atual governo e dos técnicos da troika sobre os inconvenientes para a segurança, como consequencia da redução das despesas de manutenção e de pessoal das empresas de transporte e sobre os exemplos negativos da experiencia de privatização em Inglaterra (acidentes e falencia de uma companhia de infraestruturas do metro de Londres apesar da dispensa de realização de concursos públicos em benefício dos membros do consórcio)  e dos acidentes resultantes da partilha das infraestruturas ferroviárias na Bélgica e na Saxónia-Anhalt. Destacar a evidencia de que dificilmente uma alegada maior eficiencia de uma gestão privada relativamente à gestão pública gerará uma economia superior ao lucro pretendido pelos acionistas da operadora privada, e que as rendas a pagar pelo concessionário dificilmente serão superiores às indemnizações compensatórias que o privado exigirá para  assegurar o serviço público, pelo que economicamente não haverá vantagem relativamente à gestão pública.                                                                                                                             


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