Setembro de 2015, numa terça feira.
Comparemos o comportamento perante uma situação de emergencia oftalmológica de um hospital privado de sucesso e de um hospital público, o de S.José.
12:45 - é detetada por médico, não da especialidade, a necessidade de uma consulta oftalmológica de urgencia; é marcada uma consulta no hospital privado de sucesso; mas apenas para o dia seguinte, de manhã, e graças a uma desistencia; a previsão do custo é de 3,99€ por se tratar de um beneficiário da ADSE.
13:15 - decide-se passar pela urgencia do S.José, como dizem os ingleses, "just in case"
14:00 - chegada às urgencias do S.José; admissão com pagamento da taxa moderadora de 20€ (!!!!) e início da espera
14:45 - observação na triagem; espera pela consulta de oftalmologia
14:55 - início da consulta
15:05 - conclusão da consulta com a receita médica e os procedimentos do tratamento; tratava-se de um terçolho
Comentário de quem há 4 anos esteve, numa noite de janeiro, 2 horas à espera da triagem no referido hospital privado de sucesso:
É inadmissível que se exija 20€ quando muitas pessoas não podem pagar, o que leva a reduzir o número de utilizadores. É impressionante como apesar dos ataques ao serviço nacional de saúde
e às limitações que lhe são impostas, os seus trabalhadores conseguem prestar um serviço de qualidade, no caso desta amostragem, superior ao privado (claro, o tempo de espera depende do número de médicos, enfermeiros e restantes profissionais disponíveis). Assim se compreende porque o primeiro ministro de Inglaterra foi tratado no serviço público no Algarve, neste último verão.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Amostragem do Serviço nacional de saúde
Eleições - observando alguns números
Eleições na Catalunha, dominadas pela problemática da independencia.
Ao longo dos séculos, as tentativas de união das nações europeias têm falhado, principalmente pela ansia de domínio. Por exemplo, a estúpida política dos Habsburgo. Carlos V tinha tropas na Holanda em vez de fazer comércio com os holandeses (a destruição do comércio entre Portugal e a Holanda em 1620 foi um dos maiores erros cometidos pelos Filipes que apressou a independencia de Portugal). O filho Filipe queria ser rei de Inglaterra e quis invadi-la. Que loucos. Napoleão não lhes ficou atrás em loucura megalómana, e os imperadores austríacos, coitados, não compreenderam o caminho para o desastre da I Grande guerra mundial.
Nos tempos que correm, a incompetencia burocratizante da maioria dos decisores de Bruxelas, submetidos à ditadura do consenso de Washington, ameaça o sonho da União.
Mas fazer como os independentistas catalães, quererem separar-se em lugar de resolver no seio da própria União, que defende os direitos das regiões autónomas, as incorreções que ninguem nega? Salvo melhor opinião, a independencia de uma nação de 10 milhões de habitantes é um desejo de caciques e de classes restritas que querem o monopólio do poder económico e político (O caciquismo já é o principal inimigo do regionalismo). Não estraguem o ideal europeu.
Observemos os números:
Percentagem de votos nos dois partidos (ou forças políticas) independentistas, relativamente ao total de votantes: 47,8%
Isto é. Pelo menos por enquanto, menos de metade dos votantes votou nos partidos independentistas.
Percentagem de votos nos dois partidos (ou forças políticas) independentistas, relativamente ao total de eleitores inscritos: 35,9%
Isto é, menos de 36% dos eleitores inscritos querem a Catalunha independente.
Penso que é muito pouco para uma declaração unilateral de independencia, eventualmente justificável num referendo em que 75% dos votantes votassem a independencia , sendo a abstenção inferior a 32% para que a percentagem de independentistas relativamente ao total de eleitores fosse superior a 51%.
Abaixo destes números, parece-me caciquismo a mais, sem querer dar muita razão a Rajoy e ao seu partido, dignos sucessores do centralismo filipino de má memória.
Mas observemos agora os números em Portugal, nas vésperas das eleições de 4 de outubro de 2015:
Percentagem de votos em Cavaco Silva relativamente ao total de votantes nas eleições presidenciais de janeiro de 2011: 49,8%
Percentagem de votos em Cavaco Silva relativamente ao total de eleitores inscritos nas eleições presidenciais de janeiro de 2011: 23,2% (porque as abstenções foram 53,4%!!!)
Percentagem de votos no PSD e CDS relativamente ao total de votantes nas eleições legislativas de 2011: 40,9%
Percentagem de votos no PSD e CDS relativamente ao total de eleitores inscritos nas eleições legislativas de 2011: 29,7% (porque as abstenções foram 41,1%)
Isto é, nem o presidente é de todos os portugueses, estando muito longe de os representar também pelo seu comportamento, como a legitimidade do governo é muito discutível quando toma decisões que deveriam recolher a aprovação de 2/3 dos eleitores, como por exemplo as privatizações (que aliás foram para além da troica, ou, no caso das águas, vão a contraciclo da renacionalização em França) e o favorecimento de grupos económicos e financeiros em rendas energéticas, créditos fiscais e em isenções em impostos e transações (a ponto do próprio FMI propor deixar de sobrecarregar os rendimentos do trabalho, taxando mais o capital...).
Veremos o efeito da emigração e do desalento do desemprego na taxa de abstenção nas eleições de dia 4 de outubro.
Ao longo dos séculos, as tentativas de união das nações europeias têm falhado, principalmente pela ansia de domínio. Por exemplo, a estúpida política dos Habsburgo. Carlos V tinha tropas na Holanda em vez de fazer comércio com os holandeses (a destruição do comércio entre Portugal e a Holanda em 1620 foi um dos maiores erros cometidos pelos Filipes que apressou a independencia de Portugal). O filho Filipe queria ser rei de Inglaterra e quis invadi-la. Que loucos. Napoleão não lhes ficou atrás em loucura megalómana, e os imperadores austríacos, coitados, não compreenderam o caminho para o desastre da I Grande guerra mundial.
Nos tempos que correm, a incompetencia burocratizante da maioria dos decisores de Bruxelas, submetidos à ditadura do consenso de Washington, ameaça o sonho da União.
Mas fazer como os independentistas catalães, quererem separar-se em lugar de resolver no seio da própria União, que defende os direitos das regiões autónomas, as incorreções que ninguem nega? Salvo melhor opinião, a independencia de uma nação de 10 milhões de habitantes é um desejo de caciques e de classes restritas que querem o monopólio do poder económico e político (O caciquismo já é o principal inimigo do regionalismo). Não estraguem o ideal europeu.
Observemos os números:
Percentagem de votos nos dois partidos (ou forças políticas) independentistas, relativamente ao total de votantes: 47,8%
Isto é. Pelo menos por enquanto, menos de metade dos votantes votou nos partidos independentistas.
Percentagem de votos nos dois partidos (ou forças políticas) independentistas, relativamente ao total de eleitores inscritos: 35,9%
Isto é, menos de 36% dos eleitores inscritos querem a Catalunha independente.
Penso que é muito pouco para uma declaração unilateral de independencia, eventualmente justificável num referendo em que 75% dos votantes votassem a independencia , sendo a abstenção inferior a 32% para que a percentagem de independentistas relativamente ao total de eleitores fosse superior a 51%.
Abaixo destes números, parece-me caciquismo a mais, sem querer dar muita razão a Rajoy e ao seu partido, dignos sucessores do centralismo filipino de má memória.
Mas observemos agora os números em Portugal, nas vésperas das eleições de 4 de outubro de 2015:
Percentagem de votos em Cavaco Silva relativamente ao total de votantes nas eleições presidenciais de janeiro de 2011: 49,8%
Percentagem de votos em Cavaco Silva relativamente ao total de eleitores inscritos nas eleições presidenciais de janeiro de 2011: 23,2% (porque as abstenções foram 53,4%!!!)
Percentagem de votos no PSD e CDS relativamente ao total de votantes nas eleições legislativas de 2011: 40,9%
Percentagem de votos no PSD e CDS relativamente ao total de eleitores inscritos nas eleições legislativas de 2011: 29,7% (porque as abstenções foram 41,1%)
Isto é, nem o presidente é de todos os portugueses, estando muito longe de os representar também pelo seu comportamento, como a legitimidade do governo é muito discutível quando toma decisões que deveriam recolher a aprovação de 2/3 dos eleitores, como por exemplo as privatizações (que aliás foram para além da troica, ou, no caso das águas, vão a contraciclo da renacionalização em França) e o favorecimento de grupos económicos e financeiros em rendas energéticas, créditos fiscais e em isenções em impostos e transações (a ponto do próprio FMI propor deixar de sobrecarregar os rendimentos do trabalho, taxando mais o capital...).
Veremos o efeito da emigração e do desalento do desemprego na taxa de abstenção nas eleições de dia 4 de outubro.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Campanha eleitoral - na avenida da Igreja
Manhã de sábado no início de outono na avenida da Igreja, em
Lisboa.
Por entre os cidadãos e cidadãs que usufruem do sol e
ambiente pacífico nas esplanadas e nos passeios, contando as suas viagens de
férias, as compras de roupa e de automóveis e as notícias dos filhos emigrados,
reparo nos dois que descem a avenida lado a lado, em passo calmo, a condizer
com o que os rodeia.
Um deles, alto e magro, projeta a cabeça para a
frente.
O outro, de barriga ligeiramente proeminente, com uma
camisola de riscas horizontais de cor berrante e calças brancas, de mãos nos
bolsos, escuta atentamente o que lhe diz o companheiro, mas sem desviar o
olhar.
Parece concordar com o mais alto e magro, embora por vezes
abane a cabeça como quem opõe uma objeção mas sem convicção.
Irão comentando as notícias do dia, os pequenos casos da
campanha eleitoral, serão assertivos, convictos das suas razões? ou pelo
contrário, confessam-se desanimados pela impotência dos seus cérebros em
compreender a complexidade da natureza e da vida em comunidade, a
impossibilidade de encontrar soluções de organização para usufruto da paz, a
incompreensão dos outros face ao que os dois sentem e pensam, como reagem, como
se comportam? Ou simplesmente observando como já são muitas as folhas caídas no passeio?
Ao vê-los afastarem-se, pelas costas, percebo porque me
chamaram a atenção.
Existe uma fotografia de Einstein e Gudel, em ameno passeio
nos terrenos da universidade de Princeton. Não num dia de clima temperado, mas
num dia cinzento em que, também pelas costas, se vêem os dois de sobretudo,
confabulando. Dissertando sobre a expansão do universo, de que Einstein não
tinha ainda na altura a prova física, ou sobre a incompletude de Gudel,
terminando com o sonho das leis universais de que tudo se deduziria. Pese
embora a dúvida atual que talvez seja possível completar a simetria do modelo
padrão.
Ou talvez Gudel e Einstein apenas estivessem trocando
impressões sobre a sua impotência em compreender a incompreensão e a
incapacidade das comunidades se organizarem em função da paz.
Ou simplesmente comentando as folhas caídas no caminho.
Ou simplesmente comentando as folhas caídas no caminho.
Detenho-me por momentos, pensando na preocupação de quem pôs
na constituição dos Estados Unidos como objetivo a felicidade dos povos, e
vendo os dois conversadores a dobrar a esquina, a caminho do hospital Julio de
Matos, onde estão internados.
(Sou um admirador deste hospital, sinto que tratam bem os
seus frequentadores. Espero que não venha a concretizar-se o desejo de uma
antiga muito ilustre ministra da saúde, que queria urbanizar os terrenos com o
pretexto de que estudos recentes dão este tipo de hospital como ineficiente. E
como eu pensam muitos dos moradores e empregados das esplanadas que os vêem
passar).
domingo, 27 de setembro de 2015
Campanha eleitoral - Na minha caixa de correio
Exmo(a)s candidato(a)s à assembleia da República pelo distrito de Lisboa, afetos ao atual governo, que figuram na lista do infomail que encontrei na minha caixa do correio.
Exmo(a)s senhore(a)s
Não quero impedir que exerçam o vosso direito de propaganda eleitoral, mas exercendo o meu direito de livre expressão, sinto-me na obrigação de vos informar que não acredito em vocês. Pelo que disseram na campanha eleitoral de 2011 e pelo que fizeram nos 4 anos em que detiveram o poder não partilhado.
Vocês enviam-me um programa que é o contrário do que praticaram e do que prega a vossa ideologia submetida ao consenso de Washington e à escola de Chicago (dispensem-me de recordar o que dizem a escola de Chicago e o consenso de Washington) e mostram bem a vossa ineficiência e a ausência de ligação à realidade quando na vossa lista de 54 candidatos apenas apresentam 1 com a profissão de engenharia.
Esta é uma questão básica. Como diz o professor Carvalho Rodrigues, Portugal desindustrializou-se desde 1993 (ainda no período cavaquista, ilustrado com o objetivo de sermos um país de serviços, com a decadencia das frotas pesqueira e mercante e com a perda da autonomia alimentar). E não vos vejo a compreender isto. Não vos vejo a darem prioridade aos investimentos com fundos comunitários, ao plano Juncker e aos mecanismos de ligações europeias de transportes, de telecomunicações e de energia (dispensem-me de recordar o que são os mecanismos CEF - connecting Europe facilities) , em detrimento dos planos virtuais de aumento de competitividade coordenados pelo professor florentino de direito comunitário (que saberá ele de indústria?).
Dirão que os indicadores dão sinal de melhoria (esquecendo o peso da dívida, do crescimento das importações superior ao das exportações, e os terríveis défices alimentar e de energia primária). Mas a vossa ministra das finanças já vos deu a resposta, são "meros efeitos estatísticos" que não deviam iludir-vos.
Assim como assim, já é tão velha a anedota do afogado num ribeiro de meio metro de profundidade média...
Podem continuar a enviar propaganda.
Não acredito nem confio em vocês (atrevem-se a prometer "modernização da linha ferroviária de Cascais ... de Sintra ... modernização dos transportes coletivos, substituindo o material mais antigo e poluente por novas unidades ambientalmente mais eficientes"? possivelmente com novas parcerias tipo subconcessão da exploração e nacionalização dos prejuízos), não vos reconheço capacidade técnica para os investimentos de que o país precisa.
E para o bem do país, espero que não ganhem, que não seja preciso estabelecer novo objetivo para a reindustrialização: 2019.
Cumprimentos
Exmo(a)s senhore(a)s
Não quero impedir que exerçam o vosso direito de propaganda eleitoral, mas exercendo o meu direito de livre expressão, sinto-me na obrigação de vos informar que não acredito em vocês. Pelo que disseram na campanha eleitoral de 2011 e pelo que fizeram nos 4 anos em que detiveram o poder não partilhado.
Vocês enviam-me um programa que é o contrário do que praticaram e do que prega a vossa ideologia submetida ao consenso de Washington e à escola de Chicago (dispensem-me de recordar o que dizem a escola de Chicago e o consenso de Washington) e mostram bem a vossa ineficiência e a ausência de ligação à realidade quando na vossa lista de 54 candidatos apenas apresentam 1 com a profissão de engenharia.
Esta é uma questão básica. Como diz o professor Carvalho Rodrigues, Portugal desindustrializou-se desde 1993 (ainda no período cavaquista, ilustrado com o objetivo de sermos um país de serviços, com a decadencia das frotas pesqueira e mercante e com a perda da autonomia alimentar). E não vos vejo a compreender isto. Não vos vejo a darem prioridade aos investimentos com fundos comunitários, ao plano Juncker e aos mecanismos de ligações europeias de transportes, de telecomunicações e de energia (dispensem-me de recordar o que são os mecanismos CEF - connecting Europe facilities) , em detrimento dos planos virtuais de aumento de competitividade coordenados pelo professor florentino de direito comunitário (que saberá ele de indústria?).
Dirão que os indicadores dão sinal de melhoria (esquecendo o peso da dívida, do crescimento das importações superior ao das exportações, e os terríveis défices alimentar e de energia primária). Mas a vossa ministra das finanças já vos deu a resposta, são "meros efeitos estatísticos" que não deviam iludir-vos.
Assim como assim, já é tão velha a anedota do afogado num ribeiro de meio metro de profundidade média...
Podem continuar a enviar propaganda.
Não acredito nem confio em vocês (atrevem-se a prometer "modernização da linha ferroviária de Cascais ... de Sintra ... modernização dos transportes coletivos, substituindo o material mais antigo e poluente por novas unidades ambientalmente mais eficientes"? possivelmente com novas parcerias tipo subconcessão da exploração e nacionalização dos prejuízos), não vos reconheço capacidade técnica para os investimentos de que o país precisa.
E para o bem do país, espero que não ganhem, que não seja preciso estabelecer novo objetivo para a reindustrialização: 2019.
Cumprimentos
domingo, 20 de setembro de 2015
A multa à Volkswagen
Dá que pensar.
Este blogue já tinha protestado contra a publicidade enganosa dos fabricantes de automóveis. Dizem que os seus carros consomem pouco combustível e emitem pouco CO2. No caso dos automóveis elétricos anunciam autonomias que as baterias nunca poderão satisfazer em condições reais. Desculpam-se que cumprem as normas aprovadas, as quais se contentam com ensaios laboratoriais que não reproduzem as condições reais.
Mas aconteceu um facto surpreendente. Apesar dos USA serem a pátria do liberalismo económico, o seu governo, que não tem um estado mínimo como desejaria a escola de Chicago e o consenso de Washington, vai aplicar uma multa de cerca de 15 mil milhões de euros (35000 euros por automóvel) porque os carrinhos possuem um software que limita as emissões de CO2 (correção: de óxidosde azoto, não CO2) durante os ensaios, emitindo cerca de 40 vezes mais em funcionamento normal.
Este blogue lamenta que seja preciso vir este exemplo dos USA. Que por acaso foram os primeiros a aplicar multas à Siemens, nos fins dos anos 90, por dar luvas a decisores em concursos internacionais.
A Europa podia aprender alguma coisa.
E em Portugal tambem, quando se diz que as empresas investidoras podem fugir se se lhes aplicar impostos elevados ou multas, para onde fugirão elas, para os USA?
PS em 26 de setembro - curiosa a reação da comunicação social. Parece que só agora descobriram a publicidade enganosa. Instalar um software que deteta que o carro está em teste é o que se chama em coloquial uma prova de esperteza saloia tão grave como as que a comunicação social alemã imputava aos gregos a propósito das falsificações das contas, dos benefícios sociais e das luvas. Porém, na origem da coisa está a definição favorável aos fabricantes das normas de ensaio, fora das condições reais. Se os ensaios fossem reais não haveria software falsificador. Consta que a EPA americana vai juntar ensaios de estrada na avaliação das emissões e dos consumos. Consta igualmente que a União Europeia desistiu de tornar mais rigorosos os ensaios por pressão dos fabricantes. Os consumos anunciados atualmente são inferiores aos que resultam da aplicação da fórmula empírica de consumo de energia C=c0+c1V+c2V2 . Isto é, são fisicamente inexequíveis. Ao que leva a prioridade ao lucro...enganar os cidadãos. É uma espécie de política da privatização do atual governo, justificada com a mentira de que os custos são menores do que realmente são.
PS em 3 de outubro - correção: os gases emitidos em excesso são os óxidos de azoto, não o CO2 . O limite de emissões é de 0,025g/km e o valor emitido em condições reais varia entre 0,25 e 1 g/km porque não dispõe de filtro catalítico com ureia renovável como as outras marcas. O que aconteceu não invalida a crítica às condições virtuais dos ensaios laboratoriais. Ver
http://www3.epa.gov/otaq/cert/documents/vw-nov-caa-09-18-15.pdf
e
https://www.quora.com/How-exactly-does-the-Volkswagen-emission-fraud-work
http://www.wired.com/2015/09/vw-fool-epa-couldnt-trick-chemistry/
http://www.livescience.com/52284-volkswagen-scandal-clean-diesel-challenges.html
http://www.autonews.com/article/20150925/OEM11/150929855/how-vws-diesel-emissions-system-works
Este blogue já tinha protestado contra a publicidade enganosa dos fabricantes de automóveis. Dizem que os seus carros consomem pouco combustível e emitem pouco CO2. No caso dos automóveis elétricos anunciam autonomias que as baterias nunca poderão satisfazer em condições reais. Desculpam-se que cumprem as normas aprovadas, as quais se contentam com ensaios laboratoriais que não reproduzem as condições reais.
Mas aconteceu um facto surpreendente. Apesar dos USA serem a pátria do liberalismo económico, o seu governo, que não tem um estado mínimo como desejaria a escola de Chicago e o consenso de Washington, vai aplicar uma multa de cerca de 15 mil milhões de euros (35000 euros por automóvel) porque os carrinhos possuem um software que limita as emissões de CO2 (correção: de óxidosde azoto, não CO2) durante os ensaios, emitindo cerca de 40 vezes mais em funcionamento normal.
Este blogue lamenta que seja preciso vir este exemplo dos USA. Que por acaso foram os primeiros a aplicar multas à Siemens, nos fins dos anos 90, por dar luvas a decisores em concursos internacionais.
A Europa podia aprender alguma coisa.
E em Portugal tambem, quando se diz que as empresas investidoras podem fugir se se lhes aplicar impostos elevados ou multas, para onde fugirão elas, para os USA?
PS em 26 de setembro - curiosa a reação da comunicação social. Parece que só agora descobriram a publicidade enganosa. Instalar um software que deteta que o carro está em teste é o que se chama em coloquial uma prova de esperteza saloia tão grave como as que a comunicação social alemã imputava aos gregos a propósito das falsificações das contas, dos benefícios sociais e das luvas. Porém, na origem da coisa está a definição favorável aos fabricantes das normas de ensaio, fora das condições reais. Se os ensaios fossem reais não haveria software falsificador. Consta que a EPA americana vai juntar ensaios de estrada na avaliação das emissões e dos consumos. Consta igualmente que a União Europeia desistiu de tornar mais rigorosos os ensaios por pressão dos fabricantes. Os consumos anunciados atualmente são inferiores aos que resultam da aplicação da fórmula empírica de consumo de energia C=c0+c1V+c2V2 . Isto é, são fisicamente inexequíveis. Ao que leva a prioridade ao lucro...enganar os cidadãos. É uma espécie de política da privatização do atual governo, justificada com a mentira de que os custos são menores do que realmente são.
PS em 3 de outubro - correção: os gases emitidos em excesso são os óxidos de azoto, não o CO2 . O limite de emissões é de 0,025g/km e o valor emitido em condições reais varia entre 0,25 e 1 g/km porque não dispõe de filtro catalítico com ureia renovável como as outras marcas. O que aconteceu não invalida a crítica às condições virtuais dos ensaios laboratoriais. Ver
http://www3.epa.gov/otaq/cert/documents/vw-nov-caa-09-18-15.pdf
e
https://www.quora.com/How-exactly-does-the-Volkswagen-emission-fraud-work
http://www.wired.com/2015/09/vw-fool-epa-couldnt-trick-chemistry/
http://www.livescience.com/52284-volkswagen-scandal-clean-diesel-challenges.html
http://www.autonews.com/article/20150925/OEM11/150929855/how-vws-diesel-emissions-system-works
sábado, 19 de setembro de 2015
Palmeiras
duas das quatro palmeiras ainda sobrevivem |
Dramática metáfora de como o poder financeiro vai ameaçando o fator trabalho, asfixiando o investimento nas pequenas economias abertas à invasão deste tipo de coleópteros. Pelo menos enquanto houver palmeiras, ou a galinha dos ovos de ouro. Que farão os escaravelhos bicudos quando não houver palmeiras?
Campanha eleitoral, Psicologia social III - falas de governantes
A atual senhora ministra das finanças é cabeça de lista por Setúbal nas eleições legislativas de outubro de 2015.
Em debate com as outras candidatas e candidato, não me surpreende o distanciamento com que ouve a crítica de outra candidata relatando a recusa do atual governo em promover a linha ferroviária (tem de ser nova devido aos declives da existente) para servir o porto de Sines e também o desenvolvimento deste. A senhora ministra não tem conhecimentos de gestão industrial e não tem sensibilidade para avaliar a necessidade de incluir os dados dessa disciplina nos seus quadros de Excel.
Mas o que reteve a minha atenção foi a resposta que ela deu ao outro candidato quando se discutia um problema relativamente complexo da área bancária: "Para mim é fácil explicar, o senhor é que poderá ter dificuldade em perceber".
Temos assim, dum lado, quem teve acesso à sabedoria e que tem capacidade para entender as coisas. E do outro os ignorantes e de capacidade de entendimento limitada.
Pode ter sido um lapso, uma sobreposição do subconsciente, mas que revela, por uma falta de controle temporária, o verdadeiro pensamento da senhora, quem se opõe é inferior.
Consulto então o já citado "Livro da Psicologia" para me esclarecer como pode isto acontecer. E ele explica, a propósito dos trabalhos de Anna Freud, filha de Sigmund, sobre a divisão do aparelho psíquico em 3 partes: o ego, o superego e o id.
O id procura a satisfação das necessidades básicas; o superego é virtuoso (no caso da senhora ministra resultará da sua formação superior na escola de Chicago); o ego toma as decisões.
Porém, o contexto adverso (candidatos da oposição contrariando o superego com os podres e os falhanços da governação) pode criar ansiedade e então o ego tem necessidade de desenvolver mecanismos de defesa. Não tendo a senhora ministra vocação para os mecanismos habituais que recorrem ao humor ou à sublimação, resta-lhe a negação (por mais evidente que seja um facto, ela continuará a dizer que não; por exemplo, o aumento do défice devido à injeção de 3900 milhões de euros no fundo de resolução do banco bom é apenas um efeito "meramente estatístico") ou o distanciamento (a recusa de considerar dados).
Salvo melhor opinião, a Constituição da República devia prever mecanisnos de controle psicológico dos orgãos do seu Estado. Para melhorar a sua eficiencia, claro.
As minorias, por vezes, também se ouvem
Devemos todos conviver, as maiorias e as minorias. E convém ouvir estas, por vezes. Nada obriga, na Física e na Estatística, que as melhores decisões sejam tomadas sempre pelas maiorias, embora seja dificil definir "melhores decisões".
Surpreendentemente, leio nas notícias um bispo jesuíta concordar com o entrevistador que se deve tentar uma solução negociada para a guerra com o Estado Islamico, que devem procurar-se mediadores. Contraria os estereotipos veiculados pela comunicação social.
Também surpreendentemente, vejo no programa Prós e Contras, que tantas vezes é apenas uma montra de exibicionistas, Nuno Garoupa afirmar que o poder judicial em Portugal não deve continuar em "auto-governo".
Trata-se de questão importantissima para o nosso país. O poder judicial deve ser independente, mas não pode viver em isolamento autista, corporativo e imune à crítica.
Há muitos anos que a gestão das empresas sabe que o departamento de qualidade tem de ser independente da hierarquia da empresa. Mas que todos os departamentos da empresa, incluindo o departamento da qualidade, devem viver em controle mútuo.
Não pode haver pensamentos e ações únicos, mesmo que sejam decididos ou delegados por maiorias.
Salvo melhor opinião, claro.
PS em 20 de setembro de 2015 - A propósito da guerra na Síria, origem de muitos refugiados, é vergonhosa a recusa das grandes potencias (USA, Russia, China, Irão, Arabia Saudita) em encontrar soluções pela diplomacia; ver
https://www.youtube.com/watch?v=nvo755oezdQ#t=10
Surpreendentemente, leio nas notícias um bispo jesuíta concordar com o entrevistador que se deve tentar uma solução negociada para a guerra com o Estado Islamico, que devem procurar-se mediadores. Contraria os estereotipos veiculados pela comunicação social.
Também surpreendentemente, vejo no programa Prós e Contras, que tantas vezes é apenas uma montra de exibicionistas, Nuno Garoupa afirmar que o poder judicial em Portugal não deve continuar em "auto-governo".
Trata-se de questão importantissima para o nosso país. O poder judicial deve ser independente, mas não pode viver em isolamento autista, corporativo e imune à crítica.
Há muitos anos que a gestão das empresas sabe que o departamento de qualidade tem de ser independente da hierarquia da empresa. Mas que todos os departamentos da empresa, incluindo o departamento da qualidade, devem viver em controle mútuo.
Não pode haver pensamentos e ações únicos, mesmo que sejam decididos ou delegados por maiorias.
Salvo melhor opinião, claro.
PS em 20 de setembro de 2015 - A propósito da guerra na Síria, origem de muitos refugiados, é vergonhosa a recusa das grandes potencias (USA, Russia, China, Irão, Arabia Saudita) em encontrar soluções pela diplomacia; ver
https://www.youtube.com/watch?v=nvo755oezdQ#t=10
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Campanha eleitoral, Psicologia social II - Homem irracional
Coincidencia curiosa. Estreia-se em Portugal em plena campanha eleitoral o filme Homem irracional de Woody Allen. E encontro o texto de Fernando Pessoa, agressivo para os eleitores que preferem ter um automóvel a viver numa sociedade de pleno emprego (se admitirmos que o emprego é um pilar indispensável para a felicidade), o Homem é um animal irracional:
Curiosa a coincidencia entre o pensamento de Woody Allen e o de Fernando Pessoa. Se este diz que "toda a vida da humanidade é uma coisa fútil, não se percebe para que há", Woody Allen diz "o universo é aleatório, moralmente neutro e inimaginavelmente violento" (Setembro, filme de 1987).
Perante estas afirmações desencorajadoras, convinha que a campanha eleitoral se centrasse nas capacidades dos cidadãos e cidadãs para ultrapassar estas complexidades.
Nomeadamente exigindo que o próximo governo, providenciando os necessários projetos, resolva as questões da energia primária, das infraestruturas de transporte ferroviário e portuárias, e da reabilitação urbana efetiva (isto é, suscetível de contribuir para o repovoamento dos centros das cidades) com o apoio dos fundos comunitários.
É isso, fazer uma campanha eleitoral sem falar nisto é irracional.
Socorramo-nos pois, para reagir pela oposição, do já citado "O livro da Psicologia", ed.Marcador, no seu capítulo de Psicologia social: "As preferencias não são racionais. A preferencia pelos estímulos conhecidos (as decisões de um governo, comento eu), mesmo subliminares, baseia-se exclusivamente na história da exposição aos mesmos e não é afetada pelas convicções ou atitudes manifestadas pela pessoa. Gosta-se mais daquilo com que se tem familiaridade. Associamos à novidade a incerteza e o conflito, estados que provocam afetos negativos. Não há aqui uma opinião racional, antes uma opinião formada a nível subconsciente" (Robert Zajonc, 1968).
1. O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única
diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal
irracional complexo. É esta a conclusão que nos leva a psicologia científica,
no seu estado actual de desenvolvimento. O subconsciente, inconsciente, é que
dirige e impera, no homem como no animal. A consciência, a razão, o raciocínio
são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais
que lhe são inferiores.
2. Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada.
3. A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.
4. A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio.
5. Toda a vida e história da humanidade é uma coisa, no fundo, inteiramente fútil, não se percebe para que há, e só se percebe que tem que haver.
6. A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.
O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.
Fernando Pessoa, in 'Reflexões Sobre o Homem - Textos de 1926-1928'
2. Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada.
3. A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.
4. A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio.
5. Toda a vida e história da humanidade é uma coisa, no fundo, inteiramente fútil, não se percebe para que há, e só se percebe que tem que haver.
6. A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.
O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.
Fernando Pessoa, in 'Reflexões Sobre o Homem - Textos de 1926-1928'
Curiosa a coincidencia entre o pensamento de Woody Allen e o de Fernando Pessoa. Se este diz que "toda a vida da humanidade é uma coisa fútil, não se percebe para que há", Woody Allen diz "o universo é aleatório, moralmente neutro e inimaginavelmente violento" (Setembro, filme de 1987).
Perante estas afirmações desencorajadoras, convinha que a campanha eleitoral se centrasse nas capacidades dos cidadãos e cidadãs para ultrapassar estas complexidades.
Nomeadamente exigindo que o próximo governo, providenciando os necessários projetos, resolva as questões da energia primária, das infraestruturas de transporte ferroviário e portuárias, e da reabilitação urbana efetiva (isto é, suscetível de contribuir para o repovoamento dos centros das cidades) com o apoio dos fundos comunitários.
É isso, fazer uma campanha eleitoral sem falar nisto é irracional.
Socorramo-nos pois, para reagir pela oposição, do já citado "O livro da Psicologia", ed.Marcador, no seu capítulo de Psicologia social: "As preferencias não são racionais. A preferencia pelos estímulos conhecidos (as decisões de um governo, comento eu), mesmo subliminares, baseia-se exclusivamente na história da exposição aos mesmos e não é afetada pelas convicções ou atitudes manifestadas pela pessoa. Gosta-se mais daquilo com que se tem familiaridade. Associamos à novidade a incerteza e o conflito, estados que provocam afetos negativos. Não há aqui uma opinião racional, antes uma opinião formada a nível subconsciente" (Robert Zajonc, 1968).
Campanha eleitoral, Psicologia social I, teoria do conformismo
A senhora jornalista tristemente comentava a quase inutilidade de debater dados e propostas concretos durante a campanha eleitoral, porque as pessoas votam mais por emoção e pelas suas opções de grupo do que por motivos racionais.
De facto, analisar uma questão técnica que tem consequencias no dia a dia e no bolso dos cidadãos cansa, como por exemplo as necessidades de energia primária, ou de infraestruturas de comunicação ferroviária, e é dificil de concentrar e manter a atenção no seu estudo.
Desligados das razões que provocam realmente as coisas, os eleitores podem até votar em quem os prejudique, ou simplesmente absterem-se.
Ficou na história uma petição de escravos libertos, que pediam o regresso à escravatura por ser dificil viver em liberdade.
Então, tudo isto é um problema do cérebro humano quando se vive em grupo.
O cérebro humano acomoda-se às situações por mais incómodas que sejam e receia a mudança.
Não sou eu que o afirmo, encontro esta explicação no "livro da psicologia", de uma equipa de psicólogos, ed.Marcador (Dorling Kindersley, www.dk.com), no capítulo Psicologia Social.
Esta seria uma razão para os governos saídos de eleições não exibirem tanto orgulho na sua vitória. E por outro lado, seria uma boa razão para os partidos abdicarem do monopólio da intervenção política e consentirem numa maior participação na vida pública dos cidadãos e cidadãs, das entidades da sociedade civil, das associações profissionais, das empresas quando deixam que os seus conhecimentos técnicos se sobreponham ao interesse do lucro e da ligação ao poder político... porque as simples campanhas eleitorais não parecem ser suficientes para vencer a acomodação e a resignação.
Sem querer dar razão em todos os assuntos ao autor da citação seguinte, nomeadamente à caraterização da "corrente materialista" (eu diria a submissão ao lucro e ao mercado), parece aplicável a proposta de Alexander Soljenitsine para reduzir a parte emocional nas decisões da vida política:
"Só através de um movimento voluntário de moderação das nossas paixões, serena e aceite por nós, a humanidade pode alçar-se acima da corrente materialista que aprisiona o mundo. Ainda que nos fosse poupado sermos destruídos pela guerra, a nossa vida tem de mudar se não quiser perecer por sua própria culpa"
De facto, analisar uma questão técnica que tem consequencias no dia a dia e no bolso dos cidadãos cansa, como por exemplo as necessidades de energia primária, ou de infraestruturas de comunicação ferroviária, e é dificil de concentrar e manter a atenção no seu estudo.
Desligados das razões que provocam realmente as coisas, os eleitores podem até votar em quem os prejudique, ou simplesmente absterem-se.
Ficou na história uma petição de escravos libertos, que pediam o regresso à escravatura por ser dificil viver em liberdade.
Então, tudo isto é um problema do cérebro humano quando se vive em grupo.
O cérebro humano acomoda-se às situações por mais incómodas que sejam e receia a mudança.
Não sou eu que o afirmo, encontro esta explicação no "livro da psicologia", de uma equipa de psicólogos, ed.Marcador (Dorling Kindersley, www.dk.com), no capítulo Psicologia Social.
Esta seria uma razão para os governos saídos de eleições não exibirem tanto orgulho na sua vitória. E por outro lado, seria uma boa razão para os partidos abdicarem do monopólio da intervenção política e consentirem numa maior participação na vida pública dos cidadãos e cidadãs, das entidades da sociedade civil, das associações profissionais, das empresas quando deixam que os seus conhecimentos técnicos se sobreponham ao interesse do lucro e da ligação ao poder político... porque as simples campanhas eleitorais não parecem ser suficientes para vencer a acomodação e a resignação.
Sem querer dar razão em todos os assuntos ao autor da citação seguinte, nomeadamente à caraterização da "corrente materialista" (eu diria a submissão ao lucro e ao mercado), parece aplicável a proposta de Alexander Soljenitsine para reduzir a parte emocional nas decisões da vida política:
"Só através de um movimento voluntário de moderação das nossas paixões, serena e aceite por nós, a humanidade pode alçar-se acima da corrente materialista que aprisiona o mundo. Ainda que nos fosse poupado sermos destruídos pela guerra, a nossa vida tem de mudar se não quiser perecer por sua própria culpa"
Alexander Soljenitsine
Ultimato para uma mudança profunda
terça-feira, 15 de setembro de 2015
O futuro do metropolitano de Lisboa
Caro colega e amigo
Não me tendo sido possível comparecer no plenário de dia 15 de setembro de 2015 sobre o futuro do nosso metropolitano, para o qual amavelmente me convidou, envio-lhe este pequeno texto.
Como reformado do metro, tenho assistido impotente à ofensiva do atual governo contra as empresas públicas de transporte enquanto prestadoras de um serviço público.
Não reconheço competência técnica, na área dos transportes, nem aos decisores do governo, nem aos seus mentores da troika, para as decisões que têm tomado. Estes, especialmente, deveriam conhecer os resultados negativos das privatizações dos transportes ferroviários em Inglaterra.
Esta ofensiva é um insulto a todos os que dedicaram ou dedicam o seu esforço à construção, exploração e crescimento do metropolitano.
Todos sabemos que se integra na desvalorização do fator trabalho e na transferência dos rendimentos para o capital, contribuindo para o acentuar das desigualdades e das dificuldades de desenvolvimento das novas gerações (as privações na infancia dificultam o desenvolvimento intelectual).
A gestão privada da exploração do metropolitano, precisamente por ser privada, terá sempre como objetivo apresentar lucro, em detrimento da segurança, da qualidade e de perspetivas de desenvolvimento.
Mesmo que a curto prazo suporte um défice, como parece ser o caso da subconcessão à Avanza, em cujo primeiro ano eu estimo um prejuízo de 9 milhões de euros se cumprido o caderno de encargos, o que configurará uma prática de dumping.
Por mais que o repitam, o lucro obtido nunca será menor do que o diferencial de eficiência dos resultados entre a gestão pública e uma eventual mais eficiente gestão privada.
Isto é, o que a gestão privada possa vir a ganhar, reduzindo custos de pessoal com o consequente comprometimento da segurança e qualidade (desde o guarnecimento das estações, à redução das tarefas de manutenção, aos tempos de condução, à redução dos rendimentos do trabalho, à redução de ações de formação e reciclagem) não será suficiente para garantir lucro aos acionistas, considerando a razoabilidade dos indicadores que a gestão pública do metropolitano apresentava quando comparado com os metropolitanos estrangeiros.
Ou então, sem redução da qualidade, o lucro é conseguido à custa de maiores encargos para o Estado concedente.
É justificável que num serviço público de transportes as receitas de exploração possam não cobrir as despesas.
O diferencial a suportar pelas contas públicas servirá assim de contribuição para o rendimento dos particulares e das empresas, nestas como componente nos custos gerais dos custos de transporte dos seus funcionários (esta é também a fundamentação para a taxa de financiamento dos transportes que a legislação francesas aplica às empresas com mais de 5 funcionários em zonas metropolitanas, o chamado “versement transport”).
Seguramente que as receitas não poderão cobrir os encargos dos juros e amortizações devidos aos elevados investimentos realizados, que desde há muitos anos o metropolitano vinha reivindicando deverem ser levados às contas públicas e não da empresa.
Porque o que fundamenta a existência de um metropolitano é a sua maior eficiência energética quando comparado com o transporte individual ou com o transporte rodoviário.
Daí resulta uma economia na importação de combustíveis fósseis, de que o país sofre forte dependencia, sempre que se transferem deslocações do transporte individual para o metropolitano, coisa que o atual governo não verá com bons olhos, dadas as receitas fiscais que obtem com a venda de combustíveis.
E é aqui que assentará o futuro do metropolitano.
Com a garantia do conhecimento e do profissionalismo dos seus trabalhadores, a todos os níveis, o metropolitano manterá esse carater de economizador de energia no panorama nacional.
É portanto essencial manter os níveis de conhecimento das tarefas e funções em todas as categorias profissionais, preservando os procedimentos devidamente registados nas respetivas fichas de funções, nomeadamente as normas que se relacionam com a segurança, mantendo as ações de reciclagem e os setores de estudos, qualidade e projetos.
Não deveremos cruzar os braços perante a falta de dinheiro para novos investimentos.
As normas europeias permitem aplicar fundos comunitários no desenvolvimento dos metropolitanos, precisamente porque isso aumenta a eficiência energética e reduz, comparativamente com o transporte individual, a emissão de gases com efeito de estufa de acordo com os objetivos da união europeia.
A extensão à Reboleira é exemplo disso, pois beneficia do QREN 2007-2013. Foi escandaloso o atraso com que o processo se arrastou na comissão de coordenação de Lisboa e Vale do Tejo e sabe-se lá mais por onde, quando os projetos estavam mais que concluidos, mas não interessa agora perseguir culpados. Interessa que todos se dediquem a que o prolongamento à Reboleira seja levado a bom termo e que a sua colocação em serviço siga as normas de segurança.
Para beneficiar dos fundos comunitários é necessário porém que os projetos estejam devidamente concluídos e fundamentada a sua utilidade. Esta é mais uma razão para manter o “saber como” no metropolitano, uma vez que não é possível encontrá-lo no mercado nacional em todas as especialidades necessárias.
Outros exemplos de aplicação de fundos comunitários que requerem a colaboração de todos:
- a adaptação dos cais a 6 carruagens, acesso a pessoas de mobilidade reduzida e remodelação da ventilação principal nas estações de Areeiro e Arroios,
- acesso de pessoas com mobilidade reduzida nas principais estações que dele ainda não dispõem, nomeadamente nas estações de correspondencia,
- reforço dos níveis de segurança da circulação com sistemas de proteção automáticos do tipo ATP/ATO para redução da probabilidade de ocorrencia de acidentes,
- completamento do esquema básico da rede com prolongamento da linha vermelha até à linha suburbana de Cascais, com correspondência entre Alcantara e Algés e com correspondência com parque de estacionamento em Campolide para o transporte individual da A5,
- estudo de novo material circulante para satisfação do previsível aumento da procura a médio prazo (por um lado é expetável que a economia venha a crescer com consistência, e por outro lado é provável que o preço do petróleo suba, desincentivando o transporte individual)
Parece-me ser este o caminho a tentar no futuro, a empenhar os trabalhadores do metro, uma vez que na concessão em curso não se prevê que o subconcessionário contribua com estudos para o desenvolvimento do metro.
E aguardar que a subconcessão possa ser renegociada e revertida.
Relativamente aos reformados, mantém-se a esperança, enquanto os tribunais não decidem, que um novo governo reponha, pelo menos parcialmente, os complementos de reforma.
Penso que a maioria dos reformados concorda com a formalização de uma contribuição saída dos seus complementos de reforma, no pressuposto de que todos temos de fazer sacrificios, esperando-se que, nessa perspetiva, ideias como a taxação sobre as transações financeiras e sobre os lucros das financeiras e dos bancos sejam igualmente postas em prática (notar que o famoso sigilo bancário está sendo mitigado internacionalmente).
Votos das maiores felicidades
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Carissima senhora jornalista
O seu texto foi publicado já há uns dias no DN, mas eu penso que concordará que o tema é oportuno.
Escrevo-lhe porque na sua crónica diz com desalento que não tem uma conclusão esclarecedora.
E contudo, depois do acidente que relata, fez o que devia. Sofreu com a sua reconstituição mas divulgou como pôde as causas e as circunstancias em que ele se deu, não guardou silencio.
Quem não fez o que devia foram "as autoridades", como costumam designar-se as entidades que, mais do que exercerem a autoridade deveriam, ao serviço da comunidade, aplicar soluções para diminuir a sinistralidade rodoviária.
Dificilmente diminuiremos a sinistralidade sem a realização de análises rigorosas a cada acidente e proposta de soluções para os evitar.
E não vemos "as autoridades" a fazê-lo.
Quando se pedem relatórios de acidentes, o que as "autoridades" mostram são estatísticas não comentadas.
Eu penso que o jornalismo poderia aqui ajudar, levando a opinião pública a exigir o esclarecimento dos acidentes e publicando os resultados dos inquéritos.
Já teria então uma conclusão esclarecedora.
Não para o seu acidente, mas para contribuir para parar a morte nas estradas.
Escolhi para ilustrar este meu comentário a imagem de um acidente na VCI do Porto, felizmente sem mortes nem feridos graves, que retirei do DN.
O leitor ao vê-la poderá pensar que são coisas que só acontecem aos outros, ou que teve a sorte de não estar lá. Mas se fosse informado, uns dias mais tarde, das recomendações e conclusões do inquérito, poderia corrigir algum erro de condução que inconscientemente pratique, ou poderia ir criando uma cultura de exigência de segurança. Neste caso, pelo rasto dos pneus no asfalto e pela posição do camião deitado e da carrinha que o precedia, a primeira hipótese a analisar (sublinho hipótese, porque só um inquérito poderá apurar as causas) será excesso de velocidade, não respeito da distancia de segurança para o veículo de frente, com eventual colisão com a carrinha que o precedia, e insuficiente fixação do tanque ao trator (é importante investigar se a ligação ao pivot se soltou antes ou depois do camião se ter deitado; no primeiro caso a fixação era deficiente e ter-se-à partido durante a travagem e derrapagem, no segundo caso as condições de estabilidade do camião eram precárias).
Mas sobre o assunto cairá o silencio, tal como na generalidade dos casos. Fica-se sem se saber como e porque aconteceram os acidentes, embora os técnicos das companhias de seguros cheguem normalmente a conclusões corretas. E aqui entramos num domínio delicado, uma vez que as conclusões dos inquéritos das seguradoras estão relacionadas com os montantes a pagar e certamente as companhias invocarão sigilo profissional (mais uma vez o sigilo como inimigo do interesse comum).
Os inquéritos devem ser realizados por entidades oficiais ou independentes de seguradoras e não ter por objetivo a atribuição de culpas, coisa que faz parte da nossa cultura de pelourinho, antes devem ser realizados para determinar as circunstancias e as causas dos acidentes de modo a encontrar soluções para os evitar, conforme a cultura anglo-saxónica dos organismos de investigação de acidentes.
Salvo melhor opinião e sem querer ofender os seus profissionais, seria desejável que o jornalismo, se deu a notícia de um acidente, considerasse também como notícia o resultado da sua investigação e pressionar para que ela se fizesse em tempo útil.
Permito-me assim resumir o que proponho como medidas de redução da sinistralidade rodoviária, para o que julgo da maior importância a colaboração do jornalismo:
1 - divulgação sistemática da necessidade de conduzir sem excesso de velocidade, adaptando a condução às condições ambientais e guardando a distancia de segurança para o veículo precedente. Baixar a velocidade é uma medida de segurança para redução de atropelamentos, colisões e despistes, mas serve também para reduzir o consumo de energia e para preparar a aceitação de veículos elétricos
2 - divulgação obrigatória em todos os canais de TV, em horário nobre, de esclarecimentos sobre o código da estrada (regra das rotundas, restrições à mudança de via e de ultrapassagens)
3 - avaliação permanente do código da estrada e divulgação das novas medidas para aperfeiçoamento (o atual código da estrada é suscetível de melhorias na definição das condições ambientais como condicionadoras da condução, na regulação da circulação nas rotundas, na definição das condições de prioridade nas passadeiras de peões)
4 - existencia de orgãos independentes para análise de acidentes e divulgação pública das suas conclusões
5 - campanhas publicitárias intensivas de prevenção nas TVs em horário nobre, pela positiva, isto é, mostrando o comportamento correto em vez do comportamento de risco e evitando mostrar as consequencias trágicas, considerando que a reação normal das pessoas é que isso só acontece aos outros.
sábado, 12 de setembro de 2015
Intervenção politica em período eleitoral
Vou fazer uma intervenção política neste período eleitoral, sob a forma de uma análise técnica de um problema de transito.
Os senhores jornalistas já explicaram que não se devem utilizar argumentos técnicos para discutir politica, porque afasta as pessoas.
Mas eu sou teimoso. Já o senhor comissário político que o governo de então nomeou, de acordo com a cor partidária dominante, como administrador principal do metro, começava as reuniões dizendo que não lhe viessemos com questões técnicas.
Mas eu era teimoso e fundamentava com argumentos técnicos.
Vá lá que o senhor se limitou a pôr-me na prateleira, sem mais danos.
É um dos principais problemas em Portugal, nas empresas públicas e nas privadas, a seleção dos decisores, escolhidos por quem não conhece o negócio ou quer favorecer quem convida.
E pensar que na Inglaterra o governador do banco central é escolhido por concurso público internacional... (claro que a esperteza provinciana por cá saberia contornar os escolhos do concurso público, veja-se o peso dos ajustes diretos nas contratações que o senhor governo faz).
E o enunciado do problema de transito é: 30% de condutores em todo o planeta conduzem pela esquerda, e 70% pela direita. Vale a pena pensar em uniformizar?
Não estou a fazer a ligação entre as ideologias de esquerda e de direita e os sentidos de circulação. Estabelecerei a relação depois, do ponto de vista comportamental, embora com reflexos politicos.
Pequena história do sentido de circulação: há vestígios históricos que mostram que nos hipófromos gregos e romanos o sentido de circulação era contrário aos ponteiros do relógio, mas há também vestígios arquelógicos que mostram que os traços deixados na pedra das estradas romanas são mais profundos do lado esquerdo da estrada, correspondendo aos percursos em que as carroças iam carregadas de produtos para a cidades, regressando vazias. Acresce que como a maioria dos humanos é destra, desde sempre se subia para os cavalos pelo lado esquerdo destes, seguindo naturalmente escostado à esquerda da estrada (seria mais perigoso sair da estrada do que colidir com o veículo em sentido contrário, seria tambem perigoso seguir pela estrada com a mão direita ocupada com as rédeas, não fosse preciso defender-se de um atacante) . O primeiro documento que confirma a circulação pela esquerda é uma bula papal de Bonifácio VIII dirigida aos peregrinos no século XIII.
Só depois no século XVIII surge na Russia, em 1752 um decreto da imperatriz a impor a circulação pela direita. Seguiu-se a Inglaterra em 1752, pela esquerda, a Dinamarca em 1758 pela direita e a França e os USA em 1792 pela direita.
Provavelmente a escolha pela direita terá sido dos cocheiros que tinham e conduzir carroças maiores, com pares de cavalos. Enquanto na Inglaterra se continuou a subir para os cavalos pelo seu lado esquerdo e se adotou o postilhão que seguia montado no cavalo da esquerda enquanto o cocheiro se sentava no lado direito da boleia para controlar os cruzamentos com os veiculos em sentido contrário, na Russia, Dinamarca, França e USA o cocheiro seguiria montado no cavalo da esquerda mas conduzindo pela direita para controlar os cruzamentos com os outros veículos.
Outra explicação, em período de revolução, seria que os nobres, habituados a circular pela esquerda, teriam sido obrigados a desviar-se do povo que trabalhava preferindo o lado direito.
Feita a pequena história, analisemos as vantagens e inconvenientes, realçando que a regra básica da prioridade no transito é a de que quem se apresenta pela direita tem a prioridade.
Vantagens da circulação pela direita:
- facilidade de circulação internacional devido ao maior número de paises aderentes
- maior facilidade e economia na encomenda de veículos já preparados para circulação pela direita
Vantagens da circulação pela esquerda:
- dado que a circulação nas rotundas se faz no sentido dos ponteiros do relógio, à chegada às rotundas não é necessário colocar um sinal de perda de prioridade
- pela mesma razão, o risco de distração ou falta de atenção ao sinal de perda de prioridade é menor
- como consequencia, por haver mais uniformidade do que na condução pela direita, é provável que o indice de sinistralidade tenda para ser menor nos países com condução pela esquerda
- na condução pela esquerda o lugar do condutor é à direita, pelo que pode segurar o guiador com a mão direita enquanto move a alavanca de mudança de velocidades com a mão esquerda; sendo a maioria dos condutores destros, esta é uma vantagem relativamente à condução pela direita
- ainda devido à posição do condutor, na condução pela esquerda é mais fácil ao condutor detetar a aproximação de outro veículo vindo da direita e portanto , com prioridade, visto que se encontra desse lado
- finalmente, à aproximação de uma estrada principal vindo de uma estrada secundária, na condução pela esquerda, o condutor sabe que os veículos na primeira via que encontra na estrada principal têm prioridade, contrariamente ao caso da condução pela direita, independentemente da existencia de sinal de perda de prioridade
Tudo ponderado, parece que a principal vantagem da condução pela direita é económica (menor preço devido à maior quantidade de veiculos fabricados com condução á direita), embora a principal vantagem da condução pela esquerda seja maior segurança devido à uniformidade da sinalização (prioridade natural de quem está nas rotundas por vir da direita).
O interessante, e aqui entra a comparação com a política, é que, havendo vantagens na condução pela esquerda, ninguém quer mudar da direita para a esquerda. Nem sequer, obviamente, adotar a regra de prioridade a quem se apresenta pela esquerda, o que transferiria as vantagens para a condução pela direita.
Há uma razão psicológica para isso, expressa pelo provérbio popular, "mais vale um diabo conhecido do que um diabo desconhecido". Isto é, o cérebro humano é acomodatício, independentemente da análise racional que é capaz de fazer. Assim, a verdadeira mudança no sentido do progresso social será conseguido em democracia, não por simples campanha eleitoral, mas através de estudo e disseminação pela sociedade do conhecimento (não confundir com "conhecimentos") e atividade a nivel de estudos e divulgação pela sociedade civil. Pelo que os partidos que ganham eleições não deveriam iludir-se com o seu falso sucesso.
Salvo melhor opinião, claro.
Os senhores jornalistas já explicaram que não se devem utilizar argumentos técnicos para discutir politica, porque afasta as pessoas.
Mas eu sou teimoso. Já o senhor comissário político que o governo de então nomeou, de acordo com a cor partidária dominante, como administrador principal do metro, começava as reuniões dizendo que não lhe viessemos com questões técnicas.
Mas eu era teimoso e fundamentava com argumentos técnicos.
Vá lá que o senhor se limitou a pôr-me na prateleira, sem mais danos.
É um dos principais problemas em Portugal, nas empresas públicas e nas privadas, a seleção dos decisores, escolhidos por quem não conhece o negócio ou quer favorecer quem convida.
E pensar que na Inglaterra o governador do banco central é escolhido por concurso público internacional... (claro que a esperteza provinciana por cá saberia contornar os escolhos do concurso público, veja-se o peso dos ajustes diretos nas contratações que o senhor governo faz).
E o enunciado do problema de transito é: 30% de condutores em todo o planeta conduzem pela esquerda, e 70% pela direita. Vale a pena pensar em uniformizar?
Não estou a fazer a ligação entre as ideologias de esquerda e de direita e os sentidos de circulação. Estabelecerei a relação depois, do ponto de vista comportamental, embora com reflexos politicos.
Pequena história do sentido de circulação: há vestígios históricos que mostram que nos hipófromos gregos e romanos o sentido de circulação era contrário aos ponteiros do relógio, mas há também vestígios arquelógicos que mostram que os traços deixados na pedra das estradas romanas são mais profundos do lado esquerdo da estrada, correspondendo aos percursos em que as carroças iam carregadas de produtos para a cidades, regressando vazias. Acresce que como a maioria dos humanos é destra, desde sempre se subia para os cavalos pelo lado esquerdo destes, seguindo naturalmente escostado à esquerda da estrada (seria mais perigoso sair da estrada do que colidir com o veículo em sentido contrário, seria tambem perigoso seguir pela estrada com a mão direita ocupada com as rédeas, não fosse preciso defender-se de um atacante) . O primeiro documento que confirma a circulação pela esquerda é uma bula papal de Bonifácio VIII dirigida aos peregrinos no século XIII.
Só depois no século XVIII surge na Russia, em 1752 um decreto da imperatriz a impor a circulação pela direita. Seguiu-se a Inglaterra em 1752, pela esquerda, a Dinamarca em 1758 pela direita e a França e os USA em 1792 pela direita.
Provavelmente a escolha pela direita terá sido dos cocheiros que tinham e conduzir carroças maiores, com pares de cavalos. Enquanto na Inglaterra se continuou a subir para os cavalos pelo seu lado esquerdo e se adotou o postilhão que seguia montado no cavalo da esquerda enquanto o cocheiro se sentava no lado direito da boleia para controlar os cruzamentos com os veiculos em sentido contrário, na Russia, Dinamarca, França e USA o cocheiro seguiria montado no cavalo da esquerda mas conduzindo pela direita para controlar os cruzamentos com os outros veículos.
Outra explicação, em período de revolução, seria que os nobres, habituados a circular pela esquerda, teriam sido obrigados a desviar-se do povo que trabalhava preferindo o lado direito.
Feita a pequena história, analisemos as vantagens e inconvenientes, realçando que a regra básica da prioridade no transito é a de que quem se apresenta pela direita tem a prioridade.
Vantagens da circulação pela direita:
- facilidade de circulação internacional devido ao maior número de paises aderentes
- maior facilidade e economia na encomenda de veículos já preparados para circulação pela direita
Vantagens da circulação pela esquerda:
- dado que a circulação nas rotundas se faz no sentido dos ponteiros do relógio, à chegada às rotundas não é necessário colocar um sinal de perda de prioridade
- pela mesma razão, o risco de distração ou falta de atenção ao sinal de perda de prioridade é menor
- como consequencia, por haver mais uniformidade do que na condução pela direita, é provável que o indice de sinistralidade tenda para ser menor nos países com condução pela esquerda
- na condução pela esquerda o lugar do condutor é à direita, pelo que pode segurar o guiador com a mão direita enquanto move a alavanca de mudança de velocidades com a mão esquerda; sendo a maioria dos condutores destros, esta é uma vantagem relativamente à condução pela direita
- ainda devido à posição do condutor, na condução pela esquerda é mais fácil ao condutor detetar a aproximação de outro veículo vindo da direita e portanto , com prioridade, visto que se encontra desse lado
- finalmente, à aproximação de uma estrada principal vindo de uma estrada secundária, na condução pela esquerda, o condutor sabe que os veículos na primeira via que encontra na estrada principal têm prioridade, contrariamente ao caso da condução pela direita, independentemente da existencia de sinal de perda de prioridade
Tudo ponderado, parece que a principal vantagem da condução pela direita é económica (menor preço devido à maior quantidade de veiculos fabricados com condução á direita), embora a principal vantagem da condução pela esquerda seja maior segurança devido à uniformidade da sinalização (prioridade natural de quem está nas rotundas por vir da direita).
O interessante, e aqui entra a comparação com a política, é que, havendo vantagens na condução pela esquerda, ninguém quer mudar da direita para a esquerda. Nem sequer, obviamente, adotar a regra de prioridade a quem se apresenta pela esquerda, o que transferiria as vantagens para a condução pela direita.
Há uma razão psicológica para isso, expressa pelo provérbio popular, "mais vale um diabo conhecido do que um diabo desconhecido". Isto é, o cérebro humano é acomodatício, independentemente da análise racional que é capaz de fazer. Assim, a verdadeira mudança no sentido do progresso social será conseguido em democracia, não por simples campanha eleitoral, mas através de estudo e disseminação pela sociedade do conhecimento (não confundir com "conhecimentos") e atividade a nivel de estudos e divulgação pela sociedade civil. Pelo que os partidos que ganham eleições não deveriam iludir-se com o seu falso sucesso.
Salvo melhor opinião, claro.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Mobilidade elétrica
Mais uma vez, semana da mobilidade em setembro. Oportunidade para se dizerem umas banalidades.
Eis as minhas:
Simpatizo com a EDP, apesar de ter uma dívida próxima de 17 mil milhões, de ter na presidencia da sua assembleia geral o senhor com a maior reforma do país e de não gostar que lhe falem na revisão dos CMEC e na participação na redução do defice tarifário.
É que tem um site muito interessante sobre paineis fotovoltaicos, sobre bombas de calor e sobre automóveis elétricos, incluindo as suas características.
https://energia.edp.pt/particulares/servicos/mobilidade-eletrica/#estilo-vida
Fico assim a saber que os grandes fabricantes, VW, Audi, Mercedes, Renault, já desenvolveram automóveis 100% elétricos sobre modelos de sucesso de gasolina ou gasóleo.
E seguem o velho sistema: o seu consumo anunciado é da ordem de 170 Wh/km e, graças a baterias de lítio de 28 kWh, a sua autonomia chegaria aos 170 km.
Não é verdade, é publicidade enganosa.
Calculando a energia necessária para mover uma massa de 2 toneladas com rodas de borracha (com a taxa média de ocupação, 1,3 passageiros,isto é, 0,1 ton, e considerando o peso específico da bateria, 100 Wh/kg , isto é, 0,28 ton),
num percurso de 1000 m
com uma aceleração de 2m/s2 até atingir 60 km/h
e manutenção dessa velocidade no patamar de 722m
seguindo-se travagem com regeneração de 10% da energia cinética,
através da fórmula da resistencia ao movimento
Ft=ma+R
aplicada por incrementos de intervalos do espaço,
e considerando um rendimento de 0,7 para o motor e 0,9 para as transmissões,
obtive um consumo teórico da ordem de 270 Wh/km
Admitindo um fator de utilização para a bateria de 0,8, teremos 22 kWh uteis e 22/0,27 = 81 km para a autonomia do automóvel elétrico.
Este valor, bem diferente dos 170km anunciados, é ainda assim utilizável no quotidiano urbano. Mas choca ver a sugestão dos fabricantes: alugar um automóvel térmico para viagens por estrada. Não quererão encarar soluções mais eficazes? como por exemplo a normalização de baterias substituiveis nos postos das áreas de serviço, o que implicaria a submissão de todos os fabricantes a um projeto novo de automóveis compativeis com o mecanismo de substituição das baterias e a consideração destas como consumíveis.
Ou, em alternativa, disponibilização para aluguer nos postos das áreas de serviço de reboques com gerador térmico para alimentação do motor elétrico.
No entanto, continuo a pensar que o futuro do automóvel elétrico não será com alimentação por baterias, mas por célula de combustível alimentada por hidrogénio produzido de forma descentralizada a partir de fontes de energia renovável.
Mas parece que não é a tendencia "do mercado", enquanto países dependentes do petróleo vão continuando a perder dinheiro todos os anos com a respetiva importação.
Eis as minhas:
Simpatizo com a EDP, apesar de ter uma dívida próxima de 17 mil milhões, de ter na presidencia da sua assembleia geral o senhor com a maior reforma do país e de não gostar que lhe falem na revisão dos CMEC e na participação na redução do defice tarifário.
É que tem um site muito interessante sobre paineis fotovoltaicos, sobre bombas de calor e sobre automóveis elétricos, incluindo as suas características.
https://energia.edp.pt/particulares/servicos/mobilidade-eletrica/#estilo-vida
Fico assim a saber que os grandes fabricantes, VW, Audi, Mercedes, Renault, já desenvolveram automóveis 100% elétricos sobre modelos de sucesso de gasolina ou gasóleo.
E seguem o velho sistema: o seu consumo anunciado é da ordem de 170 Wh/km e, graças a baterias de lítio de 28 kWh, a sua autonomia chegaria aos 170 km.
Não é verdade, é publicidade enganosa.
Calculando a energia necessária para mover uma massa de 2 toneladas com rodas de borracha (com a taxa média de ocupação, 1,3 passageiros,isto é, 0,1 ton, e considerando o peso específico da bateria, 100 Wh/kg , isto é, 0,28 ton),
num percurso de 1000 m
com uma aceleração de 2m/s2 até atingir 60 km/h
e manutenção dessa velocidade no patamar de 722m
seguindo-se travagem com regeneração de 10% da energia cinética,
através da fórmula da resistencia ao movimento
R=m
(c0 + c1 V)+ cD.A.V2
e da equação do movimentoFt=ma+R
aplicada por incrementos de intervalos do espaço,
e considerando um rendimento de 0,7 para o motor e 0,9 para as transmissões,
obtive um consumo teórico da ordem de 270 Wh/km
Admitindo um fator de utilização para a bateria de 0,8, teremos 22 kWh uteis e 22/0,27 = 81 km para a autonomia do automóvel elétrico.
Este valor, bem diferente dos 170km anunciados, é ainda assim utilizável no quotidiano urbano. Mas choca ver a sugestão dos fabricantes: alugar um automóvel térmico para viagens por estrada. Não quererão encarar soluções mais eficazes? como por exemplo a normalização de baterias substituiveis nos postos das áreas de serviço, o que implicaria a submissão de todos os fabricantes a um projeto novo de automóveis compativeis com o mecanismo de substituição das baterias e a consideração destas como consumíveis.
Ou, em alternativa, disponibilização para aluguer nos postos das áreas de serviço de reboques com gerador térmico para alimentação do motor elétrico.
No entanto, continuo a pensar que o futuro do automóvel elétrico não será com alimentação por baterias, mas por célula de combustível alimentada por hidrogénio produzido de forma descentralizada a partir de fontes de energia renovável.
Mas parece que não é a tendencia "do mercado", enquanto países dependentes do petróleo vão continuando a perder dinheiro todos os anos com a respetiva importação.
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Meu caro amigo, concordo consigo
Meu caro amigo, que me mandou um texto de um colega nosso apelando a que sim, se fale à exaustão do caso Sócrates, com as suas trocas secretas de dinheiro com o amigo.
Claro que concordo, sou um defensor do debate público e da limitação dos segredos, quer sejam bancários, quer sejam de justiça (claro, claro, com limites neste caso).
Mas vamos sobrecarregar o debate. Não podemos esquecer-nos de que nos lotes da praia da Coelha figuram artistas da especialidade, vizinhos do atual senhor presidente da República. Tal como o tratamento assimétrico que ele e a sua filha receberam do amigo Oliveira e Costa. Não esquecer que por um motivo semelhante (obtenção de um empréstimo de 100 mil euros em condições não acessíveis ao comum dos cidadãos) se demitiu o presidente da Alemanha. E da proximidade do conselheiro de Estado com negócios nos off-shores que teve de se demitir. Há ainda o caso da herdade dos sobreiros que os tribunais inocentaram e o não menos famoso caso dos submarinos (a comissão propôs os submarinos franceses e alguem arranjou um consultor que declarou que os alemães eram muito melhores para os contribuintes; na Alemanha houve prisões porque a lei tinha sido alterada, na sequencia de luvas que a Siemens pagara nos USA, e os artistas da especialidade não tinham reparado). Tudo isto são simples casos de cronycapitalism, ou tráfico de influencias, ou uso de conhecimentos para fazer andar negócios com favorecimento de uns, ou promiscuidade entre gabinetes de advogados e deputados. Recordemos o desabafo de Helena Roseta: Miguel Relvas, o promotor da ascensão do atual primeiro ministro, veio prometer-me financiamento para a ordem se fosse a Tecnoforma a fazer os cursos. Desabafos destes deviam ser investigados pelo ministério público, tal como o caso do aerodromo cujos operadores tinham de ser preparados pela Tecnoforma para se defenderem de ataques terroristas. E isto com fundos comunitários, os tais que o atual governo se esforça por nos convencer que foram desperdiçados em autoestradas desertas (14% do total dos fundos entre 2000 e 2009 foram-no, em autoestradas desertas e noutras menos desertas).
Pobre António Seguro, que fez da luta contra os negócios na política a sua bandeira.
Falemos pois disto tudo, deste cronycapitalism crónico, mas eu preferia que fosse o ministerio público.
Claro que concordo, sou um defensor do debate público e da limitação dos segredos, quer sejam bancários, quer sejam de justiça (claro, claro, com limites neste caso).
Mas vamos sobrecarregar o debate. Não podemos esquecer-nos de que nos lotes da praia da Coelha figuram artistas da especialidade, vizinhos do atual senhor presidente da República. Tal como o tratamento assimétrico que ele e a sua filha receberam do amigo Oliveira e Costa. Não esquecer que por um motivo semelhante (obtenção de um empréstimo de 100 mil euros em condições não acessíveis ao comum dos cidadãos) se demitiu o presidente da Alemanha. E da proximidade do conselheiro de Estado com negócios nos off-shores que teve de se demitir. Há ainda o caso da herdade dos sobreiros que os tribunais inocentaram e o não menos famoso caso dos submarinos (a comissão propôs os submarinos franceses e alguem arranjou um consultor que declarou que os alemães eram muito melhores para os contribuintes; na Alemanha houve prisões porque a lei tinha sido alterada, na sequencia de luvas que a Siemens pagara nos USA, e os artistas da especialidade não tinham reparado). Tudo isto são simples casos de cronycapitalism, ou tráfico de influencias, ou uso de conhecimentos para fazer andar negócios com favorecimento de uns, ou promiscuidade entre gabinetes de advogados e deputados. Recordemos o desabafo de Helena Roseta: Miguel Relvas, o promotor da ascensão do atual primeiro ministro, veio prometer-me financiamento para a ordem se fosse a Tecnoforma a fazer os cursos. Desabafos destes deviam ser investigados pelo ministério público, tal como o caso do aerodromo cujos operadores tinham de ser preparados pela Tecnoforma para se defenderem de ataques terroristas. E isto com fundos comunitários, os tais que o atual governo se esforça por nos convencer que foram desperdiçados em autoestradas desertas (14% do total dos fundos entre 2000 e 2009 foram-no, em autoestradas desertas e noutras menos desertas).
Pobre António Seguro, que fez da luta contra os negócios na política a sua bandeira.
Falemos pois disto tudo, deste cronycapitalism crónico, mas eu preferia que fosse o ministerio público.
O ajuste direto dos patrulheiros à West Sea e a asfixia deliberada dos estaleiros de Viana do Castelo
Graças ao DN/Dinheiro Vivo, é publicada a lista de ajustes diretos pelo atual governo em 2015.
Os ajustes diretos devem ser evitados por serem menos imunes a procedimentos de favorecimento do que os concursos públicos.
A lei, embora elaborada segundo o método top-down, sem ouvir as partes interessadas (como as empresas públicas, que necessitavam de introduzir disposições na lei que lhes facilitassem a vida, isto é, que lhes aumentassem a produtividade encurtando prazos, como por exemplo, poder submeter a aprovação o procedimento concursal enquanto se terminavam os pormenores técnicos do caderno de encargos sem prejuízo da quantificação dos montantes) só autoriza o ajuste direto em circunstancias excecionais.
É por isso que não é aceitável, e configura favorecimento da West Sea (e prejuizo anterior dos estaleiros de Viana do Castelo; uma empresa pública não deve ser favorecida, mas também não deve ser intencionalmente prejudicada; ver
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/07/where-is-mvatlantida-ship.html ) o argumento do atual governo dizendo que o ajuste direto foi feito por "interesse público e imperiosa urgência". A lei é explícita: "...pode adotar-se o ajuste direto quando ... por motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis pela entidade adjudicante...e desde que as circunstancias invocadas não sejam, em caso algum, imputáveis à entidade adjudicante".
Ora, o atual governo já sabia em 2013, quando cancelou o contrato dos 8 patrulheiros com os ENVC limitando-o aos dois primeiros, que eram precisos mais patrulheiros por razões de interesse público (defesa nacional e patrulha) e que o atraso entretanto verificado é uma circunstancia imputável à entidade adjudicante.
Isto é, a adjudicação de 77 milhões de euros á West Sea não terá cobertura legal, tal como os partidos de esquerda do Parlamento já formalizaram o protesto.
É mais um exemplo da obsessão privatizadora do atual governo (interessante ver também associadas a ajustes diretos, um deles relacionado tambem com os patrulheiros, empresas de engenharia entretanto privatizadas, a Edisoft e a EID), confirmando a constatação do antigo chefe do Estado Maior: a iniciativa privada gere muito melhor os assuntos de interesse público quando é financiada pelos contribuintes.
Os ajustes diretos devem ser evitados por serem menos imunes a procedimentos de favorecimento do que os concursos públicos.
A lei, embora elaborada segundo o método top-down, sem ouvir as partes interessadas (como as empresas públicas, que necessitavam de introduzir disposições na lei que lhes facilitassem a vida, isto é, que lhes aumentassem a produtividade encurtando prazos, como por exemplo, poder submeter a aprovação o procedimento concursal enquanto se terminavam os pormenores técnicos do caderno de encargos sem prejuízo da quantificação dos montantes) só autoriza o ajuste direto em circunstancias excecionais.
É por isso que não é aceitável, e configura favorecimento da West Sea (e prejuizo anterior dos estaleiros de Viana do Castelo; uma empresa pública não deve ser favorecida, mas também não deve ser intencionalmente prejudicada; ver
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/07/where-is-mvatlantida-ship.html ) o argumento do atual governo dizendo que o ajuste direto foi feito por "interesse público e imperiosa urgência". A lei é explícita: "...pode adotar-se o ajuste direto quando ... por motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis pela entidade adjudicante...e desde que as circunstancias invocadas não sejam, em caso algum, imputáveis à entidade adjudicante".
Ora, o atual governo já sabia em 2013, quando cancelou o contrato dos 8 patrulheiros com os ENVC limitando-o aos dois primeiros, que eram precisos mais patrulheiros por razões de interesse público (defesa nacional e patrulha) e que o atraso entretanto verificado é uma circunstancia imputável à entidade adjudicante.
Isto é, a adjudicação de 77 milhões de euros á West Sea não terá cobertura legal, tal como os partidos de esquerda do Parlamento já formalizaram o protesto.
É mais um exemplo da obsessão privatizadora do atual governo (interessante ver também associadas a ajustes diretos, um deles relacionado tambem com os patrulheiros, empresas de engenharia entretanto privatizadas, a Edisoft e a EID), confirmando a constatação do antigo chefe do Estado Maior: a iniciativa privada gere muito melhor os assuntos de interesse público quando é financiada pelos contribuintes.
Festa do Avante
Imagem obtida na exposição bienal da festa do Avante em setembro de 2015.
Carrier of nothing, Transportador de nada, ou a metáfora do que a humanidade anda fazendo, deixando nas mãos de uns poucos as decisões sobre o destino de muitos.
Valha a verdade que são dificeis, as tarefas de organização das sociedades de modo a produzirem-se bens e serviços úteis e tender-se, como diz a constituição norte-americana, para a felicidade.
Mas podiam ser melhor aproveitadas as conquistas tecnológicas (em vez de contribuirem para o desemprego por dispensa de trabalhadores) e os conhecimentos conseguidos na psicologia social e e organização e métodos.
Dei por mim a pensar assim vindo de outro barracão da festa, onde se expunham as propostas no campo da energia do partido organizador da festa:
Combate ao defice tarifário a suportar também pelas empresas de produção e distribuição, e não apenas pelos cidadãos que têm os seus rendimentos reduzidos, e revisão dos PRE, CAE e CMEC...
Assim como estamos, o transportador está vazio de esperança.
Diz o partido organizador da festa que essa esperança estará mais ou menos ligada à apropriação dos meios de produção de bens e serviços, especialmente os transacionáveis, o que contraria os teóricos de Chicago e os seus seguidores incondicionais de Bruxelas e o atual governo português (pobrs privatizadores compulsivos).
É verdade que a experiência dos partidos que se reclamavam do marxismo foi trágica e falhou.
Mas essa experiencia não incorporou os referidos avanços tecnológicos e do conhecimento das ciencias sociais e de gestão. E ensinou-nos que não deve haver pensamento único. É necessária diversidade, cooperação entre todos e não competição e supremacias , nem partidos únicos nem maiorias absolutas.
Já passaram 25 anos sobre a queda do muro de Berlim. Mas temos mais muros agora, está estabelecida a insegurança mundial , 20% dos europeus estão na pobreza e os gráficos de Picketty demonstraram que a desigualdade tem aumentado. Claro que a ONU mostra os indicadores do aumento da esperança de vida, mas não pode negar as desigualdades e a miséria dos sem abrigo nos paises dessenvolvidos; de que serve a profundidade média do rio ser de 1 metro se quem não sabia nadar se afogou na zona da profundidade de 3 m?
Será o mercado a funcionar na sua ordem espontânea (como combater a contribuição das emissões de CO2 para as alterações climáticas apenas com a ordem espontânea?).
Salvo melhor opinião, esses 25 anos provam que a "culpa" não estava nas experiencias ditas comunistas (longe de mim estar a propor tal modelo, mas que se devia ouvir com atenção o que os partidos comunistas têm para dizer, devia, e de preferência abrir-se-lhe a cooperação), que já houve tempo suficiente para se ter organizado melhor a economia mundial. Não se conseguiu, aparentemente porque a estrutura do sistema financeiro e económico não admite melhorias (porque não aplica o pensamento único a teoria das reformas estruturais ao seu próprio sistema financeiro, em vez de, com a insegurança dos adolescentes, atribuir culpas aos pensionistas, aos desempregados e aos trabalhadores de baixos rendimentos?).
Enfim, se não acontecer nenhuma catástrofe, natural ou social, teremos nova festa do Avante par ao ano.
Esperando que o Carrier of nothing tenha alguma coisa para transportar, mesmo pequenina.
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