Meu caro amigo, que me mandou um texto de um colega nosso apelando a que sim, se fale à exaustão do caso Sócrates, com as suas trocas secretas de dinheiro com o amigo.
Claro que concordo, sou um defensor do debate público e da limitação dos segredos, quer sejam bancários, quer sejam de justiça (claro, claro, com limites neste caso).
Mas vamos sobrecarregar o debate. Não podemos esquecer-nos de que nos lotes da praia da Coelha figuram artistas da especialidade, vizinhos do atual senhor presidente da República. Tal como o tratamento assimétrico que ele e a sua filha receberam do amigo Oliveira e Costa. Não esquecer que por um motivo semelhante (obtenção de um empréstimo de 100 mil euros em condições não acessíveis ao comum dos cidadãos) se demitiu o presidente da Alemanha. E da proximidade do conselheiro de Estado com negócios nos off-shores que teve de se demitir. Há ainda o caso da herdade dos sobreiros que os tribunais inocentaram e o não menos famoso caso dos submarinos (a comissão propôs os submarinos franceses e alguem arranjou um consultor que declarou que os alemães eram muito melhores para os contribuintes; na Alemanha houve prisões porque a lei tinha sido alterada, na sequencia de luvas que a Siemens pagara nos USA, e os artistas da especialidade não tinham reparado). Tudo isto são simples casos de cronycapitalism, ou tráfico de influencias, ou uso de conhecimentos para fazer andar negócios com favorecimento de uns, ou promiscuidade entre gabinetes de advogados e deputados. Recordemos o desabafo de Helena Roseta: Miguel Relvas, o promotor da ascensão do atual primeiro ministro, veio prometer-me financiamento para a ordem se fosse a Tecnoforma a fazer os cursos. Desabafos destes deviam ser investigados pelo ministério público, tal como o caso do aerodromo cujos operadores tinham de ser preparados pela Tecnoforma para se defenderem de ataques terroristas. E isto com fundos comunitários, os tais que o atual governo se esforça por nos convencer que foram desperdiçados em autoestradas desertas (14% do total dos fundos entre 2000 e 2009 foram-no, em autoestradas desertas e noutras menos desertas).
Pobre António Seguro, que fez da luta contra os negócios na política a sua bandeira.
Falemos pois disto tudo, deste cronycapitalism crónico, mas eu preferia que fosse o ministerio público.
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