Eleições na Catalunha, dominadas pela problemática da independencia.
Ao longo dos séculos, as tentativas de união das nações europeias têm falhado, principalmente pela ansia de domínio. Por exemplo, a estúpida política dos Habsburgo. Carlos V tinha tropas na Holanda em vez de fazer comércio com os holandeses (a destruição do comércio entre Portugal e a Holanda em 1620 foi um dos maiores erros cometidos pelos Filipes que apressou a independencia de Portugal). O filho Filipe queria ser rei de Inglaterra e quis invadi-la. Que loucos. Napoleão não lhes ficou atrás em loucura megalómana, e os imperadores austríacos, coitados, não compreenderam o caminho para o desastre da I Grande guerra mundial.
Nos tempos que correm, a incompetencia burocratizante da maioria dos decisores de Bruxelas, submetidos à ditadura do consenso de Washington, ameaça o sonho da União.
Mas fazer como os independentistas catalães, quererem separar-se em lugar de resolver no seio da própria União, que defende os direitos das regiões autónomas, as incorreções que ninguem nega? Salvo melhor opinião, a independencia de uma nação de 10 milhões de habitantes é um desejo de caciques e de classes restritas que querem o monopólio do poder económico e político (O caciquismo já é o principal inimigo do regionalismo). Não estraguem o ideal europeu.
Observemos os números:
Percentagem de votos nos dois partidos (ou forças políticas) independentistas, relativamente ao total de votantes: 47,8%
Isto é. Pelo menos por enquanto, menos de metade dos votantes votou nos partidos independentistas.
Percentagem de votos nos dois partidos (ou forças políticas) independentistas, relativamente ao total de eleitores inscritos: 35,9%
Isto é, menos de 36% dos eleitores inscritos querem a Catalunha independente.
Penso que é muito pouco para uma declaração unilateral de independencia, eventualmente justificável num referendo em que 75% dos votantes votassem a independencia , sendo a abstenção inferior a 32% para que a percentagem de independentistas relativamente ao total de eleitores fosse superior a 51%.
Abaixo destes números, parece-me caciquismo a mais, sem querer dar muita razão a Rajoy e ao seu partido, dignos sucessores do centralismo filipino de má memória.
Mas observemos agora os números em Portugal, nas vésperas das eleições de 4 de outubro de 2015:
Percentagem de votos em Cavaco Silva relativamente ao total de votantes nas eleições presidenciais de janeiro de 2011: 49,8%
Percentagem de votos em Cavaco Silva relativamente ao total de eleitores inscritos nas eleições presidenciais de janeiro de 2011: 23,2% (porque as abstenções foram 53,4%!!!)
Percentagem de votos no PSD e CDS relativamente ao total de votantes nas eleições legislativas de 2011: 40,9%
Percentagem de votos no PSD e CDS relativamente ao total de eleitores inscritos nas eleições legislativas de 2011: 29,7% (porque as abstenções foram 41,1%)
Isto é, nem o presidente é de todos os portugueses, estando muito longe de os representar também pelo seu comportamento, como a legitimidade do governo é muito discutível quando toma decisões que deveriam recolher a aprovação de 2/3 dos eleitores, como por exemplo as privatizações (que aliás foram para além da troica, ou, no caso das águas, vão a contraciclo da renacionalização em França) e o favorecimento de grupos económicos e financeiros em rendas energéticas, créditos fiscais e em isenções em impostos e transações (a ponto do próprio FMI propor deixar de sobrecarregar os rendimentos do trabalho, taxando mais o capital...).
Veremos o efeito da emigração e do desalento do desemprego na taxa de abstenção nas eleições de dia 4 de outubro.
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