segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Banif, Banif - uma análise por um ignorante

Reconheço que não sei, nem de perto, se a solução do atual governo para o Banif é a melhor, ou a menos má, ou sequer se é boa ou má.
No estado a que se chegou, não sei o que se deveria fazer.
 O que não quer dizer que tenha confiança nos seus decisores, quer do atual governo, quer do BP, quer da douta união europeia.
Porém, não posso deixar de recordar a minha estupefação na época da liberalização da banca em Portugal e do surgimento de tantos bancos.
Era o tempo em que a menina dos olhos era um banco chamado Nova Rede, em que o grande fundador de um grande banco ia e vinha de sua casa em Galamares para o emprego de helicóptero, e em que a família Espírito Santo retomava o seu poder sobre os políticos.
Escrevo estupefação porque era o que eu sentia e dizia a quem me queria ouvir, (felizmente poucos, não fosse eu ter alguma influencia nas decisões e poder vir a ser acusado de responsável pela catástrofe financeira do país  como agora acuso os decisores, gestores privados ou públicos, ao longo de todos estes anos), que este país não podia ter capacidade para tantos bancos.
Por isso, sendo ignorante e não sábio como os decisores de então e os decisores de agora, sinto que posso escrever, como ignorante, os 4 atos da tragédia da queda de um banco:
I - são absurdos os boatos sobre as fragilidades desse banco, os depósitos estão seguros
II - existem dificuldades, mas as medidas que tomámos para as vencer, com a anuência de Bruxelas, são as melhores e não terão custos para ninguém
III - vamos perder muito dinheiro, mas perderíamos mais se fossem outros a tomar outras medidas
IV - desde sempre avisámos os perigos e ameaças sobre esse banco, pelo que as pensões e reformas dos decisores privados e públicos não estarão comprometidas com a sua resolução, muito menos os planos de reforma dos eurocratas de Bruxelas, só as pensões e reformas dos outros.

Ainda como ignorante, volto a citar Tim Harford, no seu livro "Adapte-se", que não é propriamente um ignorante como eu: a solução Bulow/Klemperer do banco mau "de retaguarda" e do banco bom "ponte de transição" só funciona se o banco mau for o proprietário do banco bom.
Infelizmente não é isso que vemos fazer por tão perclaros decisores, desde a nacionalização dos prejuízos do BPN/SLN enquanto as lucrativas empresas Galilei seguiam o seu caminho, até ao Banif, Banif.
E ainda como não especialista destas coisas, só posso também referir algumas anedotas históricas, entre decisores que detinham o poder e especialistas de assuntos de que os políticos nada percebiam:
1 - Prokofief, respondendo a Stalin que tinha acusado a sua musica de ser politicamente fraca: "a sua política é musicalmente fraca"
2 - David Hilbert, o grande matemático do início do século XX, respondendo a um ministro nazi que lhe perguntara se a matemática se tinha ressentido das medidas anti-semitas dos nazis: "Não senhor ministro, a matemática não está ressentida, morreu"
3 -  Anónimo, numa visita de Cavaco Silva que então se vangloriava de ser um primeiro-ministro eleito com maioria absoluta: "num país em que o consumo de alcool per capita é dos maiores do mundo, em que a música preferida é o fado e em que a maior parte do tempo televisivo é dedicada ao futebol, não admira que tenha a maioria"
4 - Francisco Louçã, comentando o caso Banif num programa televisivo, mostrou uma reportagem de 2005 sobre uma sessão de promoção do Banif em Londres, com Horácio Roque e esposa, e Cavaco Silva e esposa, num ambiente requintado e de auto-satisfação, que serviu também para se saber que Cavaco Silva ia candidatar-se à presidência da República.
O que eu me fartei de pedir aos meus amigos que não ficassem em casa e que votassem nos outros candidatos...

PS em 23 de dezembro - depois dos esclarecimentos que têm aparecido na comunicação social, continuam as dúvidas, nomeadamente como foi possível manter em segredo as 8 reprovações dos planos de reestruturação pela direção da concorrencia da UE e sobre a urgencia da venda (com a desculpa da entrada em vigor de regras que não protegem o excesso dos depósitos acima de 100.000 euros). 
Este programa da RTP3 é interessante:
http://www.rtp.pt/play/p2039/os-numeros-do-dinheiro

Um dos intervenientes diz que há quem chame jihadistas à direção de concorrencia. Considerando os artigos 107 e 349 do tratado da união europeia, que explicitamente autorizam auxílios estatais no caso dos Açores e da Madeira, onde o Banif detinha um terço dos depósitos, parece-me que têm razão no epíteto. De assinalar ainda a afirmação de Ricardo Pais Mamede de que no partidos existem economistas de elevado nível.

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