Em 11 de dezembro a notícia era que o grupo Inditex, que inclui a Zara, criou, nos primeiros nove meses de 2015, 13.000 postos de trabalho, dos quais 2391 em Espanha. O total de empregados do grupo é de 146.000 .
Mais dizia a notícia que os lucros do grupo foram nesse período de dois mil milhões de euros para um total de vendas de 14,7 mil milhões.
O grupo continua a expandir-se, possuindo em todo o mundo 6913 lojas, das quais 230 abertas nos primeiros nove meses do ano, em 88 países.
Parece portanto longe do ponto da curva dos rendimentos decrescentes.
A notícia do dia 13 de dezembro era que desde 2009 fábricas clandestinas em Mataró, Catalunha, forneciam a Zara, o grupo Inditex e outras marcas internacionais da moda com vestuário confecionado por operários chineses escravizados. Por escravizados entende-se que trabalhavam 15 horas por dia de segunda a domingo recebendo 25 euros por dia, com que tinham de pagar a dívida da viagem desde a China.
A reflexão é sobre a conjetura de Adam Smith, de que talvez fosse mais difícil a uma democracia liberal abolir a escravatura do que a um tirano esclarecido. Porque o lucro é maior se se conseguir, pela força, reduzir a parte do trabalho no rendimento. A Marx pareceu que o progresso tecnológico poderia libertar os operários dessa opressão. Mas assiste-se atualmente à utilização da tecnologia para aumentar o desemprego e assim reduzir oo custo do trabalho. No caso dos fornecedores clandestinos da Zara foi-se mais longe, escravizou-se.
E contudo, os economistas da escola de Chicago e do consenso de Washington continuam, com os jornalistas que os aplaudem, a insistir que a competitividade e a produtividade são a chave do crescimento.
Crêem firmemente, ou querem que acreditemos que crêem, que desregulando, a economia cresce.
No caso da Zara crescem de facto, mas à custa de "dumping". Os senhores economistas devem ter pouca experiencia da vida empresarial. Acreditarão mesmo que é possível vender tão barato sem "dumping"?
Estou cansado dos jornalistas papagaios que insistem na conversa da competitividade e a acusar os trabalhadores portugueses de falta de produtividade (e contudo ela sobe, enquanto quociente entre o produto e a população, também à custa da emigração, porque o PIB diminui menos do que a população, coisa perfeitamente natural porque o quadro de pessoal não é o principal fator de produção).
Leio esta notícia e recordo o caso da barca Charles e George, apresada ao largo de Lourenço Marques no século XIX, com o negreiro francês a beneficiar do testemunho dos escravos algemados, que estavam assim melhor do que libertos porque iam trabalhar.
E também recordo o comentário anónimo citado por Tim Harford, no livro Adapte-se, para tranquilidade dos financeiros, que podem estar descansados, as pensões dos reformados garantirão sempre as suas especulações falhadas.
Acreditarão mesmo nas virtudes dos mercados a funcionar livremente? Ignorarão que a liberdade termina onde a igualdade e a fraternidade começam?
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