segunda-feira, 14 de março de 2016

nós, portugueses, sentimo-nos - o insulto do gasóleo, a carne de porco e os pequenos camiões elétricos

Dado que sou um mau português, no sentido corrente e proverbial, discordo do provérbio "quem não se sente não é filho de boa gente".
Como o provérbio deve ter sido gerado antes das inovações freudianas, não culpo ninguém, e antes me parece que que tem tendencia para se sentir insultado é quem se sente inseguro, nas suas convicções, por exemplo.
Por outro lado, como mau português, no mesmo sentido, acho que as coisas devem ser dicutidas com base na quantificação de factos.
Por isso fiquei encantado quando, pela primeira vez, li os resultados de uma experimentação em condições reais de exploração de pequenos camiões diesel versus elétrico integral.
Fico a dever a alegria à revista "Veículos elétricos"nº7, janeiro-fevereiro2016 (edição Dicas &Pistas) e a comparação foi entre o Fuso Canter Mitsubishi diesel (7,5 ton de carga e peso máximo de 11ton) e o Fus Canter E-Cell.
Os resultados para transporte de carga média de 2 toneladas foram um consumo no depósito de 14,1 litros/100km de gasóleo para um e 47,6 kWh/100km para o elétrico, com percursos médios de 50km.
Considerando um rendimento de 0,8 para o veículo elétrico, temos  para a energia nas rodas 0,476x0,8= 0,38 kwh/km .
Na versão diesel considerando 1 litro equivalente a 10kWh, temos 0,141 litros/km equivalente a 1,41kWh/km , que por sua vez correspondem a 0,38 kWh/km nas rodas .
O rendimento diesel foi portanto  1,41/0,38 = 3,7 , isto é, 1 litro de gasóleo no depósito, equivalente a 10kWh, produziu nas rodas 10/3,7=2,7kWh. No veículo elétrico 10 kWh na bateria produziram nas rodas 8 kWh.

E é por isto que não posso concordar que a ANTRAM se sinta ofendida com o pedido do ministro da economia de não encher o depósito em Espanha.
No caso da carne de porco temos um grande problema com a distribuição, que se comportam como autenticos sabotadores da economia agrícola portuguesa (laranjas da Africa do sul e de Espanha à venda em Portugal?). No caso da carne de porco são evidentemente preços de dumping, e há legislação internacional contra o dumping (para mais com ajudas do estado...). Ainda por cima, consta que o pingo doce já tem comprado aos espanhois carne mais cara que aos portugueses. 
Já quanto ao ministro da economia, acho exagero querer a sua demissão e criticá-lo porque pediu para por gasóleo em Portugal. Os custos de combustível são 35% dos custos totais, pelo que o aumento de 10% do gasóleo  é um aumento de 3,5% global e todos temos de pagar impostos (menos os ricos, como escreveu João Cesar das Neves). Além disso, o transporte por camião tem vindo a decair desde há anos, não é o aumento do combustível que o tem provocado, e a ANTRAM já devia ter preparado um plano de transição para a adaptação das frotas: ele´trico integral para pequenos camiões, híbrido e gás para os médios e grandes, vocacionados para a complementaridade e distribuição a partir de plataformas logísticas ferroviárias e portuárias (se bem que aqui provavelmente estou a delirar). Isto para não falar na "eletrificação " das autoestradas (ainda mais deliro, mas estou a falar de um plano de transição a 30 anos, depois não culpem a UE...)



https://oeconomistaport.wordpress.com/2016/03/14/producao-porcina-veja-como-a-ue-e-os-governos-desmontam-a-nossa-economia/


http://www.tsf.pt/sociedade/interior/distribuicao-demarca-se-de-problemas-dos-suinicultores-e-produtores-de-leite-5076469.html

4 comentários:

  1. Sobre o assunto gasóleo, deixo aqui o texto de um post que acabei de publicar no meu Facebook:

    Quando se cortam salários, pensões e outros apoios sociais como o abono de familia, tem de ser, "TINA"!
    Mas agora que o imposto sobre os combustíveis subiram uns cêntimos (causadores de poluição e com o petroleo 100% importado) é um escândalo e um roubo às empresas e às familias.
    Não deve faltar muito para se organizarem caravanas automóveis em Lisboa para irem abastecer os potentes TDI a Elvas...
    Mas antes de irem, é melhor consultarem este site:
    http://geoportalgasolineras.es/
    É a imitação Espanhola do http://www.precoscombustiveis.dgeg.pt/.
    Então será que vale a penas fazer dezenas de quilómetros para encher depósito dos potentes e sedentos TDI a Espanha?
    Preços retirados agora do Gasóleo nos pontos mais baratos:
    Fuentes de Oñoro: 0,940 €
    Vilar Formoso: 1,006 €
    Guarda: 0,995 €
    Lisboa: 1,091 €.
    Lisboa (Distrito): 0,999 €.
    Ou seja, entre a Guarda e Fuentes, num depósito de 50 litros, poupa-se 2,75 €. Fazendo o quilómetro a 0,20 €, dá para fazer 14 quilómetros. Curioso que em Lisboa, mais perto da fonte de abastecimento, o gasóleo custa mais 9 cêntimos que na Guarda...
    Na gasolina a conversa é outra. Mas infelizmente já o é há muito tempo, levando as pessoas a comprar carros a gasóleo, mais caros, com mais manutenção e muito mais poluidores.
    Mas isso não interessa nada, só os carros de pobres ou de muito ricos são a gasolina.

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    1. Agradecido pelas informações. Acrescento a informação de hoje no DN, a percentagem do imposto no preço de venda do combustível: 68% em Portugale na Finlandia, 67% na Inglaterra e Alemanha, e na Holanda, a terra da Shell, 77%. Na Itália 73%, e em Espanha 46% (!)

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  2. Faz algum sentido o Pingo Doce comprar carne de porco mais cara em Espanha, do que seria em Portugal? A cotação da carne de porco na península ibéria é definida em Espanha, numa bolsa específica para este tipo de produto. A questão está em saber se a produção nacional é suficiente para acomodar as necessidades da grande distribuição, o que não é o caso actualmente. A grande maioria da carne (assim como outros produtos) é adquirida quando as grandes superfícies fazem promoções de 25/30 ou 50% de desconto. Nestas alturas, os nosso produtores não têm capacidade de entrega e daí a compra a Espanha. Pensar que empresas portuguesas compram a Espanha só para chatear os produtores de carne portugueses, é uma falácia.
    Preocupem-se em perceber porque é que nós não produzimos o suficente, para seremos auto-sustentáveis.

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  3. Assim numa primeira impressão, não somos auto-sustentáveis por dificuldades de investimento, de falta de garantia de retorno do investimento quando se vende o produto abaixo do custo de produção. Por razões de escala, de dimensão da estrutura produtiva, não é efetivamente possível garantir as quantidades que a grande distribuição precisa para ela, grande distribuição, ter lucros. Aparentemente não é para chatear os produtores portugueses, será apenas para ter mais lucro. Enfim, é o interesse egoista do Adam Smith, o mercado a funcionar e é a globalização. Assim não é possível competir. É uma lei da economia, os grandes produtores dão cabo dos pequenos, e depois de não haver pequenos já podem subir os preços. Aconteceu há muitos anos com os navios mercantes, Fechámos os estaleiros porque não podiam competir. Agora temos 9 navios mercantes, 9... E ainda hoje o senhor presidente do Pingo Doce se vem queixar de que o setor público está a asfixiar a iniciativa privada...

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