sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A silly season

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Aproveitando a "silly season", contemos uma anedota. Uma anedota mesmo. Dedicada aos meus amigos adamsmithistas. Considero-a portanto uma anedota reacionária, no sentido de poder contribuir para o deslustre   da classe trabalhadora na problemática da segurança social. Além de poder ofender sensibilidades mais delicadas, do ponto de vista religioso. Mas estamos na "silly season".

Jesus Cristo já há uns séculos que andava ansioso por regressar à Terra.
Dada a sua natureza humana não se admirava de ter errado ao considerar que um grupo de homens podia tomar conta da sua Igreja de acordo com os seus próprios ensinamentos.
Arrepelavam-se-lhe os cabelos com os abusos de autoridade que os bispos, especialmente o bispo de Roma, foram cometendo desde os primeiros tempos, desde a execução de Hipatia de Alexandria, pouco tempo antes do édito de Teodósio que proibiu a escrita hieroglifica, até aos autos de fé da Inquisição que se prolongaram até ao século XVIII, em Portugal, que em Espanha, onde o sangue é espetáculo, foi até ao XIX.
Mas Jesus Cristo estava tolhido pelos mecanismos de ligação interna da Santissima Trindade, e o Espirito Santo não queria que ele voltasse à Terra.
Porém, até mesmo uma instituição como a suprema autoridade do Paraíso não é imune às táticas de propaganda das ideias inovadoras do "marketing" organizacional, cujos melhores gurus foram sucessivamente comparecendo junto do Criador.
E chegou uma altura em que foi considerado que os referidos laços que vinculavam as três pessoas da Trindade deveriam ser afrouxados.
Substituiam-se assim as sinergias da trindade pelas dianergias da descentralização e da iniciativa individual.
Valha a verdade que, se a situação original fosse de dianergias, a estratégia inovadora dos gurus que convenceram a Trindade teria sido a de inovar promovendo as sinergias, mas o que interessava agora a Jesus Cristo era que podia descer à Terra em paz, que Paz sempre foi do que Jesus Cristo gostou.

E foi assim que Jesus Cristo se encontrou tomando uma imperial numa mesa recolhida dum bar do Cais do Sodré.
Do outro lado da sala, ao fundo do balcão, um grupo de marítimos, um alemão, um francês e um português, entretinham-se em frente de imperiais e tremoços.
Foi quando o alemão reparou em Jesus Cristo e, fitando-o disse para os companheiros:
- Tenho a certeza, é Jesus Cristo que está ali.
- É pá, a cerveja já te fez mal.
- Não. Tenho a certeza; vou lá falar com ele.

E assim foi. O alemão tanto insistiu que Jesus Cristo acabou por confessar quem era e lhe perguntou:
- Que queres, meu filho?
- Sofro do ventrículo esquerdo dilatado e hipertrofiado. Ainda me dá um enfarto. Queria que me curasses e diminuisses as paredes do músculo cardíaco.
- Meu filho, prometes que não dizes a ninguém que sou Jesus Cristo?
- Sim.
-Então vai em paz. Estás curado e não votes na Angela Merkel.

O alemão sentiu-se imediatamente mais leve, até porque o problema estava relacionado com o excesso de peso, mas era claro que não conseguia guardar um segredo e foi logo contar ao outros.
O francês, quebrado o seu ceticismo cartesiano, saltou imediatamente para a mesa de Jesus Cristo e pediu-lhe:
- Mestre, sofro de aperto do esfincter da bexiga; não consigo esvaziá-la; já tenho a operação marcada, é com laser mas exige anestesia geral e não queria ficar a dormir no hospital.
- Já sei, queres que te cure. Está bem, vai em paz porque estás curado, e não votes no Sarkozy, porque nem ele nem a Angela dão prioridade ao cumprimento dos artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

O português permaneceu calmamente em frente das suas cervejas.
Quando Jesus Cristo  ia a sair para prosseguir a sua missão, perguntou-lhe, pousando afetuosamente a mão no ombro:
- E tu, meu filho, nada me pedes?
E o português imediatamente:
- Desculpa, pá, mas tira-me já as mãos de cima, porque não quero que me cures de nada. Estou de baixa há 15 dias e assim quero continuar.

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