Fiz este gráfico a partir de uma tabela que encontrei num livrinho excecional.
Podemos aperfeiçoar o gráfico, para melhor discriminar os países, associando ao eixo vertical o grau de realização democrática (por exemplo, um país com uma democracia formal mas que não consegue evitar desigualdades sociais estaria nos quadrantes inferiores ou junto do eixo horizontal, enquanto países sem sequer essa democracia formal estariam mais abaixo) .
O autor do livro coloca Portugal no quadrante inferior esquerdo e define como objetivo a atingir colocá-lo no quadrante superior direito.
É feita a análise dos dados e indicadores económicos do país nos ultimos 200 anos, a comparação com as economias dos outros países e apresentadas 25 medidas estratégicas concretas para uma evolução favorável nos próximos 30 anos.
Eu digo que é um livro excecional porque, ao contrário do que estamos habituados pelos nossos políticos e pelos nossos economistas destacados, que não conseguem sair das generalidades e das condenações de quem trabalha, ou então só se lembram de medidas muito particulares, do tipo "lá no meu bairro o que era bom era fazer-se uma ciclovia e recolher o lixo antes das 21", as medidas apresentadas são mesmo concretas, do estilo vamos montar a equipa e as equipas e vamos planear e executar o trabalho.
É impressionante o cuidado com que os indicadores económicos são tratados, a grande diversidade de temas e o pormenor com que alguns são tratados, apesar de externos à formação académica do autor.
De destacar, no curriculo deste, a experiencia de perto com a economia chinesa (claro que só podia confirmar a apagada e vil tristeza, no sentido de se fazer muito pouco, do relacionamento através de Macau).
Os meus amigos economistas talvez não gostem, mas o livro está sistematizado mais à moda da formação em engenharia que o autor tem.
Isto é, na ótica do "feito o levantamento da coisa, o que é preciso fazer é ..., portanto vamos fazer".
Evidentemente que este método tem vários defeitos.
E o primeiro é que as pessoas dirão "isso não é assim", que é a maneira mais portuguesa de manter as coisas na tal apagada e vil tristeza, e que agora não há dinheiro (embora eu tenha tentado mostrar, com os investimentos em metropolitanos, que os investimentos servem para poupar dinheiro).
O segundo, mas isto talvez seja eu com as minhas obsessões, nem está no âmbito do livro, é que o sistema educativo português não serve e a sua correção, que considero não ter ainda sido feita, só apresentará resultados positivos a prazo de 20 anos.
Talvez ainda, mas também fora do âmbito do livro, faltarão referencias a como pôr as equipas a trabalhar, porque nós, portugueses, sofremos de grande falta de capacidade de organização.
Como se sabe, neste capítulo a minha obsessão são os métodos descritos na "Sabedoria das Multidões" e a "importação" de técnicos estrangeiros para as equipas de projeto e coordenação das medidas.
De salientar a proposta do autor em abrir o trabalho das equipas oficiais a técnicos com experiencia nos assuntos (para evitar, para citar um exemplo daquilo que me está mais próximo, descoordenações entre os traçados do TGV e da terceira travessia do Tejo e as redes de metropolitano e suburbanos de Lisboa, ou o disparate do nó de Alcantara), e a necessidade de corrigir o sistema judicial.
Espero poder comentar, pelo menos, as 25 medidas estratégicas, e recomendo vivamente, entretanto, a aquisição do livro.
Se não quiserem mergulhar nas questões aborrecidas (cujos efeitos nos atormentam a todos), podem sempre entreter-se com os pormenores histórico-quase burlescos.
Por exemplo:
- Portugal vendeu em 1851 à Holanda, para reduzir o seu endividamento, a ilha das Flores, na Indonésia, a NW de Timor;
- o país já viveu várias bancarrotas (impossibilidade de pagar os juros dos empréstimos), e.g. em 1892, numa altura em que a dívida pública era 89% do PIB e a dívida pública externa era 50% do PIB (situação em 2009: 77% e 61%, respetivamente) e em que o governo decidiu pagar apenas um terço dos juros da dívida externa; a renegociação só foi concluida em 1902; a principal garantia dada aos credores era o imposto sobre o tabaco; o último pagamento só foi feito em 2001 (por isso se diz que o caminho de ferro de Fontes Pereira de Melo só acabou de se pagar neste ano)
- a taxa de analfabetismo em 1930 era de 62%.
Luis Monteiro, "Os últimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30", ed. Deplano Network
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