terça-feira, 3 de agosto de 2010

Uma viagem de metro

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A viagem de metro decorria calmamente na manhã fresca de Verão.


Estávamos no sentido da periferia, já perto do limite estrito da municipalidade lisboeta, e por isso havia muitos lugares vagos, quando se deu o fenómeno.

A energia acumulada sob a forma de compressão elástica do aço da mola ultrapassou o coeficiente de retenção nos encaixes e a mola em linha ondulada saltou do forro do assento dos bancos longitudinais e transmitiu alguma da sua energia cinética a um sonoro choque com o pavimento.

Sorriram, depois da surpresa inicial com algum susto, os dois passageiros mais próximos. Já tinham um motivo de conversa e de aproximação, sem que a senhora jovem, de toilette fresca como eu já disse que era a manhã, achasse que o cinquentão estivesse a ser intrometido.

Não foi nada de grave, nem de extraordinário.

Mas a ideia cruza as minhas circunvoluções com a rapidez de Mercúrio ou a de uma mola a libertar-se do espartilho.

Será que os moços que tratavam dos assentos consumiam uma parte exagerada dos encargos de pessoal da empresa e desequilibravam as contas perante os exigentes acionistas, e foram deixados passar à reforma sem serem substituidos?

Ou será que as novas técnicas de gestão que os gurus pós Drucker tanto defendem (até o velho guru Drucker está desatualizado perante a pujança dos novos gurus; não se pode ser sénior) , têm mesmo a habilidade e a capacidade de nos convencer de que tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis e que no tempo do Drucker se vivia nas trevas da ignorância?

Ou então, será que a empresa decidiu poupar ainda mais uns dinheiros e entregou a manutenção dos bancos a uma empresa exterior , na melhor tradição inovadora do “outsourcing”, e a dita empresa acha que as molas dos bancos nunca saltam?

Mas não sei se valerá a pena perguntar ao provedor do cliente da empresa, que terá certamente casos mais importantes para tratar.

 
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3 comentários:

  1. Caro fcsseratostenes,

    O paradigma da manutenção tem ultimamente variado em função dos objectivos dos seus responsáveis.
    Felicito-o por ter detectado uma situação com a gravidade de uma mola de banco. Quando forem as da carruagem...
    De qualquer modo, parabéns pela sua página!

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  2. Quer-me parecer que o paradigma da manutenção devia ter defesas contra as flutuações devidas aos objetivos dos responsáveis. Numa ótica essencialmente de "marketing", os objetivos deveriam ser os do cliente, e esse nunca devveria levar com uma mola de banco nos pés, nem ter um ataque de fúria porque encontrou o elevador de uma estação profunda avariado (verdade que não deviam fazer-se estações profundas, mas elas às vezes estão onde estão porque a alta direção mandou). Se a ótica se centrar em preocupações menos de mercado mas mais técnicas, tenho de citar a norma 50126, e aí temos a fiabilidade, a disponibilidade, a manutenibilidade e a segurança. Por mim, centrava o paradigma da manutenção nestes objetivos, perfeitamente dissociados de questões subjetivas ou economicistas que eu possa ter. Mas não sou eu o responsável.

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  3. A manutenção dos bancos está entregue a uma empresa exterior há algum tempo.

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