Em declarações de 21 de Fevereiro de 2012, o senhor secretário de estado dos transportes anunciou que as dividas das empresas públicas serão assumidas pelo Estado e garantiu que não serão nem os utentes (bilhetes) nem os trabalhadores (acordos coletivos) a pagá-las.
Acrescentou que existe muita assimetria nas dívidas e que até Maio conta ter autorização da troica para tomar medidas ( afinal, as medidas não sairam já feitas do relatório e anexo do grupo de trabalho apresentado como solucionador dos transportes de Lisboa e Porto).
Bom, as palavras não foram bem essas, foram: "Esperemos nessa altura já estar em condições de perceber um pouco melhor a situação e propôr algumas alternativas",
Não pode o senhor secretário de estado queixar-se de não ter sido avisado da “assimetria” das dívidas e das suas razões. Bem foi avisado no início das suas funções de que não estava a perceber bem a situação.
Poderiam perfeitamente ter sido evitadas as declarações ofensivas da dignidade profissional dos trabalhadores das empresas públicas de transportes e a evidência do desconhecimento das razões de eficiência energética e de redução de emissão de gases com efeito de estufa, por parte do senhor ministro e do senhor secretário de estado no início das suas funções.
Mas não vale a pena chover no molhado.
Nem ter esperança de que este governo e a troica, caraterizados por preconceitos primários anti-entidades públicas (apesar dos exemplos internacionais de excelência de empresas públicas de transportes; apesar da intuição de Margaret Thatcher de que a privatização dos transportes seria o seu Waterloo), “tolerem” que as novas empresas de transportes de Lisboa sejam públicas.
A “limpeza” das dívidas seria assim uma forma de facilitar a entrada dos grupos privados, isto é, seria um bom serviço aos “investidores”.
Provavelmente continuará a difamação dos seus trabalhadores e a fuga à argumentação com os organismos representativos dos trabalhadores e com as administrações.
É pena, porque com o esforço de todos e com todos os cortes, os prejuízos operacionais do Metro e da Carris reduziram-se em 2011, no caso do metro de 52 para 18 milhões de euros e, no caso da Carris, de 41 para 29 milhões de euros.
Em ambos os casos, os juros dos empréstimos estão subindo de modo inaceitável e as ameaças de despedimento de trabalhadores afetam negativamente a produtividade das empresas.
Numa altura em que, não se podendo investir, existe em contrapartida muito para fazer na reorganização do “know-how” técnico das empresas de modo a que não se perca com a saída dos técnicos (mas este é um argumento de difícil entendimento pelos economistas do pensamento dominante, por evidente desconhecimento do “mercado” das competências técnicas).
Vamos ver, até Maio, se o senhor secretário de estado se “abre” mais com os organismos representativos dos trabalhadores e as administrações, e se a própria troica aprende alguma coisinha com as empresas europeias públicas de transporte.
Simples “benchmarking”.
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