sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
O Carnaval
Este blogue saúda com admiração a lição do antropólogo António Pedro Pires no DN de hoje sobre a origem do Carnaval:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2309881&page=-1
Penso que está muito bem explicada a necessidade de um escape social deste tipo.
Aliás, o facto da igreja católica ter proibido a festa antecessora do Carnaval, a festa dos doidos (descendente das saturnais romanas) no concilio de Bale de 1431 já não augurava nada de bom.
A eliminação da festa dos doidos coincidiu com o ascenso da centralização absolutista na Europa e o aparecimento do dogma da infalibilidade papal (já repararam como quem critica o Carnaval é sempre infalível?)
É bom que o Carnaval se mantenha, para que as pessoas importantes não tenham a desagradável tendencia para acharem que têm sempre razão, que estão no caminho certo, que já sabiam que isto e aquilo ia acontecer, que depois melhora, etc, etc.
Que os grandes decisores percebam, ao menos uma vez por ano, que "os políticos (e os grandes contabilistas, acrescento eu) não passam de pigmeus".
Ou como ele cita, que "uma sociedade que tenha perdido o gosto pelos divertimentos reduzir-se-á bem depressa a uma simples tribo de autómatos".
Pelo que fica a esperança nas crianças, que bruscamente, num verão futuro, uma nova geração se desligue desta tristeza e da síndroma que atacou os novos economistas e os novos governantes, de serem "incapazes de reconhecer os contributos válidos das gerações anteriores ou de os articular numa lógica de aperfeiçoamento evolutivo" (citação de João Lobo Antunes, neurocirurgião) .
Entretanto, a propósito das crianças mascaradas de carteiro, fica também a esperança de que a moda das privatizações, outro exemplo da síndroma referida, se suspenda a pensar no filme de Kevin Costner, o carteiro, que explicou que "os correios" são um fator de coesão de um povo, coisa que nenhuma empresa em busca de lucros poderá ser, porque não é rentável levar à aldeia desertificada uma carta nem o sinal de rede de internet.
Um grande aplauso para o antropólogo.
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António Pedro Pires,
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