A noticia foi dada de forma discreta.
Feitas as contas ao ano de negócios, a balança externa da Alemanha, diferença entre os valores das exportações e das importaçºoes, foi positiva, em 2011, em 154 mil milhões de euros.
Em 2010 o resultado positivo tinha sido de 136 mil milhões de euros.
Houve assim um crescimento do resultado positivo da balança externa de 2010 para 2011 de cerca de 18 mil milhões de euros.
Para fora da Europa,
as exportações foram de 381 mil milhões
e as importações de 293 mil milhões.
Para a Europa
as exportações foram de 570 mil milhões
e as importações de 504 mil milhões.
Para a zona euro
as exportações foram de 386 mil milhões dos referidos 570.
Porque são as coisas assim?
Porque são os juros dos empréstimos à Grécia de 196% !?!?!?
Porque sairam de Portugal em 2011, só em titulos de capital de estrutura acionista, 18 mil milhões de euros?
Porque conta o Eurostat 2,7 milhões de pessoas em situação de pobreza ou risco de pobreza em Portugal?
Será apenas uma questão de melhor produtividade, de melhor capacidade de gestão, de disciplina e de organização do trabalho na Alemanha?
Ou serão fatores externos, ambientais ou históricos, que determinam estes resultados?
Terão os economistas e os políticos as suas explicações, mas o modelo matemático que simula as exportações e importações do conjunto de países europeus obedece às mesmas leis a que muitos modelos da física obedecem.
Numa representação de Fermat-Weber o fluxo para os elementos dominantes tende a aumentar e a concentrar-se neles cada vez mais, em detrimento dos outros elementos, mesmo que no início seja muito ligeira a predominancia daqueles.
(ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/o-problema-de-fermat-weber-da.html )
Talvez seja por isso que a Inglaterra não está na zona euro.
Talvez seja por isso que os políticos dirigentes da UE, cuja formação em Física ou, pelo menos, a assimilação que fizeram dos conceitos físicos, deixa muito a desejar, e só muito lentamente vão adotando medidas eficazes, como a taxa Tobin.
Deixando de fora as medidasde solidarização entre os países da Europa, como a igualização das condições de crédito para as empresas de todos os países, a maior intervenção do BCE com capacidade de empréstimo a taxas de 1% diretamente aos governos, a reindustrialização e produção descentralizada para diminuição dos custos de transporte.
Existe assim um casamento de conveniencia entre o fundamentalismo ideológico neo-liberal que privilegia a concorrencia desregulada, e a ignorancia das leis da Física.
Diz a História que qualquer casamento de um fundamentalismo com uma ignorancia gera monstros, como Goya desenhou.
Como em qualquer sistema físico, o conhecimento das leis que regem o seu comportamento quando em regime livre permite regulá-los para benefício das comunidades, intervindo no conjunto do sistema e das relações da rede dos elementos (a lei da gravidade continua a existir, mas é possível viver em segurança a muitos metros de altitude).
Por isso, sem prejuízo da preocupação em melhorar constantemente a eficiência dos processos produtivos, por mais que se intervenha localmente onde os elementos fraquejam, por mais medidas de austeridade ou de reestruturação, sem intervenções corretivas integradas, a lei de Fermat-Weber continuará a fazer crescer os indicadores da região dominante.
É uma pena os economistas e os políticos não terem apreendido este conceito físico.
Perdemos todos, e interpretamos mal (é uma hipótese) o que o novo presidente do Parlamento europeu, Martin Schulz, disse sobre o declínio de toda a Europa, se não encontrar dentro dela própria os mecanismos de desenvolvimento integrado.
Seria interessante que os críticos de Martin Schulz dessem mais atenção às suas anteriores declarações de que os eurodeputados do Parlamento europeu, por terem sido eleitos, deveriam participar mais ativamente nas decisões da UE, reduzindo a importancia e a "fulanização"das cimeiras de primeiros ministros e ministros das finanças.
Seria interessante que reconhecessem que a visita a Angola do primeiro ministro português foi bem caraterizada por Martin Schulz, quando o governo português desencanta 600 milhões de euros para enterrar num ativo que vendeu por 40 milhões (a diferença será o preço a pagar pela atração de outros capitais) e quando a concentração da riqueza nuns poucos em Angola (lá está a lei de Fermat-Weber) trai toda a formação anterior dos políticos angolanos.
Seria interessante reconhecer que a crítica de Schulz se refere a toda a Europa, numa altura em que a própria Alemanha reforça as relações com a China apesar dos regulamentos de segurança no trabalho e do controle de emissões de CO2 serem diferentes e de o respeito pela democracia não ser o forte da China em muitos domínios da sua vida.
A esta hora, talvez alguem já tenha explicado a Schulz a conjetura do embaixador de Filipe II de Espanha ao governo português, para apresentação da sua candidatura ao trono de Portugal: "os portugueses são uma gente estranha".
Ou talvez recordado a solidariedade alemã através da colaboração do conde de Lippe e dos seus artilheiros (curioso, havia um Schulz e um Juncker na sua lista) na reorganização do exército português e da defesa do país, no século XVIII.
Transcrições de cartas do conde de Lippe para o marquês de Pombal (grafia segundo o acordo ortográfico da altura):
"será para mim a mais doloroza situaçaõ o ver Portugal em perigo, e naõ poder ir em pessoa ser-lhe util...O mais perigozo fraco, o maior defeito que há no armamento, e defensa de Portugal he, que o Reino naõ produz em seu próprio terreno quanto baste para nutrir seos habitantes, mesmo em tempo de paz".
Valerá a pena discutir o sexo dos anjos ou as minudencias bizantinas, quando as questões principais são a autonomia alimentar e energética e as formas corretas de cooperação dos países de maior sucesso com os de menor sucesso ? (mas por favor, não nos enviem mais economistas do tipo troica, precisávamos mais de especialistas em industrialização)
Créditos: informações sobre o conde de Lippe retiradas do livro "A estrada de Rio Maior a Leiria em 1791" de Ricardo Charters de Azevedo, ed.textiverso
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