domingo, 29 de setembro de 2013

Teoria da compressão. Do McDonald's à herdade de Vale da Rosa

Eu gostaria de não ser mal interpretado. Até porque, de vez em quando, como um hamburguer no McDonald's.
Aprecio nesta marca a disciplina normativa, incluindo a relativa à saúde, e a preocupação em agradar aos clientes segundo as suas especificidades locais.
É também um exemplo de compressão de custos que se revela na sua politica laboral.
Mas já se sabe que a economia atual obriga a salários baixos e sem grande garantia de perenidade.
A compressão de custos permite outra coisa extraordinária.
Uma sobremesa de uvas sem grainha em embalagens fechadas de 60 gramas.
O facto de ão terem grainha não dificulta a reprodução, uma vez que as videiras se reproduzem por estaca e enxertia.
Os bagos apresentam-se individualizados, sem grainha, cerca de 12 por embalagem, de variedade crimson (vagamente moscatel e cardinal).
Falo em compressão de custos (associada a grande escala e automatização de produção, claro) porque seria impensável há uns anos vender uvas já separadas do cacho e embaladas em saquinhos de plástico.
As uvas são produzidas na herdade de Vale da Rosa, perto de Beja, que já exporta para a China e o Vietname, pelo que é ótimo para o nosso PIB.
Cultiva tambem uvas com grainha (para garantir diversidade de variedades).
As uvas sem grainha são praaticamente as unicas que se vendem em paises como a Alemanha e a França.
Porém, e há nestas coisas um porém que facilmente nos faz cair em lugares comuns, que pelo facto de serem comuns não quer dizer que não sejam verdade.
É que o sabor das uvas, francamente, não se compara com o das uvas que eu compro no mercado do meu bairro, nem com as que crescem no meu quintal de 15x4  metros (produção anual de cerca de 30 Kg).
Eu sei que o saquinho tem de levar conservantes, mas tambem sei que aquele sabor, mesmo com vestígios de conservante, não é só por não terem grainhas, é o apreciado em França e na Alemanha.
Estamos mesmo caídos no lugar comum.
Isto é, posso continuar a comer uvas com grainha?
Não é por terem grainha, é por estar habituado ao seu sabor.
Eu sei que é como o vinho, o sabor do vinho português é diferente do espanhol, do italiano, do francês (se o do Alentejo é diferente do do Douro) e os enólogos de vez em quando fazem uns desvios para o aproximar do sabor dos outros, nem é por razões económicas, se excetuarmos a maior facilidade de exportação, mas a diversidade não pode ser um fator de valorização? (os enólogos que me perdoem, mas a sua orientação de produzir vinhos para consumo rápido, que não podem envelhecer, contraria-me, pronto, que hei-de fazer, tenho mau feitio).
Tenho portanto esperança que a herdade do Vale da Rosa mantenha a sua força exportadora e a sua orientação de produção de uvas tambem com grainha.
Obrigado.

sábado, 28 de setembro de 2013

O banco ao serviço da população carenciada

A fotografia ilustra o papel dos bancos ao serviço da população carenciada sem necessidade de comprometer a taxa de cobertura dos depósitos pelos empréstimos, a "alavancagem" como se diz na gíria do meio.
Podem observar-se os restos de uma maçã a ser analisados por um representante dos mercados columbófilos, uma rolha inserida na estrutura do banco e, em segundo plano, uma garrafa vazia e uma embalagem de cartão de vinho, compradas com o resultado de trabalho de reciclagem.
Este banco serve de leito a sem abrigos.
No DN de hoje, João Cesar das Neves diz uma coisa muito simples: o setor dos bancos não se ajustou (ajustar na gíria do meio significa "cortar") apesar da austeridade.
Pese embora o orgulho do BES ao publicitar a sua inclusão no Dow Jones Sustainability.

Voltando ao tema dos incêndios: a metáfora de “Eu pensava que era com água que se apagavam fogos”


No programa Olhos nos Olhos de Judite de Sousa e Medina Carreira dedicado aos incêndios e à prevenção florestal, este ultimo teve um desabafo curioso quando o técnico florestal criticou que nas reportagens televisivas se viam mais mangueiras do que máquinas de arrasto : “Eu pensava que era com água que se apagavam os fogos” .
O técnico pretendia destacar a importância do trabalho de prevenção dos GIPS/GNR, mas a afirmação de Medina Carreira pode também ser utilizada como uma metáfora.
Economistas como ele têm capacidade para diagnosticar situações que conduzem à catástrofe da economia, mas revelam desconhecimento sobre o funcionamento das coisas, e como as coisas podem funcionar para evitar as catástrofes.
Como já foi tratado neste blogue, a cultura económico-financeira tem muita dificuldade em apreender a cultura físico-matemática.
É extremamente grave afirmar-se na televisão que se pensava que era com água que se apagam fogos.
Não culpo quem o diz, o que digo é que revela o falhanço generalizado da educação da população numa cultura de segurança.
O melhor exemplo é imaginar o deflagrar de um incêndio num posto de abastecimento de gasolina.
Devia estar automatizado no cérebro de todos que o inicio de um incêndio desses não se apaga com água.
Apaga-se por abafamento (ou com extintor de espuma não de água, ou abafando o incêndio com um cobertor).
Esta a razão por que se vê na televisão grupos de pessoas armados com ramos de arbustos a tentar conter os fogos, abafando com eles as chamas por falta de oxigénio comburente.
O incêndio desenvolve-se com:
- combustível (madeira, resina dos pinheiros, palha),
- comburente (o oxigénio do ar ou do vapor de água que pode vir da própria água das mangueiras )
- calor (associado à ultrapassagem da temperatura de ignição).
A ideia dos contrafogos (tática extremamente perigosa provavelmente responsável pela morte dos 8 bombeiros e do presidente de junta) pretende diminuir a carga combustível do incêndio principal.
Os ramos de arbustos sobre a base das chamas e as 5 toneladas de água despejadas pelos Canadair, pretendem “abafar” as chamas por falta de comburente .
A água das mangueiras pretende apenas “resfriar” o terceiro elemento do incêndio, de modo a que a temperatura seja inferior à da ignição (obviamente que em incêndios de grande dimensão, fortemente atiçados por vento forte e pelas correntes ascensionais em encostas, isto é, com fornecimento em doses massivas  de comburente, a temperatura é tão elevada que o que as mangueiras estão a fazer é fornecer mais comburente).

Enfim, está estabelecida a discussão sobre o desastre dos incêndios , entre algumas entidades de bombeiros, os GIPS/GNR e os técnicos florestais, vindo ao de cima a incompetência técnica do ministério da administração interna para lidar com o problema.

Esta também pode ser outra metáfora sobre os malefícios que a ignorância dos decisores governamentais em questões técnicas vem causando a todo ao país, sem com isto querer isentar o governo anterior nalgumas dessas questões técnicas, nomeadamente das áreas educacionais, culturais e de transportes.  

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cumprimentos aos senhores do FMI, compreenderam as privatizações em Portugal


Cumprimentos aos senhores do FMI, que depois de muitos anos já compreenderam que as privatizações não são rentáveis para fins de redução da dívida (implicando o equilibrio orçamental como fator principal da redução da dívida – embora o crescimentodo PIB pareça ser importante). Bastava terem lido umas paginas de Karl Marx que dificilmente poderia ser de outro modo, isto é, dificilmente se encontraria uma entidade privada que esteja disposta a cortar nos seus lucros e dividendos para que o montante destes seja inferior ao diferencial entre os níveis de rentabilidade da gestão publica e da gestão privada.

Ver a notícia:

No relatório 'Dealing with High Debt in a Era of Low Growth' ('Lidar com uma dívida elevada numa era de fraco crescimento'), hoje , 23 de Setembro de 2013, divulgado pelo FMI, os autores dão mesmo o exemplo de Portugal, cujas receitas das privatizações corresponderam a cerca de 16% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1996 e 2000.

Mais uma vez se verifica que a análise á distancia pelos técnicos do FMI ignora as realidades concretas do país. Possivelmente, na sua ânsia de manter os privilégios do setor bancário e financeiro internacional, não quer fazer um esforço para perceber as carateristicas especificas de Portugal, escandalizando-se com os 50% da produtividade per capita relativamente ao indicador europeu.

Este é um tema interessantíssimo, porque em todas as reuniões com técnicos homólogos em que eu participei, sempre os indicadores do metropolitano de Lisboa, mesmo em gastos com pessoal de manutenção e nas taxas de cobertura das despesas operacionais pelas receitas estavam dentro da média ou melhores.

Porque não se passa o mesmo nas outras áreas?

Resposta: porque existem grupos económicos e financeiros cujos interesses não coincidem com os conhecimentos dos técnicos de todas as especialidades em todas as áreas de atividade.

Se o FMI quisesse identificar esses grupos, bastava perguntar aos técnicos de cada area de atividade.

Mas isso seria coisa que nunca poderia passar pelo atual governo, cuja incompetência técnica ou incapacidade de contrariar os grupos é patente na área dos transportes, das florestas, da produção de energia, da produção alimentar.





Jorge de Sena, “tudo o que laboriosamente pilhais”





Recordando P.P.Coelho, na campanha eleitoral em 19 de abril de 2011, a propósito dos cortes progressivos de 3 a 16% sobre as pensões superiores a 1500 euros, no PEC IV. Em Setembro de 2013, propõe-se cortar 10% em pensões de 600 euros:

“Todos aqueles que produziram os seus descontos e que têm hoje direito as suas reformas ou às suas pensões deverão mantê-las no futuro, sob pena do Estado se apropriar daquilo que não é seu”

Fala de Camões aos contemporâneos:

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
Para passar por meu. E para os outros ladrões,
Iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.





Visto e ouvido na televisão a propósito do corte das pensões da Caixa Geral de Aposentações





Programa de debate politico numa televisão privada.

Dum lado Alexandre Relvas, apresentado como empresário mas conhecido apoiante ativo do senhor presidente da Republica e do partido no poder.

Do outro lado, João Proença e Eugénio Rosa.

O sorriso de Alexandre Relvas é o da superioridade e da sobranceria de quem tem o poder e a mensagem é muito clara. Que se aceitem os cortes, porque senão será muito pior no futuro.

É provável, isso confirma o que Paul Tomson, logo nos primeiros dias de intervenção da troika nos disse a todos, que os salários e as pensões em Portugal, em geral, tanto no setor publico como no seto privado, são muito elevados (isto é, em lugar de se promoverem os da Bulgária e da Roménia, baixam-se os de Portugal). E que aproximar as pensões da CGA das reformas da segurança social é um ato de justiça, de equidade.

Parolice esta de utilizar argumentos que se acha que impressionam muito o adversário. A equidade, a justiça igualitária.

Eugénio Rosa, economista da CGTP, perdeu um pouco a paciência. Teve de lhe dizer que estava a utilizar uma fórmula de cálculo de pensões de 2004, desatualizada. que dominava pouco a problemática das pensões e que já tinha apresentado ao ministério os cálculos que demonstravam que a diferença de pensões entre os dois sistemas não ultrapassa atualmente 2,9% (sorriso de superioridade de Alexandre Relvas, não de humildade pedindo para que lhe expliquem os cálculos).

João Proença recorda que há anos que as despesas com pessoal do funcionalismo publico baixam significativamente e que o problema principal aresolver é o do desemprego.

Eugénio Rosa recorda, a propósito dos impostos, que o fator trabalho, com uma quota de 45% no rendimento nacional, paga cerca de 75% dos impostos, enquanto o fator capital, com 55% de rendimento, paga 25% dos impostos (daria uma boa série de programas o desenvolvimento da frase de João César das Neves no seu livro “As 10 questões da crise”: “em Portugal os ricos não pagam impostos”).

Mas não se consegue um debate assente em argumentos e factos sólidos para construir soluções (não parece haver outra saída que não seja aumentar o PIB mexendo em todos os seus fatores, mas o poder politico continua agarrado aos fundamentalismos aus teritários que sucessivamente vai reduzindo o PIB). Como tornar construtivo um debate com estes pressupostos?

Equidade? Faz lembrar o verso de António Aleixo:

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
querer um mundo novo a sério

Mas Eugénio Rosa tem algumas dificuldades de dição, não tem telegenia e os cálculos são aborrecidos de seguir. Nem os programas da televisão em que entra têm grande audiência.

Vejam os estudos dele em:

https://skydrive.live.com/redir?resid=1EBC954ED8AE7F5F!264





Visto e ouvido na televisão a propósito das florestas



Numa reportagem duma televisão privada “por esse país fora”, o repórter detem-se numa vila do interior em que o principal emprego é o de bombeiro, em que há elevada produção florestal e em que a nova lei que permite a expansão da plantação de eucaliptos é vista com receio por poder contribuir para maior risco de incêndio. E diz claramente o repórter: esta região é um paraiso, em desertificação mas paraíso, e esta lei é uma serpente que se põe no paraíso.

Não há dúvida, a liberdade de expressão funciona, mas infelizmente só a população diretamente afetada pela má gestão florestal do governo está informada. A atenção da maioria é desviada pelos programas de maior audiência.

Mas enfim, vale que continua a haver técnicos florestais que compreendem as coisas.
Veja-se o programa Olhos nos olhos, de Judite de Sousa e Medina Carreira, sobre a politica florestal, com o eng.Victor Louro:
http://www.tvi.iol.pt/videos/programa/4407/197456

Fica claramente explicado que não se combatem incêndios mandando avançar bombeiros com mangueiras para a frente do fogo, que a prevenção tem sido descurada e que o mercado da madeira é imperfeito porque a Portucel e a Altri impõem preços baixos sem cortar nos dividendos. Medina Carreira tira a conclusão cm um ar muito triste, embora seja a consequência lógica do sistema de liberalização e de mercado live dominado pelos mais fortes: “o problema é a desvalorização da fonte de produção da riqueza florestal” (isto é, como se pode limpar um terreno quando ele não dá dinheiro?)

Veja-se o gráfico dos preços de venda do pinheiro e do eucalipto às fábricas, a preços de 1975:


PS em 5 de dezembro - interessante debate sobre a floresta no Alentejo em:
 "O nível de humidade no Alentejo não permite um crecimento rápido , para um pinheiro bravo chegar a uma tonelada se lá chegar , necessita de 60 a 80 anos , na fábrica podes receber 30 euros 
Só o eucalipto compensa por ter crecimento rápido 10 anos mas precisa de muita água tonelada pelos 50 euros. 
Ou seja sobre o ponto de vista florestal o Alentejo , não é competitivo , mas se autorizarem a plantar eucalipto na zona do alqueva o crecimento será rápido."

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Acidente de Santiago, dois meses depois




Dois meses depois do acidente de Santiago de Compostela, regista-se a correção da atuação do juiz Alaez.

Sem deixar de considerar o maquinista como responsável pelo acidente, acusou os responsáveis da ADIF (infraestruturas) pela segurança da circulação pedindo á empresa a lista nominal.

Pela leitura do despacho de 20 de Agosto parece que o juiz entendeu as circunstancias e as causas do acidente e responsabiliza a ADIF e os seus técnicos por falta do sistema de segurança de controle de velocidade num troço particularmente perigoso, sabendo-se que o cérebro humano está sujeito a falhas de atenção.

É também de aprovar a divulgação de medidas que o ministério da tutela, a ADIF e a RENFE fizeram (embora algumas delas sejam irrelevantes e outras meras declarações de intenção que nunca verão a luz do dia).

Pessoalmente, prefiro a metodologia anglo saxónica, com os seus organismos de investigação de acidentes com periódicas conferencias de imprensa e abertos ao diálogo com operadoras ou empresas de manutenção ou fabrico estrangeiras até à conclusão e divulgação dos relatórios (que diferença para o caso português, em que o acidente de Alfarelos está por esclarecer, provavelmente para não incomodar operadora, infraestruturas ou fabricantes).

No caso do acidente de Santiago destaco estes fatores:

- foi um rude golpe para as expetativas de exportação da tecnologia Talgo de alta velocidade para o Brasil ( negócio de perto de 3 mil milhões de euros), razão por que se mantem secretismo sobre a inoperacionalidade do sistema ERTMS nos meses anteriores ao acidente, funcionando apenas as balizas ASFA em montagem que não controla a velocidade (apenas a passagem por sinais, sendo que no caso do acidente o sinal estava permissivo) ;

- vem a saber-se agora que desde Junho de 2012 , por dificuldades de software a bordo dos comboios da serie 730, o sistema automático de controle de velocidade ERTMS/ETCS (european rail traffic management system/european train control system) foi mandado desativar pela hierarquia técnica da ADIF. Custa a crer como um técnico foi capaz de escrever o texto que se reproduz da ordem da ADIF (com a devida vénia à iniciativadebate.org espanhola e aos maquinistas.org portugueses). Mas infelizmente escreveu (uma hipótese é a estrutura técnica da ADIF ter sido minada por influencias politico-partidárias), com a agravante do ASFA operacional ser analógico, o aviso de passagem pelo sinal ser um pequeno toque e em alta velocidade não ser possível garantir a perceção correta dos sinais laterais, como se ensina a qualquer técnico de sinalização ou exploração ferroviária. ISTO É INTOLERÁVEL, POR HAVER RISCO DE ACIDENTE POR FALHA HUMANA E CONSEQUENCIAS CATASTRÓFICAS, DE ACORDO COM A NORMA 50126 DA CENELEC. Em alta velocidade a proteção de balizas ASFA (mesmo montadas como controle pontual de velocidade, o que não era o caso) é insuficiente, tal como em exploração de metropolitanos com intervalos curtos entre comboios. É sempre possivel atenuar os efeitos da falta de um sistema automático continuo de controle de velocidade (ATP), mas para isso tem de se reduzir drasticamente a velocidade de exploração. Isto é, tem de se regredir.


Mas repito, é uma pena os organismos de investigação de acidentes em Espanha e em Portugal não funcionarem como em Inglaterra e nos USA.

- continuo a considerar um projeto imprudente e apressado (para que a serie 730 fosse polivalente, podendo circular em bitola ibérica e europeia, com alimentação de 3kV continua e de 25 kV alternada e em linhas eletrificadas e linhas não eletrificadas) como se pode ver pelo desenho de localização do motor diesel de 1,8 MW no furgão técnico; são 6,6 toneladas que elevam o centro de gravidade, a que acresce cerca de 3 toneladas para o alternador; notar tambem a assimetria do bogie relativamente ao rodado Talgo partilhado com a primeira carruagem de passageiros; seria interessante que o gabinete de investigação de acidentes avaliasse a influencia deste projeto no descarrilamento, bem como a atuação do sistema de travagem, sendo que o descarrilamento se deu depois do inicio da travagem e que o furgão técnico foi o primeiro a sair dos carris(será uma hipótese a testar, que num comboio a sequencia de travagem deverá começar da cauda para a cabeça, ou que a eficiencia de travagem deverá ser no seu inicio maior na cauda do que na cabeça; este efeito está ainda por esclarecer no acidente de Alfarelos, em que se "desconfia" - porque os relatórios não são divulgados ou não são esclarecedores - do software do ABS com carris molhados e que as condições de travagem das carruagens do intercidades não eram as melhores)



Ver tambem:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/07/acidente-ferroviario-em-santiago-de.html

No seguimento do processo juridico que ilibou a direção da ADIF, ver o artigo de Manuel Martinez Llaneza de 13 de outubro de 2014 em:
http://www.cronicapopular.es/2014/10/imputados-en-el-accidente-ferroviario-de-santiago/




PS em 20 de abril de 2015 - ver artigo do IRJ sobres relatório judicial
http://www.railjournal.com/index.php/signalling/etcs-a-crucial-factor-in-santiago-accident-inquiry.html?channel=532





quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Vocês não são boas pessoas




Vocês não são boas pessoas.
Vocês são uns convencidos de que sabem mais do que os outros.
Dizia Jô Soares que só contaram para vocês.
Como se não nos tivessem ensinado nas escolas o mesmo que a vocês ensinaram.
Vocês não são humildes.
Não têm humildade para se porem na pele dos outros.
Vocês só tomariam as decisões eficazes para as redes de transportes públicos se todos os dias tivessem de viajar para as vossas ocupações de transportes coletivos, sem motorista e carro de luxo pagos pelos contribuintes.
Só tomariam as medidas eficazes e justas para o equilíbrio orçamental se tivessem um rendimento de 600 euros por mês.
Vocês apresentam sintomas de hipomania, de esconderem a realidade com as vossas convicções, de terem recebido uma missão salvífica, que no entanto ninguém vos atribuiu, porque eleições não é messianismo.
De nada serve chamarmos a vossa atenção para os vossos erros e para a vossa insensibilidade.
Por definição não são sensíveis.
Só percebem a vossa incompetência pela força dos factos e pela crítica que os vossos próprios mentores vos fazem.
Mas os factos são distorcidos pelos vossos mecanismos cerebrais e vocês querem convertê-los em sucessos e assim se vêem, como sucesso.
Por isso os factos têm de ser violentos, têm de vos deixar a falar sozinhos e sem poder para nos impor o que quer que seja.
Não, não estou a propor uma revolução violenta, porque temos de respeitar a vontade das pessoas humildes e enganadas por vocês, que são ainda muitas porque vocês têm falas mansas e bem moduladas que iludem quem vos ouve.
Estou a propor apenas a força da não violência, da paciência, mas da firmeza com que propomos medidas concretas contra a crise e com que vos dizemos:
Vocês não são boas pessoas.
Vocês não querem aplicar as medidas que vos propomos porque não querem afetar o negócio dos bancos, dos grupos financeiros, dos grupos económicos que têm sede, ou caixa postal para remessa de lucros, na Holanda.

São medidas concretas:    combater a fuga aos impostos desses grupos, aplicar a taxa Tobin (vocês são mesmo uns convencidos de que os outros são parvos; não podem aplicar a taxa Tobin porque isso é discriminatório? cortar 10% a uma pensão de 1050 euros de um aposentado de 90 anos não é? tende tento), aplicar uma taxa nos movimentos do multibanco que não se reflita nos clientes, acabar com as isenções de IMI da igreja católica e dos fundos imobilários, invocar os casos de “force majeure” para renegociar contratos desfavoráveis para as finanças publicas reduzindo as rentabilidades excessivas desses contratos, sejam eles PPP (parceria publico privada) ou CDS (credit default swap), aplicar fundos QREN na construção de centrais elétricas de fonte eólica, hídrica, marítima e solar e em linhas de transmissão elétrica para os Pirineus (integrar os projetos destas linhas com os das ferrovias de bitola internacional será pedir demais) , aplicar fundos QREN na produção alimentar de substituição de alimentos importados, nomeadamente em piscicultura, subir o IVA de artigos de luxo e importados (não tenham receio dos vossos mentores, os turistas que comprem artigos de luxo em Portugal poderão refundir o IVA no aeroporto; não será por isso que as grandes companhias de luxo deixarão de vir para a avenida da Liberdade, mas será desejável que deixem de se ver tantos carros de luxo por aí…), aumentar a base tributária e de contabilização do PIB através de medidas amigáveis e não punitivas de inclusão na economia oficial da economia paralela de trocas informais e de subsistência (admitindo que a economia paralela, desde venda de queijos em feiras até aluguer de quartos, é da ordem de 40% do PIB e que metade da economia paralela seria suscetivel de ser integrada através de acordos pessoais com contrapartida de benefícios da segurança social, teríamos uma subida do PIB de 160 mil milhões para 190 mil milhões, o que possibilitaria a manutenção das prestações sociais que tanto afligem há tantos anos o senhor doutor Medina Carreira “só podemos cortar no pessoal da função pública e nas prestações sociais”; não poderia era haver nem medidas punitivas nem faturas obrigatórias, porque isso é o mesmo que dizer faturas falsas, apenas acordo entre duas pessoas de bem) .

Vocês não querem acreditar porque têm a vossa auto-estima de adolescente, mas se não aplicam estas medidas não é só por serem contrárias à vossa ideologia de servirem os grandes grupos. É também porque são incompetentes. Não percebem como elas funcionam, logo não as podem aplicar. Incompetência simples. Não percebem. Os ingleses tambem não percebiam por que Gandhi queria as rocas a fiar e o sal a ser transportado à cabeça pelos seus compatriotas.
Mas vocês também são hipócritas e pouco corajosos (como todos os que são fortes com os fracos e fracos com os fortes).
Vocês nunca dizem o que também se ensina nas escolas de economia por onde andaram a louvar Haiek e Friedman (há coisas que não se podem fazer numa democracia, escreveu uma vez a Haiek a própria Thatcher):

1 – o desemprego elevado é para vocês um objetivo bem definido. Um desemprego elevado permite a manutenção de preços baixos, uma inflação baixa (em agosto deste desgraçado ano de 2013 a inflação estava em Portugal a 0,2% e na Europa a 1,5%! não quero os preços baixos, quero aumento do PIB e poder de compra). É a curva de Philips. É o desemprego elevado que permite baixar os preços dos produtos, dos alimentos, do aluguer das casas, isto é, é o desemprego que estrangula a economia. Mas vocês têm dificuldade em aceitar esta evidencia

2 – pelas mesmíssimas razões, de baixar os preços, vocês perseguem e difamam os funcionários públicos. Vocês sabem que há um efeito de contágio. O setor público é principalmente não transacionável (permitirão que discorde dos vossos mentores e que diga que não é só não transacionável; entidades públicas podem produzir e produzem, bens ou serviços transacionáveis, exportáveis e sujeitos à concorrência internacional; a vossa ideologia fundamentalista é que não quer aceitar este facto; daí o vosso slogan bacoco de que o Estado não tem vocação para gerir atividades produtivas; não tem nem deixa de ter; quem tem vocação são as pessoas, e essas devem ter o direito de escolha, como vocês gostam de encher a boca, entre entidades privadas e entidades públicas para exercer atividades produtivas) e como setor não transacionável “puxa”, na nossa economia, pelos salários do setor transacionável. É por isso que ficamos à espera, depois da estouvada e escrupulosa (psicoticamente escrupulosa na definição ao milímetro dos limites para os cortes das pensões) informação do senhor secretário de Estado Rosalino sobre os cortes das pensões, que também o setor não transacionável dos bancários, nomeadamente o plano de pensões do Banco de Portugal de que ele foi gestor, contribua para o abaixamento dos preços. Como as pensões dos magistrados e dos policias, por exemplo (como perguntava Juvenal há dois milénios: quem guarda o guarda?).

PS em 21 de setembro:
Amável comentador enviou-me a propósito deste post um artigo no Publico de 3 de setembro de 2013 sobre a falta de sentido da decencia dos governantes e manifestando surpresa por os portugueses "quase se não moverem" contra as medidas castigadoras de pensionistas (10% sobre 600 euros!?!?) e de quem trabalha.


Respondi assim:

Dá, de facto, que pensar.

Mas há razões para o povo português "quase não se mover".

É um facto que se assiste à transferencia de rendimento do trabalho para o capital. Que são as pensões e os salários e as regras da austeridade que pagam o reequilibrio e o novo sucesso dos bancos (o BES não precisou de recorrer ao dinheiro da troika, fez o que o governo devia ter feito: subscrição publica) .

Mas 40% da população tem emprego ou fontes de rendimento que permitem ver na televisão imagens de admiradores em atitude veneradora e beatífica dos governantes, ou que em agosto deste ano se tenham vendido mais automóveis do que em agosto de 2012. Muitos destes 40% preferem não mudar de governo nem de presidente da republica. Aliás receiam qualquer mudança.

Outros 20% vivem na pobreza marginal.

Outros 20% para lá caminham. Destes 20+20% são raros os que votam nos partidos opostos ao governo. São marginais (marginalizados, mais corretamente) e abstencionistas.

Sobram 20% de classe média agora baixa em que a maior parte diz que os politicos são todos iguais e não vai votar ou vota em branco.

Ora, o formalismo da democracia determinou a entrega do poder aos partidos do governo. Foi a população que o elegeu. Assim como foi a população dos respetivos países que elegeu Hitler e depois o referendou (tal como Estaline foi referendado). Faltaram a essas democracias os orgãos corretores. Como estão a faltar à nossa (Cavaco faria provavelmente o mesmo que Hindenburg, mas felizmente não chegámos aí). E falta conhecimento das causas das coisas ao orgão corretor, o poder judicial. Fecham-se muito no seu circulo de elite. Os mecanismos internos dos próprios partidos não impedem o afloramento destes casos perversos, pese embora haver muita gente séria nos partidos.

No caso vertente, em que a melhor definição me parece a de Gabriela Canavilhas (ministra de cultura que ajudou a criar as condições para a desgraça que a cultura é agora em Portugal) - este governo é uma turma de adolescentes da disciplina de contabilidade prática. Que teve uns paizinhos e uns padrinhos que lhes pagaram os cursos tardios e as aventuras em empresazinhas de brincar às formações, que se encantaram com os dogmas de Haiek e de Friedman, que se derretiam sempre que viam filmes com a Thatcher ou Reagan.

E que se recusam, obviamente, a beliscar o que quer que seja dos rendimentos do capital (taxa Tobin? sobretaxa em cada movimento do multibanco sem repercussão no cliente? eliminação das isenções de IMI dos fundos imobiliários? taxação dos lucros em off-shores como a Holanda? negociação da aproximação da taxa da divida pública à Euribor? limitação da taxa de rendibilidade das PPP? nem pensar).

Mas a explicação talvez não seja complicada:

1 - a população tem experiencia (porque estas coisas transmitem-se de geração para geração no interior das familias e porque Portugal sempre teve uma taxa altissima de economia paralela que aldraba qualquer estatistica de PIB) - quando a rede de segurança social falha, a população prefere à violencia nas ruas o recurso a tecnicas de sobrevivencia adicionais e de subsistencia (produção caseira para venda de roupas, confeção caseira de alimentos, criação domestica de animais, reciclagem, aluguer de quartos - deem uma vista de olhos pelo OLX...- penhores, lotarias, solidariedade familiar e de vizinhos, precariedade de trabalho como empregadas de limpeza clandestinas...) . E sobrevive, com indicadores gerais piores (a mortalidade infantil está a subir mais do que a queda do PIB a desacelerar), mas sobrevive

2 - a tal turma de contabilidade prática, é apenas um exemplo de psicoses adolescentes de obstinação e perversidade (até certo ponto, são inimputáveis). Com que prazer escondido criticam e castigam os professores, os funcionários públicos. Provável consequencia de dificuldades de aprendizagem que estimularam a indisciplina e a recusa da realidade e das normas da educação. Cresceram e atenuaram um pouco a psicose. Transformou-se em hipomania, que é uma forma menos grave embora derivada da obsessão compulsiva, mas que permite a interação social com os seus seguidores . A hipomania é a convicção que têm sempre razão, que a realidade se submete aos seus desejos e que estão incumbidos de uma missão. E como bons adolescentes indisciplinados ou crianças dificeis, acusam os outros de terem problemas com a realidade, que ninguem pode estar convencido de ser detentor da verdade (sintoma típico de falta de "insight", de capacidade de auto-avaliação, de introspeção; sintoma típico em psiquiatria) lamentando-se que estão sozinhos a salvar o país contra todas as dificuldades. Mentem, e dois anos depois dizem o contrário mas justificam-se com subtilezas de sofista reclamando sempre que é com eles que está a justiça. Não têm empatia para se porem na pele dos outros nem medem com rigor o que dizem e o que disseram . Por isso só percebem a linguagem da força, mas o povo não quer a violencia.

Pena o povo não querer a não violencia mais à moda de Gandhi.

Pena.

Compete-nos a nós continuarmos a exprimirmo-nos.

Livremente.

Ainda temos isso.





Longa vida ao Sado


O senhor doutor Medina Carreira diz com um ar triste, no seu programa de televisão com Judite de Sousa, que não há dinheiro, que é com dinheiro que se pagam as pensões e que a adesão ao euro impede o fabrico de moeda ou a sua desvalorização (o que permitiria pagar as pensões).

Terá o senhor informações seguras do que diz, mas surpreende-me que diga que só se podem pagar as pensões com dinheiro.

Ignorando as experiencias de Worgl, do bitcoin, do napo (moeda de Nápoles) – ver

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/09/atualizacao-de-uma-anedota-economica.html
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/05/longa-vida-ao-napo-ate-2016.html

Refiro isto porque também li no programa eleitoral de um candidato à câmara de Setúbal a intenção da emissão do Sado, uma moeda para circular em Setúbal, com período de validade bem definido e com emissão com cobertura em euros.

Como já referi, os bonzos do nosso sistema financeiro, nossos e da UE certamente que se oporiam (apesar de nos USA se ter regulamentado o bitcoin, mas como o BCE não segue os bons exemplos do FED…) , mas então também tinham de se opor aos vales que qualquer empresa emite para os seus funcionários, aos talões de desconto, aos vales do supermercado que podem ser reconvertidos em combustível nas bombas de gasolina.

Se os ditos bonzos não querem o Sado, então podiam implementar a taxa Tobin, que há anos vem sendo proposta, ou a taxa por cada transação do multibanco sem repercussão nos clientes (podia ser que, com o êxito internacional do BES, reconhecido no Dow Jones sustentability, este banco não protestasse…). Isto para não falar no aumento do IVA para produtos de luxo e viagens turísticas, e na supressão das isenções de IMI para a igreja católica e para os fundos imobiliários.

Sempre se arranjava algum dinheiro que dispensasse o senhor secretário de estado de fazer aquelas figuras tristes com os cortes de 10% nas pensões superiores a 1050 euros dos aposentados com mais de 90 anos (ausência total de pudor, é o que é).





terça-feira, 17 de setembro de 2013

O Funchal voltou a navegar e com passageiros







Este blogue felicita o navio Funchal, armador e tripulação, que no momento em que escrevo navega de Bilbao para La Coruna e Lisboa, depois de um cruzeiro às ilhas Orcades e de ultrapassadas algumas dificuldades, naturais num processo de recuperação e adaptação às normas recentes de segurança.

Ver:
http://www.localizatodo.com/puertos/Ships.aspx?type=60&name=funchal

Não se confirmou assim a condenação à sucata de que falei em:

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/12/funchal-funchal.html



É um mistério como em tempo de crise se arranjaram 20 milhões de euros para recuperar os 4 navios de porte médio da companhia falida “Classic Cruises”, adquirida pelo armador do Funchal. Parece que o Montepio financia e que o armador teve ligações anteriores ao grupo Amorim.

Parece também que o mercado alvo de clientes serão os seniores escandinavos.

Pode ser que o negócio assim seja bom para o país em termos de importação de divisas.



A recuperação do navio foi feita no estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos.

Às vezes produz-se, em Portugal, parece que de forma transacionável (sujeição à concorrência estrangeira na venda de produtos).

Não digam que é por falta de vontade de trabalhar dos portugueses.

domingo, 15 de setembro de 2013

Sensualidade e intimidade, por Joel Neto

Triste sina, ter de escrever sobre a televisão portuguesa nos tempos que correm, ter de escrever sobre a mediocridade (e contudo, de vez em quando há uma pequena esperança; parece que não querem acabar com a RTP2 e que querem que seja um canal cultural; até este blogue já tinha pensado nisso, com a condição de se aumentarem as taxas de publicidade para os outros canasi, nos dias em que se transmita teatro de qualidade, por exemplo; infelizmente, não dou muito pela sobrevivencia da pequena esperança, neste país de conceitos bicudos de cultura e de agentes culturais).
Joel Neto tem essa sina, de escrever sobre a televisão portuguesa, reality shows, concursos boçais e outras coisas. Mas Joel Neto é escritor, e vejam na crónica do DN, que transcrevo com a devida vénia, como de repente surgem “lírios entre abrolhos” (se não sabem donde tirei este verso, pesquisem na Internet, por favor), a propósito de concursos estouvados, de sensualidade, de intimidade.
Não resisti e procurei ilustrar numa fotografia o tema. Vejam a promessa de intimidade na glande do sobreiro, à espera que um pássaro. ou outro bichinho depois da bolota cair, atinja a intimidade e propague a espécie por aí fora. Sensualidade no mundo vegetal, com a ajuda do mundo animal…
Crónica no DN em agosto de 2013
"Cristina Ferreira prepara-se para revalidar o título de mulher "Mais Sexy de Portugal", segundo uma eleição do Correio da Manhã. Rita Pereira e Sofia Ribeiro vêm desenvolvendo uma guerra surda pelo título de rapariga mais sexy das telenovelas, pelo que continuam a fazer distribuir fotos em que aparecem despidas para matar. E Miley Cyrus, ex-Hannah Montana, percebeu que o único caminho para ser reconhecida como uma artista adulta era tornar-se "mais sexy" (basicamente como aconteceu com Luciana Abreu, que por seu lado optou por encher os peitos como balões de ar quente) e apareceu nos MTV Music Awards a fazer figurinhas, deixando claro que vai acabar aos trambolhões em palco como Amy Winehouse ou Lindsay Lohan.
Só posso lamentar aquilo que a cultura popular contemporânea, e a TV em particular, fez à ideia de sensualidade. Quando se fala de desejo, o que verdadeiramente está em causa é um impulso de intimidade. A penetração numa intimidade: um impulso de posse, talvez - o roubo dessa intimidade, o usufruto de um pedaço dela. A sensualidade é, pois, a capacidade que um corpo tem de sugerir-se proprietário de diferentes camadas de intimidade. De uma escala dela. E, sendo assim, o corpo pode ser maravilhoso mesmo quando é feio. Tem é de ser íntimo. Profundo. Abissal, misterioso, convidativo. Tem de fazer-nos apetecer mergulhar nele. E depois mergulhar mais fundo ainda.
Rita Pereira, Cristina Ferreira, Miley Cyrus - nenhuma dela faz ideia do que é a sensualidade. Como ícones de beleza, são esquemáticas e rasas, desprovidas de camadas. Já Sofia Ribeiro não o é. E, contudo, decidiu jogar no terreno da adversária. Porquê? Porque assim manda a televisão. Um vómito."

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A orquestra XXI e Pedro Sena Lino



Tive muita pena de não ter assistido aos concertos da orquestra XXI.
Diz quem assistiu que o som da orquestra foi muito bom.
Que a soprano Susana Gaspar também, embora ainda não tenha atingido o apogeu da sua carreira.
A orquestra XXI é composta por jovens músicos portugueses que trabalham na sua profissão em grandes orquestras estrangeiras.
Reuniram-se em Portugal verão e com meia dúzia de ensaios produziram um espetaculo de elevado nível.
O senhor ex-ministro Relvas diria que nos devíamos orgulhar. Mas eu tenho pena.
Estes jovens descontam para as pensões dos reformados dos paises em que vivem, não para os reformados portugueses.
Eu contribui com os meus impostos para os cursos que tiraram em Portugal (alem de uns empréstimos externos que até 2005 não subiram a divida alem dos 60% decentes). Agora, é mais um setor de atividade, e ligado à cultura (gerador de riqueza, segundo alguns economistas, pelo que não devia ser estrangulado), em que tenho de ouvir os senhores governantes dizerem que há um défice demográfico e que a segurança social não é sustentável.
Com o PIB a decrescer e a emigração a subir não é, claro.
Que será preciso acontecer para os senhores do governo se convencerem que têm de fazer o PIB crescer? (o QREN é um dos meios…mas era preciso que os decisores e os seus conselheiros soubessem onde investir).
Falo nisto também porque acabo de ouvir na Antena 2 um poema de Pedro Sena Lino, professor de literatura portuguesa a viver em Berlim.
Um jovem de menos de 40 anos, também emigrado, depois da sua empresa de iniciativas culturais ter falhado em Portugal.
Escreve bem.
Trata a cidade de Berlim como uma mulher, ou terá usado a cidade e o seu anjo como pretexto para falar da sua paixão.
Quando poderá escrever em Portugal?
Quando teremos finalmente em toda a Europa a taxa Tobin? Quando uma empresa portuguesa com os pagamentos em dia terá acesso a empréstimos para investimento em bens transacionáveis à mesma taxa de juro de uma empresa alemã?
Quando os grupos financeiros e bancários deixarão de ter força para impor cortes aos pensionistas que auferem menos de 600 euros por mês?
Quando finalmente se poderá rever o tratado de Lisboa para que os Estados possam contrair divida junto do BCE e não junto de bancos intermediários usurários?
Quando passarão a pagar IMI a Igreja e os grandes grupos imobiliários?
Quando deixará de se utilizar o estratagema de transferir divida externa privada para divida publica?

Nollendorf platz, Berlin love song é para ti, cidade, no teu anjo

como uma ruína morre e se torna vida.
foi isto, tu comigo, nós.
não páras de te criar, cidade velha e nova, noiva.
nunca chego suficientemente à tua boca,
nunca te tomo todos os lábios de pedra.
começas no fim, inventas um rio, guardas o sol num quadro.
queres amantes insones, que desfaçam as palavras todas contra o teu corpo.
queres o seu fluído limpo, catedral, desejo absoluto.
queres a fome dos loucos, que gera toda a gramática do futuro.
mas dobro-te as pernas com o meu amor, tomo-te os lugares onde nunca foste amada, bebida, desdobrada.
dou-te o meu coração de sangue, se o quiseres - faz com ele uma esquina onde nunca mais um abraço de pedra e carne termine.
não te tenho nunca, e é por essa sede que me procuras, ruas.
pontes onde nunca mais haja um muro que não seja invisível, arco.
como são escadas as tuas águas, ó sempre grávida do futuro.
não páras de me criar, luta, amante.
queres-me sempre mais além do que eu imagino ser eu.
tão simples na tua natureza nua de milagre.
nas tuas ruas corre o meu sangue, nunca suficiente.
só tu o bebes e ardes, música de água.
sei que nunca vamos chegar um ao outro.
é por isso que quero que morramos juntos - dois tempos sobrepostos, como as galáxias amam.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Visto e ouvido na TV em setembro de 2013

Nas manifestações no Brasil, no dia da independencia, são recorrentes os cartazes reclamado "mais educação, mais saúde". Um manifestante afirma para a câmara do reporter: não queremos estádios de futebol.
Manifestações não são eleições, mas é interessante ver como o pensamento de prioridade à educação e saúde se manifesta.
Por cá, no programa Sociedade Civil, da RTP2, o diretor da escola explica pacientemente que se o governo se desculpa com a diminuiçao de 80.000 alunos por defice demográfico, tambem se esquece de dizer que no mesmo período o insucesso escolar atingiu o numero escandaloso de 170.000 alunos.
Por isso é mentira que haja professores a mais. claro que os defensores do governo dirão que não há dinheiro. E contudo, vendem-se 10.000 carros ligeiros por mês em Portugal, e a Mercedes, a Audi e a Volskswagen não parece diminuirem os seus negócios em Portugal (poderia até aumentar-se o imposto sobre os carros de gama alta, mas não é isso que se retira dos anuncios que os promovem).
Utilizando o dito bíblico, os vendilhões do templo que ocuparam a praça do templo impedem que se vença o insucesso escolar. Também é verdade que quanto maior for o insucesso escolar mais provável será o triunfo dos senhores atuais governantes nas eleições...mas quem sou eu para protestar contra tudo isto?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Uma mininovela geoenergética nos mares da Madeira

Nota prévia:
Eu sei que os nossos amigos ecologistas não gostariam nada de ler o que vai seguir-se, que escrevi a propósito da questão das Ilhas Selvagens. Escrevo gostariam, porque certamente não perderão tempo com este humilde blogue. Pelo menos não perderam tempo quando houve algum debate público sobre a barragem do Tua. E penso que foi pena, porque a barragem do Tua é um exemplo de uma derrota total para a ecologia. Talvez não o fosse se tivessem defendido uma posição semelhante à que eu defendi neste blogue em      http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=tua
(defesa do valor arqueológico do viaduto ferroviário das Presas, recuo da barragem de alguns quilómetros para norte, sem prejuízo da cota inferior da altura útil manométrica, e redução de 6% da cota máxima da albufeira relativamente ao que se construiu, aceitando a correspondente redução da produção de energia anual). Não devemos, porém, chorar no molhado, até porque, como se costuma dizer, o que hoje é impensável, é daqui a uns anos inadiável. No entanto, dada a inverosimilhança do relato, toda e qualquer semelhança com a realidade será simples coincidência. Mas a ficção pode ser assim, inverosímel, especialmente quando num país de ficção ou quando dá boleia a outras problemáticas, como seja a da capacidade dos humanos se entenderem entre si nos meios a que devem lançar mão, com vista ao bem estar comum, e a um futuro, como se diz agora, sustentável.

As ilhas agrestes, mini-novela fabulosa
O chefe de gabinete do ministro do mar enviou, ao seu homólogo do ministro das relações internacionais, o email em que laboriosamente trabalhara durante toda a noite.
Era o resultado de um esforço de recolha e debate de informação sobre as ilhas agrestes.
Que o envio de toda aquela informação era apenas uma forma de colaboração entre órgãos da administração pública para reforçar a ação do órgão mais diretamente ligado a cada assunto.
Neste caso, o ministério das relações internacionais, que tinha de preparar a defesa da posição nacional sobre as ilhas agrestes na próxima reunião da secção da ONU especializada na definição de fronteiras e das zonas marítimas.
E que assim deve ser porque a colaboração não só é uma convergência frutuosa de esforços como uma forma de monitorização mútua que elimina erros cognitivos e de comportamento de órgãos diferentes.
Com a informação recolhida, o ministro das relações internacionais tinha bons motivos para rebater a acusação que a Eslováquia tinha feito de que o estatuto de ilha das ilhas agrestes lhe reduzia a sua própria zona marítima, pelo que, segundo a interpretação eslovaca, as ilhas agrestes deveriam ser classificadas como rochas e não ilhas.
O email do chefe de gabinete do ministro do mar era um verdadeiro estudo interdisciplinar para o aproveitamento integral dos recursos naturais das ilhas agrestes, convocando naturalmente os fundos europeus para investimento em energias renováveis.
O autor, que tinha trazido da sua experiencia profissional anterior o “saber como” da recolha de informações junto de especialistas, académicos e profissionais afins de qualquer atividade, mobilizara os colaboradores e colaboradoras do seu gabinete em ações na internet e na divisão de assembleias várias em grupos de opinião cujas conclusões depois recolhiam e sintetizavam.
Infelizmente o seu zelo não encontrou correspondência no gabinete do ministro das relações internacionais, mas como tinha enviado cópias do email para todos os ministérios, a dinâmica chefe de gabinete do ministro das forças armadas rapidamente percebeu que devia dar a maior divulgação possível ao tema.
Ela andava desapontada com o imobilismo do seu ministro, advogado perdido nos meandros dos negócios privilegiados dos grandes gabinetes de advogados com as comissões parlamentares, e que no triste caso de uma grande empresa de metalomecânica pesada da esfera pública mudava periodicamente de estratégia sobre a sua estrutura de propriedade.
Assim inviabilizava o cumprimento das encomendas que, apesar da crise apareciam, o que agradava soberanamente aos concorrentes.
A chefe de gabinete do ministro das forças armadas diligentemente reforçou junto do gabinete das relações internacionais a possibilidade da grande empresa de metalomecânica executar uma das obras no estudo vindo do ministério do mar, a ligação de 18 km entre a ilha agreste grande e a ilha agreste pequena, beneficiando dos menores fundos marinhos, num máximo de 700m ao longo de 5 km entre as duas ilhas. A estrutura metálica prevista seria ancorada nas zonas de maior profundidade segundo a técnica das plataformas petrolíferas e suportaria depois redes para quintas de aquacultura e molhes de tetrópodes para atracação de centrais móveis térmicas por gradiante de temperatura entre os fundos marinhos e as águas de superfície (OTEC – ocean thermic energy conversion) e atracação de navios tanques para transporte do hidrogénio produzido com a energia elétrica das centrais OTEC.
A chefe de gabinete do ministro das forças armadas providenciou também uma fuga de informação para a imprensa, que assim apanhou o “scoop” de que o governo se preparava para entrar decididamente na produção de energia elétrica e na exploração de recursos marinhos em escala competitiva internacionalmente, como fundamento para a classificação das ilhas agrestes como verdadeiras ilhas.
E com o bulício que a imprensa emprestou ao caso, o ministro das relações internacionais, que intimamente pensava que a melhor solução era simplesmente vender as ilhas agrestes à Eslováquia, para abater na dívida, como as ilhas das Flores no século XIX , e para os eslovacos instalarem um resort para turistas seniores endinheirados, não teve outro remédio senão incluir o estudo na fundamentação da resposta à Eslováquia na ONU.
Não deverá porém ser omitido que a iniciativa da chefe de gabinete não se ficou a dever apenas ao seu dinamismo.
Ela tinha um relacionamento especial com um engenheiro norueguês que vinha frequentemente à capital em missões da sua grande empresa de investimentos diversificados no país, desde minas de cobre, ferro e ouro, a empresas de transporte marítimo e de construção e gestão portuária.
O norueguês tinha ficado encantado com as qualidades profissionais da gentil chefe de gabinete do ministro das forças armadas.
Quase todos os meses se encontravam, no que para ela era apenas uma pequena concessão de uma pequena percentagem do seu tempo a um nórdico de estranhos costumes quando comparado com os meridionais.
O engenheiro norueguês explicou-lhe as virtualidades do estudo do ministério do mar para rentabilização dos recursos das ilhas agrestes e que a sua empresa certamente estaria interessada no desenvolvimento do processo, disponibilizando-se a explicar também aos sábios do país que se defrontavam com atrozes duvidas sobre que propostas de investimento apresentar à comissão dos fundos comunitários.
Eis então um pequeno resumo do estudo sobre o aproveitamento das ilhas agrestes, que este é o assunto central desta mini-novela, não as peripécias entre a gentil chefe de gabinete e o engenheiro norueguês:
1 - Ampliação da superfície da agreste grande através da construção de enrocamentos e molhes de betão nos baixios circundantes até 10m de profundidade, permitindo passar a superfície da ilha de 4 para 20 km2
2 – construção nas novas áreas de tanques de aquacultura e de cultivo de biomassa (algas captoras de CO2 e fonte de óleos bio-combustíveis), beneficiando da elevada taxa de nutrientes das águas profundas
3- instalação de uma central de bombagem para aspiração e filtragem de águas profundas destinadas à alimentação dos tanques de piscicultura e de biomassa; tubo de aspiração de 15m de diâmetro, a 3 km da agreste grande
4 – instalação na agreste grande de uma central fotovoltaica de 200 MW e de um parque eólico de 50 MW; energia elétrica para alimentação da aquacultura e produção de biomassa da ilha e para os serviços auxiliares da ilha; possibilidade de expansão da potencia produzida para alimentação do arquipélago da Madeira a través de um cabo submarino de muito alta tensão contínua
5 – construção de uma ligação com módulos metálicos ancorados ao fundo marinho entre a agreste grande e a agreste pequena, numa extensão de 18 km, com profundidade máxima de 700 m (que se verifica apenas em 5 km de extensão); atracação por concessões internacionais de centrais móveis térmicas marítimas por gradiante de temperatura OTEC, de quintas de aquacultura e cultivo de biomassa, de navios tanques para transporte de hidrogénio, e de centrais de dessalinização
6 – ampliação da superfície da agreste pequena e do grupo de ilhotas adjacentes unindo o perímetro envolvente nos baixios até 10 m de profundidade, com construção de enrocamentos e molhes de betão, com obtenção de uma superfície de 20 km2
7 - instalação na agreste pequena resultante de uma central térmica marítima por gradiante de temperatura OTEC com 100 MW, e aspiração e filtragem de águas profundas (1000 m) a 3 km da costa
8 – instalação na agreste pequena de uma central solar por concentração com dois grupos de espelhos para melhoria do rendimento da central marítima (subida da temperatura da fonte quente da máquina térmica) e produção de energia elétrica com sais fundidos (prolongamento da insolação) para os auxiliares
9 – instalação na agreste pequena de uma central de produção de hidrogénio por eletrólise, a partir da energia elétrica da central OTEC, para exportação por navios tanques ou por gasoduto submarino para o arquipélago da Madeira, para utilização como combustível, em aquecimento doméstico e industrial e em transportes, com combustão interna ou por pilhas de combustível.
Posfácio
Pouco tempo depois dos factos descritos, era visível uma azáfama de navios cargueiros à volta das agrestes e em idas e vindas da Madeira. A ocupação e sobre-elevação dos baixios começavam. Os ambientalistas faziam algumas manifestações de oposição, mas o debate público era franco e aberto e a opinião pública apoiava o empreendimento.
Os grandes grupos económicos internacionais espreitavam, com curiosidade.
O engenheiro norueguês não tinha descanso. Ilhas com futuro, as agrestes.
Nota:
         Ver descrição de uma central OTEC em 
                         http://en.wikipedia.org/wiki/Ocean_thermal_energy_conversion

         Outra mininovela geoenergética em:
                         https://skydrive.live.com/redir?resid=1EBC954ED8AE7F5F!268

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cumprimentos ao grande grupo

Cumprimentos ao grande grupo de distribuição alimentar português, mas com acionistas estrangeiros determinantes, segundo o seu CEO. Consegue servir almoços por 3,5 euros, um prato, uma bebida e pão. Mais barato do que fazer uma refeição em casa. É sintoma de boa gestão mas talvez também de rigorosa gestão dos prazos de validade dos géneros e produtos alimentares, de salários baixos (uma vez que a gestão anterior exige mão de obra intensiva, contribuindo para o combate ao desemprego), de eficiente gestão energética na produção das refeições e no aproveitamento dos resíduos (contribuindo para o prato
positivo da balança de pagamentos), de obtenção de produtos importados a preços baixos (contribuindo para o prato negativo da balança de pagamentos) e eventualmente de algum dumping ocasional. Uma espécie de cocktail agridoce de virtudes e de inconveniencias com vantagem para utilizadores e empregados. Não é uma crítica, é uma verificação da realidade.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Citações de Einstein e de Carl Sagan a propósito do nosso quotidiano

Nestes dias em que assistimos à total ausencia do método científico no tratamento das questões que nos afetam, desde os dados incompletos da análise de Reinhart e Roggof, "proibindo" crescimento aos paises com dividas elevadas, e da troika sobre a evolução dos salários em Portugal, até ao alheamento dos decisores da seleção e utilização eficientes dos fundos QREN para o crescimento e emprego,até à incapacidade dos decisores de aceitarem outras propostas que não as do seu credo, alinhei algumas citações.
Como diz o professor Carvalho Rodrigues, "a ciencia tem de fazer parte da equação"
Citação de Einstein:
Receio o dia em que a tecnologia ultrapasse a capacidade humana de interação. O mundo terá uma geração de idiotas
Citações de Carl Sagan (o canal Fox vai retomar a série de divulgação científica de Carl Sagan):
Vivemos numa sociedade absolutamente dependente da ciência e da tecnologia que teve a esperteza de arranjar as coisas de modo que quase ninguém compreende a ciencia e a tecnologia. É uma clara prescrição para o desastre… Esta mistura combustível de ignorancia e poder, mais cedo ou mais tarde, explodirá na nossa cara. Como pode funcionar a ciência e a tecnologia numa democracia se as pessoas nada souberem delas?
A supressão de ideias desconfortáveis pode ser comum na religião e na politica, mas não é o caminho do conhecimento; não pode ter lugar no comportamento cientifico
Com dados insuficientes é fácil estar errado
O ceticismo da atitude cientifica que diz “não aceites o que diz a autoridade, só por si”, é muito semelhante à atitude da mente necessária para o funcionamento da democracia. A ciência e a democracia têm valores e abordagens coincidentes, e não penso ser possível ter uma sem a outra… Se não formos capazes de colocar as questões céticas, estaremos prontos para o próximo charlatão, politico ou religioso, que facilmente aparecerá

A Vitória do Crowdfunding

O museu do Louvre lançou uma apelo para ofertas para reparaçao da Vitória de Samotrácia. Como se diz agora, "crowdfunding", que foi uma coisa que sempre se usou. O aviso "Afonso de Albuquerque foi assim que foi encomendado, por subscriçao pública, na bancarrota do fim do século XIX. Mas parece que os senhores financeiros e politicos que nos condicionam e governam não gostam do sistema. Preferem canalizar as poupanças dos particulares (130 mil milhões de euros em aplicações financeiras)para os negócios bancários. Estarão no seu direito, que neles votou a maioria dos eleitores de voto expresso. Mas assim cai-se na discussão bem portuguesa, bizantina e inutil a que se assiste sobre se é a Constituição que impede a reforma do Estado, ou se é a interpretação que a impede, sem haver estudos concretos sobre a dita reforma, e sem considerar simplesmente que se o PIB crescer, a despesa publica relativamente ao PIB baixa. Claro que é preciso investimento, mas era isso que se pretendia com o QREN que foi suspenso. 90% de comparticipação europeia permitiria aumentar o PIB, tal como o efeito do multiplicador desse investimento. Em sinal contrário funcionaria a participação nacional no investimento (empréstimo), isto é 10% do investimento, com menor efeito sobre o defice porque o PIB aumentaria. Mas não, tal como pediam as caixas de comentários, acabou-se há 2 anos com os investimentos QREN em infraestruturas e temos agora um senhor ministro especialista de direito comunitário com um comité de sãbios de que se aguardam informações sobre o que pretendem fazer ou recomendar (direito À informação: art.48 da Constituição). Interessante pensar ainda que a Grecia continua a reclamar a devolução das estátuas levadas para os museus de Londres, Paris e Berlim. E que pouco ou nada se diz sobre o contencioso português com a França sobre a devolução pretendida dos bens culturais que a invasão napoleónica saqueou e levou para França.