Torturem os números que eles confessam, livro de Pedro Girão
Nogueira Ramos.
Ou de como a mentira dos senhores governantes é apresentada
como verdade estatística.
O artigo no jornal de economia, a propósito da divulgação da
estatística do Eurostat, de diminuição da taxa de desemprego de 17,6% para
15,7%, mostra em fotografia sorridente o
senhor ministro da Economia com a legenda “economia portuguesa está a melhorar
e a gerar postos de trabalho”.
É parte da verdade, pelo menos com base nos dados recolhidos, com a
reserva de que a margem de erro dessa estatística pode ser superior à melhoria
registada.
E também que a melhoria registada se refere ao trimestre anterior,
porque relativamente ao período homólogo do ano anterior, piorou (menor número de pessoas empregadas).
Consultado o INE, verificam-se os seguintes dados (em
milhões):
3ºT/2012
3ºT/2013
nºde desempregados
(1) 0,871 0,839
nº de empregados
(2) 4,657 4,554
população ativa
(3)=(1)+(2) 5,528 5,393
taxa de desemprego (4)=(1)/(3)
0,1576 0,1556
emigração (suposta igual à dimi-
nuição da
população ativa e
total) (5)=(3)2012 – (3)2013 - 0,135
população total
(6) 10,487 10,352
taxa de emprego (7)=(2)/(6) 0,4441 0,4399
Em resumo: desde o mesmo período do ano passado, o número de
desempregados diminuiu 32.000 (principalmente à custa da emigração), e o número
de empregados diminuiu 103.000 (por fecho de empresas e por emigração, mas
admitamos que foi só por emigração).
Isto é, o número de empregados diminuiu 3 vezes mais do que o numero de desempregados.
Então a taxa de desemprego diminuiu num ano 0,20% (passou de
15,76%, e não 17,6% como referiu o Eurostat, para 15,56%) e a taxa de emprego
baixou 0,14% (passou de 44,41% para
43,99%).
Se construirmos o indicador
(desempregados + emigrantes)/(população ativa+emigrantes) , obteremos
uma taxa de desemprego de 17,57%
É claro que todos estes valores dependem da fiabilidade da
recolha dos dados respetivos, sabendo-se como é remota a probabilidade de
traduzirem a realidade completa, e estão certamente no intervalo de erro, pelo
que é uma mentira a auto-satisfação dos senhores governantes, ou simples
manifestação de ignorância ou negligencia matemática, ou aparentemente, má-fé.
O que estes números indiciam é o que se vê no dia a dia, precariedade
dos empregos, fecho de empresas como os estaleiros de Viana do Castelo e uma
população em idade útil desaproveitada e ofendida quando é responsabilizada
pelo seu próprio insucesso ou pelas consequências da ausência de politicas de
pleno emprego, como manda o art.58 da
Constituição o governo desenvolver.
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