sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

as duas secretárias de Estado vão lá estar

                                           o texto seguinte faz parte de umas memórias do metropolitano de Lisboa



Franklin Duques já tinha acedido ao pedido de Assis Garrido para chamar a si a coordenação dos trabalhos de adaptação das estações do metropolitano à diretiva europeia, transposta para a legislação portuguesa, de acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida.
O que significava que me tinha desligado desse projeto. Fê-lo com coerência, porque sempre recusara as minhas propostas de intervenção e de submissão dos projetos a candidaturas aos fundos europeus.
A sua visão economicista das coisas não lhe permitia sentir-se na pele das pessoas em cadeira de rodas.
Porém, sempre que algum jornalista pedia informações sobre o estado do projeto, era a mim que continuava a pedir o ponto da situação, que apesar de tudo alguma coisa se ia fazendo, de colaboração com a secretaria de Estado da segurança social e o seu secretariado para reabilitação e integração (SNRIPD)  e com associações como a ACAPO, associação de cegos e amblíopes de Portugal, e a APD, associação portuguesa de deficientes.
A nossa jovem arquiteta tinha aproveitado uma parte significativa da nave das oficinas do parque abandonado de Sete Rios, não ocupada pela central de camionagem provisória que libertara a área do arco do cego, para uma instalação experimental de pavimento tátil para guiamento de cegos, conforme o normativo internacional. A experiencia era importante e interessou a várias empresas de transporte e câmaras municipais.
O parque tinha sido abandonado duas administrações atrás, quando da inauguração do sumptuário parque de oficinas e material circulante em Carnide/Pontinha.
Um outro jovem arquiteto fez um projeto de aproveitamento dos terrenos com uma urbanização de 3 torres, um hotel, uma central de camionagem (definitiva), um edifício para a sede executiva e central de operações do metropolitano e uma zona de garagem para facilitar o lançamento de comboios em exploração durante as horas de ponta.
As mais valias obtidas com a comercialização do imobiliário serviriam para um plano de pensões dos reformados do metro e para remunerar parcialmente os antigos proprietários do terreno expropriado para fins públicos.
O imobilismo e a inércia institucionais, porém, foram deixando passar os anos sem que nada do projeto se concretizasse. A central de camionagem provisória eternizou-se, as alterações do plano diretor municipal não tiveram consequências. O metro nunca recebeu rendas pela utilização da central provisória.
Franklin Duques condescendeu com a experiencia mas não manifestou interesse nenhum em assistir à inauguração.
Embora não fosse da minha responsabilidade, mas porque recebera a informação do meu antigo interlocutor do SNRIPD, telefonei à secretária de Duques.
-“Colega, agradecia que informasse o doutor que para a inauguração do pavimento experimental tátil está confirmada a presença das duas secretárias de Estado, a da segurança social e a dos transportes. Depois diga qualquer coisa, está bem?”

Menos de cinco minutos depois tocou o telefone. Que eu fizesse o favor de também lá estar, para apoio ao senhor presidente da administração Franklin Duques, durante a visita das senhoras secretárias de Estado.

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