o texto seguinte faz parte de umas memórias do metropolitano de Lisboa
Franklin Duques já tinha acedido ao pedido de Assis Garrido para chamar a si a coordenação dos trabalhos de adaptação das estações do metropolitano à diretiva europeia, transposta para a legislação portuguesa, de acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida.
O que
significava que me tinha desligado desse projeto. Fê-lo com coerência, porque
sempre recusara as minhas propostas de intervenção e de submissão dos projetos
a candidaturas aos fundos europeus.
A sua visão
economicista das coisas não lhe permitia sentir-se na pele das pessoas em
cadeira de rodas.
Porém,
sempre que algum jornalista pedia informações sobre o estado do projeto, era a
mim que continuava a pedir o ponto da situação, que apesar de tudo alguma coisa
se ia fazendo, de colaboração com a secretaria de Estado da segurança social e
o seu secretariado para reabilitação e integração (SNRIPD) e com associações como a ACAPO, associação de
cegos e amblíopes de Portugal, e a APD, associação portuguesa de deficientes.
A nossa
jovem arquiteta tinha aproveitado uma parte significativa da nave das oficinas
do parque abandonado de Sete Rios, não ocupada pela central de camionagem
provisória que libertara a área do arco do cego, para uma instalação experimental
de pavimento tátil para guiamento de cegos, conforme o normativo internacional.
A experiencia era importante e interessou a várias empresas de transporte e
câmaras municipais.
O parque
tinha sido abandonado duas administrações atrás, quando da inauguração do
sumptuário parque de oficinas e material circulante em Carnide/Pontinha.
Um outro
jovem arquiteto fez um projeto de aproveitamento dos terrenos com uma
urbanização de 3 torres, um hotel, uma central de camionagem (definitiva), um
edifício para a sede executiva e central de operações do metropolitano e uma
zona de garagem para facilitar o lançamento de comboios em exploração durante
as horas de ponta.
As mais
valias obtidas com a comercialização do imobiliário serviriam para um plano de
pensões dos reformados do metro e para remunerar parcialmente os antigos
proprietários do terreno expropriado para fins públicos.
O imobilismo
e a inércia institucionais, porém, foram deixando passar os anos sem que nada
do projeto se concretizasse. A central de camionagem provisória eternizou-se,
as alterações do plano diretor municipal não tiveram consequências. O metro
nunca recebeu rendas pela utilização da central provisória.
Franklin
Duques condescendeu com a experiencia mas não manifestou interesse nenhum em
assistir à inauguração.
Embora não
fosse da minha responsabilidade, mas porque recebera a informação do meu antigo
interlocutor do SNRIPD, telefonei à secretária de Duques.
-“Colega,
agradecia que informasse o doutor que para a inauguração do pavimento experimental
tátil está confirmada a presença das duas secretárias de Estado, a da segurança
social e a dos transportes. Depois diga qualquer coisa, está bem?”
Menos de
cinco minutos depois tocou o telefone. Que eu fizesse o favor de também lá
estar, para apoio ao senhor presidente da administração Franklin Duques,
durante a visita das senhoras secretárias de Estado.
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