segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

3 bilhetes postais para 3 governantes - 3 - para a senhora ministra das finanças

3 bilhetes postais que não serão lidos pelos destinatários, nem sequer pelos seus assessores
3 - para a senhora ministra das Finanças

Não iria gostar de ler este bilhete postal.
Apesar dele negar que haja qualquer traço de dissonancia cognitiva no seu discurso.
Não existe oposição entre o que a senhora diz e a realidade.
Não existe uma espiral recessiva, mas existiu sim um domínio angular em que ao crescimento da coordenada angular tempo correspondia o crescimento da distancia polar que representava a queda do PIB (fórmula da espiral logarítmica, aquela em que razões de crescimento de angulos correspondem a razões de crescimento iguais para as distancias polares :  distancia polar = ekθ).
Tal como ainda existe um domínio de uma espiral em que ainda se verifica o crescimento da dívida pública.
Isto é, os indicadores macroeconómicos não estão tão maus como isso porque os privados, como diz João Cesar das Neves, já "ajustaram", embora à custa das transferencias das pensões para o setor privado.
Já reparou que 10% do PIB europeu se destinaram a ajudas diretas dos tesouros públicos aos bancos? E que as ajudas implícitas serão o dobro? 
Vivemos acima das nossas possibilidades e agora financiamos os bancos acima das nossas possibilidades também?
Claro que a senhora não precisa de se preocupar com o sacrificio dos pensionistas, dos que pouco ou nada recebem, dos desempregados e dos emigrantes e até acredito que esteja convencida de estar a ter a atitude correta. 
A sua consciencia apenas a obriga a acertar as contas no exercicio de contabilidade prática que a troika lhe passou e em que vai ter boa nota.
Não precisa (e se precisasse seria indício de que teria a reação normal de criar empatia perante a infelicidade alheia) de se preocupar com o indício preocupante da parte de impostos paga pelo fator trabalho, com peso no PIB inferior ao do fator capital, ser de 75% e estar a crescer de cada vez que se cortam pensões e de cada vez que as receitas fiscais do IRS aumentam 35% e as do IRC 18%.
O seu olhar permanecerá frio, embora eu reconheça que é a unica maneira de sobreviver ao que faz sem recorrer a apoio solidário.
Não quererá contradizer os ideólogos monolíticos de visão tubular anti-keynesiana da escola de Chicago ("sickago").
E assim vai equilibrando as contas ao sabor da  maré e da corrente de transferencia do capital das pensões para os bancos. Apenas aparentemente, claro, porque a margem de erro dos indicadores é superior às melhorias que apregoa, pese embora a sensatez com que pede contenção.
Peça contenção a quem compra Mercedes, Audis e BMWs, a quem lucra com as manipulações fiscais, as exportações de capitais  e as transações bolsistas e no ciberespaço, desde as apostas no FOREX e nas Ava Capital ("regulada" pelo banco da Irlanda?! porque se divertem com quem trabalha?) até às start-ups empreendedoras do que não vemos.
Não peça contenção a quem vive de pensões, deixou de poder ajudar os filhos e  os vê partir para a Austrália e Angola (300 que saem do país por dia, a senhora faz ideia da extensão do crime que isto indicia?).
Claro, claro, 40% do país está a viver bem, claro, só ontem, vi dois Range Rover do último modelo, daqueles todos automáticos, quando fui comprar o jornal, e a votar nos politicos que estão a tomar as decisões que não contrariam o ditado da troika.
Mas seria bom que explicasse ao senhor doutor Medina Carreira, que, honra lhe seja feita, clama contra a imoralidade das PPP, rendas e CMECs mas também acha que não há dinheiro para as pensões (ainda bem para ele que o fundo de pensões que lhe paga a pensão ainda não foi integrado na segurança social), que afinal, a segurança social é superavitária em 2014: receitas 18 500 milhões de euros, despesa 15 300 milhões de euros.
Eu sei que foi por causa do perdão fiscal (mas grande parte da dívida não era à segurança social?),  de transferencias do Estado (mas o Estado não tem de contribuir como qualquer empresa?) e dumas facilidades contabilisticas (afinal, negociar com a troika é possivel, não façam as coisas em segredo, que falta de espírito aberto; já reparou que no  mês seguinte aos públicos lamentos do senhor primeiro ministro de que a troika andava a tratar-nos mal os juros dos "mercados" baixaram? ironizo, claro, apenas para dizer que não eram as eleições antecipadas que iriam fazer subir os juros, são mecanismos estocásticos que escapam ao controle linear).
Haverá de facto um problema de piramide demográfica, mas não é agora, será mais tarde, se o seu governo continuar. 
Ah, outro sintoma de melhoria, as taxas do aeroporto subiram pela terceira vez desde a privatização (ups!, não se dizia que as empresas públicas gerem mal e não sabem baixar as taxas competitivas? a senhora também acreditou quando o seu colega especialista de PPP e secretário de Estado dos transportes lhe vendeu essa? pense duas vezes, pergunte a quem sabe como o mundo dos transportes funciona...).
Eu penso que os senhores governantes deviam deixar de se considerar detentores de verdades e de estratégicas únicas e as melhores. 
Deviam repartir o debate e as decisões, mas não devia ser só com o outro partido do arco da governação, devia ser com os outros e com os grupos de cidadãos (que tem contra o congresso das alternativas? contra a iniciativa para a auditoria da dívida?).
Olhe que na Islandia deu bom resultado...
É que assim como estamos, tão dependentes que somos do poder central europeu (eu gostava de lhe falar numa lei da Física, que explica porque num sistema de constituintes de crescimento proporcional à grandeza instantanea, os constituintes de maior rendimento tendem a aumentar a diferença para os constituintes de menor rendimento, mesmo que esse rendimento seja muito bom; é a lei de Fermat-Weber, que a reserva federal dos USA domina, ao contrário do que faz o BCE; mas não temos oportunidade para discutir isso, bem sei), resta-nos esperar que o ciclo económico externo chegue à alternancia positiva.
Eu diria que o mal é geral e exterior, que assenta muito mais a montante da desigualdade da repartição da riqueza -  assentará na desigualdade da repartição dos meios de produção. É que quanto mais privatizarem maior será a desigualdade.
E como se sabe, países de menores desigualdades sociais funcionam melhor do que países mais desiguais (até o senhor professor Vitor Gaspar falou do coeficiente de Gini).  
É outra lei da Física, um sistema cujos parâmetros do  movimento têm menor dispersão estatística têm um movimento mais estável do que os que apresentam maiores amplitudes.
E também, graças à escola de Chicago e aos exitos históricos globalizantes de Reagan e Thatcher, respaldados pelo petróleo barato do golfo e do mar do norte, podemos ignorar as leis da Física, só que não por muito tempo.
Ah! É verdade, também gostava de comentar a sua afirmação de que nada é dado de graça. 
Olhe que não, lembre-se do que dizia o inventor da vacina contra a poliomielite, Jonas Salk:
"Eu tenho o meu ordenado no laboratório, e a vacina é do povo, não tenho de patentear nada"
Que chocante que isto deve ser para um economista que sabe quanto se tem de pagar por uma coisa mas que ignora completamente o valor dessa coisa...





Sem comentários:

Enviar um comentário