Rajoy, junho de 2013 – “o pior já passou”
Passos Coelho, Outubro de 2013 – “o pior já passou”
Poiares Maduro, Novembro de 2013 – “o pior já passou”
Samaras, Janeiro de 2014 – “o pior já passou”
Passos Coelho, Janeiro de 2014 , na preparação do congresso
eletivo do seu partido – “o pior já passou”
A frase é recorrente.
No caso do primeiro ministro português o seu uso visa ganhar
as eleições para o seu partido.
Argumentos: os indicadores estão a melhorar graças aos sacrifícios.
Os indicadores são o ligeiro crescimento do PIB, através do
consumo e exportações, e do desemprego.
Mas não cita os indicadores do ligeiro crescimento da
mortalidade infantil, da tuberculose, das dificuldades de acesso à saúde, de
aumento das desigualdades.
São todos de variação
ligeira, inferiores ao intervalo de segurança, mas uns são num sentido e
outros noutro.
Portanto a utilização é ilegítima.
E não corresponde à verdade: para quem vai ter cortes nas
pensões e nos salários o pior ainda não passou. No caso dos reformados do metropolitano,
muitos vão ter cortes novos superiores a 50%. O pior ainda não passou.
Perante esta evidencia, a reação primária seria ofender o
senhor.
Porém, a reação secundária será buscar uma justificação para
este comportamento que não seja o vício político que destrói o que a natureza
humana tem de bom.
E a justificação vem da psicanálise. Insisto que o senhor
mostra sintomas de hipomania, de convencimento de que as convicções são mais
reais que a realidade e que foi escolhido para uma missão salvadora (ele
próprio o diz). O alheamento da realidade traduz-se por falta de empatia, isto
é, de incapacidade para imaginar ou sentir o sofrimento alheio, por mais que
repita que “compreende” esse sofrimento, considerando-o como um sacrifício
redentor, utilizando os mecanismos subconscientes da tradição religiosas
judaico cristã e do fundamentalismo moralista luterano de culpa das próprias
vítimas só redimidas por sacrifícios.
Por tudo isto, e porque infelizmente o pior ainda não
passou, reside agora a esperança nos militantes que vão votar. O voto é
secreto. Não queiram ser cúmplices na mentira de que o “pior já passou”.
Informem-se. Adiram à corrente de opinião que a saída da crise deve ser feita
em conjunto, com a colaboração de todos, não só dos partidos habituais da
governação, mas com participação cada vez
maior dos cidadãos e, nas áreas que envolvem questões técnicas, com
debates abertos a quem conhece os problemas, listando ponto a ponto os
objetivos a atingir.
Que o principal objetivo e a prioridade seja cumprir o
artigo 25 da declaração universal dos direitos humanos, não a tirania dos
mercados, que até têm rosto, que no caso da dívida pública são os bancos:
“Toda a pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si
e à sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em
caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda
dos meios de subsistência fora do seu controle.”
E isso não se pode fazer com os mecanismos dos partidos, estranguladores
e dependentes de uns poucos.
Não precisam para já de arranjar já no fim de semana do
congresso outro para eleger.
Basta exprimirem que não querem este, por dizer coisas
afastadas da realidade, e votarem branco.
Depois se arranjará outra solução, não será preciso muito
tempo, porque no vosso partido há gente com capacidade para compreender a premencia das questões tecnicas, para delegar, para
corrigir os ministros prepotentes e para coordenar as atividades necessárias
para uma saída da crise em colaboração com quem pensa de maneira diferente.
A taxa de desemprego é
o quociente entre a população desempregada que procura trabalho e a população
ativa (empregada ou procurando trabalho).
Segundo o INE o seu
valor no 3º trimestre de 2013 é, representando milhões: 0,84/(0,84+4,55)=15,6%
Se se contabilizasse
como população desempregada 100 mil emigrantes e 140 mil frequentadores de
ações de formação, teríamos uma taxa de desemprego mais real:
(0,84+0,24)/(0,84+0,24+4,55)=19,2% (isto é, a população desempregada cresce a uma taxa superior à da população em
idade ativa).
Mas admitindo que
apenas 50% dos emigrantes e frequentadores de cursos tivessem ficado no país, então essa taxa seria:
(0,84+0,12)/(0,84+0,12+4,55)=17,1%
Considerando ainda que
muitos desempregados não se registam como procurando trabalho oficialmente, e
que do 3ºtrimestre de 2012 para o
3ºtrimestre de 2013 a população desempregada nos setores
industriais, de construção e energia aumentou 102.000, mais valia que o
senhor primeiro ministro não exibisse o seu alheamento da realidade.
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