quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Apelo ao militantes - o pior ainda não passou

Rajoy, junho de 2013 – “o pior já passou”
Passos Coelho, Outubro de 2013 – “o pior já passou”
Poiares Maduro, Novembro de 2013 – “o pior já passou”
Samaras, Janeiro de 2014 – “o pior já passou”
Passos Coelho, Janeiro de 2014 , na preparação do congresso eletivo do seu partido – “o pior já passou”


A frase é recorrente.
No caso do primeiro ministro português o seu uso visa ganhar as eleições para o seu partido.
Argumentos: os indicadores estão a  melhorar graças aos sacrifícios.
Os indicadores são o ligeiro crescimento do PIB, através do consumo e exportações, e do desemprego.
Mas não cita os indicadores do ligeiro crescimento da mortalidade infantil, da tuberculose, das dificuldades de acesso à saúde, de aumento das desigualdades.
São todos de variação  ligeira, inferiores ao intervalo de segurança, mas uns são num sentido e outros noutro.
Portanto a utilização é ilegítima.
E não corresponde à verdade: para quem vai ter cortes nas pensões e nos salários o pior ainda não passou. No caso dos reformados do metropolitano, muitos vão ter cortes novos superiores a 50%. O pior ainda não passou.

Perante esta evidencia, a reação primária seria ofender o senhor.
Porém, a reação secundária será buscar uma justificação para este comportamento que não seja o vício político que destrói o que a natureza humana tem de bom.
E a justificação vem da psicanálise. Insisto que o senhor mostra sintomas de hipomania, de convencimento de que as convicções são mais reais que a realidade e que foi escolhido para uma missão salvadora (ele próprio o diz). O alheamento da realidade traduz-se por falta de empatia, isto é, de incapacidade para imaginar ou sentir o sofrimento alheio, por mais que repita que “compreende” esse sofrimento, considerando-o como um sacrifício redentor, utilizando os mecanismos subconscientes da tradição religiosas judaico cristã e do fundamentalismo moralista luterano de culpa das próprias vítimas só redimidas por sacrifícios.

Por tudo isto, e porque infelizmente o pior ainda não passou, reside agora a esperança nos militantes que vão votar. O voto é secreto. Não queiram ser cúmplices na mentira de que o “pior já passou”. Informem-se. Adiram à corrente de opinião que a saída da crise deve ser feita em conjunto, com a colaboração de todos, não só dos partidos habituais da governação, mas com participação cada vez  maior dos cidadãos e, nas áreas que envolvem questões técnicas, com debates abertos a quem conhece os problemas, listando ponto a ponto os objetivos a atingir.
Que o principal objetivo e a prioridade seja cumprir o artigo 25 da declaração universal dos direitos humanos, não a tirania dos mercados, que até têm rosto, que no caso da dívida pública são os bancos:
“Toda a pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora do seu controle.”    
E isso não se pode fazer com os mecanismos dos partidos, estranguladores e dependentes de uns poucos.
Não precisam para já de arranjar já no fim de semana do congresso outro para eleger.
Basta exprimirem que não querem este, por dizer coisas afastadas da realidade, e votarem branco.

Depois se arranjará outra solução, não será preciso muito tempo, porque no vosso partido há gente com capacidade para compreender a premencia das questões tecnicas, para delegar, para corrigir os ministros prepotentes e para coordenar as atividades necessárias para uma saída da crise em colaboração com quem pensa de maneira diferente.


 Nota sobre o cálculo da taxa de desemprego: é intelectualmente desonesto jogar com as dificuldades naturais de apreensão dos conceitos matemáticos e com a pouca confiabilidade da recolha dos dados.
A taxa de desemprego é o quociente entre a população desempregada que procura trabalho e a população ativa (empregada ou procurando trabalho).
Segundo o INE o seu valor no 3º trimestre de 2013 é, representando milhões:  0,84/(0,84+4,55)=15,6%
Se se contabilizasse como população desempregada 100 mil emigrantes e 140 mil frequentadores de ações de formação, teríamos uma taxa de desemprego mais real:
(0,84+0,24)/(0,84+0,24+4,55)=19,2%   (isto é, a população desempregada  cresce a uma taxa superior à da população em idade ativa).
Mas admitindo que apenas 50% dos emigrantes e frequentadores de cursos tivessem ficado no país, então essa taxa seria:
(0,84+0,12)/(0,84+0,12+4,55)=17,1%
Considerando ainda que muitos desempregados não se registam como procurando trabalho oficialmente, e que  do 3ºtrimestre de 2012 para o 3ºtrimestre de 2013 a população desempregada nos setores industriais, de construção e energia aumentou 102.000, mais valia que o senhor primeiro ministro não exibisse o seu alheamento da realidade.
   

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