terça-feira, 17 de junho de 2014

Sobre a organização dos grupos comunitários

Organização no sentido de montagem de uma estrutura de suporte do grupo.
Grupo comunitário como coletivo orientado para um objetivo.

Desde muito cedo o império romano, caraterizado pelo seu poder de síntese das culturas e das técnicas de outras comunidades, percebeu o interesse da organização das tribos germânicas.
Aproveitou-as desde o século I na formação de destacamentos do seu exército.
Retirava delas a vantagem de uma grande resistencia física dos individuos e uma grande capacidade de trabalho coletivo, predominando sobre a habilidade ou iniciativa individuais. Foi desde sempre um atributo das tribos germãnicas o cuidado na preparação e depois na observação dos procedimentos normativos de execuçao das tarefas, em contraste com o improviso e o auto-convencimento dos romanos.
Era tambem muito apreciada a pericia germânica no dominio da metalurgia das armas e dos arados, que permitia elevadas produtividades na execução. Porem esta ultima não era uma vantagem comparativa relativamente aos artesãos romanos, que dominavam igualmente a tecnologia, beneficiando da preparação teórica dos gregos clássicos.
Curiosamente, o conjunto das tribos germânicas não funcionava como cada uma das tribos, pelo que a sua organização viveu submetida aos princípios do feudalismo, uma forma elaborada de caciquismo, nomeadamente sob o sacro império romano-germânico do ocidente, só se verificando a união efetiva das tribos germânicas no século XIX, manifestando-se por exemplo nas primeiras realizações mundiais do Estado Social.
Na história da Humanidade, o espírito de grupo restrito tribal teve origem nas dificuldades de vida nómada, tendo a vida sedentária imposto, para sobrevivencia próspera das tribos, a sua adaptação à referida vida sedentária.
Pode assim colocar-se a hipótese de que as tribos prósperas abandonaram alguns dos princípios que eram determinantes do sucesso na vida nómada com condições climatéricas adversas, como seriam a admiração por um heroi cuja habilidade, instinto de improvisação ou superioridade sobre os outros aglutinava os membros da tribo, criando-lhes a ilusão, com o suporte dos sacerdotes ou feiticeiros, de que a tribo era forte.
O próprio deserto ou os invernos rigorosos impediam o crescimento das tribos, pelo que o sistema do chefe tribal forte e a cultura da habilidade individual, por a comunidade se encontrar, a nivel produtivo, nos troços primitivos da curva dos rendimentos decrescentes, era  o mais favorável em ambiente nómada.
As tribos germânicas contemporaneas do império romano tinham porem já evoluido para a vida sedentária, com predomínio da resistencia fisica individual e do trabalho de grupo em detrimento da habilidade e improvisação individuais.
É tambem curioso verificar que as tribos germânicas que se estabeleceram em regiões bem definidas em Portugal, como no norte ocidental, mantiveram essas carateristicas, sobressaindo as suas capacidades produtivas e as formas especificas de povoamento disperso no panorama nacional.
Igualmente são lendárias as capacidades de resistencia e de auto-suficiencia das tribos serranas beirãs orientais, anteriores à colonização romana (séculos II AC-III DC), à colonizaçao mediterrânica e das religiões orientais (séculos III a XI), e à colonização feudal franco-saxónica-normanda-germânica (séculos XI até à atualidade).
Verifica-se ainda, como fator negativo em períodos de crise na comunidade portuguesa, o apelo aos princípios primitivos tribais, como seja a crença num chefe predestinado com habilidades para formar um governo forte, ou a crença nas capacidades especiais de chefes de grupos mais restritos para atingir objetivos, todos polarizados pelo pensamento do chefe maior, em detrimento da organização cooperativa e planificada dos membros da tribo.

É esta dificuldade em valorizar as capacidades do coletivo organizado em equipa, a submissão à hierarquia feudal oligárquico-plutocrática, e a ilusão de que o progresso depende das habilidades de alguns, que neste momento estão a desempenhar o principal papel no bloqueio ao progresso do país.



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