Devo a Medina Carreira a explicação da lei de Philips, que ao aumento do desemprego corresponde a diminuição da procura e a contenção dos preços, pelo que é um mecanismo utilizado pelos governos seguidores da nova economia, de desvalorização dos fatores de produção, nomeadamente do trabalho.
Não é bom viver em deflação.
Aparentemente as pessoas podem gostar de pagar menos pelas coisas, como a prestação da casa ou os produtos alimentares, mas já não gostam de ver os próprios rendimentos diminuidos nem o valor dos seus bens.
Por isso é suicida esta obsessão do BCE em perseguir uma inflação baixa, ignorando que nenhuma lei segue curvas lineares em todos os dominios.
Por exemplo, um investimento pode ter retorno num dado ponto da curva de rendimentos em função do volume de investimentos, mas para um menor volume global de investimentos o retorno pode não existir e o investidor ficar mais pobre depois do investimento (zona da armadilha da pobreza, de onde não se sai sem auxilio exterior, isto é, sem investimento externo).
Porém, por mais respeito que Medina Carreira me mereça por isso, até porque a sua formação abrange as duas culturas (tem formaçáo técnica de engenharia e juridico-fiscal), a sua obsessão no programa Olhos nos olhos, em culpar o crescimento dos custos com a segurança social parece-me inaceitável.
A segurança social não é uma despesa pública, é o resultado das contribuições do trabalho e das empresas.
Depois da crise de 2008 é evidente que a contribuição para a segurança social dos fundos públicos deixou de ser razoável e devem tomar-se medidas, é certo, mas afirmar repetidamente que é totalmente uma despesa pública é distorcer a verdade.
Além de que, mais uma vez, o estímulo artificial do desemprego para combater a inflação aumenta as despesas de segurança social.
O próprio Medina Carreira reconhece que as despesas com a saúde e a educação são razoáveis. E que a unica solução é o crescimento económico.
Porem, como isso não é imediato (porquê? por afinal não se saber onde aplicar os fundos comunitários?) apoia o governo atual nos sucessivos cortes nas despesas.
Penso que incorre na falha de ignorar que os cortes têm um efeito destruidor na capacidade produtiva, reduzindo a economia mais do que o valor dos cortes e levando por isso a uma redução do defice muito menor (cerca de um terço, já temos a experiencia de 3 anos de austeridade cega e destrutiva) do que o valor dos cortes (no fundo, arrastando o ponto de funcionamento para a zona da armadilha da pobreza).
Tenho pena que Medina Carreira não aproveite o seu programa para apontar pistas e medidas de estimulo ao crescimento.
Que se considere como tendo o monopólio do aviso que o país caminhava para o desastre (por acaso não tem o monopólio; neste blogue estão criticas ao anterior governo, antes da crise de 2008, sobre a insustentabilidade de uma economia assente na importação de energia e de alimentos).
E que não aproveite para tratar do problema da dívida privada (155% do PIB?) e do consumismo que leva ao aumento das importações (logo a seguir ao programa, um anuncio apelativo convidava os espetadores a comprar um carro alemão, vermelho e inovador, seguindo-se o anuncio de outro automóvel, um hibrido japonês, indicando um falso consumo de combustivel de 1,9 litros /100 km - assim se engana o público, beneficiando do facto de que ele não vota com base em cálculos matemáticos mas sim em impulsos emocionais).
Assim, apesar do rigor e validade dos seus gráficos (tirando a referida classificação das contribuições para a segurança social como despesa pública) o programa parece-me pouco razoável.
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