O amor e as outras coisas.
Neil Tyson, astrofísico, é o apresentador da nova série Cosmos, continuadora da divulgação de Carl Sagan.
Contou a seguinte história.
Numa cerimónia de entrega de prémios, teve oportunidade de dizer a Cameron, realizador de Titanic, que o céu estrelado que se via no filme não correspondia à posição das estrelas naquela altura do ano. Cameron riu-se e brincou que talvez tivesse vendido mais bilhetes se o céu estivesse correto. Tyson arrependeu-se de ter feito a observação, que talvez parecesse pedante. Mas daí a unsmeses teve a surpresa de ser procurado por assistente de Cameron para, na próxima edição do filme em DVD, a posição das estrelas estar correta.
Conto agora esta história para me interrogar se o caso se tivesse passado com um realizador português, se ele teria feito a correção.
Este é um juízo de intenções e por isso não é bonito, mas infelizmente não tenho fé de que o realizador português o fizesse. Primeiro, porque é grande em Portugal o desprezo pela cultura científica e pelo rigor e disponibilidade para se sujeitar ao referendo que lhes estão associados por definição. Segundo, porque um realizador português, com honrosas exceções, é por convenção um génio incontestado, acima de pormenores comesinhos. E por último, porque estas coisas são diferentes em Portugal.
Como na política, aliás.
Recordo citações de Carl Sagan, já mostradas neste blogue:
"Vivemos numa sociedade absolutamente dependente da ciência e da tecnologia que teve a esperteza de arranjar as coisas de modo que quase ninguém compreende a ciencia e a tecnologia. É uma clara prescrição para o desastre… Esta mistura combustível de ignorância e poder, mais cedo ou mais tarde, explodirá na nossa cara. Como pode funcionar a ciência e a tecnologia numa democracia se as pessoas nada souberem delas?"
"A supressão de ideias desconfortáveis pode ser comum na religião e na politica, mas não é o caminho do conhecimento; não pode ter lugar no comportamento cientifico"
"Com dados insuficientes é fácil estar errado"
"O ceticismo da atitude cientifica que diz “não aceites o que diz a autoridade, só por si”, é muito semelhante à atitude da mente necessária para o funcionamento da democracia. A ciência e a democracia têm valores e abordagens coincidentes, e não penso ser possível ter uma sem a outra… Se não formos capazes de colocar as questões céticas, estaremos prontos para o próximo charlatão, politico ou religioso, que facilmente aparecerá"
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