Se manobrares para ser diferente e superior aos outros, estarás a contribuir para o crescimento da economia. Por isso o pensamento dominante promove estímulos para a competição.
Porém, quanto mais desigual a sociedade, isto é, quanto maior a diferença entre o rendimento dos que maiores rendimentos têm, relativamente aos de menores rendimentos, piores os indicadores gerais.
Tinham razão quem fez a revolução francesa, em empunhar a bandeira da igualdade de direitos e de acesso às fontes de rendimento.
E há ainda a analogia com as leis do transito. Quem ultrapassa numa fila de transito entre outras filas, chega mais cedo a casa mas a velocidade média geral baixou e o tempo médio geral de percurso subiu.
Isto é, os penalisados pela vivacidade do ultrapassante estão a subsidiar o seu, dele, tempo.
Também por isso o código da estrada interdita essa manobra.
Curiosamente, na economia não é interdita a vivacidade da iniciativa de, por exemplo, destruir os pequenos negócios acordando com grandes fornecedores preços mais baixos à venda em grandes superfícies concentradas (transferindo os custos das deslocaçóes par aos clientes), nem o assenhoramento do controle de uma sociedade através do aumento de capital.
Concordo que as pessoas dedicadas à legislação ou à economia tenham dificuldade em aceitar estes argumentos, por fazerem apelo à compreensão física dos fenómenos. Uma lei de economia não surge de um movimento racional, antes é o resultado de comportamentos emocionais que, no conjunto da multidão, se aproxima de leis estocásticas independentes de análises racionais.
Isto a propósito de um comentário de João Salgueiro à afirmação de Judite de Sousa de que as desigualdades estavam a aumentar.
Que não, que estudos recentes indicavam que não, deixando a senhora admirada porque as evidencias observadas são as de que, com a crise, aumenta o fosso entre ricos e pobres.
O próprio relatório do FMI no 1ºtrimestre de 2014 gabava-se de ter cortado duas vezes mais no rendimento dos 20% mais ricos portugueses do que nos 20% mais pobres.
Os pequenos aprendizes de contabilistas do governo, como diria Gabriela Canavilhas, exultaram nas suas comunicações às TVs. Até falaram que o coeficiente de Gini tinha baixado por causa disso, de 34,5 para 34,3 (como não é demonstrado o cálculo, não interessa explicar se 0,2 é ou não significativo).
Mais uma vez a estatística é usada para enganar e para esconder a vergonha do desemprego e das suas consequencias no rendimento dos mais pobres.
Felizmente, um livro notável explica melhor as coisas.
Ficamos a devê-lo a Rui Peres Jorge, jornalista económico do Jornal de Negócios, autor de "Os 10 erros da troika em Portugal, austeridade, sacrificios e empobrecimento, as reformas que abalaram o país" .
34,3 é um valor inadmissível como indicador das desigualdades, sendo certo que as sociedades mais igualitárias, como a Noruega e a Suecia, ostentam indices de bem estar superiores aos dos paises menos igualitários, como os US e UK, como aliás o próprio FMI reconhece, em nota citada por Rui Peres Jorge ( J.Oistry, "Redistribution, inequality and growth").
Na verdade, segundo Rui Peres Jorge, a diferença de rendimentos entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres aumentou, em 2012, de 5,8 para 6 vezes, interrompendo a descida desde 2004.
E citando o relatório da OCDE, recorda que a despesa social em Portugal cresceu entre 2008 e 2013, em termos reais, 4% (escandalizando assim Medina Carreira), mas em Espanha cresceu 18% e na Irlanda 15%.
Mas valerá a pena argumentar com factos perante a visão tubular do governo, blindado por uma autoestima pouco saudável?
Sem comentários:
Enviar um comentário