sexta-feira, 20 de junho de 2014

Não havia opressão intelectual?!

“Dizer que havia uma opressão intelectual é injusto. Não é verdade”

Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=48D1E023-25CA-423A-ADD4-3A27C27C4F1A&channelid=D05F6471-4FC1-4BB2-9572-06C9A5D23FF7

Esta foi a frase pronunciada por João Lobo Antunes.
Devemos respeitar a sua opinião, mesmo sendo conselheiro de Estado de um conselho em que não estão representadas todas as sensibilidades dos portugueses, e atendendo ao seu valor profissional.
Mas não podemos aceitar a mentira.
É verdade que se referia à liberdade de que o jornal Encontro gozava para exprimir nas suas páginas a voz do setor católico universitário e progressista.
Eu fui leitor do Encontro, da juventude universitária católica.
É verdade que não ia à censura, mas não exprimia só a voz do setor católico progressista, dava muito jeito para combater a esquerda universitária.
E ainda mais curioso. Eu na altura editei  o Bicho de Contas, o jornal da juventude escolar católica, destinado aos alunos do secundário (fui membro da direção geral da JEC, em 1962). Pois querem crer que tive de me justificar pessoalmente junto de um senhor coronel da censura? o qual, generosamente, me dispensou de apresentar os numeros seguintes na censura, tal como o Encontro beneficiava?
Mas isto é pequena história.
Admite-se que a frase de João Lobo Antunes se refere ao contexto dos limites estritos do Encontro.
Mas penso que deverá ser corrigida pela autor, porque tal como está é mentira.
Eu não podia escrever ou dizer livremente que a guerra colonial que se vivia era injusta e devia acabar sem correr o risco de ser preso.
Respeitemos os que sofreram, como Fernando Lopes Graça, proibido de ser professor, Mario Silva, idem, professor de Fisica de Coimbra, Rui Luis Gomes do Porto (para não falar do exilio do bispo do Porto) , José Manuel Tengarrinha, que estava preso no 25 de abril de 1974, e que antes, impedido de ser professor, ganhou a vida na agencia de publicidade Latina, com Ary e Alves Redol (honra ao diretor da Latina, Miguel Quina, capitalista do regime, que recusou a pressão da PIDE); e o caso do demitido Aristides de Sousa Mendes?.
Como dizia José Manuel Tengarrinha citando Garrett, Salazar fazia como os miguelistas, quando não matavam os liberais, ia-se-lhes aos víveres, às fontes do seu sustento, impedindo-os de ganhar a vida.
E isso, independentemente do que quaisquer outros regimes de cores diferentes tenham feito, ou estatutos de favorecimento da concordata, é opressão, e não só intelectual.
Corrija a frase, restrinja-a explicitamente ao Encontro, por favor, por respeito pela verdade e pela memória dos oprimidos.

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