sábado, 31 de outubro de 2015

Enquanto não é votado o programa do XX governo constitucional

Enquanto não é votado pelos 107 deputados da coligação de direita, 86 deputados do PS, 19 deputados do BE, 17 deputados da CDU e 1 deputado do PAN, o programa do XX governo constitucional, que espera este blogue seja breve, tem sido muito utilizado o argumento da tradição.
Este blogue pensa que o respeito pelas leis e pelas tradições deve ser analisado caso a caso e devidamente relacionado com os seus contextos, mas  parecem-lhe oportunas duas citações:
- de Merryl Streep, no filme sobre o movimento de sufragistas:
          "não estamos aqui para desobedecer às leis; estamos aqui para fazer novas leis"
- Vitor Alves, em entrevista em 2004:
           "muitas das tradições erradas permanecem ... nós não fomos capazes de mudar as           
            mentalidades"
Esperemos pois pelo XXI governo constitucional.

A saída do senhor secretário de Estado dos transportes, Sérgio Monteiro, economista

Este blogue assinala a saída do senhor secretário de Estado que, através de um artificialismo das contas  tentou justificar as concessões dos transportes públicos e a venda da TAP e CP Carga e prejudicou gravemente o interesse público pelo desprezo manifestado pelo papel dos trabalhadores das empresas públicas de transportes e, consequentemente, pelo desprezo pelo papel que elas desempenham na economia, através da sua maior eficiência energética face ao transporte individual e rodoviário.
Sugere para isso  a revisitação dos textos que foram sendo depositados neste blogue desde 2011, desde as portagens de Agosto de 2011 na ponte 25 de abril, à participação de Sérgio Monteiro nas PPP, do lado da CGD/BI, ao apoio por concretizar do Estado à obtenção de financiamento ao senhor Neeleman que afinal não o conseguiu obter no banco público brasileiro para comprar 60% da TAP, e à ilusão digna de Mofina Mendes e dos protagonistas da metáfora da galinha e do ovo esperado, ao proclamar as poupanças na subconcessão do metro de Lisboa, ocultando que o problema está nos  juros dos empréstimos dos elevados investimentos para construção das linhas de metro.

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=secret%C3%A1rio+de+estado&updated-max=2009-10-30T17:03:00Z&max-results=20&start=14&by-date=false

Comenta ainda este blogue a satisfação do senhor ao ser nomeado gestor (projet manager...) da venda do Novo Banco. Não devia ficar satisfeito. O facto apenas demonstra que o meio é muito pequeno, e sai-se de secretário de Estado para uma função criada para ele, para mais ao arrepio das recomendações de Vitor Bento e, ao que consta, do atual gestor principal do Novo Banco. Desrespeita-se assim norma anti-corrupção de 3 anos após a saída do cargo ministerial (criada depois do escandalo da saída do ex-ministro Ferreira do Amaral para a Lusoponte). Já vieram entretanto os incondicionais defensores dizer que não há incompatibilidade porque sendo funcionário da CGD estará interessado em vender pelo melhor preço. Com o devido respeito pela superior sapiência de tão doutos juristas, tomo a liberdade de recordar que um dos fundamentos das medidas contra a incompatibilidade de cargos públicos é evitar a informação assimétrica (isto é, a CGD/BI, especialmente considerando o papel que teve nas PPP, não deve ter acesso preferencial à informação relativa).
Mas o que interessa destacar aqui é a desculpa que o próprio senhor apresentou: que o cargo de secretário de Estado dos transportes  era o de uma tutela técnica, sem nada que ver com o sistema financeiro.
Se o cargo de secretário de Estado dos transportes é técnico, então deveria ser desempenhado por um técnico (e ministro da Economia, de que depende a secretaria de Estado dos transportes, pode ser um senhor advogado que sai do BPI para o governo?).
Um ato médico só pode ser exercido por um médico. Penso que a Ordem dos Engenheiros poderia questionar. Afinal secretário de Estado dos transportes é um cargo técnico desempenhado por pessoas que não estão habilitadas para o desempenhar.
Como aliás o seu desempenho demonstrou ao contribuir para esta ilha ferroviária em que estamos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Segurança no trabalho

Apesar da crise, não são apenas os grandes investidores que lançam obras na cidade, normalmente para arrendamento temporário ou hoteleiro.
Pequenas empresas, nas suas novas sedes em moradias, ou particulares recorrendo às suas poupanças, também as vão realizando.
Mas ... consideremos a primeira fotografia


O bobcat tinha transportado os detritos da sua escavação das traseiras para o pequeno jardim fronteiro.
A grua do camião estava a carregar os detritos (vê-se em suspensão um bloco do pavimento demolido).
Não se vêem na fotografia os trabalhadores apeados que se encontravam junto das máquinas.
Eu vi as pás do bobcat passarem a menos de 50 cm da cabeça de um deles e as pás da grua também a passar perto ao mesmo tempo.
Nenhum dos trabalhadores, de fala aparentemente ucraniana, usava capacete de segurança nem colete.



Na segunda fotografia vê-se, ao fundo, uma operação de betonagem. Igualmente o trabalhador junto da ponteira de betonagem não tem nem capacete nem colete.
À direita,dois trabalhadores sem capacete, nem colete, nem, considerando que estão num telhado, arnês. Pouco depois do instante da fotografia, o trabalhador mais à direita, de fala portuguesa, com a mão imobilizada numa ligadura, trabalhou com uma rebarbadora utilizando a mão esquerda e, naturalmente, sem óculos de proteção.
Como se espera ser a situação perante a segurança social destes trabalhadores e dos seus empresários?
Como podem os preços destes trabalhos baixar sem cortes na segurança?
Como compatibilizar os cortes na segurança com o respeito pela integridade física dos trabalhadores?
Como levá-los a respeitar as normas de segurança impostas pelo normativo da União Europeia e, como se costuma dizer agora, pelos compromissos internacionais?
Esta é para mim uma das principais razões para não sair da UE nem da sua zona euro.
  

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

De Primo Levi, A chave de estrela e O sistema periódico


Coisa curiosa.
Tenho recebido por email intensa doutrinação pelos comentadores mediáticos da direita portuguesa criticando a ideia de um governo apoiado pelos partidos de esquerda.
Destacam-se os artigos do Observador, cuja administração nega tratar-se de um jornal digital de fação.
Mas é mesmo insistente e intensa a defesa de pontos de vista claramente de direita, se entendermos a classificação de direita, como a defesa do funcionamento mais ou menos livre do mercado, apesar dos constrangimentos da escassez, das externalidades e da assimetria de informação ou de capacidades, e com menor ou maior respeito pelas reservas de Adam Smith no cumprimento das responsabilidades sociais pelos detentores dos meios de produção. E de esquerda, pela subordinação ao primado da segurança social, das obrigações sociais de saúde e educação, e da possibilidade de propriedade pública de meios de produção.
O nível cultural dos colaboradores do Observador é elevado, de modo que achei curiosa a recomendação, numa das edições, de um livro de Primo Levi, escritor italiano que esteve preso em Auschwitz, químico de formação. E que confesso não conhecia.
Depois de breve pesquisa, encontrei este trecho do seu livro A chave de estrela (La chiave a stella), que não se encontra editado em português.
Para mim é interessantíssimo, por juntar as duas culturas, a técnico-científica e a humanista. Evidenciando a sua experiencia profissional e a humanidade das personagens.
Coisa também patente noutro seu livro, O sistema periódico, este já editado em português (ed.Teorema), e de que também transcrevo citações.

De A chave de estrela:



"Ah, não: tudo eu não posso contar. Ou bem lhe digo o lugar, ou então lhe conto o fato - mas eu, se fosse o senhor, escolheria o fato, porque é um fato e tanto. Depois, se o senhor quiser mesmo recontá-lo, basta trabalhar em cima dele, retificar, esmerilhar, tirar as aparas, dar uma insuflada e, pronto, aí está uma bela história; e, apesar de eu ser mais jovem que o senhor, história é o que não me falta. O lugar talvez o senhor adivinhe, assim não precisa acrescentar nada; mas, se eu lhe disser onde fica, eu acabo tendo problemas, porque aquela gente é boa, mas um pouco melindrosa."
Conhecia Faussone havia apenas dois ou três dias. Encontramo-nos por acaso no refeitório, o refeitório para estrangeiros de uma fábrica muito distante, para a qual fui deslocado devido ao meu ofício de químico de vernizes. Nós dois éramos os únicos italianos; ele estava lá havia três meses, mas tinha estado naquelas terras outras vezes e se virava muito bem com a língua, além das quatro ou cinco que já falava, incorretamente, mas com fluência. Tem uns trinta e cinco anos de idade, é alto, seco, quase calvo, bronzeado, sempre bem barbeado. Um rosto sério, quase imóvel e pouco expressivo. Não é um grande narrador: ao contrário, chega a ser bastante monótono, propenso à diminuição e à elipse, como se temesse parecer exagerado, mas muitas vezes se deixa levar e então exagera sem se dar conta. Tem um vocabulário reduzido e frequentemente se exprime por meio de lugares-comuns que talvez lhe pareçam argutos e novos; se quem o escuta não ri, ele repete, como se estivesse lidando com um tonto.
"... porque, sabe, se estou nesse negócio de circular por todos os estaleiros, fábricas e portos do mundo, não é por acaso, e sim porque eu mesmo quis. Todos os jovens sonham em conhecer florestas, desertos ou a Malásia, e eu também sonhei com essas coisas; só que gosto que meus sonhos se tornem reais, senão permanecem como uma doença que a gente carrega pela vida inteira, ou como a cicatriz de uma operação, que volta a doer toda vez que o tempo fica úmido. Havia duas alternativas: esperar ficar rico e depois me transformar num turista ou então trabalhar como montador. Eu optei por ser um montador. É claro que existem outras maneiras - como quem dissesse virar contrabandista etc. -, mas essas coisas não servem para mim, porque eu gosto de conhecer países, mas sou um tipo dentro das regras. Agora já me habituei tanto a esta vida que, se precisasse ficar sossegado num canto, adoeceria: para mim, o mundo é belo porque é variado."
Olhou-me por um momento, com olhos singularmente inexpressivos, e depois repetiu com paciência:
"Se alguém está na própria casa, talvez até esteja sossegado, mas é o mesmo que chupar prego. O mundo é belo porque é variado. Então, como eu estava dizendo, já passei por tantas e boas, mas a história mais sinistra que me aconteceu foi no ano passado, naquele país que prefiro não mencionar, mas posso dizer que é muito longe daqui e também da nossa casa, e, enquanto aqui sofremos um frio danado, lá, ao contrário, faz um calor de rachar durante nove meses do ano, e nos outros três venta muito. Estava lá trabalhando no porto, mas lá não é como em nossa terra: o porto não é do Estado, e sim de uma família, e a família pertence ao pai de família. Antes de começar a trabalhar na montagem, precisei apresentar-me a ele de terno, almoçar, conversar, fumar sem pressa, imagine só, nós que sempre temos as horas contadas. Não por nada, mas é que custamos caro, e esse é o nosso orgulho. Esse pai de família era um tipo meio a meio, meio moderno e meio tradicionalista; vestia uma bela camisa branca, dessas que não são passadas, mas quando entrava em casa tirava os sapatos e também pediu que eu tirasse os meus. Falava inglês melhor do que os ingleses (que, aliás, não lhe agradam muito), mas não me apresentou às mulheres de sua família. Também como patrão devia ser meio a meio, uma espécie de escravocrata progressista: imagine que mandou pendurar sua foto emoldurada em todos os escritórios e até nos depósitos, como se fosse um Jesus Cristo. Mas todo o país é um pouco assim, há um monte de mulas e de monitores, há aeroportos que deixam o de Caselle no chinelo, mas muitas vezes, para chegar a um lugar, é mais rápido ir a cavalo. Há mais boates que padarias, mas se vê gente nas ruas com tracoma.
"O senhor deve saber que montar um guindaste é um trabalho e tanto, e uma ponte rolante é ainda pior, mas não são tarefas que se façam sem uma equipe: é preciso alguém que conheça as malícias do ofício e que coordene tudo - nós - e depois os auxiliares da obra. E é aqui que começam as surpresas. Naquele tal porto, as confusões sindicais também são um grande problema; o senhor sabe, é um país onde, se alguém rouba alguma coisa, cortam-lhe a mão em praça pública: a direita ou a esquerda, a depender do que foi roubado, ou às vezes até uma orelha, mas sempre com anestesia e bons cirurgiões, que estancam a hemorragia num segundo. É verdade, não são lendas, e se alguém começar a espalhar calúnias a respeito de uma dessas famílias importantes, cortam-lhe a língua e pronto.
"Pois bem, apesar de tudo isso, lá eles têm associações muito bem organizadas, que participam de todas as decisões: todos os operários de lá carregam sempre um radinho de pilha, como se fosse um patuá, e se a rádio disser que há greve, tudo para, não há ninguém que ouse levantar um dedo; de resto, se alguém tentasse, era capaz de receber uma facada, talvez não imediatamente, mas dali a dois ou três dias; ou então o sujeito levava uma viga na cabeça ou bebia um café e caía duro. Não gostaria de viver naquele lugar, mas me sinto satisfeito por ter estado lá, porque há certas coisas que a gente só acredita vendo.
"Então eu lhe dizia que estava lá para montar um guindaste de cais, um desses gigantões de braço retrátil, e uma ponte rolante fantástica, quarenta metros de luz e um motor de suspensão de cento e quarenta cavalos; meu Deus, que máquina, me lembre de lhe mostrar a foto amanhã à tarde. Quando terminei de montá-la e fizemos os testes e parecia que tudo ia às mil maravilhas, deslizando feito manteiga, senti como se tivessem me dado um título de comendador e até paguei bebida para todos. Não, vinho não: aquela porcaria que eles chamam de cumfàn, com gosto de mofo, mas que refresca e faz bem - mas vamos com calma. Aquela montagem não foi uma coisa simples, não pelo aspecto técnico, que correu perfeitamente bem desde o primeiro parafuso; não, era mais uma atmosfera que se sentia ao redor, como um ar pesado, quando está para cair uma tempestade. Pessoas que falavam pelos cantos, fazendo sinais e caretas que eu não entendia, e de vez em quando surgia um jornal pregado na parede e todos se amontoavam em volta, lendo ou pedindo que lessem em voz alta, e eu ficava sozinho no alto dos andaimes, como um melro.
"Depois a tempestade desabou. Um dia percebi que os operários se chamavam uns aos outros com gestos e assovios; todos foram embora, e aí, como eu não podia fazer nada sozinho, também desci das estruturas e fui assistir à assembleia deles. Era num grande depósito em construção: ao fundo montaram uma espécie de palco, com cavaletes e mesas; subiam ao palco e falavam um depois do outro. Entendo pouco a língua deles, mas se via que estavam furiosos, como se tivessem cometido uma injustiça contra eles. A certa altura subiu um mais velho, que parecia um mestre-de-obras; o sujeito estava muito seguro do que dizia, falava com calma, cheio de autoridade, sem gritar como os outros, e nem precisava disso, porque diante dele todos faziam silêncio. Pronunciou um discurso tranquilo, e todos ficaram convencidos; ao final, fez uma pergunta e todos ergueram a mão gritando não sei o quê; quando fez a pergunta inversa, nenhuma mão se levantou. Então o velho chamou um rapaz que estava na primeira fila e lhe deu uma ordem. O rapaz saiu correndo, foi ao depósito de ferramentas e voltou num instante, segurando numa das mãos a foto do patrão e um livro.
"Perto de mim havia um especialista em testes que era do lugar, mas não sabia inglês; até estabelecemos certa camaradagem, porque convém sempre agradar aos testadores: a cada santo sua vela."
Faussone tinha acabado de comer uma porção abundante de assado, mas chamou a garçonete e pediu uma segunda porção. A mim me interessava mais a sua história, e não os seus provérbios, mas ele o repetiu com método:
"Em todos os países do mundo é assim, os santos exigem suas velas: eu tinha dado àquele especialista em testes uma vara de pescar, porque é bom agradar aos testadores. Assim ele me explicou que se tratava de uma questão boba: havia tempos os operários pediam que a cantina da fábrica oferecesse refeições com patíveis com a sua religião; no entanto o patrão queria posar de pessoa moderna, embora no fim das contas fosse um ferrenho partidário de outra religião, mas aquele país é um labirinto de religiões no qual qualquer um se perde. Enfim, mandou o chefe de pessoal dizer que ou eles se contentavam com o refeitório do jeito que estava, ou nada de refeitório. Já tinha havido duas ou três greves, mas o patrão não tinha nem piscado o olho, porque afinal as provisões eram magras. Então surgiu a proposta de fazer-lhe a caveira, só por represália."
"Como assim, fazer-lhe a caveira?"
Faussone explicou-me pacientemente que fazer a caveira é como fazer um feitiço, lançar um mau-olhado sobre alguém, fazer uma mandinga:
"... não necessariamente para matá-lo: ao contrário, daquela vez com certeza não queriam que ele morresse, porque o irmão mais novo era pior do que ele. Queriam apenas meter-lhe medo, sei lá, que pegasse uma doença, sofresse um acidente, só para ver se mudava de ideia, e também para deixar claro que eles sabiam se defender.
"Então o velho pegou uma faca, arrancou os pregos da moldura e a destacou do retrato. Parecia que ele tinha grande prática naqueles trabalhos; abriu o livro, fechou os olhos, pôs o dedo numa página, depois abriu de novo os olhos e leu no livro alguma coisa que não entendi, nem o testador. Pegou a foto, fez um rolo com ela e a amassou bem com as mãos. Mandou que buscassem uma chave de fenda, ordenou que a deixassem em brasa num fogão a querosene e a enfiou no rolo amassado. Aí desdobrou a foto e a exibiu, e todos batiam as mãos: a foto tinha seis buracos de queimadura, um na testa, outro perto do olho direito, um no canto da boca. Os outros três se espalharam no fundo, fora do rosto.
"Então o velho repôs a foto na moldura do jeito que estava, amassada e furada, e o garoto partiu para recolocá-la no lugar, e todos voltaram a trabalhar.
"Pois bem, no final de abril o patrão ficou doente. Não disseram com todas as letras, mas a notícia se espalhou logo, sabe como é. Desde o início parecia que era grave - não, não tinha nada no rosto, a história já é bastante estranha do jeito que é. A família quis logo metê-lo num avião e despachá-lo para a Suíça, mas não houve tempo: ele tinha algo no sangue e em dez dias morreu. E pense que era um tipo robusto, que nunca esteve doente, sempre girando pelo mundo de avião e, entre uma viagem e outra, sempre atrás das mulheres ou jogando toda a noite, até o sol raiar.
"A família denunciou os operários por homicídio, aliás, por 'assassínio meditado com malícia': me disseram que lá era assim. Como se vê, eles têm tribunais que é melhor nem passar por perto. E não há um código só, mas três, de modo que eles escolhem um ou outro segundo a conveniência do mais forte ou de quem paga mais. A família, como eu dizia, argumentava que houve o assassinato: houve a vontade de matar, houve ações que visaram à morte e houve a morte. O advogado de defesa respondeu que as ações não pretendiam aquele resultado, no máximo apenas causariam erupções na pele, não sei, abscessos ou furúnculos; disse que, se a foto tivesse sido cortada ao meio ou queimada com gasolina, aí sim teria sido grave. Porque parece que, de acordo com as mandingas, de um furo nasce um furo, de um corte, um corte, e assim por diante; a gente acha a coisa meio engraçada, mas todos eles acreditam nisso, até os juízes, até os advogados de defesa."
"Como terminou o processo?"
"O senhor deve estar brincando: ainda continua, e vai continuar até sabe-se lá quando. Naquele país os processos não terminam nunca. Mas aquele testador que eu mencionei prometeu que me manteria informado, e, se o senhor quiser, eu também posso mantê-lo informado, se é que essa história lhe interessa."


A garçonete veio servir a portentosa porção de queijo que Faussone pedira; tinha uns quarenta anos, era magrinha e curvada, com cabelos lisos e oleosos por causa de algum produto, o rosto triste de cabra assustada. Olhou Faussone com insistência, e ele sustentou o olhar com ostensiva indiferença. Quando foi embora, me disse:
"Parece o cão chupando manga, coitadinha. Mas fazer o quê? A cavalo dado não se olham os dentes."
Fez um gesto com a mandíbula em direção ao queijo e me perguntou com escasso entusiasmo se eu aceitava um pouco. Depois o atacou com avidez e, entre uma bocada e outra, retomou:
"O senhor sabe, aqui, em matéria de garotas, é um fiasco. A cavalo dado não se olham os dentes. Dado pela fábrica, digo."


De  O sistema periódico:

“… o autor não deveria ser totalmente ignorante, mas cada uma das suas páginas exalava a bazófia de alguém que está certo de que as suas afirmações não serão contestadas … pregava como um profeta possesso … como se lhe tivesse sido revelado por Jeová no Sinai ou por Wotan no Walhalla “

“…com efeito, o fascismo exercera influencia sobre nós, como sobre quase todos os italianos, tornando-nos insensíveis e superficiais, passivos e cínicos … o fascismo consolidara-se como custódia de uma legalidade e de uma ordem detestáveis, fundadas na opressão de quem trabalha, no lucro incontrolado de quem desfruta o trabalho de outrem, no silencio imposto a quem pensa e não quer ser escravo, na mentira sistemática e calculada”.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ainda os reformados do metropolitano e a manifestação com esperança e ternura

27 de outubro de 2015, dia em que foi anunciado o governo formado pelo partido com maior número de deputados eleitos em 4 de outubro, foi também o dia de mais uma manifestação de trabalhadores no ativo e de reformados do metropolitano de Lisboa e da Carris.
Não fomos muitos.
As duas empresas e os seus trabalhadores sentem neste momento muitos dos efeitos da "reestruturação" encomendada pela tutela para preparação da subconcessão à Avanza, quando há tanto trabalho de serviço público para fazer (garantir a segurança da exploração e da manutenção, obras na Reboleira, em Arroios e Areeiro...).
Talvez pelo ambiente confuso, como alguns dos colegas no ativo caridosamente classificam o atual contexto, poucos deles estavam na manifestação.
Da parte dos reformados, é difícil afastar o pensamento de que alguns de nós já não podem comparecer pela lei natural das coisas (se somos um pouco mais de 1000, somos cerca de 1/10000 da população total; como morremos 100000 por ano, a nossa mortalidade esperada, nossa dos reformados do metropolitano, será de 10, grosseiramente por não se fazer o ajuste por escalões etários - se deixo esta nota triste é para a associar à consciência dos governantes que aprovaram a lei iníqua dos cortes dos complementos, e especialmente á consciência daquele senhor doutor juiz que inclinou a decisão do Tribunal Constitucional para a não declaração de inconstitucionalidade). Ou porque já não têm animo, como o colega que era exuberante e que há 6 meses me confessou "tenho vergonha de não ter dinheiro depois de me cortarem metade do meu rendimento, vou deixar de aparecer".
É realmente fácil para os comentadores estipendiados, como diz Batista Bastos, pelo poder político e mediático, chamar-nos privilegiados quando comparados com a média nacional, e por maioria de razão, com os reformados búlgaros e romenos.
Desde quando o objetivo é nivelar por baixo?


Estas e outras lamentações fomos trocando enquanto descíamos a rua de S.Bento.
Mas o objetivo da manifestação era recordar á nova assembleia da Republica o interesse público de reversão do processo da subconcessão e, de caminho, recordar  a justiça da reposição do contrato dos complementos de reforma.
Por isso a conversa se animou, desde comentários jocosos aos exames próprios da idade  e ao exito dos tratamentos subsequentes, até às curiosidades dos resultados eleitorais.
Que afinal, se se mantivesse a distribuição de votos das eleições de 2011, o PSD terá tido 1598479 votos (e 484032 para o CDS, ainda acima da CDU), portanto abaixo do PS que, provavelmente, foi o partido mais votado.
Outra coisa é o número de mandatos. Mas aqui põe-se a questão da sua atribuição.
A PAF teve 2 milhões de votos e 107 mandatos, o que dá 19463 votos por cada mandato.
Os 3 partidos de esquerda tiveram 2,7 milhões de votos e 122 mandatos, o que dá 22496 votos por cada mandato.
Claro que isto acontece porque a eleição é por círculos distritais e em cada círculo os partidos menos votados vão perdendo votos que não elegeram ninguém (então no norte do país...).
Ora, se se repescassem os votos perdidos para um círculo nacional de modo que aos 3 partidos também bastasse 19463 votos para eleger um deputado, então o número de deputados que eles obteriam seria 141...
Também se poderia argumentar que a abstenção foi o partido mais votado e que os brancos e nulos também podiam eleger lugares vazios, mas a discussão não tem fim.
O teorema dos critérios éticos dos resultados eleitorais diz que a justiça da representação dos eleitores é um problema indeterminado... mas que diabo, a lei eleitoral ainda podia melhorar-se, nomeadamente com o voto preferencial...

E eis que chegamos ao largo da Assembleia e a uma agradável surpresa. Tínhamos cadeiras para nós, os velhos, que depois de uma natural hesitação aproveitámos.
Surgem os moços e as moças das televisões.
Estão todos os canais informativos e não consigo escapar a uma das repórteres "porque está aqui? é verdade o que diz a palavra de ordem, privatizar é roubar?"
E tenho de lhe responder, sabe, o senhor secretário de Estado que diligenciou as subconcessões não esteve como nós a trabalhar quase 40 anos no metro e não contactou como nós com os nossos colegas dos metropolitanos dos outros países e não sabe que os indicadores do nosso metro estão ao nível dos outros.
E que portanto uma empresa privada que é obrigada a dar dividendos aos seus acionistas, os quais se estão nas tintas para saber se os passageiros vão apertados ou não e se têm de esperar muito ou pouco tempo, tem de apresentar lucros que não podem ser menores do que o diferencial de eficiencia entre a gestão privada e a gestão pública. Ora, como os indicadores da gestão pública estão ao nível do que se faz lá fora... a bon entendeur...
E depois, sabe, o senhor secretário de Estado devia conhecer os resultados negativos da experiencia inglesa de privatizações dos transportes do tempo da Thatcher. Os poderes públicos assumiram a gestão e os investimentos dos Transportes de Londres.
Mas em Portugal, com o governo de Passos, foi a obsessão privatizadora que se viu. Esperemos que ainda se vá a tempo, porque eu fiz umas contas. Se o subconcessionário respeitar o caderno de encargos no primeiro ano terá um prejuízo de 9 milhões de euros  (o subconcessionário só fica com 30% das receitas e 1,5€/carruagem.km , o que não dá para cobrir as despesas nas mesmas condições que até aqui se têm cumprido).
Além de que os contribuintes terão de continuar a pagar os encargos financeiros.
Quer isto dizer que o subconcessionário irá aproveitar nos anos seguintes os alçapões que estão no caderno de encargos, e cortará no pessoal, na manutenção e na qualidade da exploração dos comboios.
Sabe, foi por isso que se fizeram as antipáticas greves. E olhe que eu farto-me de dizer que se devem fazer as greves mas sem prejuízo da circulação.
Mas tudo isto não quer dizer que não possa haver subconcessões de transportes a privados. No metro do Porto, por exemplo, a exploração e a manutenção sempre foram por concessão a privados.
Mas no metro de Lisboa, que desde sempre se equipou com pessoal e meios físicos para cobrir todos os campos, desde a exploração à manutenção e ao projeto (sabe que neste momento estamos a fazer projeto para o metro de Argel e algumas linhas novas do metro de S.Paulo? estamos a contribuir para o equilíbrio da balança de pagamentos...), não tem tento nenhum, contratar um subconcessionário.
Eu não tinha à mão, para mostrar à simpática entrevistadora, os números comparativos do metro de Lisbos e do Porto:
assinale-se o peso da dívida no metro do Porto e o relativo equilíbrio na eficiência dos dois

Pouco depois, por entre raios de sol e salpicos de chuva ligeira, e uma ou outra queixa das últimas idas ao médico, os oradores dos sindicatos e dos partidos convidados saudaram os manifestantes, recordaram que iam de seguida entregar aos novos deputados uma borracha para apagar a assinatura do contrato da subconcesão e puseram a tónica na esperança.
De que se consiga ainda reverter o processo da subconcessão, que pode concretizar-se se não se opuser uma iniciativa da Assembleia da República que se antecipe à aprovação pelo Tribunal de Contas.
De que sejam repostos os complemento de reforma e que essa medida seja integrada na melhoria geral da população portuguesa.
E de repente, contemplando a escadaria da Assembleia, e os polícias de intervenção  lá postados, ora ouvindo as conversas dos meus colegas da fila de trás, discutindo um PSA de 2,8 e outro de 4, ora relembrando com o colega sentado a meu lado, que tinha feito na euforia do 25 de abril, o então1ºciclo, agora 6ºano, para poder progredir na carreira, graças à iniciativa dos colegas licenciados, que  levaram a exame com exito os 10 colegas que frequentaram as aulas,


dei por mim a experimentar uma sensação não de indignação, nem de revolta, nem de impotência, mas de ternura, tão somente e provavelmente por excesso de sensibilidade aos velhos de Alexandre O'Neill,    
                                Velhos, ó meus queridos
                                velhos,
                                saltem-me para os joelhos:
                                vamos brincar?


http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/12/os-velhos-de-alexandre-oneill.html




terça-feira, 27 de outubro de 2015

O ministério da Cultura

Com o devido respeito pela cidadã Teresa Morais e pela sua ação cívica, mas depois de 4 anos de uma política cultural que nos envergonha, e parafraseando António Aleixo, direi que vós, que do alto do vosso governo anunciais um novo ministério da Cultura, calai-vos que podem os deputados querer um ministério da Cultura a sério.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O pequeno arrastão espanhol

Não é ilusão de ótica. O pequeno arrastão espanhol está mesmo a pescar a menos de 200 metros da linha de água. Claro que é proibido, mas é inutil chamar a polícia marítima (além de que não tenho vocação para  delator). Por razões de segurança, o rádio está sempre ligado e os colegas avisam-nos para se afastarem. Acresce que precisam de alimentar a família. Só que eu duvido que a espécie, a conquilha, aguente a depredação. Precisa de 2 anos para repor o equilibrio. E a pesca não para.
Difícil, resolver isto sem resolver o problema do desemprego, em terra e no mar.

O camaleão do meu quintal

Não é uma metáfora, é apenas o maravilhamento por esta espécie ainda sobreviver. Pelos vistos sabe adaptar-se. Mérito próprio. Entretanto, tenho notado menos formigas, moscas e mosquitos...






sábado, 24 de outubro de 2015

Prisioneiros políticos em Angola, ou em qualquer lugar

De Rafael Marques, autor angolano de Diamantes de sangue, a propósito dos prisioneiros políticos: "nenhum presidente, nenhum juiz, nenhum general poderá impedir a minha liberdade de pensamento"
... nem a de qualquer cidadão ou cidadã...

Folio, festival literário em Óbidos

Pedro Mexia, que não pode ser acusado de ser um perigoso esquerdista, moderou durante o festival um encontro com Eduardo Lourenço e Hélia Correia. A finalizar, pediu aos dois  um comentário sobre o facto de um agente político ameaçar com uma reação da União Europeia e do mercados.
Eduardo Lourenço foi-se perdendo em divagações até que se interrompeu e depois disse depressa: "em linguagem corrente, é uma chantagem". E a sala bateu palmas. Depois Hélia Correia disse que a sua imaginação é mais de enredos, e então o que tinha imaginado era que o povo tinha decidido uma coisa e foi ao palácio do príncipe para a propor. Mas o lacaio à porta disse-lhes que não valia a pena estarem a perder o seu tempo e o do principe, porque já se sabe o que o principe acha de tudo isso. E Hélia Correia concluiu que de facto se poupou tempo. Enquanto os gregos passaram por várias negociações com o principe, várias eleições e um referendo para depois ficarem acabrunhados, o povo de cá fica logo acabrunhado se seguir o conselho do lacaio. Mais palmas da assistencia.
E eu, que de forma preconceituosa pensei que o Folio era um encontro fechado de uma elite de costas voltadas para a realidade, tiro-lhes o chapéu, pelo menos a Eduardo Lourenço e  Hélia Correia.
É isso, a cultura pode valer mais do que 1% do PIB, pode ser subversiva para com o poder instalado. Provavelmente por isso é que o primeiro ministro da Hungria deixou de ir à ópera, depois de ter sido vaiado num espetáculo. Coisa que não poderá acontecer em Portugal. Nunca o presidente da República ou o seu primeiro ministro foram vistos no São Carlos...  

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Metáfora dos ftalatos e do bifenol A

Eram duas da madrugada quando um dos canais de TV transmitiu um interessante programa sobre os compostos policarbonatos derivados dos fenois.
Principalmente os ftalatos e o bifenol A (BPA).
Plásticos rígidos e maleáveis usados sistematicamente em embalagens de alimentos.
Que são os principais responsáveis pelas alergias que cada vez mais atormentam parte do género humano. Libertam-se das paredes das embalagens e seguem com os alimentos até ao intestino onde combatem as bactérias úteis da flora intestinal, dando campo livre à histamina que também láreside. A histamina desenvolve as alergias e a disfuncionalidade auto-imune (é o sistema imunitário que ataca o próprio organismo).
E pensar que os antigos romanos tinham tanto orgulho nas suas canalizações de chumbo, que provocavam em muitos deles a morte precoce por saturnismo ou envenenamento pelo chumbo.
Acontece agora o mesmo com as embalagens de plástico, desde os biberons, e sabe-se como o ataque dos bifenois é mais eficaz quando o organismo é jovem, aos pacotes de leite.
Uma hipótese interessante é a de que as alergias são experiencias que a Natureza, conforme os padrões da teoria da evolução, põe em prática nas espécies comunitárias como a humana, testando apenas uma parte da espécie.
Solução? A alimentação sem pesticidas e biológica. Só que não é possível alimentar a Humanidade com a baixa produtividade desses alimentos.
Difícil, portanto. Não se podem dispensar os difenois. Pelo menos por agora, tal como não se podem dispensar os teóricos economistas e financeiros que nos governam com as suas teorias.
Pelo menos por agora, enquanto a investigação científica  não descobrir substitutos inócuos para os bifenois e para os economistas-financeiros e seus domínios protegidos, desde os off-shores aos grandes grupos multinacionais. Para já, os investigadores recomendam dar atenção ao grau de reciclagem que em princípio vem indicado nas embalagens. Recusar liminarmente os que não forem de grau 4,5,1 ou 2 ... (recusar liminarmente os partidos que na sua etiqueta não forem defensores da saúde dos cidadãos...).
E a metáfora é: e se as teorias que os académicos da escola de Chicago e da fação dominante da Comissão Europeia e do BCE são como os ftalatos e os bifenois, envenenando paulatina e silenciosamente a Humanidade que dizem defender e servir? Difícil resistir-lhes.

Doutor, foi mesmo 7% que disse que tinhamos de cortar no orçamento?

A pergunta do título fi-la eu num belo dia de setembro de 2006 ao colega diretor financeiro. E ele confirmou a mensagem anterior. O orçamento do ano seguinte tinha de ser reduzido 7% relativamente ao do ano anterior. Ainda antes da crise internacional de 2008, do Lehman Bros e da AIG, já se praticava a cultura da contenção.
Eu entendia o orçamento como um plano de atividades, e portanto como uma coisa muito séria que comprometia os meus colaboradores que tinham a triste sina de serem obrigados a sê-lo e com quem eu discutia o que se podia fazer dentro da respetiva área.
Confesso que a taxa de realização não era famosa, o que nos permitia fazer os cortes pedidos, que muitas das rubricas não saiam das intenções, embora houvesse sempre a desculpa da falta de meios humanos para as executar.
O que raramente acontecia era não entregar o orçamento a tempo. E nem nos passava pela cabeça desculpar-nos com alguém que estava de férias e por isso não tinhamos os elementos para enviar o orçamento.
Aprendi na tropa que o comandante está sempre no quartel, mesmo que fisicamente possa estar de férias ou simplesmente em casa. Alguém o substituirá.
Por isso repudio o comportamento do atual governo, sempre pressuroso a bater com a mão no peito pretextando o respeito pelos compromissos internacionais, que vem agora dizer que o governo ue lhe suceder que mande o orçamento.
Enche-se a imprensa sustentadora do atual governo com acusações de ser uma exigencia burocrática da comissão europeia que é irrelevante não cumprir.
Parece sem importancia, mas não é.
Um orçamento é tambem um plano de atividades e as suas linhas gerais  de orientação deviam transcender os horizontes temporais de vários governos.
Até porque o pedido da comissão europeia, prevenindo estes casos, admite o orçamento como um exercício de manutenção de políticas a corrigir pelo governo seguinte e até condescende, como Wolfgang Munchau bem notou, com alguma flexibilidade, como no caso do orçamento de Itália.
Mas não, a senhora ministra das finanças e o senhor primeiro ministro, do alto da sua sabedoria, entendem  que o assunto compete ao próximo governo.
Assim deixa-nos na dúvida, se seria mal visto pela opinião pública uma provável transferencia de despesa deste 2ºsemestre de 2015 para o primeiro semestre de 2016, para poder cumprir-se o limite de 3% do défice... ou se será coisa pior (apesar do momento favorável, com juros baixos e o petróleo barato).
Que convencidos e seguros da sua auto-estima que são estes governantes...

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Libertem os prisioneiros políticos

A Humanidade aprendeu, inclusivé com os seus próprios erros e as suas experiencias falhadas, que não deve haver, seja em que circunstancia for, prisioneiros políticos.



O Tokyo Spirit, petroleiro de 80.000 toneadas

Desta vez correu bem, a Marinha e a Autoridade Marítima Nacional devem ser felicitadas por terem atuado bem no caso do encalhe do Tokyo Spirit em Cascais. Também as empresas dos rebocadores que evitaram chamar-se rebocadores estrangeiros.
No caso do naufrágio na Figueira apenas podemos louvar a atuação do agente da polícia marítima que salvou dois náufragos.
Em ambos os casos, seria altamente desejável que fossem publicados os relatórios.
No caso da Figueira, para confirmar as hipóteses de que os molhes devem ser prolongados para evitar a armadilha que atualmente são, e de que os eios e as condições de prevenção devem ser revistos.
No caso do Tokyo Spirit, para esclarecer em que condições o navio garrou (perdeu a fixação da ancora). Já se sabe que o mar de sudoeste e o vento de 90 km/h justificam a perda da fixação da ancora, mas os motores do navio estavam parados, ou tiveram problemas de arranque? Estas questões estão relacionadas com as seguradoras, mas o objetivo dos relatórios é evitar que acidentes se repitam, pelo que devem ser publicados. Terão os veios motor-hélice ficado danificados após o encalhe? É que o petroleiro foi depois rebocado a 5,4 km/h, não foi pelos próprios meios até Setubal.
De assinalar que um navio sem carga nunca deve navegar sem lastro devido ao risco de adornar e virar. E terá sido a deslastragem , ou pelo menos  a deslocação do lastro da ré para a proa que permitiu o desencalhe.
O navio aguarda agora as reparações, nas águas calmas do estuário do Sado, junto de Troia.

https://www.vesselfinder.com/?imo=9296377

https://www.vesselfinder.com/news/4499-VIDEO-Suezmax-tanker-Tokyo-Spirit-ran-aground-off-Lisbon-Portugal

Esperemos que os cidadãos que compuserem o próximo governo se comportem como os rebocadores que levaram o Tokyo Spirit a bom porto, e levem os portugueses a uma situação menos desigual e precária.

domingo, 18 de outubro de 2015

Caro André Gustavo

Em primeiro lugar, parabéns pelo teu sucesso nas eleições das legislativas de Portugal de outubro de 2015.
Deixa que te peça desculpa pelo tratamento familiar, que não é vulgar em Portugal, mas espero que me perdoes, atendendo aos meus cabelos brancos, que já vai longe o tempo em que votei pela primeira vez.
Foi em 1969, era ditador o professor Marcelo, que depois se exilou no Brasil, mas que nesse ano autorizou eleições livres, as primeiras depois de 43 anos. E eu digo livres porque a oposição, que na altura era a CDE (ligada mais ou menos ao PCP) e a CEUD (ligada mais ou menos aos que formariam o PS) estavam nas mesas de voto.
Ganhou a União Nacional, suporte da ditadura, com 981 mil votos. Depois foi a CDE, com 115 mil (um dos quais meu) e depois a CEUD, com 17 mil.
Isto para dizer que já estou habituado a votar em minorias, mas sem de maneira nenhuma querer impor o que eu penso à maioria que não pensa como eu. Ou melhor dizendo, voto em ideias e não em ditaduras com goulags, nem em Maduros, nem em Kim Jongs.
E se agora te escrevo, num contexto tão diferente desse ano de 1969 (em que no teu país se vivia também em ditadura...) foi porque me lembrei de fazer uma reflexão contigo.
Nessa altura, estava eu a acabar a minha licenciatura de eletrotecnia (fui um dos poucos privilegiados com um curso superior, nesses tempos) e costumava ler uma revista de telecomunicações e eletrónica, a Wireless World.
Dei por mim a ler um dos seus editoriais e a meditar longamente sobre a questão que punha. O tema era o equipamento eletrónico de um novo tipo de caça fabricado na Suécia e que iria reforçar a aviação da NATO. No focinho do avião estava um arsenal de sensores, detetores, transmissores, radares, cujos esquemas a revista tentava adivinhar e que a grande distancia recolhiam informação sobre o inimigo e utilizavam-na para guiar os misseis até o destruirem.
O editorial fazia uma analogia com os tubarões. Os biólogos já descobriram que o focinho dos bichos está equipado com sensores que detetam a mais pequena porção de sangue e o movimento das presas a grande distancia e que elas não têm hipótese de escapar. E a questão moral era esta: OK, o técnico de eletrónica colabora no projeto, põe a sua ciência ao serviço de arma de matar, e como sabe que quem a detem a utiliza bem? Qual a garantia que um louco não ganhe eleições e não vai pôr os caças a bombardear inocentes?
Assim como assim, Hitler ganhou as eleições e anos depois fez um referendo e ainda teve maior votação, seguindo-se os bombardeamentos de Londres com as V2 e os primeiros caças a jacto.
Na altura não sabia, mas anos depois 4 políticos do mundo ocidental reuniram-se nos Açores e mandaram avançar a aviação sofisticada para apoiar a invasão do Iraque das armas de destruição maciça que afinal não havia, com os resultados conhecidos.
Por uma coisa e por outra, o editorial levou-me a decidir evitar qualquer colaboração fosse com que projeto militar destrutivo fosse.
Mas já na altura reconheci que era legítima essa colaboração, que a responsabilidade de um mau uso de um bombardeiro não é do técnico que o equipa, mas de quem decide a utilização da arma.
Simplesmente não quis trabalhar na industria da eletrónica de armamento, nem criticar os colegas que enveredaram pelo projeto em empresas que vendiam equipamento às forças armadas.
É esse paralelo que estou agora a estabelecer.
Por um lado, é perfeitamente legítimo o teu contrato com o primeiro ministro de Portugal que mentiu aos eleitores em frente das câmaras de televisão nas legislativas de 2011. Sabes, com certeza, daquela vez em que disse que era uma estupidez cortar os subsídios de Natal e depois cortou-os mesmo, ou quando disse que sabia muito bem onde havia de cortar e depois se desculpou a dizer que afinal a situação era mais complexa (sintoma nítido de impreparação).
 Eu sei que estás a pensar "vocês só sabem queixar-se, se vivessem no Brasil, terra de desigualdades ainda maiores, não se queixariam tanto, não sabem a sorte que têm".
Pois, talvez, apesar de tudo este é um país desenvolvido, mas o primeiro ministro que tão bem ajudaste, com o teu "know how", ajudou a aumentar a pobreza e as desigualdades em Portugal.
A riqueza por habitante baixou 12,9% desde 2011, o número mde milionários ultrapassou o número de milionários na Arábia Saudita, 15%  das crianças têm pelo menos um dos pais desempregado há mais de 12  meses, o número de crianças na pobreza ultrapassou 640 mil, mais de um quarto, e sabes como as privações que uma criança sofre condicionam o seu desenvolvimento físico e intelectual, refletindo-se na sua baixa produtividade quando adulto, o risco de pobreza e exclusão social da população em geral subiu 2,1% para 27,5% , claramente acima da média da UE (dados do relatório da Caritas de 2015). Aliás, apenas 40% dos adultos ativos tem o curso secundário completo, quando a média da OCDE é de 77%.
Isto é, aumenta o fosso, e não é por causa da inconsciencia do primeiro ministro anterior e do respetivo ministro das finanças, como o teu cliente costuma desculpar-se, não sei se por sugestão tua, ao mesmo tempo que omite a gravidade da crise financeira internacional de 2008 e o atraso indesculpável do BCE em intervir até baixar as taxas de juro dos empréstimos.
É porque a política do teu cliente e dos seus ministros das finanças foi de clara transferencia do rendimento do fator trabalho para o fator capital, desperdiçando a oportunidade que o petróleo barato e as taxas de juro baixas proporcionaram.
Vou mostrar-te dois gráficos. Talvez queiras utilizá-los nas tuas apresentações, porque compara as desigualdades em vários países e relaciona-as com os problemas sociais em cada país. Foram retirados de um livrinho de que os economistas neo-liberais que nos governam não gostam nada, "The Spirit level", de Richard Wilkinson e Kate Pickett ("O espirito da igualdade, por que razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor", ed.Presença).


Ponho estes gráficos aqui para mostrar que uma das prioridades de qualquer governo em Portugal deveria ser o combate às desigualdades, o que o teu cliente, com os números que já citei, demonstrou não querer.
Foram 4 anos perdidos, digo-te eu não só pelo que já disse.
Mas também pelo que o governo do teu cliente não fez na minha área profissional.
Parou investimentos que tinham financiamento através de fundos comunitários, de linhas de alta velocidade que ligariam à Europa em bitola internacional a estações de metro que economizam combustível importado, privatizou empresas de produção e distribuição de eletricidade sem primeiro reduzir as taxas de rentabilidade dos produtores, desperdiçou candidaturas a fundos comunitários para aumentar as interligações energéticas com a Europa (só uma pequena parte foi proposta).
Dirás que sou parte interessada porque me cortaram o complemento de reforma, que era mais uma prova de que sou um privilegiado.
Pois, serei, mas era um contrato. Como é um contrato pagar a dívida ao credor. Só que o teu primeiro ministro é forte com os fracos e fraco com os fortes. Não quer sequer ouvir falar na taxa Tobin nem em renegociar a dívida (ao menos os prazos...) mas acha que o contrato com os reformados não precisa de ser respeitado.
Tem o conselheiro do primeiro ministro que sacrifica assim o seu povo consciência de que é cúmplice na sua ação, ou sente apenas que se limita a cumprir um contrato? como o técnico de eletrónica do jacto da NATO ... se receber uma proposta de uma força política oposta considerá-la-á?
Glorificaste na campanha eleitoral os exitos da parte da sociedade portuguesa que tem crescido apesar da crise, desviando os holofotes da outra parte, que aliás prefere abster-se nas eleições, assim aumentando um fosso de desigualdade de rendimentos que já era inadmissível.
Discretamente deixaste no esquecimento o crescimento da dívida, a pública e a privada, o défice acima do previsto (ai a ministra das finanças que, imprudente, não segue as tuas recomendações e nega a evidencia...) porque tudo isso mete contas e faz doer a cabeça.
Aproveitaste a ténue subida do PIB e a descida da taxa de desemprego para ganhares eleitores. Deixaste na penumbra a sangria da  emigração e a diminuição da população ativa, que sabes muito bem que nestes casos é melhor não dizer nada. E aquela ideia de retirar os desistentes da estatística do desemprego quando se atrasam um dia em responder à pergunta se ainda estão desempregados foi tua? cerca de 50 mil todos os meses, foi uma boa ideia ... mas não deve ter sido tua, não te tenho nessa conta, apenas a aproveitaste. Conheces, com certeza, a lei de Philips, que relaciona o desemprego com a baixa de preços. É esse o objetivo do teu primeiro ministro, conte os preços, e para isso precisa de aumentar o desemprego para, baixando a procura, baixar os preços. Mas o teu marketing tem de dizer o contrário às pessoas, e para isso nada melhor do que umas contas maquilhadas do desemprego, não é?
E deu resultado, isso e a condução da imagem.
Embora saibas que é o conteúdo, a essencia, o concreto, e não a imagem, a aparencia, o virtual, que resolvem as coisas.
Até os indicadores da saúde, depois de se agravarem nos dois primeiros anos com os cortes em serviços essenciais, mostraram ligeiras melhorias á aproximação das eleições...

Difícil, este dilema moral.
Difícil governar um país.
Difícil, combater as desigualdades, uma sociedade dividida entre sucesso e insucesso.

Vamos ver como correm as coisas, como o povo português mais sacrificado vai reagir à continuação das dificuldades, como combaterá a promiscuidade entre o poder económico-financeiro e o poder político.
Encontramo-nos nas próximas eleições?

Até lá desejo-te, eu e também os reformados, os desempregados e os desvalidos deste país, os maiores sucessos profissionais e pessoais.

Um abraço







sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Veículos movidos por hidrogénio e células de combustível em Londres

Parafraseando Julio Dantas, que na Ceias dos Cardeais dizia como é diferente o amor em Portugal, como é diferente a visão do problema da poluição automóvel nas cidades, em Londres e em Lisboa, ou da produção renovável.
A Toyota vai fornecer 12 Mirai, com células de combustível alimentadas por hidrogénio, que serão utilizados na manutenção dos Transport of London (autocarros e metro).
Pretende-se que o hidrogénio seja produzido por eletrólise a partir de fontes renováveis, não se pondo portanto o problema de excesso de produção nem, no caso da Inglaterra, do excesso de rendas pagas aos produtores de renováveis, que em Portugal contribui para o défice tarifário para satisfação dos produtores

http://www.itm-power.com/news-item/toyota-to-deliver-fleet-of-mirai-fcevs-to-london

http://www.itm-power.com/sectors/clean-fuel?gclid=CMGN9p-9x8gCFRcTGwodIZcHtA

https://en.wikipedia.org/wiki/Toyota_Mirai

Toyota Mirai, uma notável obra de engenharia; consumo equivalente á gasolina: 3,6 l/100km; preço na Califórnia: 45.000€ 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Dilema moral a propósito do prémio Nobel de Economia

Segundo as notícias sobre o trabalho de Angus Deaton, um dos seus dilemas foi o que fazer sabendo que as pessoas alimentadas com uma dieta pouco calórica são menos produtivas, e que as pessoas pouco produtivas são as que têm menores rendimentos. Ou se alimentava melhor as pessoas para que elas fossem mais produtivas, ou se lhes aumentava os rendimentos.
Este dilema fez-me lembrar outro: verificou-se que as regiões em que as despesas hospitalares eram mais elevadas eram aquelas em que existia maior número de doenças. Que fazer? reduzir as despesas na esperança de que o número de doenças baixe?
Bem, reconhecendo que a ciencia económica tem evoluido no sentido de uma sofisticação matemática notável, como humilde e ignorante observador me parece que os sentido físico dos economistas deixa muito a desejar. Têm muita dificuldade em apreender o sentido físico dos dados e das variáveis que depois trabalham.
Segundo os especialistas, as notícias dizem que a análise do novo prémio Nobel conclui pela necessidade de garantir o emprego e a melhoria dos rendimentos das pessoas que trabalham (não obstante os economistas neoliberais acharem que reduzir os salários é que é bom porque melhora a competitividade).
Mas não era isso que a sabedoria popular sempre disse? emprego e rendimento?

Realidade dual - a EDP à beira Tejo

Poucas coisas existem de modo bem definido e determinista. Ao nosso pobre cérebro, tão limitado por conceções lógicas só dele, custa a admitir isso. Vive desde os tempos da infancia no maniquismo de que uma coisa ou é boa ou é má.
Quando as coisas são duais, isto é, são uma coisa e outra antagónica ao mesmo tempo, ou sabe-se lá se pior ainda.
Comecemos por este cartaz
cartaz afixado na vedação do estaleiro da obra da fundação edp
Quem está a trabalhar, além do conhecido empreiteiro, é a EDP, uma empresa com quase 17 mil milhões de euros de dívida, e parcialmente responsável pelo défice tarifário devido ao acordo de rendas existente e nada flexível.
É verdade que são significativos os ativos de que dispõe, de que beneficiou graças á política de privatizações, além de ter um lucro anual da ordem de 1 milhão de euros.
Mas escusaria, numa ótica de contenção de custos, de gastar o dinheiro dos seus clientes (e, através das rendas e da desvalorização dos ativos na privatização, dos contribuintes) na sede da sua fundação que está a construir junto da central Tejo, mesmo ao lado do rio:



en passant, observe-se o espaço entre os terminais cerealífero e de combustíveis da Trafaria, e a ilha do Bugio; para aí tinha sido pensado, desde os anos 90, pelos especialistas portuários, o porto de águas profundas de Lisboa; mas o país dual não quis; penso que foi um grave erro estratégico 



É uma pena, junto do rio, estar a nascer mais um mamarracho junto do outro mamarracho do museu dos coches. Serei eu que tenho mau feitio e que serei impressionável,  mas num país em crise dissipar assim os dinheiros impressiona-me, até porque mais para nascente, ao chegar ao Cais do Sodré, já se vê concluida a nova sede da EDP, com os seus planos oblíquos tão caros aos arquitetos premiadissimos que desenharam para junto do rio uma obstrução à vista de Santa Catarina.

Habituemo-nos pois à ideia de que pagaremos mesmo o défice tarifário, graças uma empresa que, para compensar o lado menos bom que descrevi, está prestes a inaugurar a central hidroelétrica de Venda Nova III, com dois grupos gerador/alternador-motor/bomba (reversíveis, portanto com capacidade de absorver as intermitencias da produção eólica), com cerca de 750 MW de potencia instalada e um custo de 350 milhões de euros, em Ruivães, no Rabagão. Vai contribuir para reduzir o défice energético e facilitar a exportação para Espanha através de duas linhas de 400kV que serão financiadas pela comissão europeia. Não pode ser tudo mau, neste país dual.

Pela libertação dos presos políticos angolanos


https://www.facebook.com/Liberdade-aos-Presos-Pol%C3%ADticos-em-Angola-1606187489646481/timeline/

Prémios Nobel de 2015

Pequena reflexão a propósito dos prémios Nobel.
Vale a pena pensar um pouco como foi possível ao Quarteto da Tunisia, enquanto convergencia de esforços de elementos da sociedade civil, conseguir um processo democrático, infelizmente manchado pelos atentados terroristas. É possível a intervenção política, para além dos partidos. E é notável que o juri do prémio o tenha entendido. Faz acreditar na espécie humana.

Quanto à economia, o pensamento dominante não terá ficado contente com a escolha de um especialista na desigualdade de rendimentos.
Não chegava a demonstração do crescimento da desigualdade que Thomas Piketty fez no seu livro, nem a incansável crítica do decano do estudo da desigualdade económica em Inglaterra, Anthony Atkinson (http://www.theguardian.com/books/2015/jun/26/inequality-what-can-be-done-anthony-b-atkinson ),

nem o livro de divulgação citado pelo próprio David Cameron, "o Espírito da Igualdade, por que razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor ("The Spirit level"), de Richard Wilkinson e Kate Pickett, ed.Presença
(http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2014/10/os-congressos-das-elites-e-o-que-as.html ),

vem agora o juri escolher Angus Deaton:
https://en.wikipedia.org/wiki/Angus_Deaton

Repito, assim dá para acreditar na espécie humana.

domingo, 11 de outubro de 2015

Atentado na Turquia

Perante  a barbarie do assassínio de mais de uma centena de inocentes que se manifestavam pela paz e pela diversidade na representação parlamentar, sem maiorias absolutas, faço votos para que a ONU e as grandes potencias dinamizem processos negociais, com os mediadores que forem possíveis, e diplomáticos para acabar com a guerra na Síria. Que se considerem os exemplos de Gandhi e Mandela, não os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros associados às grandes potencias. No caso da Turquia, espero que o PKK mantenha as tréguas que declarou na sequencia do atentado e que o atual governo turco retome rapidamente as negociações com ele, a bem da paz e da formalização da adesão à UE desse grande país, de que grandes valias são o respeito pela história clássica, o dinamismo industrial e, last but not least, a possibilidade das cidadãs muçulmanas poderem andar sem lenço.

Resultados eleitorais - os sábios

No momento em que escrevo não se conhecem ainda os resultados eleitorais da emigração, de modo que só posso registar o seguinte quadro, em que as percentagens são referidas ao total de inscritos nos cadernos eleitorais e os mandatos ordenados por ordem decrescente:

partido ou                votos               %                 nºdeputados
conjunto

inscritos               9 439 651           100,00
votantes               5 374 363             56,93                 230

abstenções           4 065 288             43,07              
PSD                     1 979 132 (1)       20,96(1)                 86

PS                        1 740 300             18,4                     85
BE                           549153               5,80                   19
CDS                                                                            18
PCP                         444 319 (2)        4,70(2)                 15                
PEV                                                                              2

brancos                   112 293               1,11
nulos                         86 571               0,92

(1) inclui votos no CDS
(2) inclui votos no PEV

Os sábios que comentam os resultados na TV, repisando o bordão desagradável "para as pessoas lá em casa perceberem", como se lhes competisse formar a opinião das pessoas, insistem nas teses de bipolarização e na exclusão de partes significativas de votantes de representação no governo. Têm uma certa razão, mas se e só se a assembleia da República, como orgão legislativo, prevalecesse sobre o governo, este como orgão executivo. Ora, na prática, é o orgão executivo que toma as iniciativas. Então, parecerá preferível fazer representar no governo todas as sensibilidades, consoante o seu peso eleitoral. O que deveria levar a que o governo considerasse as motivações dos 43% de abstencionistas. Isto é, deveria desenvolver as técnicas de sondagem aplicada a casos concretos, como por exemplo as privatizações, em que as poucas sondagens conhecidas as desaprovam. Mas os sábios comentadores não querem saber dessas minudencias (que diriam eles se os 43% de abstenções estivessem representados no parlamento pelos correspondentes lugares vazios?).
E explicam com gráficos por que a coligação de direita, embora perdendo votos, ganhou as eleições depois de 4 anos de austeridade.
quanto maior o saldo estrutural maior a austeridade



as estatísticas do desemprego e do PIB, embora trabalhadas no que toca aos efeitos da emigração e redução da população ativa, empregos precários e dédice de registo dos desistentes, foram habilmente utilizadas para aumentar a confiança no governo a partir de julho de 2013 aumentando as intenções de voto no PSD-CDS

Os sábios também não querem saber de algo que permitiria interpretar melhor os resultados da votação: o voto preferencial, ou seja, cada eleitor, para que o seu voto fosse validado, teria de assinalar por ordem decrescente 3 forças políticas concorrentes, com a correspondente ponderação diferenciadora (ou melhor, cada eleitor disporia de, por exemplo, 6 pontos para atribuir a uma força política, 3 para outra e 1 para uma terceira).
Tão pouco se preocupam com as teorias da psicologia comportamental e social da necessidade de integração em grupos através da obediencia a lideres ou da acomodação a soluções conhecidas em contextos de grande complexidade.

Para os sábios é ainda dispensável discutir a forma de equilibrar o saldo orçamental. Não querem saber, ou simplesmente não fazem ideia, por nunca terem trabalhado em empresas produtivas, de que modo se pode aumentar o investimento privado e comunitário (através de projetos rigorosos suportando candidaturas aos fundos europeus), reduzindo o nível de poupanças (pode parecer paradoxal, mas as poupanças no banco, a render,  reduzem o saldo orçamental), reduzindo as importações (o contrário do que está a acontecer, com o aumento da importação de automóveis, especialmente das gamas mais elevadas, com a loucura do predomínio do transporte individual e do transporte aéreo sobre o transporte ferroviário,  com o imobilismo na produção energética de fontes renováveis e na construção de infraestruturas para a sua exportação, e com a pressão das grandes superfícies comerciais para aumentar o défice alimentar) e aumentando as exportações (os sábios mostram-se contentes com o saldo positivo da balança de pagamentos, mas isso só acontece porque o setor de serviços, turismo e serviços de engenharia incluidos, conseguem compensar o défice tremendo em bens (haverá alguma regra da UE que proiba IVA mais elevado sobre bens importados que não sejam produzidos em Portugal?) .


Mas vejo-os a assustar as pessoas, anunciando que as politicas austeritárias são para manter. De facto são, considerando as questões do défice energético e do défice orçamental, da balança de pagamentos de bens desequilibrada e do desperdício dos fundos comunitários em infraestruturas reprodutivas como as energéticas e as ferroviárias. Mas não ao nível do castigo sistemático do fator trabalho e dos pensionistas e reformados (ficará na história das campanhas eleitorais o episódio da senhora vestida de rosa: "quer que vá buscar o recibo?"). Não os vejo também, aos sábios, discutir a taxa Tobin, e fico a pensar que continua a ser verdade a "boutade" de João Cesar das Neves, que não é propriamente um intelectual de esquerda,"os ricos não pagam impostos em Portugal". E não fica bem a uma classe política passar a campanha eleitoral a dizer que o pior já passou, e depois continuarem as restrições.


Vejo-os a ameaçar as maiores desgraças, com subidas incontroláveis dos juros "nos mercados" se o novo governo desenvolver politicas de esquerda (não ficou provado que a crise internacional de 2008 aconteceu por falta de controle sobre a especulação financeira, dos subprime aos swap? e que é para evitar esses descontroles que existem instituições como o BCE?).

Como dizia um colega meu, os sábios não são mais doutores que eu, e se estou a ver mal as questões, também me parece que os sábios o estão a fazer.
Deveriam ser mais humildes.
Salvo melhor opinião, claro.

Nota: os gráficos foram retirados de   http://www.pedro-magalhaes.org/perplexos/    e a sua citação não significa concordancia com eles, especialmente no relativo às estatísticas do desemprego (sendo conhecidas a influencia da emigração, da redução da população ativa, do emprego precário e subemprego, e do deficiente registo dos desistentes) e da confiança, dado que a amostra não inclui os 60% de portugueses e portuguesas que vivem em condições precárias (reconheço que 40% de cidadãos e cidadãs vivem bem ou remediadamente), mas concordo que, apesar de omitir as causas da abstenção, é uma boa análise, pelo menos bate certo com os resultados (perdendo votos enquanto a oposição subia o número de votantes, a coligação PSD-CDS teve mais votos)

PS em 15 de outubro de 2015 -  Finalmente são conhecidos os resultados da votação dos emigrantes. Junto então os resultados finais com as percentagens referidas ao número de eleitores inscritos, mas estou visceralmente indignado com o tratamento dado à emigração. 
Nada ganho com isso, mas a minha realidade é esta, visceralmente indignado com a anulação dos votos enviados de Caracas e de Timor, por razões pífias, os envelopes foram endereçados ao ministério dos negócios estrangeiros em vez das freguesias respetivas. 
Faz lembrar as não menos pífias razões do cartão de cidadão não poder ser vitalício. 
Na era das assinaturas eletrónicas e da internet, o cartão tem de ser renovado?  
Quando ainda se conservam papiros dos antigos egipcíos...o voto dos emigrantes não pode ser enviado pela internet? 
E as entidades ditas competentes vão resolver o problema para as próximas eleições dinamizando a inscrição como eleitores? e o novo parlamento vai reformular o voto dos emigrantes, para que não se desrespeitem as pessoas que querem votar e são desconsideradas desta maneira? sem que ninguém apresente desculpas? 
Assinale-se ainda o valor elevado da abstenção, 44,14%, que deveria tornar  humildes os políticos eleitos pela pequenez da sua representação (imaginem que os lugares no parlamento correspondentes aos eleitores que se abstiveram ou votaram branco, nulo ou nos restantes partidos, estavam vazios, cerca de 150, dado que o método de  Hondt dá uma vantagem aos mais votados, neste caso a abstenção ...)  e que revela a necessidade de mudanças. Para obter o número de deputados eleitos por cada 1% de votos relativamente aos eleitores votantes, basta multiplicar os valores indicados pela percentagem de votantes, 55,86%.

partido ou                votos            % relativamente    nºdeputados     nºdeputados       nºvotos
conjunto                                          aos inscritos                             por cada 1%      por cada
                                                                                                     dos inscritos      deputado
                                                                                                     (eficiência)        (esforço)
inscritos               9 682 553           100,00%
votantes               5 408 805             55,86%                 230                       4,12        
abstenções           4 273 748             44,14%            

PSD                      2 082 511 (1)       21,51%                   89                       4,97(1)     19 463(1)  
PS                        1 747 685             18,05%                  86                       4,76          20 322
BE                           550 892               5,60%                 19                        3,34          28 994
CDS                                                                              18        
PCP                         445 980 (2)        4,61%                    15                       3,69(2)     26 234(2)
PEV                                                                                2
PAN                          57 849               0,60%                    1                        1,67         57 849
brancos e nulos         202 395               2,10%
restantes partidos      319 524              3,30%



(1) inclui votos no CDS; caso se considere a mesma distribuição de votos entre PSD e CDS das eleições de 2011, o PSD teria em 2015 recebido 1 598 479 votos (abaixo do PS) e o CDS 484 032 (acima do PCP/PEV), considerando que em conjunto estes dois partidos receberam menos 731 218 votos
(2) inclui votos no PEV

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Protesto índio brasileiro contra o fracking

Protesto de índios brasileiros contra os projetos de fracking (injeção de água e químicos sob pressão a grandes profundidades para fraturar as rochas de xisto de modo a extrair petróleo e gás natural).
É necessário fazer planos de substituição dos combustíveis fósseis e prescindir da extração deste tipo porque contamina os aquíferos (é possível incendiar o jato de água que sai das torneiras nas regiões em que se faz o fracking e há recolha de água).
A pedra também continuou a existir depois do fim da idade da pedra.



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Mais um naufrágio na Figueira da Foz

Exprimo o maior pesar pela morte de mais pescadores no mar da Figueira e a solidariedade para com os familiares.
Nas ligações seguintes pode ver-se como tratei o anterior naufrágio na barra da Figueira:

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/11/naufragio-na-figueira-da-foz-4-mortes.html

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2014/04/porque-profissionais-experientes_24.html

http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/12/as-mortes-no-mar.html

Trata-se duma zona muito perigosa com o mar com ondas de rebentação.


O perigo deriva da configuração do molhe norte.
Dado que a corrente dominante é de oeste, e que a entrada no porto, entre molhes, tem de ser feita entre 45º e 70º, oferecendo o través à rebentação.
O molhe foi prolongado para diminuir o assoreamento na foz do rio (opondo-se ao depósito de areias trazidas pela corrente dominante), mas tem efeito perigoso.
A entrada com mar agitado deve fazer-se o mais próximo possível da preia-mar mas ainda no período da enchente, quando a corrente do rio não oferece resistencia, a qual favorece a ondulação de rebentação.
O acidente ocorreu pouco tempo depois da maré baixa.
Deveria ser divulgado o relatório do acidente.
Já se sabe que as vítimas não usavam colete de segurança.
Devia ser obrigatório.
Por razões económicas (a venda do peixe é sempre a preço baixo porque concorre com peixe importado sobre o qual não é aplicada a taxa de carbono que deveria penalizar o transporte longo) o equipamento de segurança (coletes, vestuário isotérmico, balizas de radio alarme) deveria ser subsidiado.
Deveriam realizar-se cursos de segurança para os pescadores (por exemplo, o uso de vestuário de lã sem vestuário isotérmico e de botas de cano alto é altamente perigoso).
As embarcações deveriam ser inspecionadas garantindo que os equipamentos e redes de pesca e a carga de peixe sejam sempre bem acondicionados e de modo que o centro de gravidade da embarcação não ultrapasse o centro de impulsão (metacentro) nem se desloque para um dos bordos. Por razões económicas, muitas vezes o peixe é transportado em condições desfavoráveis para  a estabilidade da embarcação, com a agravante de a popa ser aberta (risco de "emborcamento" de água em ondulação de período curto com rebentação.
As condições das seguradoras não deverão nunca ser desresponsabilizadoras em caso de falhas dos armadores ou dos pescadores.
Deverá ser estudada forma de redução da rebentação (dragagens para maior profundidade, prolongamento do molhe norte, construção de molhes amortecedores paralelamente à costa, maior rigor no fecho da barra...).
Não se divulgando um relatório que contemple todas estas questões continuaremos à espera que este tipo de tragédias se repita.
Ainda em agosto deste ano se afundou uma traineira a alguns quilómetos a sudoeste da Figueira, em dia de mar calmo e com visibilidade. Morreu um pescador, não foram divulgadas as causas. Nada se fez depois do naufrágio de novembro de 2013.
Assim é difícil reduzir o número de mortes no mar.

PS em 8 de outubro - segundo testemunho de um dos sobreviventes, o pescador que se agarrou ao casco da embarcação gritou para os colegas que estavam na balsa que não sabia nadar. Não é admissível que se passem cédulas profissionais aos pescadores quando não sabem nadar. Juntamente com a falta de coletes de segurança e e vestuário isotérmico, estão reunidas as condições para o desastre.
Segundo o presidente da câmara da Figueira, o salva-vidas Patrão Macatrão estava inoperacional por avaria.
fotografia de 2007 do salva-vidas


Consta que o marinheiro (Carlos Santos, agente da polícia marítima) que salvou os dois sobreviventes com a mota de água, e que é de louvar, estava de licença, por isso demorou 1 hora, mas o ISN não tinha ninguém de prevenção. Parece portanto tratar-se de um caso de falta de meios eventualmente decorrente de cortes orçamentais ou dos desencontros entre a Autoridade Marítima e a Marinha. (De referir que antigamente existiam canhões-lançadores de cabos com boia para os náufragos).
A solução para o molhe (ampliação no sentido do sudoeste e de maiores profundidades para escapar à zona de rebentação) é possível, dado que os fundos são inferiores a 30m até 2 ou 3 km de distancia, mas são obras caras, pelo que se deveria submeter o respetivo projeto a  fundos comunitários. A dragagem permanente da atual entrada no porto não me parece eficaz dada a força das vagas. 
Para além da pesca, o porto da Figueira tem importancia como ponto de passagem da pasta de papel das celuloses da zona e de combustíveis. Difícil portanto de justificar a ausencia de meios em prevenção em dia de mar agitado, o que deverá ficar esclarecido no inquérito.
A estudar a forma de armazenamento da carga nos arrastões, o fecho da popa, a instalação de ancoras flutuantes articuladas (para não embaraçar as hélices, com o objetivo de orientar a embarcação perpendicularmente às ondas, com a condição da popa ser fechada e da carga estar equilibrada, fixada e sem agravar o centro de gravidade)...

proposta de ampliação dos molhes até fundos maiores para evitar a rebentação das ondas; o molhe a traço interrompido não é imprescindível; a ideia seria o aproveitamento da área para porto interior ou terrenos para industria ou com fins turisticos
PS em 11 de outubro - Reproduzo, retirado do site Figueira na hora, a série de 14 fotografias de Paulo Octávio, que se encontrava no molhe sul na altura do acidente. Penso que estas imagens serão essenciais na realização do inquérito e na determinação das causas e circunstancias do acidente. Mantenho que, independentemente do estado dos inquéritos, devem discutir-se as questões relacionadas. Os inquéritos não deverão buscar culpados, mas principalmente produzir recomendações que evitem a repetição dos acidentes. E isso vai desde a questão do uso dos coletes, vestuário isotérmico, equipamentos de alarme, requisitos como saber nadar, condições das embarcações em termos de imunidade à penetração de água, à correta fixação das cargas e equipamentos, ao controle do fecho da barra em função do estado do mar, à prevenção e natureza dos meios de socorro, incluindo a resolução do conflito AMN/Proteção civil - Marinha, ao estudo da ampliação do molhe e às dragagens, etc...
Ver 
http://www.figueiranahora.com/actualidade/naufragio-do-olivia-ribau-em-15-imagens


era a segunda tentativa de entrada na barra; aparentemente, o mestre pretendia contornar o molhe norte no sentido NW-SE para depois virar para NE, dando o bombordo (lado esquerdo) à ondulação de oeste

aparentemente a onda terá 5 m de altura, invadiu a popa (o inquérito deverá confirmar se ela era aberta ou se permitia a entrada de água no interior da embarcação) e o lado direito (estibordo) dado o rumo que levava; 


relativamente às imagens anteriores, assinala-se o movimento oscilatório vertical

se a popa permitia a entrada de água sob pressão ou se a carga ou os equipamentos de pesca estavam mal fixados ou mal equilibrados ou se o seu peso agravava o centro de gravidade terá sido possível nova entrada de água neste momento

adornando para bombordo, o mestre terá tentado equilibrar virando a bombordo






o casco foi virando e rodando sobre o seu centro de impulsão; a embarcação está tombada sobre o seu lado esquerdo (bombordo), com a proa para o lado esquerdo da imagem; observa-se a jangada insuflável e dois pescadores



o casco rodou relativamente às imagens anteriores com aproa para a direita da imagem; observa-se o pescador que veio a falecer agarrado aos rails de estibordo; a jangada está junto da proa


Imagens do Olívia Ribau pouco tempo antes do acidente:


                                    aparentemente, a popa era aberta para o arrasto das redes, devendo o inquérito determinar se permitia a entrada de água no interior do navio, desequilibrando-o, ou se uma má fixação ou arrumação da carga e dos equipamentos de pesca terão contribuido para o adornamento da embarcação; considerando a dimensão da frota pesqueira que tem vindo a reduzir-se e o estado de muitas embarcações, impõe-se um plano de renovação com medidas de segurança que evitem estes acidentes.

Sobre as condições gerais da marinha mercante e de pesca, ver
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=790829
de que cito:
“Em Portugal, os homens do mar estão em vias de extinção, ou quase ...“Inclinados perante a Europa, virámos as costas ao mar. País de marinheiros? A actualidade do nosso imaginário mítico marítimo dissolve-se no desprezo colectivo pelo mar. Estendidos nas praias, vemos passar navios, ao longe, cada vez mais ao longe. O mar não existe nem sequer como conceito do poder da nação.”

Sobre o desinvestimento e a falta de meios para salvamento, ver:
http://www.noticiasaominuto.com/pais/466644/mortes-em-naufragio-na-figueira-da-foz-eram-dificilmente-evitaveis

Esclarecimento no portal da Marinha sobre as condições do socorro (observo que existem mecanismos de proteção das hélices - corta-cabos, por exemplo - e canhões lança-cabos de projeção de boias que parece não estarem disponíveis; parece também não estarem disponíveis holofotes; também neste esclarecimento nada se diz sobre eventuais  restrições de meios humanos; de registar, pela positiva, que o alarme foi automático, pelo próprio equipamento de bordo, baliza de alarme por satélite COSPAS-SARSAT) :
http://www.marinha.pt/pt-pt/media-center/noticias-destaques/Paginas/Esclarecimento-da-Marinha-e-AMN-Naufragio-da-embarcacao-Ol%C3%ADvia-Ribau.aspx

Sobre aparelhos lança-cabos ver na página 17:
http://www.enautica.pt/publico/professores/jemilio/pdf/SM_II/JE-SOBREVIVENCIA&SALVAMENTO.pdf

ou em:
http://www.oreytecnica.com/images/Ficha%20Lan%C3%A7a-cabos%20Linethrower%20250.pdf

e
http://www.jgarraio.pt/index.php?main_page=index&subtemplate=mc&cPath=2_4749_4750