quinta-feira, 25 de março de 2010

As laranjeiras da Praça de Alvalade

Como referi nos blogues de 30 de Janeiro e de 20 de Fervereiro, já não há laranjeiras na Praça de Alvalade.
Cinco resistentes sobrevivem num separador na Av.Roma,  a cerca de 500 metros da Praça.
Mas já estão condenadas.
Assim vamos encolhendo os ombros.
Não é só pelas árvores, é porque não ouvem os cidadãos.

Resposta que enviei aos esclarecimentos (iguais desde Setembro de 2009, a quem reclama):


Exma Senhora Arquiteta Conceição Candeias

Dou por recebido o esclarecimento à minha reclamação sobre a remoção das laranjeiras da Praça de Alvalade, o qual agradeço.
Infelizmente não posso concordar com a argumentação expendida, aliás já do domínio público por ter sido apresentada como resposta aos primeiros protestos.
Infelizmente também, não só a resposta não foi alterada, como não foi alterado o rumo do departamento. Isto é, tudo se passou como se não tivesse havido protestos. Não houve uma consulta formal aos cidadãos.
A conceção de democracia não deverá ser, salvo melhor opinião, a de um cheque em branco aos eleitos, nem a da aceitação acrítica das opções técnicas.
Para facilidade de transmissão dos meus argumentos, junto o vosso esclarecimento com observações a azul e itálico.
Retiro do episódio a conclusão de que nós, cidadãos, não conseguimos mobilizar-nos. Não é só pela ideia das árvores. É porque os cidadãos não são ouvidos.
Mas dele retiro também que vou esperar que apareçam as flores dos jacarandás e as folhas dos gingkos .

                                                                                 Com os melhores cumprimentos

                                                                              F.Santos e Silva/Municipe ID 231131



(sites com protestos:

http://lisboasos.blogspot.com/2009/12/alvalade-requiem-pelas-laranjeiras.html
http://osverdesemlisboa.blogspot.com/2009/11/laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
http://laranjeirasalvaladelisboa.blogspot.com/2009/09/laranjeiras-da-praca-de-alvalade-em.html
http://lisboalisboa.blogspot.com/2010/03/lisboa-ficar-sem-arvores.html
http://cidadanialx.blogspot.com/2009/09/praca-de-alvalade-conclusao-do-arranjo.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/01/as-laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/estao-ver-isto-e-estao-ver-que-nao.html
                                                                                                                                            )



Resposta aos argumentos do esclarecimento da senhora Arquiteta:


O Projecto de Qualificação para a Praça de Alvalade foi elaborado pela Divisão de Estudos e Projectos, da DMAU, no seguimento das obras de remodelação da Estação Alvalade do Metro, encontrando-se devidamente aprovado pelo município. A execução do projecto, a cargo do Metropolitano de Lisboa (para evitar deficiente interpretação, sugere-se a expressão:”…A execução, a cargo do Metropolitano, da obra correspondente ao Projeto de Qualificação da Praça…”) foi dividida por 2 fases, estando a 2ª fase agora a ser concluída, reconhecendo-se os grandes transtornos que este atraso causou no local, nomeadamente aos residentes.

Em relação à estrutura arbórea da praça, durante as obras do Metro foram removidas as laranjeiras existentes nos principais separadores, paralelos à Av. de Roma, as quais não podem ser replantadas, por questões relacionadas com a subida de cota da laje de cobertura da estação e consequente falta de altura disponível para a plantação de árvores (na realidade podem ser replantadas, dada a disponibilidade duma altura de 80 cm que poderia ser aumentada com muretes se a conceção dos separadores fosse outra; porém, por razões de fiabilidade da laje e de riscos de infiltrações, concorda-se plenamente com a ausência de árvores nestes separadores). Em face desta condicionante, ponderou-se a manutenção das laranjeiras nos separadores de menor dimensão, paralelos à Av. da Igreja, tendo-se optado pela sua remoção pelas seguintes razões:

(i) - a Praça de Alvalade constitui um exemplo de urbanismo dos anos 40 , sendo caracterizada por um traçado de desenho urbano com uma identidade própria, de grande regularidade e simetria em relação aos dois eixos de composição definidos pela Av. de Roma e Av. da Igreja; considerou-se fundamental para a dignificação da praça a manutenção dessa simetria e unidade de tratamento, centralizada no elemento escultural central; (lamenta-se não poder aceitar-se este argumento; a praça de Alvalade não é um exemplo de urbanismo dos anos 40; as avenidas são-no, mas a praça atual é diferente do projetado nos anos 40; os prédios mais altos obedecem a critérios diferentes do pensado originalmente para a praça, julgando-se que se trata de realizações arquitetónicas muito bem conseguidas e integradas no urbanismo da zona; o grupo escultural central não tem nada que ver com a conceção original da praça e só foi pensado a partir de 1969 (inauguração em 1972), bastando recordar que o nome da praça até então foi Praça Frei Luis de Sousa, existindo uma praceta anexa à Rua Carlos Seixas com o nome de Praça de Alvalade; com a inauguração da estátua as designações das duas praças foram trocadas; salvo melhor opinião, o elemento escultural encontra-se perfeitamente desintegrado do urbanismo da zona e quebra a leitura do eixo Igreja S.João de Brito – Campo Grande (vem a propósito recordar que a conceção original da Av.da Igreja era incompatível com o estacionamento de automóveis e privilegiava a circulação pedonal; contrariamente à restante argumentação, esta é de natureza subjetiva e deixa-se aqui registada como protesto por se tratar de uma figura de uma tendência religiosa ocupando um espaço público; admite-se que possa existir uma maioria de cidadãos que queiram a estátua onde está, sendo desejável que essa maioria seja informada de que existe uma minoria que gostaria que aquela estátua não estivesse ali, embora aceite a vontade da maioria se livremente expressa)


(ii) - as laranjeiras não faziam parte do projecto original da praça, tendo constituído uma acção pontual de plantação dos finais da década de 80 (ou princípio de 90); (é verdade, e foi com grande surpresa, pela positiva, que os habitantes e passantes da zona, assistiram à plantação de laranjeiras; é natural que agora, ao vê-las retiradas, protestem; como se viu em i), este argumento não pode ser utilizado com consistência, dado que os edifícios mais altos e o elemento escultural central não faziam parte do projeto original da praça)


(iii) - em face da envolvência arquitectónica da praça, com prédios até 15 andares de altura (C. C. Alvalade), considera-se que as laranjeiras apresentam um porte pouco compatível com a escala da praça, incompatibilidade que surge acentuada pela existência de laranjeiras apenas nos separadores de menor dimensão; (solicita-se alguma benevolência para que se considere ser esta também uma opinião subjetiva; relativamente ao porte, é fácil encontrar laranjeiras com 4 m de altura da copa, algumas até, parece que já condenadas, bem perto desta praça, sendo que não se encontram mais porque é das árvores que melhor suportam a poda e facilmente se contêm as suas dimensões); quanto à compatibilidade do porte, basta comparar as fotografias do antes e depois da retirada ).







A opção de remoção das laranjeiras surge naturalmente (pede-se desculpa por discordar da utilização deste advérbio; a opção de retirada das laranjeiras não foi natural, foi artificial e decidida por quem tem o poder para o fazer, sem atender á expressão da oposição dos moradores e dos passantes que desde Setembro de 2009 o fizeram, e sem ter realizado uma consulta popular) associada à possibilidade de plantação de novos alinhamentos de árvores, de forma a garantir uma amenização ambiental da praça e melhorar as condições de sombra e conforto dos peões (em áreas em que o peão efectivamente circula – (mais uma vez se considera indevidamente utilizado um argumento; os peões têm de atravessar os separadores na Av.Igreja sem sombras, o que não se verificava anteriormente). São propostos 4 novos alinhamentos de árvores de grande porte - Jacarandás - integrados nas 4 bolsas de estacionamento e paralelos ás fachadas edificadas (22 exemplares).(nada a opor, excetuando o recurso a viveiros estrangeiros)


Em face do exposto, voltando a dar à praça a sua imagem original (como visto em i) não estava prevista a estátua de Santo António no projeto original), em que se enriquece a pavimentação dos separadores com lajes de lioz (idêntica ao separador central, base da estátua), considera-se estar a contribuir para a sua dignificação, enquanto “praça dura” emblemática de uma época (como visto em i), concorda-se com a designação de praça dura emblemática, mas da época de 1972, data da inauguração da estátua), abrindo simultaneamente as perspectivas visuais para os eixos das avenidas que se cruzam na praça, nomeadamente para a Igreja S. João de Brito, no topo Nascente da Av. da Igreja.(mais uma vez se pede para considerar este tipo de opiniões como subjetivas; caberá aqui, para além do exposto atrás sobre a leitura do eixo Igreja S.João de Brito-Campo Grande, anotar a incoerência da anterior referencia ao pequeno porte das laranjeiras- se tinham pequeno porte não obstruíam a vista da Igreja…)



De referir ainda, e de não menos importância, que este projecto se integra no Projecto global de Qualificação Urbana da Av. de Roma (já construído no troço envolvente à Estação Roma, entre a Av. dos E.U. da América e a Rua Frei Amador Arrais) o qual em termos de estrutura arbórea define a plantação de alinhamentos de árvores contínuos ao longo dos passeios laterais, de forma a criar condições de conforto directa ao peão e oferecer o devido enquadramento ao eixo urbano, recriando o perfil de alameda (nada a opor, desde que ponderada a opção por árvores de folha caduca com frutos de mau cheiro). Segundo este conceito o Projecto da Av. de Roma prevê a remoção integral das árvores existentes nos separadores centrais ao longo de toda a avenida (embora se trate de uma opinião subjetiva, discorda-se: as árvores no separador central são uma vista agradável para os peões nos passeios), considerando-se que a presente acção de remoção das laranjeiras nos separadores da Praça de Alvalade se integra igualmente nesse conceito de âmbito mais global.



Compreendemos que a remoção das laranjeiras poderá gerar uma reacção negativa por parte dos moradores (duvida-se que o departamento tenha compreendido todas as razões dos opositores: foi a forma prepotente como se recusou a discussão e a sondagem formal, com envolvimento da junta de freguesia mas com consulta efetiva popular aos moradores e aos passantes habituais, o que é muito grave porque desde Setembro de 2009 os protestos foram apresentados; foi ainda o metropolitano ter a obra a seu cargo mas não ter podido discutir atempadamente o projeto de arranjos exteriores através dos seus órgãos próprios), habituados à sua imagem no local, contudo consideramos que as razões que nos ditaram a opção de remoção são válidas e consistentes (julga-se ter demonstrado a inconsistência das razões), tendo em conta o principal objectivo de dignificação do espaço público, numa perspectiva da cidade. As laranjeiras foram transplantadas, com os devidos cuidados e segundo as técnicas adequadas, para jardins e outros espaços da cidade definidos pela Divisão de Jardins, onde deverão igualmente cumprir objectivos de enquadramento.”

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