Tive muito gosto em ter trabalhado no dia 5 de Outubro de 1974, na campanha “Um dia de trabalho para a Nação”.
Na sequencia dos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, o primeiro ministro propôs e Costa Martins, ministro do Trabalho, dinamizou a campanha.
Tinha entrado havia pouco tempo para a empresa, em Fevereiro de 1974.
Tinha terminado havia muito pouco tempo o serviço militar obrigatório, em Julho de 1974.
O entusiasmo era grande na altura (nem toda a gente partilhava da minha opinião, mas eu andava entusiasmado).
Não tinha gostado nada que os meus colegas da Academia Militar tivessem feito as suas reuniões e executado o 25 de Abril sem me dizerem nada.
Eu estava de pé atrás porque via alguns deles a louvar as qualidades do general Kaulza de Arriaga, outros a defender a posição oficial sobre as “províncias ultramarinas”.
Dizia-lhes que a disciplina científica era mais inflexível que a militar e que esta tinha de se lhe subordinar.
De modo que o facto de estar um capitão da força aérea, Costa Martins, como ministro do Trabalho, a fazer coisas como a implementação do salário mínimo nacional, e a lançar a campanha do dia para a Nação, também me entusiasmou.
Ajudou-me a compreender o valor intelectual e científico de homens como Melo Antunes e Vasco Gonçalves .
Eu sei que a propaganda contrária ocultou coisas como a declaração de guerra de Vasco Gonçalves à política dos subsídios (a propaganda contrária dizia o contrário, pois dizia) e como o esforço de autonomização da produção alimentar nacional (que se conseguiu pouco tempo depois, em contraste com os 80% de dependência externa atual). Uma senhora jornalista muito aplaudida chegou a escrever: “O gonçalvismo deixou os cofres do Estado vazios”, ao mesmo tempo que uma equipa de economistas do MIT publicava um relatório elogioso do controle da economia (claro que o PIB tinha de baixar, mas as contas estavam seguras e os investimentos reprodutores de benefícios sociais estavam listados e aprovados, como no caso da barragem do Alqueva).
Eu sei que os neo-liberais não gostam, mas coisas como o direito ao salário mínimo estão consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem (e no Bill of Rights de Roosevelt, 65 anos antes de Obama, não esquecer) e não devemos ser contra os Direitos do Homem.
Além de que a experiência dos técnicos e técnicas de serviço social ensina que este é um dos mecanismos de recentralização e “ancoragem” de alguma população que de outro modo seria marginalizada e nem mandaria os filhos à escola.
E, depois, é um indicador, é bom para as estatísticas comparativas.
Não me interessa o que investigadores devassaram da vida privada de Costa Martins.
Interessa-me que ele provou em tribunal que as acusações contra ele eram infundadas e que foi reintegrado.
O que leva pessoas de bem a alinhar em campanhas difamatórias como esta? Não há direito de difamar assim.
Vale a mensagem de Melo Antunes: são precisos todos os portugueses; e a de Vasco Gonçalves: é preciso vencer a batalha da produção.
Não era isso que Costa Martins queria?
Foi difamado, lutou pelo seu bom nome.
Como dizia Pitágoras (cito de cor, claro) , mais vale sofrer a infamia do que praticá-la. Nisso somos muito parecidos com os gregos, clássicos ou atuais.
E já terá passado tempo suficiente para que o que escrevi sobre Melo Antunes e Vasco Gonçalves não escandalize ninguém?
É uma pena que a estrutura da sociedade portuguesa, como está, não permita cumprir aqueles objetivos; com a lei de Philips a conter os preços à custa do aumento do desemprego... e quem está desempregado não produz.
Estamos a desperdiçar-nos …
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