A gravidade dos erros cometidos pela senhora ministra Lurdes Rodrigues e dos órgãos institucionais que a deixaram cometê-los, com as consequências desastrosas para a qualificação profissional das gerações que passaram pela escola nessa época, justifica a minha insistência, pelo que deixo os seguintes registos:
1 – A nova ministra visita uma escola e afirma que tem de ser dada mais autoridade aos professores
2 – enquanto isto, como se diz em coloquial, uma aluna de 10 anos morde uma professora que lhe retirou a esferográfica com que riscava o tampo da carteira
3 – noutra escola, esta de ensino especial para casos mais difíceis, um aluno de 17 anos, frequentando mais uma vez o 5º ano (antigo 1º ano do liceu), segura uma colega pelo pescoço e bate repetidamente na parede com a cabeça dela. A colega é tratada no hospital a traumatismos cranianos
4 – nessa mesma escola, 2 meses depois, o mesmo aluno conversa afavelmente com as professoras e declara que se sente melhor e mais calmo. A aula é de modelagem de barro e pede mais uma bola de barro ao colega do lado, que recusa. O rapaz perde a cabeça com a recusa e envolvem-se os dois à pancada. Com a imagem da outra aluna a ir para o hospital, as duas professoras precipitam-se a tentar separá-los. Um delas coloca mal o pé e parte a tíbia. Vai estar vários meses em casa porque surgiram algumas complicações para a operação necessária. O seguro da escola ainda não assumiu os custos
5 – uma escola de Trás os Montes é acusada de nada ter feito para evitar o suicídio de uma criança. Feito o inquérito, não parece ter sido o caso, mas há um facto certo: o menino não sabia nadar (é verdade que qualquer pessoa, mesmo sabendo nadar, corre o risco de se afogar; mas não saber nadar é correr riscos intoleráveis)
6 – numa escola já referida neste blogue, o professor substituto de uma professora reformada faltou em 3 dos 5 dias da primeira semana e, na segunda semana, entrou de baixa prolongada para ser operado conforme já tinha planeado antes de aceitar o lugar;
7 – nessa mesma escola, cerca de 10% das crianças vivem em instituições de acolhimento por reconhecida incapacidade da mãe ou dos pais em mantê-los em casa
Alguns comentários a alguns dos pontos anteriores:
Há um grande risco, perante notícias trágicas ou por razões emocionais, de se entrar em processo de histeria coletiva (não é ofensa, é um facto psico-sociológico) e de não dar atenção às causas e circunstancias determinantes.
Caso 1: não sou eu que digo, é a nova ministra, e tudo indica que a anterior senhora ministra nunca o diria (ficou para história: “perdi os professores mas ganhei o povo”, o que era mentira, obviamente)
Caso 2: para além de revelar problemas comportamentais da aluna, casos como ete revelam também alguma impreparação da professora: não se deve retirar a um adolescente problemático o telemóvel ou qualquer objeto com que tenha relação estreita: a boa prática é chamar a senhora auxiliar para acompanhar a aluna para fora da aula
Caso 3 e 4: provavelmente o aluno sofre de esquizofrenia, terá zonas cerebrais afetadas e não tem sido devidamente tratado (o tratamento é caro, exige o domínio e o equilíbrio dos antagonistas dos recetadores da serotonina e, a não fazer-se, rapidamente se chegará ao ponto de irreversibilidade).
Caso 5: não é admissível que as crianças deste país não saibam nadar. Algumas aulas de educação física têm de ser dadas em piscinas (invocando o interesse público, pode sempre “expropriar-se” o direito de utilização para essas aulas; o problema será o aumento da despesa pública e o PEC, mas o facto é que não saber nadar, não havendo incapacidade física, é intolerável; estas considerações estendem-se ao caso dos jovens que vão exercer a profissão de pescador, e que muitas vezes escondem a sua inqualificação para nadar)
Caso 6: possivelmente para não fazer mentirosa da anterior ministra da Educação, como costumava argumentar Fernão Lopes, as escolas estarão a encher-se de oportunistas e aproveitadores; é o que acontece quando se desprestigia uma profissão; a professora reformada ainda se ofereceu para continuar a dar aulas, porque os alunos e alunas sempre se tinham revelado interessados nas aulas e a maioria tinha apoio dos pais em casa; mas foi-lhe dito que era contra a lei (faz lembrar os médicos reformados do SNS); esperemos que a diretora da escola consiga encontrar novo substituto sem perder muito tempo com os prazos legais (quem faz as leis não dá aulas…)
Caso 7: continuando a cortar na despesa pública, continuaremos a condenar estas crianças à criminalidade, ao vandalismo, à insegurança, à inqualificação profissional, ao falhanço como nação, embora nos condomínios fechados e em áreas restritas se possam fazer brilharetes com os jovens qualificados, enchendo páginas e páginas de revistas com casos de sucesso; mas não é isso que diz a declaração universal dos direitos do Homem
Comentário final: acham , em consciência, que o governo anterior devia ter feito tanta pressão pela “avaliação” dos professores e pelo estatuto da carreira docente? Acham que eram esses os problemas fundamentais a atacar? Não é claro que os principais problemas são exteriores à escola? Não foi isso que foi oportunamente dito a quem tem o poder político? Não deram muito ouvido, pois não?
.
Sem comentários:
Enviar um comentário