Que a consolidação orçamental provoca recessão, mas que os estudos já realizados indicam que ela será mais suave se for pelo lado do corte das despesas.
E que o Estado não tem dinheiro para fazer investimentos.
Falavam para uma pequena plateia de técnicos e disseram qualquer coisa de muito parecido com o ser inconveniente deixar os critérios da engenharia conduzir os processos de investimento em infraestruturas. Que isso justificava a ineficiencia dos investimentos feitos anteriormente que ajudaram ao estado atual das finanças públicas.
Um dos técnicos que assistiam ainda argumentou que há poupanças que poderiam ajudar a financiar novos investimentos em infraestruturas.
Outro lembrou que existe o Horizonte 2020, sucessor do QREN, disponibilizando fundos europeus para cobrir 85% do investimento, que o restante financiamento também poderia ser negociado com a Comissão Europeia e que a grande dificuldade está na exigencia de projetos bem elaborados para ganhar a candidatura aos fundos, sendo muito pouco provável desenvolver projetos quando os decisores não têm uma visão abrangente que lhes permita definir estratégias.
Outro falou na ineficiencia energética do transporte rodoviário individual como justificação dos investimentos no modo ferroviário, para combater o desperdicio dos combustiveis fósseis que se queimam de forma supérflua e que ocupam 40% na fatura da importação de energia primária.
Mas os senhores economistas académicos não se comoveram.
Os seus manuais, o seu "mantra", a sua "bíblia", mandam dizer que se deve cortar na despesa pública, congelar os investimentos, e deixar esta função para a parte privada.
Continuaram a achar que os engenheiros têm tendencia para ver as despesas como investimentos com retorno sobrevalorizando os benefícios.
É possível, tudo é possível neste mundo, até o impossível, ou quase.
Por isso me lembrei da teoria da armadilha da pobreza, que diz que na parte inferior da curva dos rendimentos, é inutil investir porque o investimento não gera retorno (estamos sempre caídos no mesmo, só aumentando o PIB se consegue sair duma recessão, e como o investimento privado se faz rogado...).
Mas os senhores economistas académicos não gostam de ouvir falar na armadilha da pobreza.
Eis porque me lembrei da ponte de Brisbane, na Austrália.
Ponte Douglas Story, em Brisbane |
A construção da ponte foi decidida em pleno período de recessão dos anos 30 do século XX para resolver o problema da ligação do suburbio de Fortitude Valley ao centro financeiro de Brisbane e para dar trabalho aos cidadãos.
A construção decorreu de 1935 a 1940.
Foram utilizados 89% de recursos locais (esta é a parte que me pareceu escapar aos senhores economistas académicos: centrar o debate na utilização de recursos nacionais; como é recorrente escrever-se neste blogue, um país não é sustentável quando importa 75% dos seus alimentos e 75% da energia primária que consome).
Projeto de John Bradfield.
Tipo da ponte: consolas de treliças de aço.
Vão: 282 m
Comprimento: 777 m
Altura livre sobre a água: 30 m
E tambem me lembrei que nos anos 30 do século passado ainda a escola de Chicago de Hayeck e Friedman não tinha estruturado o seu pensamento que se disseminou como um vírus pelas instancias decisórias, de Reagan/Goldman Sachs e Thatcher aos gabinetes dos consultores da Comissão Europeia e do BCE.
Pontes de Brisbane, precisam-se, nalguma Europa da segunda década do século XXI, na sequencia da depressão provocada pela especulação revelada nos anos 2007 e 2008.
Referencias: "Bridges - 75 most spectacular" , Ian Penberthy, ed.Grange Books, 2008
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