domingo, 28 de abril de 2013

Crítica musical - a música subversiva

"C'est par la musique qu'a commencé l'indiscipline" - frase atribuida a Heráclito de Efeso, escrita aqui em francês por ser a língua materna de Françoise Schein , a artista que concebeu a renovação da estação Parque do metropolitano de Lisboa, nos anos 90  (ver http://fr.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7oise_Schein  ).

Penso que a ideia de Heraclito seria a de que a disciplina de um musico é de longe superior à dos políticos.
Talvez fosse isso que Prokofieff quis dizer a Estaline quando lhe respondeu à crítica da sua musica ser politicamente fraca, que a politica de Estaline era musicalmente muito fraca.
E temos mais um exemplo do que a musica pode fazer aos politicos, despindo-os das suas vaidades e das suas certezas prepotentes e sobranceiras, nos concertos de 25 e 26 de abril de 2013 na Gulbenkian, com a mini ópera de George Benjamin, "Into de little hill".
Adaptação do conto do Flautista de Hamelin.
O ministro quer ser reeleito, mas a multidão avisa-o que só votará nele se exterminar os ratos. É estranho a multidão achar que são ratos, porque a filha do ministro vê que eles usam roupas. A multidão acha que não, que eles só roubam (será analogia com a crítica que o senhor ministro da Economia faz aos trabalhadores das empresas públicas de transportes, que com as suas regalias estão a roubar as finanças públicas, esquecendo que o que agrava em 2/3 a dívida são os encargos financeiros e as taxas de juro relativamente crescentes?). E aparece um salvador que promete ao ministro livrar a cidade dos ratos. Feito o contrato, o ministro é reeleito mas não quer cumprir a promessa ao exterminador. É apenas mais um exemplo de um politico que não cumpre as promessas feitas na campanha eleitoral e que se justifica dizendo que não tem dinheiro para pagar porque o gastou todo em infraestruturas (será analogia com os cortes das pensões do senhor ministro das Finanças, que só tem dinheiro para pagar juros, mas salários da função pública não?).
O facto é que o exterminador fez o que já se sabe, transformou as crianças em ratos (será analogia com os cortes na Educação? e o consequente estímulo ao aumento da iliteracia, do abandono escolar, do desemprego e da criminalidade?).
Crítica profunda aos políticos e aos seus métodos de dissimulação e de diversão da atenção dos eleitores para o acessório.

De tal maneira que me ocorreu uma sugestão a fazer aos políticos: gerir a coisa pública deveria obedecer a critérios de qualidade equivalentes aos que se usam nas empresas certificadas. Então, para selecionar os políticos, deveriam os candidatos submeter-se à prestação de provas psicotécnicas.
As provas psicotécnicas são muito úteis, e permitem até detetar o perfil psicológico da pessoa, a sua capacidade de trabalhar em equipa, de não impor a sua vontade discricionária, o seu respeito pelo debate alargado com vista a um resultado participado e representativo das sensibilidades das populações, o seu respeito pela verdade.
Munidos dos relatórios dos seus testes psicotécnicos os candidatos apresentar-se-iam então na campanha eleitoral, fornecendo assim aos eleitores informação preciosa para a escolha conscienciosa.




A peça de resistencia dos concertos foi porem Dido e Eneias, de Henry Purcell.
Trata-se de uma das primeiras óperas inglesas, com a curiosidade de ter sido composta pouco tempo antes da Revolução Gloriosa de 1688, que marcou a consolidação dos princípios democráticos e da participação institucional dos cidadãos na vida politica, reduzindo os poderes da monarquia e controlando o Parlamento através de pluripartidarismo ao  mesmo tempo que a revolução industrial arrancava (por acaso em Portugal tambem arrancou por essa altura, graças aos esforços de pessoas como o conde da Ericeira, mas a coisa não vingou) e a sociedade das ciências impunha o método cientifico e a obrigatoriedade da disseminação do conhecimento (coisa que não, não aconteceu em Portugal nessa altura nem nos tempos mais chegados - será que as duas coisas estão relacionadas? não parece haver muitas dúvidas, pois não? já dizia o prof.Carvalho Rodrigues, a ciência tem de fazer parte da equação; ora, por aquilo que se vê e ouve, não é o que os politicos, os comentadores e os interventores estão fazendo, pois não? tratar os problemas com o método científico).


Música, indisciplinada por ser mais dura a sua disciplina do que a dos politicos.




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