Senhor ministro das Finanças, professor doutor Vitor Gaspar
Certamente não lerá estas
linhas, porque, tal como já escrito neste blogue, vozes de burro, como eu, não
chegam ao céu dos escolhidos pelos eleitos, como o senhor ministro.
Para mais, como dizia o
outro, dá-me a preguiça de parar depois de começar a escrever.
Eu diria que um dos
objetivos principais dos eleitos, dos habitantes do céu que o senhor ministro
habita, seria a aproximação do céu à terra, dos escolhidos pelos eleitos aos
eleitores.
Se nos aproximássemos desse
objetivo podia ser que o que vou escrever chegasse ao seu conhecimento… e
talvez então não fosse preciso termos pessoas tão qualificadas como o senhor
ministro em lugares tão decisivos como aquele que ocupa.
Pessoas normais, com o
espírito de servidor público, fariam os orçamentos de acordo com as leis e o
interesse publico, em debate franco e aberto com todas as sensibilidades de
cidadãos e cidadãs.
Mas serão utopias.
Os poucos cuja paciência
lêem este blogue sabem que desde o proncípio este blogue não acreditou na sua
competência.
Pessoa que viveu nas paredes
do seu gabinete do Banco de Portugal, do
núcleo dos investigadores do BCE e do grupo de consultores da Comissão Europeia
muito provavelmente teria dificuldade em compreender a vida quotidiana de quem
trabalha, ou de quem não pode trabalhar, em funções pouco cotadas entre os
frequentadores desses gabinetes.
E das suas primeiras
palavras depois de tomar posse só se convenceu este blogue de que vinha para
iluminar o nosso caminho, e não aprender com quem tem de trabalhar para sobreviver.
Veio depois aquela
informação de que tinha sido o senhor, então jovem economista fervilhando das
ideia de Hayeck e Friedman, a fornecer os dados errados a Braga de Macedo para
dizer aquela tirada antológica na história dos disparates dos ministros das
finanças, que Portugal era um “oásis”.
A fé extrema e a insistência
sucessva nas medidas de austeridade, partilhadas com o seu primeiro ministro,
sem olhar ao efeito desmultiplicador no PIB com a subsequente recessão, a
convicção de que cumpre uma missão tanto mais firme quanto mais contestada, que
inclui uma mudança de regime político, o
hábito continuado, desde Braga de Macedo, de fazer orçamentos otimistas de
rápida necessidade de retificativos, a reação típica de menino contrariado que
faz ainda pior depois de ver reprovada a sua proposta, levou este blogue a um
diagnóstico de hipomania que mereceria análise rigorosa, apoiada em
especialistas de Psicologia, por parte de outros órgãos de soberania se as
instituições funcionassem regularmente e entregasse a outros a espinhosa
incumbência de reformular o orçamento de Estado.
No momento em que escrevo, não parece que o
Conselho de Estado se pronuncie sobre medidas alternativas ao orçamento que o
senhor propôs e o seu primeiro ministro quer ver compensado com medidas
provavelmente mais gravosas do que as
reprovadas pelo Tribunal Constitucional.
Também não me parece que
algum orgão de soberania consiga fazer valer uma solução normal em democracia ,
como seja a de, após a verificação de que a politica de um governo está a
falhar, e que continua a falahar aplicando a mesma receita ser chamado o
partido mais votado para indicar um nme para substituir o primeiro ministro. E
caso o partido mais votado não cumpra, ser chamado o segundo mais votado e por
aí fora até haver um acordo mais ou menos geral. No nosso caso, como já dito
neste blogue, agora que o senhor ex-ministro Relvas já saiu, bastava saírem o
senhor primeiro ministro e o senhor ministro. Apesar de outros ministros serem
perniciosos para o interesse público, como o senhor ministro da asfixia dos
Estaleiros de Viana, mudar de governo assim de repente, tal como mudar de
direção de uma empresa em período crítico, é prejudicial. Mas a saída do senhor
ministro e do seu primeiro ministro é, do ponto de vista de gestão, uma
necessidade para o aumento da competitividade e da eficiência da empresa
Estado.
Senhor ministro: há 21 meses
que tudo se faz como o governo quer, que até as greves de estivadores e dos
transportes se esbatem, que são aplicadas as medidas restritivas e
recessionárias que o governo quer, que são suspensas obras públicas só porque o
governo quer, que se vendem bens públicos porque o governo de braço dado com os
neoliberais de Bruxelas querem, que se asfixiam empresas com capacidade produtiva
dos estaleiros de Viana do Castelo e se ameaçam as empresas de transportes com
as consequências do falhanço do plano estratégico porque o governo não quer ou
não sabe ver mais longe do que os consultores a que servilmente apela.
Mas senhor ministro, este
blogue não quer ralhar consigo por querer e não querer o exposto.
Como disse, viver em
gabinetes e crer firmemente na cartilha de Hayeck e Friedman de reduzir o “peso
do Estado” torna muito difícil ver outras saídas.
Por exemplo, aumentar o PIB.
Se aumentasse o PIB,
coeteris paribus, mantendo as outras coisas constantes, a percentagem que o
senhor considera a máxima admissível para as despesas do Estado corresponderia
a um valor absoluto maior, sem necessidade de cortar mais na Saúde, na
Educação, na Segurança Social e nas empresas públicas, não era?
Então porque não aumenta o
PIB?
Porque quer manter os custos
baixos, como manda a cartilha neoliberal de Bruxelas através de um desemprego
elevado, e porque tem dificuldade em aceitar a importância das obras, do
trabalho na industria, na agricultura, no mar, em investimentos privados ou
públicos.
Não, não estou a invocar a
santa concorrência, também sou agnóstico neste campo, estou a invocar a
necessidade de estudos caso a caso e da reindustrialização, coisa com que o seu
colega da Economia concorda, apesar das dificuldades que lhe são próprias nesta
área, considerando a sua qualidade de académico pouco experiente nas frentes de
trabalho nas empresas (o senhor ministro está atento à próxima cimeira ibérica,
está? ao que os investimentos em transportes com Espanha podem beneficiar o
país?).
Mas enfim, vamos admitir que
o senhor ministro é o CFO da empresa
Estado que já vendeu ativos, que já absorveu produtos tóxicos, que vê as suas
receitas inferiores às suas despesas, e que já não sabe o que fazer depois da
reprovação dos cortes pelo Tribunal Constitucional.
Já neste blogue se sugeriu a
aceleração da taxa Tobin, em que o senhor prometeu um dias destes pensar, assim
como o seu colega espanhol diz para o dia de San Jamás.
Já se sugeriu a aplicação de
uma pequena taxa sobre as transações do Multibanco sem repercussão no cliente
que já paga contribuições privadas para manutenção da conta, a retoma do uso do
cheque , até a emissão de vales locais,
ao estilo da experiencia de Worgl nos anos 30 da grande depressão na Áustria, o
emendar de mão da suspensão de:
1 - o
tunel do Marão
2 - a fábrica de paineis solares fotovoltaicos de Abrantes
3 - o turismo do Alqueva
4 - a exploração das minas de ferro de Torre de Moncorvo
5 - a fábrica de baterias da Nissan em Aveiro
6 - motores e chapa para os asfalteiros venezuelanos
7 - a fábrica de eólicas da Enercon em Viana do Castelo ,
2 - a fábrica de paineis solares fotovoltaicos de Abrantes
3 - o turismo do Alqueva
4 - a exploração das minas de ferro de Torre de Moncorvo
5 - a fábrica de baterias da Nissan em Aveiro
6 - motores e chapa para os asfalteiros venezuelanos
7 - a fábrica de eólicas da Enercon em Viana do Castelo ,
a luta contra com os off-shores e o sigilo bancário (até o
senhor Schauble concorda com a restrição do sigilo bancário), o estudo da
história da economia portuguesa e das medidas que os seu antecesores souberam
tomar sem castigar ainda mais a população.
Também sugeriu a negociação com a Comissão Europeia de um
plano de investimentos em infraestruturas o
mais próximo possível dos 100%,
para anular o argumento do “não há dinheiro e ninguém nos empresta”, ainda que
tivesse o governo de voltar atrás e retomasse o projeto das linhas de TGV para
Madrid (sim, o projeto já previa serviço de mercadorias, e do lado de Espanha
já se avanço; concentremo-nos em chegar de Lisboa e de Sines a Badajoz) e da
terceira travessia do Tejo (para uma ligação ferroviária suburbana sem
perturbar o tráfego de longa distancia; não é o traçado ideal, como também já
se discutiu neste blogue, mas nem este nem ninguém é detentor da melhor
solução, e tem a vantagem de estar pronto, o projeto) , mas académicos de
gabinete têm dificuldade em aceitar argumentos como o de que 14 aviões de ida e
volta a Madrid por dia são um desperdício de combustíveis fósseis quando
comparados com uma ligação ferroviária de 3 horas (e contudo, é um problema ao
nível da Física do 9ºano e, no que toca às alterações climáticas com origem na
atividade humana, do domínio das Ciências da Natureza).
Sugeri também, em Julho de 2012, embora devesse ter dirigido
a sugestão ao seu colega Álvaro:
1 - financie o metropolitano de Lisboa para
fazer o projeto para o metro de Argel (estudando a extensão do trabalho ao
metro de Luanda, Benfica-Cacuaco e Viana-Baixa)
2 - financie uma central solar de concentração de raios solares e sais fundidos no Alentejo
3 - financie uma linha de tensão contínua de muito alta tensão para a França e Alemanha (coisa parecida com a bibitola de Sines para a França-Alemanha).
Se quiser também fazer resorts para chineses, também pode. Quando vou a Macau gosto muito de falar com eles. São pessoas sérias (favor não passe pela cabeça dos empresários enganá-los)
2 - financie uma central solar de concentração de raios solares e sais fundidos no Alentejo
3 - financie uma linha de tensão contínua de muito alta tensão para a França e Alemanha (coisa parecida com a bibitola de Sines para a França-Alemanha).
Se quiser também fazer resorts para chineses, também pode. Quando vou a Macau gosto muito de falar com eles. São pessoas sérias (favor não passe pela cabeça dos empresários enganá-los)
Custa-me
portanto ouvir senhores economistas e comentadores repisar a cassete de que ninguém
propõe alternativas (o senhor ministro já deve ter ouvido falar no congresso
das alternativas e na sua propsota de redução de 2% dos juros para obter 4 mil
milhões de euros!!!, e na IAC, iniciativa cidadã para a auditoria das dívidas,
para se saber bem onde atuar; considere também alguns manifestos que circulam
com propostas concretas e até o think tank para o crescimento sustentado uma
visão pós troika, de Moreira da Silva, tão perto de si).
Mas
admitamos que um muro mais forte do que o de Berlim nos separa e impede que aquelas
e as minhas sugestões encontrem recetividade da parte do senhor ministro ou,
para usar um termo de engenharia de comunicações, que o senhor ministro não tem
sensibilidade para receber a minha mensagem (ou a minha mensagem é ruído para
os seus circuitos de receção).
Então
eu tenho uma coisa para lhe propor.
É
que, senhor ministro, o senhor ministro não sabe, mas o senhor ministro é meu
inquilino.
Ou
dizendo de outra maneira, eu sou seu senhorio, e atendendo à situação de debilidade
económica e financeira em que o senhor se encontra como inquilino, vou
fazer-lhe uma proposta contemporizadora.
Bom,
se tem dúvidas se é ou não meu inquilino eu esclareço.
Acontece
que há uns anos, meu irmão e eu temos por herança uma casa em Coimbra que tinha
sido arrendada à Fazenda Nacional, que era como se chamavam as Finanças nos
anos 60 do século passado.
O
prédio tinha sido mandado construir pelo nosso avô, poucos anos depois da
bancarrota de 1892 (talvez daí a minha sugestão de que o senhor ministro passe
os olhos pela história económica portuguesa, porque a bancarrota de 1892 não
paralisou a economia, aliás foi declarada exatamente para não paralisar a
economia, como se pode ver pelos exemplos da construção da central
termoelétrica do Tejo, do complexo industrial da CUF, da concessão da Carris,
da aquisição do primeiro submarino português, o Espadarte…) e durante um tempo
as Finanças de Coimbra lá funcionaram, num acordo tácito de rendas baixas mas manutenção pelo inquilino.
Deu-se
o caso que sem nenhum aviso as Finanças foram para um prédio novo e no nosso
prédio apareceu instalada a direção regional das florestas do centro.
Não
gostámos porque nos termos da lei era uma alteração aos fins do contrato.
Porém,
um despacho do Tribunal da Relação de Coimbra, com informação de que não
admitia recurso, informou que tudo era Estado, Fazenda Nacional ou Direção
Regional de Florestas.
Por
isso digo que, sendo tudo Estado, o senhor ministro, como representante do
ministério das Finanças, Estado é, e meu inquilino também.
Esclarecido
este ponto, vamos à minha oferta:
A
renda continua barata: 220 euros por mês.
Se
aplicarmos o critério de 15 rendas anuais, temos que o valor patrimonial seria
(ver a lei do arrendamento da sua colega doutora Assunção Cristas) de 39.600
euros.
Mas
não, a douta comissão que avaliou o prédio determinou o valor patrimonial de
278.800 euros.
O
que, para 15 rendas anuais, daria para renda mensal o valor de 1548 euros.
Ora,
eu compreendo que o senhor inquilino está com dificuldades em equilibrar o seu
orçamento.
Perdoe-me
a expressão “seu orçamento”, quando poderia invocar que é o orçamento de todos
nós.
Será,
mas o governo de que faz parte, senhor ministro, foi eleito por 29,7% dos
eleitores inscritos (claro que tinha legitimidade para governar, que os outros
ainda tiveram menos) numas eleições em que os votantes foram 58,5% dos
eleitores inscritos.
E
note ainda, senhor ministro, que o senhor presidente da República que avalizou
a sua presença no governo depois da reprovação do seu orçamento pelo Tribunal
Constitucional foi eleito por 23,2% de eleitores inscritos, numas eleições em
que os votantes foram 46,6% dos eleitores inscritos.
Quando
tão poucos querem resolver as questões de tantos, quando tão poucos se acham
messianicamente incumbidos de uma missão redentora, algo deve mudar nas regras
eleitorais, e não é no sentido do reforço de uma só sensibilidade que deve
mudar, mas antes no sentido do alargamento da participação, da inclusão.
Mas
voltemos às dificuldades do senhor enquanto inquilino.
1548
euros por mês é muito dinheiro e o senhor não pode pagar, por mais falta que me
faça uma renda para ajudar a pagar o IMI (a propósito, estamos no fim do
primeiro terço de abril e ainda não recebi o aviso de pagamento da AT,
autoridade tributária).
Vamos
então manter os 220 euros.
Admitamos
que os gastos de manutenção que o senhor inquilino tem tido e que me
competiriam são outro tanto.
Perdoo-lhe
portanto 1548 – (2x 220) = 1108 euros por mês
Não
precisa de me dar certificados de aforro em troca, nem bilhetes de tesouro.
Ficamos
assim, até o PIB começar a crescer e a fazer reflorir o povo deste país.
Só
ponho uma condição, sem o que serei rigoroso no cumprimento da lei das 15
rendas anuais.
Não
toque com as suas mãos sem calos no SNS, na Educação dos meus netos, na
Segurança Social de quem tem calos nas mãos e nas empresas públicas que prestam
serviço público.
Agradecido.
PS em 10 de abril - Ai a reação de adolescente contrariado do senhor ministro a exigir visto nas autorizações de requisições de papel higiénico. Enquanto passa na internet a intervenção de Paulo Morais sobre as rendas excessivas das PPP (é verdade que há um coeficiente reduzido para aplicação de multas por aumento da sinistralidade na auto estrada, e um coeficiente elevado se for bonus por diminuição da sinistralidade?) mas que beneficiam as familias Mota, Melo e Espirito Santo, e os seus funcionários superiores ex ministros Ferreira do Amaral, Valente de Oliveira e Jorge Coelho, e a má disposição de alguns deputados da comissão parlamentar de inquérito às PPP contra Paulo Morais...
PS em 13 de abril - Manda o respeito pela verdade, depois do esclarecimento da Direção Geral do Orçamento, deixar registado que o senhor ministro das Finanças só precisa de autorizar as requisições de papel higiénico que não tivessem sido previstas anteriormente e devidamente inscritas no orçamento de cada ministério.
PS em 10 de abril - Ai a reação de adolescente contrariado do senhor ministro a exigir visto nas autorizações de requisições de papel higiénico. Enquanto passa na internet a intervenção de Paulo Morais sobre as rendas excessivas das PPP (é verdade que há um coeficiente reduzido para aplicação de multas por aumento da sinistralidade na auto estrada, e um coeficiente elevado se for bonus por diminuição da sinistralidade?) mas que beneficiam as familias Mota, Melo e Espirito Santo, e os seus funcionários superiores ex ministros Ferreira do Amaral, Valente de Oliveira e Jorge Coelho, e a má disposição de alguns deputados da comissão parlamentar de inquérito às PPP contra Paulo Morais...
PS em 13 de abril - Manda o respeito pela verdade, depois do esclarecimento da Direção Geral do Orçamento, deixar registado que o senhor ministro das Finanças só precisa de autorizar as requisições de papel higiénico que não tivessem sido previstas anteriormente e devidamente inscritas no orçamento de cada ministério.
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