Retirado do opúsculo comemorativo do 3ºaniversário da Casa da Achada/Centro Mário Dionísio, em 29 de setembro de 2012, um poema de Jose Angel Valente, poeta espanhol já falecido:
Atravesso um deserto e a sua secreta
desolação sem nome.
O coração
tem a secura da pedra
e os estalidos noturnos
da sua matéria ou do seu nada.
Há porém uma remota luz
e sei que não estou só;
ainda que depois de tanto e tanto não haja
nem um só pensamento
capaz contra a morte,
não estou só.
Toco por fim esta mão que partilha a minha vida
e nela me confirmo
e palpo quanto amo,
levanto-o ao céu
e mesmo sendo cinza proclamo: cinza.
Mesmo sendo cinza tudo quanto tenho,
tenho tudo quanto me foi oferecido como esperança.
A Casa da Achada é uma associação cultural aberta ao debate, partindo do espólio de Mário Dionísio e tendo-o como patrono. A sua ação neste momento é a de oposição à barbárie que a pretexto da crise pretende ignorar a Cultura.
Gostaria de salientar no poema a referencia à remota luz e a não se estar só nesta oposição à barbárie dos nibelungos que nos governam.
E a referencia à dependencia da cinza, destino fatal que a mecânica quantica descreve: o elemento dominante na Natureza é o carbono, quase tudo gira à volta da necessidade de converter a energia latente desse carbono em atividade util (até a Cultura é uma atividade útil, porque não querem perceber isso os nibelungos que nos governam?).
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