A feira popular de Lisboa foi desmanchada no meio de imoralidade denunciada por um partido político mas não impedida pelos orgãos da camara municipal de Lisboa. A imoralidade consistiu, numa permuta, em desvalorizar o preço dos terrenos pertença da câmara, valorizando o preço dos terrenos pertença da sociedade investidora. Como é difícil que todas as situações estejam previstas na lei , como o preço dos terrenos não é fixado por lei (não estou a dizer que devia ser sempre e em qualquer lugar), como a acessibilidade aos negócios imobiliários sofre de crises de assimetria, a feira foi desmanchada há anos sem que tenha sido reinstalada em local apropriado nem publicamente esclarecida a imoralidade. Foi divertido ouvir, durante a fase de comercialização de alguns empreendimentos na Alta de Lisboa, que não se devia encarar a hipótese de localizar lá a feira popular porque desvalorizava os apartamentos. Enfim, pormenores dos mercados imobiliários. Lançaram-se outras hipóteses, naquele clima de disponibilidade e de iniciativa que os vencedores das eleições para as câmaras gostam de exibir aos jornalistas, mas a capacidade de emperrar as soluções que nos carateriza predominou.
E então, como dizia José Régio na toada de Portalegre, os profissionais das feiras populares conseguiram que neste período do solstício de Inverno os autorizassem a montar os seus divertimentos nos terrenos da antiga feira popular, em Entrecampos.
Mas as crianças pedem agora aos pais para irem aos grandes centros comerciais e entretêm-se mais com as consolas e os jogos de PSPs e de Wiis.
Por isso vi pouco movimento, numa tarde de sábado que não estava fria nem chuvosa.
Tive pena, porque muitas crianças não vão ter depois a memória de se divertirem na feira popular aonde os pais as levaram, nem os adolescentes terão a memória de encontros não confessados sob as luzes de neon (agora, por razões de economia energética, de compactas fluorescentes ou mesmo de leds).
Tive pena, por ver o entusiasmo dos feirantes e o carinho com que falavam às crianças.
Eu diria que é mesmo um desmanchar de feira, pelo menos em Lisboa, porque espero que os camiões-trator que lá vi estacionados levem os divertimentos em segurança, pelo país fora, para as crianças do meu país.
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