João César das Neves é professor catedrático de economia, autor de um livro de Economia para crianças que me parece ensinar o interesse egoísta de Adam Smith em detrimento da solidariedade, mas pode ser interpretação deficiente minha, e defensor de teorias económicas que não me são simpáticas.
Mas tem o mérito de ser um crítico das políticas económicas praticadas no nosso país desde 1997, como confessa na sua entrevista ao DN de 19 de Dezembro de 2010.
Também é autor da ideia de que, de erro em erro, Portugal tem obtido alguns êxitos (por exemplo, ainda há quem vá trabalhando e conseguindo aumentar as exportações).
O que me chamou a atenção na entrevista foi a afirmação de que no momento presente os “lobbies ” da construção estão condicionando fortemente o governo e os políticos e não estão nada interessados na intervenção do FMI, que previsivelmente lhes retiraria poder económico.
Quem concordar com a intervenção do FMI arrisca-se a ser taxado (para além das taxas dos PEC) de anti-patriota.
Mas…correndo outro risco, o de ter interpretado mal a leitura do que o senhor professor disse, e animado por o senhor professor catedrático de economia ter constatado o que Karl Marx verificou há muitos anos, que o poder económico andava a controlar o poder político, vou tentar um silogismo, começando por outra afirmação de Jerónimo de Sousa, reproduzida no DN da véspera e designada de seguida por 1, excluindo o parentesis:
1 - a quota das remunerações dos trabalhadores das empresas portuguesas é, em média, cerca de 26% dos custos operacionais, sendo que no caso das empresas exportadoras essa quota é de cerca de 15% (sendo que no Metropolitano de Lisboa, escrevo de cor, pelo que peço desculpa, os encargos com o pessoal são da ordem de 40% dos custos operacionais sem encargos financeiros e de 25% incluindo os custos da dívida);
2 – nas despesas operacionais duma empresa, uma quota de 26% é uma pequena contribuição para os custos de produção e comercialização (cuja redução melhora a tal competitividade), pelo que, sempre que é necessário reduzir os custos, deverá ser dada maior atenção aos fatores com maior expressão na contribuição para os custos;
3 – Logo, reduzir a quota das remunerações por abaixamento ou taxação das remunerações ou redução dos quadros de pessoal não são as principais medidas a tomar para reduzir os custos de produção e comercialização, q.e.d
Mas os senhores economistas insistem em cortar nos rendimentos do trabalho (penso que é para poupar os rendimentos do capital e não enervar ainda mais os “mercados”, que são organismos muito sensíveis, com os nervos à flor da pele e com tendência para fugir, nem eles sabem agora para onde, desde que o banco suíço UBS teve uma má experiência com os USA).
Podemos tentar outra perspetiva:
Mantenhamos o objetivo do senhor Tricheur, perdão do senhor Trichet do BCE, de manter a inflação contida e as taxas de juro baixas, o que se consegue, como se sabe da lei de Philips com taxas elevadas de desemprego e despesas públicas também contidas.
Ora, as quotas mais responsáveis pela despesa pública são os encargos com o estado social, enquanto agente operacional dos direitos humanos consagrados na respetiva declaração universal, e aplicáveis principalmente ao setor do trabalho, ativo e pensionistas.
Como é sabido, as receitas dos PEC são principalmente cortar nos rendimentos do trabalho, sem taxar, por exemplo, as transações da bolsa, os depósitos nos “off-shore” ou até mesmo, de forma excecional, os lucros dos bancos e as mais valias em bolsa (não confundir com as propostas taxas sobre as transações).
Logo, o esforço recairá mais sobre o trabalho do que sobre o capital (foi o que disse João Cesar das Neves, não foi? que há corte no subsídio de desemprego e no rendimento social de inserção, mas não há na alimentação das grandes construtoras). Isto é, contribuirá para aumentar a diferença de rendimentos entre as faixas de população com menores e com maiores rendimentos e agravar assim o coeficiente de Gini de desigualdade social.
Perdoarão, mas isso é contra a declaração dos direitos humanos, e eu não quero ser acusado de apoiar a violação desses direitos.
Confesso que gostaria de ver os senhores economistas demonstrar com fórmulas que o que escrevo está errado, ou que os PEC estão a sobrecarregar igualmente o trabalho e o capital.
Mas não consigo ver nenhum senhor economista a divulgar esses cálculos…
Dificuldade de interpretação minha da leitura do que eles dizem, ou de iliteracia minha dos seus cálculos matemáticos.
Será que algum leitor economista poderia facultar-me esses cálculos para publicação neste humilde blogue?
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