quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Wikileaks

Ui!
Já por esse mundo fora circulam ameaças de morte ao senhor do Wikileaks.
Parece que já entrou na clandestinidade.
Agora se entende porque se criticaram tanto os fundamentalistas que condenaram Salman Rushdie ou os mafiosos que ameaçam o escritor que denunciou a Camorra napolitana.
Acusa-se melhor quando se pratica aquilo de que se acusa.
Ou por outras palavras: o código genético dos fundamentalistas ocidentais e do médio oriente é igual.

Dê-se atenção ao que disse Gonzalez: 80% do que a Wikileaks agora  mostra já se sabia pelos jornais , embora não pudessem provar (foi, de facto, o caso dos voos da CIA).
E o que diz Bush é anedótico: devemos processar os autores das fugas de informação (é natural que fale assim, um dos testemunhos revelados é o de um político que diz: Bush revela uma grande dificuldade em raciocinar)
Mas a reação de Sarkozy parece-me preocupante: estas revelações são o cúmulo da irresponsabilidade (ou será que ele se refere à substancia e não às fugas? talvez não, talvez ache que as fugas da Wikileaks ameaçam a segurança do mundo ocidental; outra vez as ameaças para quem se portar mal, está visto; certamente que não se referirá à segurança de quem está na guerra num país que não é o desse alguém, porque para garantir a segurança desse alguém era não o mandar para lá, como já se sabe desde o tempo do Hair e da argumentação pró guerra do Vietnam e, se tiver de haver guerra, joga-se melhor em casa do que no campo do adversário, não é também sabido da teoria universal da tática e da estratégia? ou só poderá haver teorias unicas em tática e estratégia?).

Sobre este assunto, sobre a teoria do segredo, há uma coisa muito séria a discutir.
No século XVII, houve um senhor inglês, fundador da academia das ciências britânica, que enviou uma circular aos seus confrades informando que, a partir de então, qualquer coisa que um colega descobrisse ou inventasse, teria de o pôr em comum com a comunidade. Passe a redundancia, que não é redundancia, é uma origem lexicográfica comum e é uma estratégia.
Como a história demonstrou, é uma estratégia de desenvolvimento civilizacional e cultural.
É esta atitude que está na base do desenvolvimento tecnológico e, consequentemente, do bem estar e da cultura ocidental.
Isto é, o segredo não é a alma do negócio.
Não  devem os senhores políticos ocidentais virem agora contrariar a mola real do desenvolvimento do mundo ocidental.
O segredo é a arma da desigualdade, do desequilíbrio na acumulação de rendimentos para uns poucos que detêm o segredo em detrimento dos que o não conhecem; é a arma de quem pretende ter mais força do que o outro através da informação. Só que o outro não é o nosso adversário, é o nosso concidadão.

Como já foi dito, a ciência desenvolve-se num sentido e a economia e a política noutro.
Só que depois não venham os economistas e os políticos (e os militares consultores e conselheiros dos chefes de estado dos países poderosos) a queixarem-se de que deram com os burrinhos na água.

Bom seria que a economia e a política se fossem submetendo, mesmo paulatinamente que seja, à disciplina científica que, então agora com a internet, é tudo, menos sigilosa (ah, mas então os direitos de autor e das patentes? não vos citei já o descobridor da vacina contra a poliomielite? "recebo o meu ordenado do laboratório em que trabalho; tudo bem se ele puder ganhar algum dinheiro para desenvolver as investigações, mas por que hei-de eu receber direitos de autor, se tenho o meu ordenado e a minha assistencia social em dia, quando a vacina pertence à humanidade?" atenção que o senhor era norte-americano...).

Que se aprenda ao menos com as experiencias dos sistemas politicos que achavam que restringindo a informação a um grupo dirigente que esse grupo seria capaz de escolher o melhor caminho para a comunidade, e não funcionou.

Feita a experiencia, verificou-se que esse método, por mais correto que seja o sistema que pretende instaurar, tal como diz a Sabedoria das multidões, conduz a soluções deficientes, quer se trate da NASA ao não tomar a decisão certa no primeiro acidente do Challenge, quer se trate dos inquisidores que decidiam a execução, quer se trate do circulo restrito dos detentores de um poder económico e de um poder político, quer se trate de uma direção partidária que se isola nos seus segredos relativamente à comunidade.
Porque se o segredo está garantido, então podem cometer-se atentados aos direitos da comunidade porque se fica impune.
A menos que a Wikileaks consiga furar o muro de silencio e haja uma fuga catastrófica para a credibilidade dos campeões.

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