Doi-me a cabeça e o universo, como diz Fernando Pessoa no Livro do Desasossego e na estação do Parque do Metropolitano de Lisboa.
Porque fechou o museu municipal do automóvel em Entrecampos.
Tinha 40 clássicos. Por exemplo , um Mercedes 28/95 (1921), com carroçaria de madeira, um Peugeot 81.B (1906), um Bentley Speed (1924), um Darracq (1901), um Cottin & Desgouttes (1913), o Rover 2000 (1966) de Fernando Pessa.
Havia que demolir o pavilhão onde estavam os automóveis, que foram entregues aos donos, para construir mais betão em Entrecampos.
Não vale a pena argumentar e talvez também não valha a pena sugerir locais em Lisboa, que talvez pudessem atrair turistas. A câmara municipal de Lisboa, através dos seus orgãos eleitos, não está interessada, e até informa candidamente que o museu nunca chegou a ter existencia formal.
Houve uma hipótese de instalar o museu em Sintra. Mas talvez também não valha a pena. Ainda bem que existe o museu municipal de Oeiras, em Paço de Arcos, que funciona em colaboração com o Clube Português de Automóveis Antigos.
Faço dois comentários:
1 - a ocupação de tempos livres com autmóveis antigos não é um exclusivo de cidadãos ricos, embora o mercado respetivo seja altamente discriminatório em termos de preços. A existencia de um museu deste tipo poderia contribuir para facilitar o acesso dos cidadãos comuns a este tipo de lazer, para alem de servir o turismo. Mas os tais orgãos eleitos não interpretarão assim os factos;
2 - o facto de existir um museu em Oeiras, de ter fechado o de Lisboa e de se pensar em deslocá-lo para Sintra, apenas revela mais um aspeto da doença da desertificação de Lisboa e da sua deslocalização para a periferia. É assim que a Baixa vai perdendo gente moradora, gente empregada, serviços. As empresas fogem para a Expo e para os municipios envolventes. Os orgãos eleitos da CML lamentam os factos, mas em casos concretos deixam acontecer. Deixarão fugir para Évora o museu da musica, atualmente na estação de metropolitano de Alto dos Moinhos (será que lamentam?).
É uma pena, viver-se assim numa cidade a desertificar.
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