segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O grito

  Grito pela liberdade
                                                                          Karel Appel





Vou fazer a vontade ao senhor presidente do governo regional da Madeira.
Que gritem, disse ele, que gritem porque eu vou fazer o aterro.
Então eu grito.

Hoje dia 20 de Fevereiro, um cordão humano quis assinalar o aniversário da tragédia das enxurradas e quis tambem manifestar a sua opinião de que quer o aterro retirado.
Este aterro resultou dos aluviões e pedras arrastados para a baía do Funchal e depositados pelas máquinas de limpeza.
Onde? junto da marginal, no interior da baía protegida pelo molhe da Pontinha (molhe sul).
O problema é que o governo regional encomendou um projeto de aproveitamento do aterro e construção de um novo cais para navios de cruzeiros à empresa que costuma fazer-lhe os planos diretores e os projetos de outros portos da ilha (dá-me ideia de que a lei obriga a consurso publico para seleção do projetista, mas que hei-se dizer mais?).
Ninguém questiona a competência técnica dos autores do projeto do novo cais-aterro, fusão das fozes das duas ribeiras numa só e construção de 3 praias com molhes de proteção.
Mas costumam fazer-se, nestes casos, estudos de impacto ambiental com divulgação pública.
E a autorização do inicio das obras só é dada após aprovação pelo ministério ou secretaria do ambiente.
Se não é assim, tenho o direito constitucional de questionar, uma vez que os meus impostos tambem vão para aqui.
Existe risco de as condições de assoreamento se agravarem e limitarem o acesso de navios de cruzeiro de maior calado.
Por outro lado, é grande a probabilidade do projetado cais não estar suficientemente protegido pelo molhe sul da ondulação do sul e do sudoeste, inviabilizando assim  a sua utilização nos dias de maior agitação marítima.
Isto é, o problema e a solução parecem não suficientemente estudado e fundamentada.
É sina no nosso país.
O projeto da terceira travessia do Tejo é um bom projeto, mas os projetistas esqueceram-se de pedir o parecer do Instituto Hidrográfico sobre a cota do tabuleiro e sobre as condições de assoreamento (informação do próprio Instituto, a quem apenas foram pedidas plantas hidrográficas).
E assim aumenta a divergencia entre os métodos corretos, seguidos em países mais evoluidos, e os nossos métodos, mais virados para a inspiração carismática dos chefes, ainda que eles não saibam matemática, física ou engenharia.
Evidentemente que a complexidade deste problema exige a discussão técnica entre várias entidades e especialistas.
Mas não é prática corrente no nosso país.
É pena, gastar-se dinheiro agora para consolidar o aterro e agravar o assoreamento.
É pena, não se conseguir dinheiro para se prolongar o molhe sul, de modo a proteger melhor a bacia (outra hipótese, ainda  mais cara, seria duplicá-lo a sul) de modo a aumentar a sua capacidade de receção de navios de cruzeiro e de carga.

Resta a esperança que o trabalho já realizado por especialistas, incluindo o LNEC e o IST, com as recomendações para reduzir os riscos de novas enxurradas, se concretize, até porque a câmara do Funchal dá indícios de querer aplicar as recomendações, sem gritos.


bacia do Funchal protegida pelo molhe sul/Pontinha



projeto do novo cais-aterro, foz unica e 3 praias

Informação sobre o projeto do porto do Funchal obtida no blogue de Paulo Farinha, pelo qual o felicito:

http://farinha-ferry.blogspot.com/2010/12/funchal-madeira-portugal-today-31.html





a nascente da marina vê-se o aterro-depósito dos detritos da enxurradas que será aumentado para sul com um cais; neste momento já se sentem os efeitos do assoreamento na bacia


           

         vê-se o aterro, limitado a poente pela marina
            e a nascente pelas duas fozes das ribeiras, cujas
           se pretende fundir numa só, aparentemente de
           forma imprudente

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