sábado, 6 de agosto de 2011

O Tribunal de Contas e o tunel do Marquês

O Tribunal de contas merece todo o respeito pelos objetivos que prossegue e pelo trabalho dos seus funcionários.
Este apreço não deve significar, porem, a perda de sentido crítico quando na ansia de apresentar resultados, o Tribunal de Contas revela pouca preparação técnica (do ponto de vista de engenharia) para analisar as circunstancias em que as obras se desenvolveram.
Critica agora o Tribunal de Contas as alterações ao projeto do tunel do Marquês que limitam a sua capacidade de escoamento (pelos vistos o tráfego à superficie não diminuiu conforme previsto) , nomeadamente a interdição de circulação de pesados e a eliminação das saidas para a Artilharia Um e Rua Castilho.
O Tribunal devia ter sabido, antes do inicio da obra, que as normas europeias impedem a circulação de veiculos pesados em tuneis com aquele declive e com aquelas condições. Não é um problema de gabarit reduzido devido aos ventiladores instalados. Aliás, se eles foram instalados e não estavam no projeto original foi porque o projeto original estava incompleto (é  lamentável projetar-se um tunel rodoviário sem ventilação adequada, mas aconteceu; não digo que não tinha ventilação, digo que não a tinha adequada) e teve de ser alterado depois de submetido à consulta publica e ao estudo de impacto ambiental.
Antes da obra começar, já se sabia que não iriam passar veiculos pesados no tunel.
E se não competia ao Tribunal de Contas pronunciar-se na altura, houve cidadãos que escreveram isso na consulta publica e  o que escreveram foi reproduzido pelo ministério do Ambiente.
Com a agravante do referido estudo de impacto ambiental ter obrigado os projetistas a confessar que não estudaram para o dono da obra (preocupado em  apresentar obras de fachada para beneficios eleitorais) qualquer alternativa de traçado (é muito grave não esclarecer um cliente dos erros do seu programa base, e é tambem muito grave, num investimento deste montante, não estudar alternativas, eventualmente mais baratas).
Além disso, houve um erro grave de escala quando se fez o projeto original, o que implicaria a colisão do tunel rodoviário com o tunel pré-existente do metropolitano de Lisboa, pelo que o projeto teve de ser corrigido.
Se a obra, apesar disso, prosseguiu de forma sobranceira (sabe-se como foram insultados os que desde o principio escreveram que era uma barbaridade fazer um tunel com aquele traçado em declive) foi porque o parecer do ministério do Ambiente foi discretamente desprezado (pese embora alguma atenção e cuidados no tratamento estrutural do tunel rodoviário nas imediações do tunel do metropolitano).
É uma pena o Tribunal de Contas não referir isso porque, assim, um caso como este, quando houver dinheiro para investimentos, poderá repetir-se.
Aplaude-se a contribuição do tunel para escoar o tráfego de saida da cidade, mas não pode aprovar-se a sua contribuição para facilitar a entrada de carros na cidade, pelo que deveriam ter-se ponderado soluções alternativas.
A solução rodoviária para evitar o investimento do tunel rodoviário do Marquês teria sido a antecipação da conclusão da CRIL (afastando o tráfego do centro da cidade).
A solução ferroviária teria sido o prolongamento da linha vermelha até Campo de Ourique até um "park and ride" junto das Amoreiras.

Em resumo, aplaudir-se-ia o Tribunal de Contas se melhorasse a componente de engenharia nas análises que faz. No caso concreto do tunel do Marquês, isso permitir-lhe-ia avaliar os erros de conceção do projeto inicial e a má solução que foi ou seria, com ou sem alterações ao projeto, do ponto de vista de traçados e do ponto de vista de componente do sistema de transportes da cidade de Lisboa.

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