sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Semiótica I - o indicador e o polegar

Semiótica - o estudo dos sinais.

Quando Obama discursa e quer convencer os seus ouvintes das virtudes de uma sua proposta, reparem que a mão direita se levanta ligeiramente enquanto o indicador, em movimento contrário, se aproxima do polegar, para depois, repetidamente, apontar lenta e discretamente para baixo.
Será o sinal de que não há unanimidade e que é dificil convencer os adversários politicos.
Talvez inconscientemente os dois dedos unidos signifiquem que se está a pegar numa folha de papel com o decreto da medida proposta, aprovada após árduo esforço de negociação.
Isto é, que se atingiu o objetivo, e os dois dedos como que seguram a caneta com que assinou, ou desejaria ter assinado o decreto.
Ou significa simplesmente que se confundem desejos com realidades.
Ou será o sinal que mostra que a palavra e a argumentação não são suficientes para demonstrar a correção da proposta.
É natural que não.
A mente humana não é apenas razão, e a emoção não admite uma demonstração racional que poderia levar a uma unanimidade indesejada (de facto a unanimidade destroi a capacidade de deteção de erros num raciocinio).
Além de que o cérebro tem dificuldade em interpretar corretamente a realidade porque só apreende pequenas parcelas dela, preenchendo os vazios com o fruto da sua imaginação.
Ou aqueles movimentos repetidos com o indicador encostado ao polegar e a apontar lenta mas assertivamente o caminho a seguir tentarão transmitir a fundamentação da proposta e, de tão repetidos, conseguirem a sua aprovação.
Já repararam como fazem os atores das telenovelas brasileiras quando num diálogo é necessário sair do registo calmo?
Levantam as mãos ao nivel do coração, esticam os indicadores para o alto e agitam-nos em movimentos de aproximação e afastamento.
Sinal claro de que não conseguem só com o jogo fisionómico e o controle vocal transmitir o dramatismo pretendido pelo autor.
Tal como Obama não conseguiu convencer os seus eleitores, no confronto entre a conceção capitalista clássica de um lado, de quem não quer impostos porque quando se é rico foi porque se foi superior e por isso merece-se isenção de imposto e os pobres que paguem a crise, e a conceção assistencial do outro.
Isto é, no, we can't.
Não é possivel, por mais convictamente que se aperte o polegar e o indicador, abalar a fé religiosa e cega no interesse egoista de quem tem exito e de quem não tem exito mas espera que um dia venha a ter exito. No interesse egoista de quem pagou um seguro de saude que lhe dá tratamento preferencial relativamente a quem não o tem.
Não é possivel, numa economia de 10.000 mil milhões de euros de PIB e de valor semelhante de dívida pública,  
haver acordo para aumentar o teto da dívida sem sacrificar a proposta do aumento dos impostos e do serviço de saúde abrangente.
Pena não se dar ouvidos ao financeiro chinês: "os USA estão a pedir dinheiro para pagar dívidas e isso não é bom".
Pena não se analisar a correlação entre o congelamento dos impostos nos USA e a subida da divida nas presidencias de Reagan (no tempo do petróleo abundante e barato) e de Bush.
Pena não se denunciar o impacto das despesas militares na divida publica dos USA, apesar de essas despesas irem ao encontro do interesse egoista do complexo militar-industrial de que Eisenhower falou no seu discurso de despedida.

E já repararam que, quando o primeiro ministro de Portugal, Passos Coelho, começa a falar de um assunto que sabe que vai contrariar os portugueses, aperta o indicador e o polegar e os move insistentemente, com ar professoral?
E que, nalguns registos televisivos que ficaram do professor de Santa Comba, tambem aparecem os dois dedos a impor aos portugueses a verdade que é só deles?

A semiótica é uma disciplina interessante.

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