Há uns anos já, surgiu no Metropolitano, com pedido de parecer, o projeto, que agora é tornado público, de remodelação da rotunda do Marquês de Pombal com uma coroa circular exterior para circulação de autocarros.
Antes de mais, devo dizer que o objetivo de tirar partido do túnel rodoviário e de reduzir a intensidade de tráfego rodoviário na Avenida da Liberdade é inquestionável.
Não quero assim opor-me a esse objetivo, que para mim seria mais bem conseguido, apesar de forma antipática, com as famosas portagens à entrada da cidade.
O tráfego automóvel particular na Avenida da Liberdade ficará reduzido a uma faixa ascendente e a outra faixa descendente, o que será uma medida altamente dissuassora.
Mas não posso deixar de criticar formalmente os seguintes aspetos da proposta da CML:
I – alteração dos sentidos de circulação do tráfego automóvel nas laterais da Avenida da Liberdade – dado que a circulação automóvel em Portugal se faz pela direita, o automatismo que se encontra registado no cérebro dos peões, que iniciam a travessia duma artéria, é esperar que o transito venha da esquerda e é para esse lado que normalmente se vota a cabeça. Quando nos anos 70 do século passado um vereador da CML resolveu trocar os sentidos de grande parte das artérias de Lisboa, o número de atropelamentos subiu de forma intolerável. Corrigida a aberração (assim classificada do ponto de vista do peão, uma vez que do ponto de vista automóvel ela tem vantagens, deixando-se ao critérios dos cidadãos a avaliação do que é mais importante, o peão ou o automóvel) ela mantem-se nas ruas Alves Redol e Viriato, por exemplo, e foi introduzida na lateral norte/poente do ultimo quarteirão da Avenida da Liberdade e na lateral exterior da rotunda do Marquês entre a Rua Bramcamp e a Avenida Fontes Pereira de Melo. Por outro lado, torna-se confuso para quem atravessa a Av.Liberdade a mudança sucessiva do sentido dos 4 conjuntos de vias da travessia.
II – aumento da intensidade de tráfego nas laterais exteriores da rotunda e da Avenida da Liberdade – este aumento dever-se-á fundamentalmente a autocarros, aumentando assim a probabilidade de ocorrência de atropelamentos e as suas consequências (isto é, conduzindo a um risco intolerável) devido à proximidade das saídas dos acessos ao metropolitano e à circulação em “contre sens”(acresce a incomodidade para os utilizadores do elevador de superfície no topo norte/poente da Avenida da Liberdade)
III – aumento dos pontos de colisão do tráfego rodoviário nos pontos de interseção da coroa circular exterior com os percursos de acesso às vias interiores da rotunda – deve no entanto dizer-se que possivelmente estes pontos de colisão equivalerão aos pontos de colisão e de atrito de escoamento nas atuais 5 vias da rotunda por má condução ou conduão agressiva dos automobilistas. Espera-se que na consulta pública seja apresentada a matriz das interferencias dos vários percursos, na situação atual e na situação proposta;
IV – convirá obter a confirmação, da parte do metropolitano, de que não haverá conflito entre as fundações da coroa circular exterior que atravessará o topo da Avenida da Liberdade, com a laje de cobertura da estação de metro.
transito intenso ascendente na Av.Liberade, mesmo fora das horasde ponta |
Observações:
1 – a necessidade de intervenção na rotunda e na Av.Liberdade parece confirmar a pouca eficiência do túnel rodoviário enquanto fator de eliminação de cruzamento de percursos principais ;
2 – a pouca eficiência do túnel rodoviário é também patente pelos elevados riscos para a circulação de autocarros que impedem a sua utilização por estes
3 - no que toca aos pontos de colisão e atrito de escoamento devidos à existência de 5 vias de rodagem na rotunda atual, seria muito interessante tentar a aplicação de medidas de redução de conflitos (embora com tendência para aumentar o tempo de escoamento nalgumas condições de utilização) com adaptação das novas regras do código da estrada, nomeadamente:
3.1 - o tráfego ao longo da via mais exterior da rotunda não seria autorizado a cruzar uma via de entrada (isto é, só poderia utilizar a via mais exterior quem saisse na próxima saída da rotunda)
3.2 - seriam probidas as ultrapassagens no interior da rotunda, entendendo-se como ultrapassagem a mudança de maior para menor coordenada angular de um veículo relativamente aos veículos nas vias adjacentes, segundo o sentido do movimento dos ponteiros do relógio; isto é, a velocidade angular de qualquer veículo seria sempre igual ou inferior à de um veículo que circulasse com uma coordenada angular menor nas vias adjacentes
3.3 - analogamente às regras náuticas, teria prioridade o veículo que circulando numa via interior e pretendendo mudar de via, já tivesse pisado a marca de limite das vias, uma vez que seria válida a proibição em 3.2
4 – a atual intensidade de tráfego automóvel particular na Avenida da Liberdade indicia as carencias de ligações rodoviárias fáceis na circular da Av.Berna (Alcântara-Av.Ceuta-Av.Berna-Olaias-PçPaiva Couceiro-Santos o Novo) e a inexistência da nunca realizada, dados os seus elevados custos, circular Santa Apolónia- cruzamento da Av.Liberdade imediatamente a norte dos Restauradores-Av.24 de Julho; estes factos sugerem as possíveis adaptações das vias existentes às funcionalidades daquelas circulares, o que exige um plano de reurbanização
5 – é desejável reduzir o número de carreiras de autocarro que circulam neste momento na zona e que coincidem com linhas de metropolitano
Conclusões:
Considera-se gravoso alterar os sentidos de circulação normais nas laterais da Av.Liberdade e a criação da coroa exterior da rotunda por provavelmente induzir aumento do número de atropelamentos
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