sexta-feira, 11 de maio de 2012

Voltando à poesia de Sofia de Melo Breyner - os Gracos

Voltando à poesia de Sofia de Melo Breyner, graças ás maravilhas da internet e do google, transcrevo uma fala da peça os Gracos, enquanto oiço do youtube a cena de Frigia e Spartacus

:


Os ricos nunca perdem a jogada

Nunca fazem um erro. Espiam
E esperam os erros dos outros
Administram os erros dos outros
São hábeis e sábios
Têm uma larga experiência do poder
E quando não podem usar a própria força
Usam a fraqueza dos outros
Apostam na fraqueza dos outros
E ganham
Tecem uma grande rede de estratagemas
Uma grande armadilha invisível
E devagar desviam o inimigo para o seu terreno
Para o sacrificar como um toiro na arena.

                                    Sofia de Melo Breyner

                     Os Gracos. I Acto. II Cena – Obras completas - 1968


Os Gracos foram tribunos da plebe na Roma do século II AC. Promoveram leis de reforma agrária e de promoção da plebe que os consules patricios anularam depois. Spartacus conduziu a sua revolta contra a escravatura já no século I AC.
É possivel que Sofia de Melo Breyner tenha visto o filme de 1960 com Kirk Douglas e se tenha lembrado de ir buscar o episódio dos Gracos.
Dum e doutro lado da cortina de ferro, como dizia Churchill, a humanidade produziu duas obras primas pela forma e pela mensagem.
Donde, não parece ser boa prática extremar as posições e pô-las a competir.
Embora ao longo da história se tenha assistido a esta luta entre quem quer generalizar os benefícios e quem os quer reservar a uns poucos.
Não se pretende diabolizar os ricos, embora a disseminação do video sobre os donos de Portugal possa ser interpretado por alguns como isso.
http://vimeo.com/40658606

Nem persegui-los.
Apenas se desejaria que eles se democratizassem, isto é, que as suas famílias não se fechassem tanto, não fossem tão ciosas dos oligopólios.
A humanidade também já conquistou a ideia da não violencia, de Gandhi, e a declaração universal dos direitos humanos (direito ao trabalho, vem lá).
O que já é suficiente, sem necessitar de argumentar com os custos da confrontação,  para nos deixarmos de propor a supremacia de uma ideia sobre outra.
Como diz José Matoso, é da diversidade que vem a regeneração, não do consenso que é mais uma forma de opressão de um pelo outro.
Devia ser o critério a seguir na formação dos governos, a participação alargada a todas as sensibilidades.
Mas como no tempo dos Gracos, há sempre alguém que não quer alargar a participação na res publica.
Pena.

Sem comentários:

Enviar um comentário