domingo, 6 de maio de 2012
Crítica de cinema - Imigração clandestina, "Welcome", "Il villagio di cartone"
Com a devida vénia à RTP2, que passou estes dois filmes, sobre a temática dos imigrantes, nas suas sessões de sábado à noite.
Os filmes passaram despercebidos na programação dos cinemas portugueses, e eu corro o risco de ser acusado de desprezar os cidadãos e cidadãs que preferem a programação que enche os cinemas dos grandes centros comerciais, com fantasias que não consigo classificar de outra forma que não seja de alienação (alheamento, diversão, distanciamento) da realidade e de afastamento da discussão e do debate alargados que deviam caraterizar a vida democrática.
Nesta perspetiva, a televisão pública cumpre a sua função de serviço público, mas deveria repetir as sessões de modo a tentar “apanhar” mais espetadores.
De notar que a cinemateca nacional também os passou.
1 – Welcome, de Philippe Lioret
A cultura curda continua a sofrer atualmente com a situação política.
Os curdos estão dispersos por território turco e iraquiano (semelhantemente aos bascos repartidos entre França e Espanha), separados por uma fronteira definida pelos ocupantes que derrotaram o império otomano na primeira guerra mundial, mas com pouca consideração pelos povos que habitavam o território.
Existem grupos armados de curdos que combatem as tropas turcas.
Não concordo com Tomás de Aquino, doutor da igreja católica, quando escreveu que é legítima a luta armada contra um ocupante.
Mas também não concordo com a recusa de negociações da Turquia e da UE com esses grupos.
Depois do exemplo de Gandhi sabe-se que a não violência pode ser mais forte do que os exércitos.
A UE deveria servir de mediadora do conflito propondo um grau de autonomia ou de federação dos curdos.
Infelizmente não parece que os senhores ministros dos estrangeiros da UE estejam de acordo comigo.
E arrumam simplesmente os grupos armados curdos na gaveta dos terroristas internacionais.
Entretanto, os curdos imigram e refugiam-se noutros países.
Com a resistência ativa das autoridades e o apoio dos cidadãos e cidadãs bem postos e desejosos de manter a sua tranquilidade burguesa, como se dizia antigamente.
http://www.youtube.com/watch?v=NkMpxvhzCVs
Por isso surgem filmes assim, como Welcome, que conta a história de uma tentativa de travessia a nado do canal da Mancha por um refugiado curdo-iraquiano, falhada no último momento.
O filme mostra que há cidadãos e cidadãs europeus que pensam de outra maneira que não seja a expulsão, e foi feito com sensibilidade.
É uma pena não ser “comercial”, como se dizia antigamente e se continua a dizer.
Por mim, como cidadão europeu, voto pela integração da Turquia na UE e pela autonomia dos curdos.
Interessante ver a descrição do filme e de medidas de proteção aos imigrantes num site oficial do governo em 2009; apesar da política oficial repressiva e nada integradora da imigração, ainda há quem tenha outras ideias nas instancias europeias:
http://www.acidi.gov.pt/_cf/28522
2 – Il villagio di cartone (a aldeia de cartão) de Ermmano Olmi
Este blogue descreve melhor do que eu o filme:
http://temposinteressantes.blogspot.pt/2012/04/filme-aldeia-de-cartao-de-ermanno-olmi.html
http://www.mymovies.it/film/2011/ilvillaggiodicartone/
http://anotacoescinefilo.com/2011/11/11/il-villagio-di-cartone-ermanno-olmi/
Trata-se também da imigração clandestina, agora que se morre a tentar atravessar do norte de África para Itália como náufragos da Medusa (ver http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=medusa ).
Nada se pretende demonstrar, a não ser que os governos, do G3, do G7, do G8, do G20, do G qualquer coisa, deviam ser menos exigentes no cumprimento da lei repressiva da imigração, e mais exigentes no cumprimento dos artigos da declaração universal dos direitos humanos que falam de igualdade e do direito ao emprego.
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