domingo, 13 de maio de 2012

No reservations - culinária interveniente

A senhora diretora do Magazine semanal do DN ficou desolada com o programa de culinária No Reservations, de Anthony Bourdain, que o canal Travel dissemina pelo planeta.

A senhora diretora costuma encher as páginas do magazine com exemplos de heróicos portugueses e portuguesas que espalham o seu talento pelo país e pelo estrangeiro.

Vidas de sucesso e de coragem a seguir, para combater a crise.

Eu, que como pessoa mediana acho que as pessoas normais é que devem resolver a crise, funcionando como pessoas normais, sem heróis nem lideres superiores, pensei dedicar-lhe um comentário sobre a ópera Albert Herring, de Benjamin Britten, outro que não acreditava em heróis condutores de homens:
http://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Herring


Como costumo dizer, a ópera é um fenómeno subversivo, e esta goza com a ideia da eleição de um modelo que sirva de exemplo à comunidade, no caso a rainha de Maio.

Como nenhuma das candidatas podia classificar-se como irreprensível, do ponto de vista da moralidade vigente, foi eleito o rei de Maio, Albert Herring, filho bem comportadinho da dona da mercearia da terra, dedicado ao trabalho e livre de tabaco e álcool.

Mas na festa da coroação alguém lhe misturou aguardente na limonada e as coisas acabaram por ser pouco exemplares.

Talvez Bourdain, na sua visita a Lisboa, tenha posto aguardente na limonada. A senhora diretora do Magazine não gostou de ver as ruas decrépitas de Lisboa e o desanimo dos portugueses perante a crise, desde António Lobo Antunes a José Quintela. Que, no entanto, vão discorrendo de forma bizantina sobre o carater do povo português.

Ficou escandalizada. Talvez tenha sido mais um caso de dissonância cognitiva (discrepância entre aquilo em que se acredita ou o que se pensa ou sente sobre uma coisa e o que, de repente, se vê como sendo realidade).

Pena a senhora nunca ter tido uma palavra de crítica contra os iluminados gestores que foram desertificando Lisboa através da deslocação de serviços para a periferia.

Nem nas páginas da sua revista criticou a importação de alimentos e de acessórios de moda feminina.

Ao menos podia aplicar a sua teoria de admiração dos bons exemplos a Carla, a senhora pescadora de Lisboa que apanha polvos, robalos e marisco que não precisam de vir da Tailandia e do Vietname. Mas a personagem não tinha carisma.   Alem de que é uma vergonha não denunciar a politica vergonhosa contra os pescadores de Lisboa (não houve sucedâneo para a doca de Pedrouços).

Por mim, embora não seja apreciador de programas de culinária, acho que devia pegar-se no tema e fazerem-se uns programas com uns cálculos, sobre o que há a fazer em Lisboa e as necessidades de emprego para isso.
http://www.travelchannel.com/tv-shows/anthony-bourdain/photos/no-reservations-lisbon-pictureshttp://www.travelchannel.com/tv-shows/anthony-bourdain/photos/no-reservations-lisbon-pictures

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