terça-feira, 29 de maio de 2012

O elogio da ignorancia





Como diziam os italianos, si non e vero e ben trovato.
Este blogue permite-se uma pequena reflexão, admitindo até que o vídeo foi fabricado, tão primitivo é o comportamento da senhora chanceler que tem de se duvidar, para caricaturar uma verdade: que os decisores deixam os pormenores incómodos da realidade para os técnicos, enquanto flutuam no seu mundo independente desses pormenores.
Mesmo que o vídeo seja falso, esta divergência entre a realidade e o mundo como os políticos querem que seja é uma triste verdade.
E é uma ilustração perfeita do poder da ignorância.
A ignorância não só é atrevida como é poderosa, submete a razão e o conhecimento à falsidade do mundo construído artificialmente em reuniões de políticos.

Duvido que um bom humorista conseguisse criar um diálogo assim:
Merkel - Berlim deverá estar aqui, não? (apontando para a região de Moscovo)
Professora – Aqui (apontando para Berlim)
Merkel – Aqui (apontando para Berlim) ou aqui ?(apontando para Moscovo)
Professora – Aí é Rússia
Merkel – O quê? Rússia? Tão perto?

A mesma dificuldade interpretativa de um mapa, da sua escala, das posições relativas das cidades, da topologia das ligações entre elas, fica patente nas declarações do senhor primeiro ministro português e do seu ministro da economia e transportes quando traçam as linhas ferroviárias de alta prestação (é preciso ser ignorante em técnica ferroviária para criar este neologismo ferroviário) de Sines a Irun e de Aveiro a Salamanca (não discuto a sua necessidade, só afirmo que não sabem do que falam). Já se avançou no projeto em articulação com os projetistas espanhóis? E mais dentro das fronteiras portuguesas, já se deu andamento às promessas do caminho de ferro para Viseu e para a Lousã que o senhor ministro da economia e transportes fez às populações? E não temos outro exemplo de ignorancia quando se faz aquele ar chocado depois de cortar nos investimentos, nas empresas e nos salários  e com  voz pausada se diz que não se estava à espera de um desemprego tão elevado?

Voltemos à caricatura da senhora chanceler por ela própria ou por pelo manipulador de sons e imagens.

Coloquemos a hipótese do subconsciente trair o politico, como o cronista supôs, que as palavras traiçoeiras estão sempre à espera de uma oportunidade para tramar o politico incauto. Moscovo é algo que está muito longe na cabeça da senhora, mas confrontada com a realidade está demasiado perto.
Porquê? Pela mesma razão que os cavaleiros teutónicos medievais achavam que Moscovo estava tão perto que deviam conquistá-lo (vá lá, vão à cinemateca ver o Alexandre Nevsky ou o Ivan o Terrivel, de Eisenstein, com a grande musica de Prokofief), que o grande prussiano Frederico achava que a Polónia era a Alemanha de Leste, porque as populosas tribos alemãs não cabem no território pequenino que dá pelo nome de Alemanha. Coisa amplamente explicada pelo cabo Adolfo.

Como dizia Eisenhower, que era tudo menos um perigoso esquerdista, perante os resultados da obra de alemães assim, tenho vergonha dos meus antepassados serem alemães.

Mas talvez tenha sido apenas uma caricatura, aproveitaram alguém parecido com a senhora ou puseram outras palavras nas suas imagens.
Que pensariam as pessoas se fosse verdade, que os seus assuntos são resolvidos por ignorantes?
Talvez o que a senhora queira fazer à Grécia não seja o que nós estamos a pensar, nem a proposta das zonas económicas seja uma forma de protetorado económico ou de colonialismo.

Talvez não passe tudo de uma ilusão, que as grandes decisões económicas e financeiras da Europa são tomadas por ignorantes.

Resta a esperança de que as eleições na Renânia Norte, que deixaram o partido da senhora na oposição, se repitam nas eleições legislativas de Setembro de 2013.

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