La rondine, opera de Puccini, estreada em Monte Carlo em março de 1917, decorria a guerra na Europa. A Itália ao lado da Inglaterra, França e USA contra a Alemanha, Áustria e Turquia. Uma guerra tribal em ponto grande.
Enquanto na preparação das batalhas os generais utilizavam o número de mortos como mais um fator de produção de vitórias, Puccini, italiano, terminava o seu trabalho com os libretistas austríacos e apresentava a sua ópera em Monte Carlo.
Como se vem dizendo neste blogue, a ópera tem uma componente subversiva.
Por exemplo, de Verdi, o Don Carlo combate de forma demolidora a insanidade da Inquisição e do poder absoluto, o Nabuco apela à liberdade de um povo, e Stifelio condena quem condena a mulher adúltera.
Houve até o caso de “La muette de Portici”, de Auber, que catalizou a revolução de 1830 que levou à separação da Bélgica relativamente aos Países Baixos.
Dora Rodrigues, a cortesã apaixonada ,e Mário Alves, o jovem de boas famílias |
Marco Alves dos Santos, o poeta boémio, e Carla Caramujo, a camareira da cortesã |
Aparentemente leviana e retratando de forma melodramática as angustias e os amores de um jovem sem problemas de dinheiro e de uma mulher mais madura amante de um banqueiro, a ópera La rondine, que significa andorinha, tem para nós o significado político de ser a única ópera apresentada pelo S.Carlos neste ano, após os cortes determinados pelo governo terem inviabilizado os espetáculos anunciados.
Por outro lado, um dos temas da ópera é a liberdade de movimentos da andorinha e a sua capacidade de emigrar.
Parece que nem de propósito, quando as politicas do governo forçam os jovens do país a fazer como as andorinhas.
o lustre principal do S.Carlos |
o camarote presidencial sempre deserto |
o salão nobre preparado para o lançamento de um modelo automóvel de uma marca de luxo, ou uma forma de reduzir o defice do teatro |
Terá sido uma bofetada com luva branca nos senhores que têm dinheiro para enviar uma delegação ao campeonato da Europa de futebol mas não têm dinheiro para a cultura (governo de um país que dedica à cultura menos de 1% do seu orçamento público não merece grande respeito) nem sequer para combinar uma digressão a Madrid ou Barcelona do excelente espetáculo que o S.Carlos conseguiu produzir.
Duvido que os senhores do governo que tutelam a politica cultural percebam sequer o nível artístico atingido pelos intérpretes, de que me permito destacar a soprano Dora Rodrigues, nem o valor”de mercado”, como eles dizem, das suas prestações.
Aliás, o camarote presidencial do S.Carlos está sistematicamente vazio, não vão os espetadores vaiar eventuais ocupantes, que ainda por cima fariam um esforço insano por ver e ouvir uma ópera.
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