segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Este blogue é um gigantesco batoteiro - o obscurantismo e a queda de Salazar

Este blogue é um gigantesco batoteiro.
A acreditar no voluntarioso senhor primeiro ministro a discursar para os jovens do seu partido, provavelmente ansiosos por virem a ser como ele, assertivo quando proclamou que “a batota acabou”.
Primeiro, chamou pequena batota à desvalorização de uma moeda para embaratecer as exportações.
Talvez estivesse a chamar pequeno batoteiro ao governo chinês, que não gosta nada de valorizar o reiminbi.
Mas estaria a chamar pequeno batoteiro a este blogue, que já propôs a desvalorização do euro ou a decomposição do euro em novas moedas (mais uma vez este blogue não tem o mérito de inventar nada, estas são invenções de economistas como Sivio Caselli e John Keynes, antes de haver euro e antes de haver neo-liberais da escola de Chicago).
Depois, chamou “gigantesca batota” ao financiamento dos Estados pelo BCE a juros idênticos aos dos bancos.
Como este blogue também não se cansa de propor juros menores para a dívida, aqui se vê como é um gigantesco batoteiro.
Estamos então caídos no nível da adjetivação desmerecedora.
Provavelmente queixar-se-á o senhor primeiro ministro de que blogues como este também o insultam.
Talvez sim, talvez não, mas sempre se quis fundamentar neste blogue as acusações que se fazem ao senhor primeiro ministro, como por exemplo, citando as suas afirmações antes e depois da eleição (“a minha garantia é de que se for preciso taxarei o consumo e não os rendimentos”, “cortar o subsidio de Natal é um disparate”, etc, etc), o que conduz fatalmente a um adjetivo na verdade pouco elegante na língua portuguesa.
Até quando este blogue associou a “missão” de que este governo está incumbido de salvar o país a sintomas de hipomania (forma menos grave do distúrbio psicológico de quem tem dificuldade de assimilação da realidade, nunca aceita submeter-se a tratamento e imagina que o destinaram a uma função messiânica; alem de que exibir sintomas de uma doença não significa necessariamente que se sofre dela)  se baseou nas próprias afirmações do senhor primeiro ministro, agora confirmadas com a interrogação  “…pergunto-me se as pessoas percebem que nós estamos a lançar as raízes para uma sociedade mais justa”.
Realmente as pessoas percebem, ou pensarão, dadas as  suas insinuadas limitadas capacidades de compreensão, que percebem que talvez o engenheiro Moreira da Silva, mais dado a tratamento de dados que o senhor primeiro ministro, lhe tenha passado a mensagem que um país com o coeficiente de Gini como o de Portugal não é sustentável (aquilo de ter dito na mesma reunião de juventude partidária que “os 20%  mais ricos recebem 33% do rendimento enquanto os 20%  mais pobres recebem 13% do rendimento ficou-lhe mesmo bem, não ficou?).
Mas também percebem, as pessoas, que quando se quer uma sociedade mais justa e se tem mesmo de cortar, deixam-se os cortes nas pensões  para depois (é estranho, quando  me reformei a Segurança Social atribuiu-me uma  pensão provisória, refez os cálculos com mais calma e depois atribuiu-me a definitiva; estranho haver pensões mal calculadas por aí; se há, porque será?) e primeiro aplicam-se medidas de emprego e corta-se nos grandes rendimentos do capital, como costumam dizer Jerónimo de Sousa e Warrem Beaty. E quando duas pessoas assim tão diferentemente posicionadas dizem a mesma coisa, a probabilidade de terem razão é “gigantesca”.
Enfim, como eu costumo dizer, só se deve discutir com base em dados concretos, não sobre virtualidades, e por isso recorri, para  fundamentar a minha proposta de “gigantesca batota” de redução dos juros, ao site do congresso das alternativas (http://www.congressoalternativas.org/ ), com um pequeno cálculo sobre o valor dos juros na dívida pública:

“Na realidade, não há verdadeira alternativa ao Orçamento aprovado que não passe pela redução da única despesa que pode ser cortada sem efeitos recessivos e com benefício na libertação de recursos para o investimento e a criação de emprego: os juros da dívida pública. Os juros da dívida representam 9% da despesa e 4,3% do PIB, quase todo o défice previsto para 2013. Um corte de 1% nos juros vale dois mil milhões de euros. Seria possível diminuir a despesa em quatro mil milhões na despesa (como agora se estima ser necessário) com base num corte de 2% juros. Esse é aproximadamente o valor que os fundos europeus nos cobram acima da taxa a que esses fundos obtêm os seus empréstimos.”

É isto uma “gigantesca batota”?!

A propósito de batota, continua sem se falar na auditoria à dívida privada, a grande competidora da dívida pública, para sabermos onde nós, os privados, gastámos mal o dinheiro.
É que sem auditoria não temos ideia do desvio do que deveria ter sido o caminho.
E isso é mau, é desnorte, ou navegação à vista.

E ainda a propósito de discutir sobre dados concretos e não sobre virtualidades, achei interessante um pequeno gráfico com origem na Comissão Europeia sobre a evolução da dívida pública desde 1994 publicado no DN de 17 de dezembro: adivida cresceu em 1994 e 1995 com o senhor ministro das finanças Catroga, sendo primeiro ministro Cavaco Silva. Depois baixou até 2000 com o ministro das finanças Pina Moura, sendo primeiro ministro Guterres. Com Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, sendo primeiros ministros Durão Barroso e Santana Lopes, subiu de 2002 a 2005, e depois, com Teixeira dos Santos, ao mesmo ritmo, até 2008. Seguiu-se o descalabro de 2009 com subidas superiores a 10% ao ano, ritmo que se mantem com o atual governo apesar dos cortes e graças à contração da procura e do PIB.

Tudo isto me leva a não ter confiança no atual governo e a considerar que o ambiente cultural em que vivemos, porque cultura é interpretar o que nos rodeia, é de obscurantismo, apesar do esforço evidente dos agentes culturais; o obscurantismo da “noite neo-liberal”, como diz Rafael Correa.
E obscurantismo faz-me lembrar o tempo de antes da II Republica, traduzido por aquela anedota do passageiro da linha de Cascais que todos os dias comprava o jornal, olhava para a primeira página e  deitava-o fora, e quando lhe perguntavam porquê, respondia: “não traz a notícia de que eu estou à espera, a queda do Salazar”.

Sem comentários:

Enviar um comentário