quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Business as usual




Ficou bem ao ministério da educação reconhecer algum mérito ao esforço dos professores e alunos que, tal como com o PISA, mostraram nos resultados do TIMSS e do PIRLS algumas melhorias.
Porém, os cortes na educação são por demais ameaçadores, com provável declínio e contribuição para o aumento da violência e criminalidade na mesma  geração agora avaliada.

O PISA é o programa internacional para avaliação dos estudantes do secundário.
O TIMSS é o programa que avalia a evolução do ensino da matemática e das ciências dos alunos do 4º ano (10 anos de idade) e 8º ano (14 anos).
O PIRLS avalia a literacia.

Os resultados dos testes feitos em 2011 (portanto sem nada dever às medidas do atual governo, e, salvo melhor opinião, sem nada dever à introdução dos exames do 4º ano, porque introduzidos no mesmo ano dos testes) foram agora publicados em:

Segundo a análise do DN, os alunos:
- na leitura,  “não têm  fluência suficiente para fazer interpretações baseando-se no texto”,
- nas ciências, “têm apenas compreensão elementar sem domínio suficiente dos conhecimentos”
. na matemática, “não têm domínio suficiente dos conhecimentos para resolverem problemas de resolução não imediata”

Salvo  melhor opinião, porque me parece que as crianças refletem com fidelidade os seus pais (“não te preocupes, filho eu também nunca gostei de matemática”), e são os mesmos pais que votam, estamos em mais uma situação catastrófica, que ainda não é grave.
Não pretendo culpar os eleitores, apenas reafirmar que a nossa democracia tem poucas defesas contra políticos de falsas promessas que com falinhas mansas se aproveitam da tradiciona pouca preocupação em discutir as coisas em debates alargados baseados em cálculos fundamentados.
Esperemos que a demagogia dos políticos que ganham eleições com essas falsas promessas não vingue novamente em Itália (ou de como uma verdade, que a politica europeia é germanocentrica, como diz Berlusconi, se pode transformar numa catástrofe ainda mais grave).

E até pode acontecer que o problema de dificuldade em interpretar os dados da realidade não seja só português.
Se os grandes bancos internacionais já vão fazendo o seu negócio especulativo “as usual”, com generosidade até para pagar multas aos USA por branqueamento de capitais em off-shores  (caso do USB suíço e do HSBC), porque não haveriam:
- os bancos portugueses de anunciar “fundos” de elevada rendibilidade (com as tais letrinhas pequenas a dizer que a dita não é garantida),
- as empresas de financiamento particular insistir nos seus serviços, com TAEGs mais ou menos especulativos
- o Volkswagen Bank instalar-se com condições irresistíveis para os portugueses comprarem mais carros da marca (isto é, feitas as contas, apesar da Auto Europa, com o negócio da Volkswagen sai mais dinheiro do país do que entra, ou dizendo melhor, o dinheiro que a Alemanha empresta serve para comprar carros alemães com juros; eu ainda sou do tempo em que os bancos não emprestavam dinheiro para compra de automóveis),
- as agencias de viagem anunciarem cruzeiros de 7 dias com pensão completa a preços inferiores aos de estadia igual num hotel,
- as companhias aéreas não “low cost” que apresentaram resultados negativos anunciarem “air shoppings” em capitais europeias a preço de saldo?

Acho que o enunciado do problema  é muito claro:

1 – todos entendem a questão básica, que é a de que o PIB deve crescer
2 – também se compreende que o PIB é expresso por uma fórmula matemática
3 – também é elementar, e como tal, tal como no TIMSS, se compreende, que nessa fórmula apareça como termo negativo as importações (isto é, quanto maiores as importações, menor o PIB)

Então porque cargas de água andamos a estimular as importações, em plena euforia “business as usual”?
Ou talvez o defeito de interpretação seja meu, que não sou capaz de entender que talvez não fosse necessário informar a União Europeia que, devido à crise e à situação de emergência, não é possível a este país garantir a plena e livre circulação de mercadorias e serviços através das suas fronteiras, assim como se suspende o acordo de Schengen quando convem (aos puristas da economia livre recordarei as teorias das vantagens comparativas de David Ricardo que não foram revogadas pela fúria globalizante).
Que talvez fosse suficiente aumentar as taxas pagas por este tipo de publicidade e explicar em programas de serviço publico na televisão porquê.

Não sendo assim, tudo continuará  com “business as usual”, e nesta situação catastrófica embora ainda não grave.

PS em 14 de dezembro - O DN voltou ao tema dos resultados do TIMSS  através de Fernanda Cancio, que chamou a atenção para que, em matemática, cerca de 40% dos alunos portugueses estão nos 2 (em 4) niveis mais elevados, quando a média internacional é de cerca de 30%.
Portanto, as dificuldades de resolução serão comuns a outros paises da Europa, Alemanha incluida (seria interessante ver se há alguma correlação entre o sistema dual de ensino incensado pelo senhor ministro Nuno Crato e essse mau resultado dos alunos alemães; mas provavelmente será apenas o aumento do fosso entre os alunos mais bem preparados e os alunos pior preparados).
E o panorama não seria assim tão catastrófico para Portugal.
O problema é que a diferença entre alunos bem e mal preparados é grande (cada vez maior? interessava ver isso) e talvez a dificuldade de interpretação justifique as más escolhas de politicos que os europeus foram fazendo ao longo de décadas.
Salvo melhor opinião, claro.

 

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