Comecemos pelo fim, da importância de ser mulher para tomar decisões: a evolução desenvolveu nas espécies mecanismos de proteção e de manutenção das espécies, adaptando o género feminino a esse objetivo.
O organismo feminino, nas espécies em que a estatura está a aumentar, tem tendência para ser de menor dimensão do que o organismo masculino. Mas nas espécies em que a tendência é para diminuir de tamanho, como nos aracnídeos, a fêmea é maior do que o macho.
Isto quer dizer que as experiencias e as tentativas de inovação da evolução da espécie não trazem riscos para a sua conservação porque a parte feminina conserva os genes que já provaram que funcionavam. Se a experiencia correr mal, é a tendência masculina que é abandonada.
Na espécie humana, o fenómeno estendeu-se à capacidade de análise de ameaças para a espécie. Podemos imaginar como se estivéssemos num programa do National Geographic, o conselho de mulheres a criticar as decisões impulsivas dos chefes da tribo nómada na escolher precipitada de um caminho a tomar, só porque os chefes acham que uma decisão rápida é uma manifestação de liderança.
Num antigo concurso de televisão de grande audiência, uma das concorrentes que manteve uma presença prolongada, tinha um bordão ao comentar factos e ditos infelizes da nossa sociedade: “isto é normal?”. Na aparente boçalidade da expressão estava contida essa capacidade de análise feminina que define a linha da normalidade, de garantia do equilíbrio e de conservação da espécie.
Já a minha mulher, com um sorriso triste de quem na sua vida de professora assistiu a demasiados exemplos de alunos desviados do curso “normal” do ensino e do sucesso escolar, comenta que pessoas normais nunca diriam o que os senhores governantes dizem e nunca resistiriam agarrados aos seus lugares às críticas fundamentadas que lhes são feitas (o facto de os senhores governantes reagirem sistematicamente às criticas reafirmando que são eles que estão certos e não os críticos é um dos sintomas mais fáceis de interpretar em psiquiatria).
Por tudo isto, não surpreende a tomada de decisão do presidente da junta de freguesia de Castelo de Neiva, Viana do Castelo, que depois de reduzir a divida da freguesia de 33%, sem conseguir derrotar as burocracias que impedem a correção da barra onde morre gente, fechou o seu restaurante por não aguentar a subida do IVA e volta a emigrar para o Canadá, onde já se encontra a sua esposa. Também neste caso a sabedoria feminina não terá andado arredia da tomada de decisão, depois de análise irremediavelmente critica.
Temos assim que os senhores governantes deveriam dar mais atenção a este tipo de análise feminina, para combater a metáfora dos lemingues, roedores na tundra escandinava (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%AAmingue ). Embora a observação cientifica tenha provado que era um mito o suicídio coletivo dos lemingues, interessa reter que a falta de controle na taxa de crescimento da espécie em períodos de abundância de alimento conduz a um excesso de população que obriga a deslocações maciças em busca de alimento. E é nessas deslocações que ocorre grande numero de mortes por afogamento nos lagos da tundra devido à pressão da multidão.
O que nos leva, a propósito do descontrole em períodos de abundância, aos restantes temas do título, suicídio, ensino e delinquencia.
A comunicação social gosta de apresentar a perspetiva individual em cada noticia de suicídio, ensino ou delinquencia.
Tende a esquecer a componente social de cada fenómeno.
Em Sociologia, com Durkheim, desenvolveram-se técnicas de abordagem destas problemáticas com a análise dos dados estatísticos segundo perspetivas e hipóteses associadas à sociedade, para alem das causas e circunstancias individuais.
O suicídio, sempre estudado com base na recolha histórica de dados, poderá assim resultar mais da desestruturação social, como a falta de meios para prestar uma assistência digna aos idosos com menores recursos ou em arranjar empregos para os jovens, do que de uma desestruturação psicológica, aliás ela própria resultante da desestruturação social.
Temos assim que num meio social de fraca coesão social os suicídios tenderão para serem de natureza individualista; numa comunidade de coesão social forte o suicídio poderá ser altruísta, como o caso de um membro de uma familiar se suicidar de pois de matar os familiares, por desistência de lutar contra as adversidades.
Poderá concluir-se que uma tendência para o aumento de suicídios individuais corresponda a um fenómeno de suicídio coletivo, e seria muito interessante ouvir o que os senhores governantes da área respetiva pensam sobre a problemática do suicidio. Persistindo o silencio, a ignorância e ausência de iniciativas dos governantes perante a problemática do suicídio estaremos numa situação arripiante.
Quanto ao ensino, as técnicas sociológicas podem concluir que a organização do ensino utiliza o insucesso escolar para perpetuar a estrutura de classes existente e selecionar e distibuir os alunos pelos diferentes tipos de profissão, impondo uma cultura estratificada em que a capacidade financeira e cultural dos encarregados de educação condiciona o sucesso dos alunos (pais com menores habilitações literárias batem mais nos filhos; filhos de pais com menores habilitações literárias têm maior predominancia de obesidade infantil - resultados de 2000 entrevistas a crianças e familias pela Faculdade de Medicina da universidade do Porto). O que secundarizará a discussão que os senhores governantes gostam de ter sobre as medidas que eles próprios implementarão para melhorar a eficácia do ensino (melhor se dirá: para melhorar a eficácia da distribuição dos alunos pelos diferentes tipos de profissão).
Quanto à delinquência, considerada como uma reação e uma adaptação a um processo de decomposição das relações sociais com recurso a violência, parecerá existir uma forte correlação entre o insucesso escolar e o desemprego. Para se ter uma ideia do lugar ocupado pelos atores sociais neste tipo de relações sociais, sendo certo que é dificil um país produzir o suficiente em ambiente de delinquencia dominante, poderá utilizar-se o gráfico seguinte, com 2 escalas de variação de conceitos de relações sociais:
Integração social - marginalidade
Cooperação – contestação :
Numa altura em que os senhores governantes debatem a estratégia de segurança e defesa nacionais da comissão que nomearam, mais ou menos perdidos em discussões académicas e bizantinas, seria muito interessante o diagnóstico com base em dados credíveis que permitissem discutir em debate alargado com fundamento as hipóteses de solução.
Seria preciso uma Sociologia ativa e dinamizadora.
Mas não sei se os senhores governantes estarão disponíveis para o que seria uma melhoria.
Referencia: Manual de investigação em ciências sociais, de R.Quivy e L.V.Campenhoudt, ed. Gradiva
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