Não queria que este post fosse mal interpretado.
Não quero de modo nenhum contestar o mérito da ação benemérita das Hospitaleiras da madre Maria Clara em vários países do mundo.
Quero apenas comentar um fenómeno religioso.
Com a devida vénia ao Correio da Manhã, retiro informação de:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/mae-clara-nos-altares-com-video
Parece-me uma reportagem sobre o fenómeno religioso ligado às questões de carencia de saude, segurança e equilibrio social.
E destaco esta informação: "a relíquia da beata Maria Clara – a falange de um dedo – foi transportada pela vice-postuladora da congregação, Maria Lucília Carvalho. Depois da missa, a relíquia foi depositada nas instalações do Patriarcado de Lisboa."
Temos pois que neste fenómeno a relíquia continua a desempenhar um importante papel, como
Eça de Queiroz aliás interpretou noutro contexto.
Seria interessantissimo relacionar esta prática de conservar uma parte do corpo como objeto complementar de veneração com as práticas religiosas tradicionais anteriores ao cristianismo.
Mas deve ser muito dificil fazê-lo.
Noutras áreas dos fenómenos religiosos, porém, que estarão quase sempre relacionados com a capacidade do cérebro humano recriar a realidade, será mais fácil de o fazer. Pode o modelo recriado estar longe da realidade, mas o que foi recriado conforta e faz companhia ao cérebro que tinha necessidade desse conforto e dessa companhia.
Por exemplo, a prática do vudu de espetar alfinetes tinha como objetivo curar a pessoa representada canalizando energias curativas através dos orifícios. O boneco era assim uma efígie protetora. Mas com a competição ente as religiões europeias e africanas durante a colonização, generalizou-se a prática de que os alfinetes se destinavam a fazer sofrer a pessoa representada.
Curioso, mas tendente a dar razão a Aldous Huxley, quando escreveu: "Uma pessoa é a favor de uma religião até visitar um país realmente religioso. A partir daí, é-se a favor da canalização, da maquinaria e do salário mínimo".
Do que estes ateus se lembram.
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