Numa tarde primaveril de domingo lembrou-se de passar a gravação da Madame Butterfly de Puccini, de Março de 2009, no Metropolitan Opera de New York.
Para alem dos excelentes intérpretes, com destaque para a soprano Patricia Racette, há a destacar a colaboração dum teatro de marionetas japonês.
Tem também interesse analisar o que diz Madame Butterfly.
Abandonada pelo tenente norte americano, mas subsidiada pelo consul dos USA, pergunta à governanta quanto dinheiro lhes resta antes de se tornarem indigentes.
Vai mantendo a esperança de que, um dia, o seu tenente regressará.
É o mito messiânico e sebastianista quando a miséria se desenvolve.
Un bel dì, vedremo Um belo dia veremos
levarsi un fil di fumo subir um fio de fumo
sull'estremo confin del mare. no horizonte do mar.
E poi la nave appare. E depois o navio aparece.
levarsi un fil di fumo subir um fio de fumo
sull'estremo confin del mare. no horizonte do mar.
E poi la nave appare. E depois o navio aparece.
Poi la nave bianca O navio branco
entra nel porto, entra no porto,
romba il suo saluto. faz ouvir a sua saudação.
entra nel porto, entra no porto,
romba il suo saluto. faz ouvir a sua saudação.
É verdade que a história económica do Japão na segunda metade do século XIX é interessantissima, porque finalmente se abriu ao estrangeiro e à industrialização com sucesso. Alguns setores da economia, como é natural, não acompanharam esse sucesso; o que terá sido o caso de Madame Butterfly, que, perante a obrigação de entregar o filho ao tenente, ao seu pai, se viu perante um trilema semelhante ao de Luciano Amaral no fim do seu livro "Economia Portuguesa, as ultimas décadas"
(ver
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/11/economicomio-lxiv-economia-portuguesa.html ),
optando pela pior solução:
- ou casava com o rico Yamadori (investimentos maciços em Portugal por países BRIC)
- ou voltava à sua vida anterior de geisha ( saída da união monetária e desvalorização imediata da moeda para facilitar as exportações)
- ou fazia hara-kiri (integração do país como região noutra unidade política).
Como Luciano Amaral conclui, "seja o que for que venha a acontecer, as perspetivas não entusiasmam".
Mas podiamos fazer um esforço para não acabarmos como a Madame Buterfly, apesar da musica ser bonita e os portugueses gostarem de música.
Assim como assim, continua a haver muita gente a produzir, tanto para evitar importações como a exportar (pena a tal coisa do PIB por trabalhador-hora ser cerca de 50% da média dos paises mais desenvolvidos; mas tambem nos podiamos contentar com menores salários, a começar pelos professores de economia e pelos juizes, claro).
E depois, lembrei-me há dias de que, quando ia a reuniões com os colegas homólogos dos outros metropolitanos, verificava normalmente que não eram grandes as diferenças entre os metropolitanos e os indicadores deles e os nossos (descontando, evidentemente, por razões de escala de mercado, alguns preços de construção ou de fornecimentos; porém, quando considerado o universo dos metros, nada de anormal).
Recordo-me que as discussões que tinhamos eram entre iguais.
Custará tanto que nas outras atividades assim seja também? (como diz a AICEP, pelo menos nas cortiças e nas fibras sintéticas a nossa vantagem comparativa, na melhor tradição de David Ricardo, é inquestionável).
Então custará assim tanto, para não fazermos como a Madame Butterfly, dar o braço aos técnicos estrangeiros que interessa virem ajudar a resolver os problemas quando não temos essa vantagem comparativa? Não era assim que se tratavam os problemas no tempo dos "estrangeirados", no fim do século XVII, ainda o ouro do Brasil não tinha chegado e o conde da Ericeira tentava vender a ideia? É capaz de ser uma boa sugestão, apoiar as políticas dos "estrangeirados"
(ver
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrangeirado
e uma breve biografia de Luis de Meneses, 3ºconde da Ericeira, que não se importou de mandar vir especialistas estrangeiros ensinar os portugueses a produzir, em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Meneses ).
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